Tucanos – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Tucanos
Dança tukana de boas vindas (2014)
População total

c. 10 000

Regiões com população significativa
 Brasil -  Amazonas 5 731 (2014) [1]
 Colômbia 4 075 (2018) [2]
Línguas
Tucano, português, nheengatu, espanhol
Religiões

Xamanismo[3]
Catolicismo romano[4][5]

Protestantismo[4][5]
Etnia
Nativo Americanos
Grupos étnicos relacionados
Sirianos, Tuiúcas, Tarianas, Desanos

Em etnologia, o termo Tucano (também usa-se Tukano), além de designar os grupos indígenas cujas línguas pertencem à família linguística tucano, remete ainda a uma etnia indígena específica que habita o Noroeste do estado brasileiro do Amazonas, mais precisamente as Terras Indígenas Alto Rio Negro, Médio Rio Negro I, Médio Rio Negro II e Balaio, bem como a Colômbia.

Veste cerimonial tucana em exibição no Museu Americano de História Natural

Os nomes dos diversos povos tucanos foram dados por outros povos, indígenas ou não, sendo usados somente em determinados contextos. Os povos Tucano dividem-se em dois ramos linguísticos: o Tucano Oriental e o Ocidental. Os povos falantes do ramo oriental habitam desde Colômbia até o Brasil, enquanto os povos do ramo ocidental habitam o Peru, a Bolívia e o Equador na região do rio Napo, a exemplo dos Siona e Secoya.

Existem pelo menos dezesseis diferentes línguas classificadas como Tukano Oriental, todas elas faladas por povos que habitam o noroeste do estado brasileiro do Amazonas e o departamento colombiano do Vaupés. No Brasil, os tukano habitam toda a bacia do rio Uapés e o trecho do rio Negro entre a foz daquele rio e as imediações da cidade de Santa Isabel do Rio Negro, incluindo a cidade de São Gabriel da Cachoeira.[6]

Tucano oriental[editar | editar código-fonte]

Entre os grupos do ramo Tucano Oriental, a identidade do povo fundamenta-se na língua. Em sua cultura, o casamento é sempre realizado com uma mulher de outro povo, e, portanto, de língua diferente, num sistema de casamento baseado em normas de exogamia linguística. Graças a isso, os grupos Tucano estão numa situação de multilinguismo que não tem paralelo em nenhum outro lugar do mundo, pois cada indivíduo fala no mínimo três línguas, e é comum que fale cinco ou mais.[7]

Rio Negro (Amazonas).

Após o casamento, a mulher deve ir viver com o povo de seu marido no qual passa a fazer parte deste. Por isso, a identidade étnica do indivíduo é definida pela língua do povo paterno. Além disso, este aprende sempre, desde a infância, a língua do povo original de sua mãe, a língua tucano, que é considerada língua franca entre os povos tucanos da sub-região do Uaupés, onde também se aprende o português. O nheengatu é também falado pelos habitantes dos arredores de São Gabriel da Cachoeira e Santa Isabel e nas comunidades do Alto Rio Negro até a fronteira com a Venezuela. Além disso, muitos costumam aprender também línguas das famílias Aruák e Maku, presentes na região, e o espanhol, pela proximidade com a Colômbia.[8]

Segundo estimativas de 2005 compiladas pela DSEI - Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, a população da etnia Tucano no Brasil era de 6.241 pessoas. Segundo a mesma fonte, o número total de indivíduos das etnias da família linguística Tucano no Brasil era cerca de 12.650.[9]

Povos do ramo tucano oriental (e suas línguas)[editar | editar código-fonte]

Mapa mostrando as bacias do Rio Negro e do Amazonas.
  • Arapaso
  • Bará (Autodenominam-se Waípinõmakã)
  • Barasana (Autodenominam-se Hanera)
  • Desana (Autodenominam-se Ūmūkomasã)
  • Karapanã (Autodenominam-se Mūteamasa, Ūkopinõpõna)
  • Kubeo (ou Kubewa) (Autodenominam-se Kubêwa ou Pamíwa)
  • Makuna (Autodenominam-se Yeba-masã)
  • Miriti-tapuya ou Buia-tapuya
  • Siriano (Autodenominam-se Siria-masã)
  • Taiwano, Eduria ou Erulia (Autodenominam-se Ūkohinomasã)
  • Tatuyo, Tuyuka (Autodenominam-se Ūmerekopinõ)
  • Tariana (Autodenominam-se Taliaseri)
  • Tucano (propriamente dito) / (Autodenominam-se Daséa ou Ye’pâ-masa; no masculino singular: Ye’pâ-masi; no feminino singular: Ye’pâmaso; no plural: Ye’pâ-masa[10]:3)
  • Wanana ou Wanano (Autodenominam-se Kotiria)
  • Waikhana (ou Pirá-tapuya)
  • Yurutí (Autodenominam-se Yūtabopinõ)
  • Tuiúcas (Autodenominam-se Dokapuara, Utapinõmakãphõná)
Commons
Commons
O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Tucanos

Referências

  1. Siasi/Sesai (2014). «Tukano». Povos Indígenas no Brasil. Consultado em 13 de dezembro de 2021 
  2. DANE (16 de setembro de 2019). Población Indígena de Colombia (PDF). Censo 2018. Bogotá: Departamento Nacional de Estadística. Consultado em 10 de setembro de 2021 
  3. «Tukano - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 4 de julho de 2022 
  4. a b Project, Joshua. «Tukano in Brazil». joshuaproject.net (em inglês). Consultado em 4 de julho de 2022 
  5. a b Project, Joshua. «Tukano, Tariano in Colombia». joshuaproject.net (em inglês). Consultado em 4 de julho de 2022 
  6. Cabalzar, Aloísio; Ricardo, Carlos Alberto. (editores). Povos indígenas do Rio Negro, uma introdução à diversidade socioambiental do noroeste da Amazônia brasileira (mapa-livro). SP, ISA - Instituto Socioambiental; AM, FOIRN -Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, 2006.
  7. Azevedo, Marta Maria. (2005). Povos indígenas no Alto Rio Negro: um estudo de caso de nupcialidade, in Pagliaro, Heloísa, Azevedo, Marta Maria, e Santos, Ricardo Ventura (Eds.). Demografia dos povos indígenas no Brasil. Rio de Janeiro. Fiocruz/Abep.
  8. Jackson, Jean E. The Fish People: Linguistic exogamy and Tukanoan identity in Northwest Amazonia. Cambridge, Reino Unido. Cambridge University Press. 1983.
  9. Equipe de editores do ISA (Ricardo, Beto, e Ricardo, Fany) Tukanos Povos Indígenas no Brasil. . São Paulo. Instituto Sócio-Ambiental. 2006
  10. Ramirez, Henri (2019). A Fala Tukano dos Ye’pâ-Masa, Tomo I: Gramática (versão atualizada, 2019). Manaus: Inspetoria Salesiana Missionária da Amazônia, CEDEM. Consultado em 22 de agosto de 2021 .

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Epps, Patience; Stenzel, Kristine (eds). Upper Rio Negro, cultural and linguistic interaction in northwestern Amazonia.RJ, Museu Nacional, Museu do Índio/FUNAI, 2013. PDF Jun. 2013
  • Garnelo, Luiza; Buchillet, Dominique. Taxonomias das doenças entre os índios Baniwa (arawak) e Desana (tukano oriental) do alto Rio Negro (Brasil). Horiz. antropol. vol.12 no.26 Porto Alegre July/Dec. 2006 PDF Jan, 2011
  • Gentil, Gabriel dos Santos. Povo Tukano - cultura, história e valores. Manaus. EDUA, 2005
  • Grande Enciclopédia Larousse.
  • Lagório, pe. Eduardo (coord.). 1983. 100 kixti (estórias) tukano. Rio de Janeiro: Funai. 162 p., il. (Prefácio de Câmara Cascudo; capa e ilustrações de Darlan)
  • Reichel - Dolmatoff Gerardo, Correa Francois (editor). La selva humanizada. Bogotá, Instituto Colombiano de Antropologia; FEN; CEREC. 1990 Disponível on-line Jan.2011
  • Ribeiro, Berta. Os Índios das Águas Pretas: Modo de Produção e Equipamento Produtivo. SP. Edusp / Companhia das Letras, 1995
  • Silva, Alcionilio Brüzzi A. A civilização do Uapés, observações antropológicas, etnográficas e sociológicas. Roma, It. Centro Studi di Storia delle Missioni Salesiane - Las-Roma, 1977
  • Sorensen, Arthur P. Jr. (1967). Multilinguism in the Northwest Amazon. American Anthropologist 69, 670-684.
  • Stenzel, Kristine. Traços laringais em Kotiria e Waikhana (Tukano Oriental) USP (Apresentação PPS) 13 de novembro de 2009
  • Lagório, pe. Eduardo (coord.). 1983. 100 kixti (estórias) tukano. Rio de Janeiro: Funai. 162 p., il. (Prefácio de Câmara Cascudo; capa e ilustrações de Darlan)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]