Macu-nadebes – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Se procura pela língua da família lingüística macu, falada pelos macu-nadebes, veja Língua macu-nadebe.
Nadëb
População total

 Brasil 483 (2014)[1]

Regiões com população significativa
Rio Negro (Bom Jardim)
Roçado e Jutaí
Línguas
Nadëb
Religiões
tradicional, cristianismo
Grupos étnicos relacionados
Dâw, Hupda, Iuhupde

Os macu-nadebes ou simplesmente nadebes (Nadëb) são uma das etnias macus, que habita o noroeste do estado brasileiro do Amazonas, mais precisamente nas Terras Indígenas Paraná Boá-Boá, Rio Teá e Uneiuxi. Subdividem-se em dois grupos principais: os nadebes-do-rio-negro e os nadebes-do-roçado. Fazem parte da família linguística macu no Brasil, juntamente com outros povos como: dâw, macu-hupdás e macu-iuhupdes. Na literatura etnográfica, linguística e pelos regionais são chamados por vários nomes como: macu, nadëb, nadöbö, anodöub, makunadöbö, guariba, guariua-tapuio, cabori, cabari, xiriwai, xuriwai, kuyawi, camã e nadëp.

Conforme Silverwood-Cope (1972), os macus orientais são conhecidos como “índios da floresta” e são classificados como “caçadores-coletores”. Atualmente, os nadebes podem ser classificados de pescadores e coletores devido à aproximação e moradia nos cursos dos grandes rios. Praticam também a agricultura de subsistência com o plantio da mandioca e de algumas frutas, produzindo derivados da mandioca: farinha, tapioca e beiju com o peixe.

São semi-nômades, matrilocais, etnicamente endogâmicos, tendo a prima cruzada bilateral como par ideal para o casamento. Praticam a exogamia entres seus grupos locais. Sendo matrilocais é o marido que desloca do seu grupo e vai habitar com os parentes da mulher. Tendo o genro a responsabilidade de cuidar dos pais da mulher, inclusive ajudar no plantio de suas roças.

Nadebes-do-Rio-Negro[editar | editar código-fonte]

Tribo Macu-nadebes (2004).

Os nadebes-do-rio-negro ou Kuyawi são um grupo étnico minoritário com aproximadamente trezentas pessoas. Estão bem espalhados, habitando as margens dos rios Igarapés e Negro, bem como na boca dos afluentes desse: rios Uneiuxi e Téa (temporariamente). Na localidade de Bom Jardim vive um grupo. Alguns poucos se estabeleceram na cidade de Santa Isabel do Rio Negro, centro urbano mais próximo. Em geral, vivem em sítios ao lado de comunidades ou dentro delas. Às vezes, só o grupo doméstico como um casal e seus filhos ou o grupo local com seus parentes como cunhados, genros e noras, mães viúvas, netos e tios solteiros, denominada família extensa ou local.

A mobilidade entre eles pode ser explicada também pela resolução dos seus conflitos entre os habitantes do grupo local além da busca pela subsistência alimentar. Quando ocorre um conflito familiar, muda-se para próximo de seus parentes em outros assentamentos ou comunidades passando ali um período de tempo ou mesmo formando um novo assentamento. Sua religiosidade tradicional animista é praticada especialmente através dos benzimentos que giram em torno da doença e da cura. No entanto, com as influências católicas, denominam-se católicos.

Os nadebes-do-rio-negro não possuem líderes ou conselhos étnicos que julguem as causas de conflitos entre eles. Onde há um grupo local de aproximadamente vinte pessoas com no máximo três famílias domésticas, o pai, sogro ou genro de cada família doméstica faz o que melhor entende. Percebe-se a característica de um grupo etnicamente acéfalo, definindo sua liderança de forma independente em cada grupo local.

Temos referido ao povo de "nadebe-do-rio-negro" e sua língua como a “língua nadebe”. Porem, com a miscigenação com outros povos, a auto-baixa estima étnica e falta de um programa educacional bilíngue, muitos deixaram de usar a língua tradicional passando a usar a língua geral (nheengatu) e o português como línguas de comunicação, à exceção de algumas famílias que ainda preservam a comunicação na língua tradicional.

Portanto, fora escrito um artigo propondo esta nomenclatura e o reconhecimento étnico desse grupo dentre os outros habitantes do Médio e Alto Rio Negro. Também com sugestão de incentivo ao uso da língua tradicional fala-se da necessidade de produção de material de alfabetização na língua Nadëb para que haja valorização e preservação étnica.

Nadebes-do-Roçado[editar | editar código-fonte]

A comunidades de Roçado vive nas Terra Indígena Uneiuxi, na terra firme, nas cabeceiras dos rios Uneiuxí (afluente do Rio Negro) e Pucabi (afluente do rio Japurá). As comunidades de Jutaí e Jeremias habitam na Terra Indígena Paraná do Boá-Boá, na bacia do Japurá. As duas falam uma variedade diferenciada da língua nadebe. Os nadebe do Roçado tem conseguido permanecer mais independentes da exploração e injustiças dos regionais, a invés disso, os nadebe do Rio Negro trabalharam para aos índios dos rios nas suas roças, e foram subordinados nos sítios dos regionais em trocas e dividas com os comerciantes.[2]

Referências

  1. Instituto Socioambiental. «Nadöb». Consultado em 3 de outubro de 2021 
  2. Phillips, David J. «Nadëb». Indígenas do Brasi os primeiros povos de país. Consultado em 3 de outubro de 2021 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • BARBOSA, Jefferson Fernando. Descrição fonológica da língua Nadëb. Dissertação de Maestria. Universidades de Brasilia, Novembro de 2005.
  • CARVALHO, Marcelo. Os Hupdah e o Letramento na Língua Materna – A Escrita como Elemento de Valorização de um Povo Preterido. Revista Antropos. Vl.1, Ano 1, Novembro de 2007a.
  • FOIRN/ISA. Povos Indígenas do Rio Negro – Uma Introdução à Diversidade Socioambiental do Noroeste da Amazônia Brasileira. São Gabriel da Cachoeira: FOIRN/ISA, 2006.
  • GOMES, Maria R. Nadëb do Rio Negro - Quem foi e quem é? Proposta de nomenclatura e reconhecimento étnico-cultural de um povo no Médio Rio Negro. Manaus: Revista Antropos. Vl.2, Maio de 2008. Disponível: http://revista.antropos.com.br
  • KOCH-GRÜNBERG, Theodor. 2005. Dois anos entre os indígenas: viagens ao Nordeste do Brasil (1903-1905). Manaus: EDUA/FSDB.
  • KRAUS, Michael. The World’s languages in crisis. In Ronaldo Lidório. Com a Mão no Arado. pg. 27.
  • LIDÓRIO, Ronaldo. Indígenas do Brasil. Viçosa: Ultimato, 2005, pg. 09.
  • MARTINS, Valteir. Reconstrução Fonológica do Protomaku Oriental. Amsterdam: Vrije Universiteit, 2005.
  • MÜNZEL, Mark. Notas Preliminares sobre os Kaborí (Makú entre o Rio Negro e o Japurá). In: Revista de Antropologia. São Paulo: USP, 1969.
  • POZZOBON, Jorge. Maku. Instituto Socioambiental – ISA. 1999. Disponível na World Wide Web: <http://www.socioambiental.org/pib/epi/maku/[ligação inativa] politorg. shtm> Acesso em 26/10/07.
  • _____. Isolamento e Endogamia – Observações Sobre a Organização Social dos Índios Maku. Porto Alegre: UFRS, 1993.
  • SENN, Beatrice & WEIR, Helen. Cartilhas 1, 2, 3 e 4 na Língua Nadëb. Porto Velho: SIL, 2005 3. ed.
  • _____.Fonologia Nadëb. Porto Velho: SIL, 1999.
  • SILVA, Cácio & SILVA, Elisângela. A Escrita dos Yuhupdeh - O Registro Ortográfico de Uma Língua Indígena do Alto Rio Negro. *Revista Antropos. Vl.1, Ano 1, Novembro de 2007b.
  • SILVERWOOD-COPE, Peter Lachlan. Os Maku – Povo Caçador do Noroeste da Amazônia. Brasília: UnB, 1990.
  • WEIR, E. M. Helen. A Negação e outros Tópicos da Gramática Nadëb. Campinas: Unicamp, 1984.