Fulniôs – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Se procura pela língua dessa família, falada pelos fulniô, veja língua iatê.
Fulniôs
À esquerda, o pesquisador Geraldo Lapenda e, à direita, o indígena fulniô Lourenço
População total

4.689

Regiões com população significativa
Águas Belas, em Pernambuco, no Brasil
 Brasil (PE) 4.689 Siasi/Sesai, 2014[1]
Línguas
Língua iatê
Religiões

Fulniôs, carnijós, formiós[2] ou iatês[3] (no jargão antropológico: fulni-ôs[4]) são um grupo indígena que habita próximo ao rio Ipanema, no município de Águas Belas, no estado de Pernambuco, no Brasil. Junto com os indígenas do Maranhão são os únicos povos indígenas da Região Nordeste que conseguiram preservar o idioma nativo. Da etnia, descende um dos maiores ídolos da história do futebol brasileiro: Mané Garrincha[5] e a tenista Teliana Pereira.

História[editar | editar código-fonte]

Hino da Tribo Fulniô

Tenho orgulho de ter nascido aqui
Tenho orgulho de ser como sou
Me orgulho da terra onde nasci
Sou índio sim, sou Fulniô
Esta terra pra nós é sagrada
E por ela nós vamos lutar
Não abrimos mão dela por nada
Índio e terra não vão separar
Quando a Pátria precisou
Disse aos Fulniô: “Ide filhos, lutai!”
Conquistamos nossa terra
Lutando na Guerra do Paraguai.

Almir Torres[6]

O grupo surgiu a partir de um reagrupamento de diversos povos indígenas que habitavam a região.

Documentos indicam que, desde a década de 1700, os indígenas daquela região enfrentam problemas com a ocupação não indígena da região. A distribuição de terras no Brasil, a partir das capitanias hereditárias, serviu como um mecanismo de dispersão de populações nativas, como ocorreu, por exemplo, nas terras interioranas de Pernambuco. Os indígenas fulniôs resistiram à ocupação não índia, mantendo, até hoje, por exemplo, o ritual do ouricuri.[5]

Com o início da Guerra do Paraguai, na década de 1860, vários indígenas aldeados de Pernambuco, incluindo os fulniôs, foram recrutados à força para participarem como Voluntários da Pátria.[6] Dessa participação, surgiu um reconhecimento popular que as terras indígenas que ocupam foram reconhecidas pelo governo em recompensa num suposto documento.[6]

Em 14 de maio de 1929, os indígenas fulniôs receberam títulos individuais da terra que possuíam, de caráter provisório, expedidos pelo mesmo Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio.[7]

Em 1971, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), realizou a demarcação administrativa da AI Fulni-ô com 11.506 hectares, porém sem ter realizado o levantamento topográfico, o memorial descritivo e nem o cadastramento de ocupantes não-indígenas nos lotes da área indígena definida. O processo de demarcação ainda está pendente de finalização.[8]

Em 1957, indígenas da etnia fulniô, provenientes de Águas Belas (PE), se deslocaram à Brasília para trabalharem como operários na construção da capital, refugiando-se em meio às matas do cerrado para se dedicarem ao culto sagrado e manifestações religiosas ancestrais. [9]

Em 2018, foi feito um acordo entre o MPF, a FUNAI, a Terracap, o IBRAM, e o Distrito Federal que reconhecia a área do Santuário dos Pajés como sendo de, no mínimo, 32 hectares. Nessa área, também vivem indígenas das etnias guajajara e wapixana.[9]

Ritual do ouricuri[editar | editar código-fonte]

O ouricuri é uma região que integra as terras fulniô em Águas Belas, e onde os indígenas fulniôs praticam reclusão coletiva durante três meses. Neste local, os não fulniôs só podem adentrar com autorização do pajé, e nunca durante a prática do ritual. Os fulniôs mantêm o conjunto de elementos que compõe a religião em segredo, pois acreditam que o segredo protege suas especificidades culturais.[carece de fontes?]

No interior do ouricuri, existe a separação de ambientes para homens e para as mulheres. Também é lá que habita o juazeiro sagrado, árvore que simboliza, para os indígenas, a maior imagem da natureza sagrada. Todos os indígenas devem participar da reclusão coletiva, pois isto é regra obrigatória para tornar-se fulniô. Quem não frequenta o ouricuri não é considerado um fulniô legítimo.[carece de fontes?]

Referências

  1. Instituto Socioambiental. «Quadro Geral dos Povos». Enciclopédia dos Povos Indígenas no Brasil. Consultado em 17 de setembro de 2017 
  2. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 355.
  3. «Fulniô». Michaelis 
  4. «Fulni-ô - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 17 de março de 2024 
  5. a b BARTHOLO, T. L. e SOARES, A. J. G. Mané Garrincha como síntese da identidade do futebol brasileiro. Disponível em http://comunicacaoeesporte.files.wordpress.com/2010/10/mane-garrincha-como-sintese-da-identidade-do-futebol-brasileiro1.pdf. Acesso em 20 de junho de 2013.
  6. a b c Quirino, Eliana Gomes (2008). Memória e cultura: os fulniôs afirmando identidade étnicaD (Dissertação de Mestrado). Natal: Universidade Federal do Rio Grande do Norte. p. 80-85. Consultado em 21 de janeiro de 2023 
  7. «PE - Indígenas da etnia fulniô lutam pela demarcação de suas terras e pelo recebimento de indenização pelo Dnit». Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil. Consultado em 17 de junho de 2023 
  8. «MPF quer demarcação imediata das terras indígenas Fulni-ô em Pernambuco | Cimi». 14 de março de 2018. Consultado em 17 de junho de 2023 
  9. a b «DF - Indígenas lutam por permanência e reconhecimento de santuário e território tradicional». Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil. Consultado em 17 de junho de 2023 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

As principais obras sobre esses indígenas foram escritas por Estevão Pinto, no ano de 1955, e por Geraldo Lapenda, no ano de 1968.

  • Barbosa, Eurípedes. Aspectos fonológicos da língua Yatê. Dissertação (Mestrado). Brasília: UnB, 1992.
  • Braga, Palloma C. R. Corpo, Saúde e Reprodução entre os índios Fulni-ô. Dissertação de mestrado. Recife: UFPE, 2010.
  • Coutinho, Walter. J. & Melo, Juliana G. Reflexões sobre a questão fundiária Fulni-ô. In: Marco Antonio do Espírito Santo (Org.), Política indigenista: Leste e Nordeste brasileiros: 55-64. Brasília: Funai, 2000.
  • Dantas, Sérgio N. Sou Fulni-ô, meu branco. Tese (doutorado). São Paulo: PUC, 2002.
  • Foti, Miguel V. Resistência e segredo: relato de uma experiência de antropólogo com os Fulniô. Dissertação de mestrado. Brasília: UnB, 1991.
  • Lapenda, Geraldo Calábria. Perfil da língua yathê. Recife: Secretaria de Educação e Cultura (Prefeitura Municipal do Recife)/Imprensa Universitária, 1965. Disponível em Biblioteca Digital Curt Nimuendajú: [1];
  • Lapenda, Geraldo Calábria. Estrutura da língua iatê. Recife: Imprensa Universitária (Universidade Federal de Pernambuco), 1968 [2ªed., 2005].
  • LAPENDA, Geraldo Calábria. Estrutura da Língua Iatê - falada pelos índios fulni-ô. Recife, Imprensa Universitária (Universidade Federal de Pernambuco), 1968.
  • Nimuendajú, Curt (1982). Textos indigenistas. Introdução Carlos de Araújo Moreira Neto, Prefácio e coordenação: Paulo Suess. Loyola, São Paulo.
  • Oliveira, Carlos Estevão de. O ossuário da ‘Gruta-do-Padre’ em Itapirica e algumas notícias sobre remanescentes indígenas do Nordeste. BMN 14/17, 1942.
  • PINTO, Estevão. Estórias e Lendas indígenas. Secção E (História e Geografia), 15. Recife: Faculdade de Filosofia de Pernambuco, 1955. Disponível em Biblioteca Digital Curt Nimuendajú: http://biblio.etnolinguistica.org/obras; e NEPE (UFPE): http://www.ufpe.br/nepe/?p=documentosPublicacoes
  • Pinto, Estevão. Etnología brasileira. Fulniô, os últimos Tapuias. São Paulo: Editora Nacional, 1956. * Pompeu Sobrinho, T. Índios Fulniôs, karnijós de Pernambuco. Revista do Instituto Ceará 49: 31-58. Fortaleza, 1935.
  • Pompeu, Sobrinho. Contribuição para o estudo da língua tapuia dos índios Fulniôs. Boletim de Antropologia da Universidade de Ceará 5/1: 3-58. Fortaleza, 1966.
  • Rodrigues, Aryon D. Macro-Jê. In: R.M.W. Dixon & Alexandra Y. Aikhenvald (Orgs), The languages of Amazonia: 165-206. Cambridge: CUP, 1999.
  • SÁ, Aluízio Caetano de. Dicionário Iatê-Português. Águas Belas, PE: Edición del autor, 2000.
  • Secundino, Marcondes de A. Voto Indígena e Representação Política entre os Fulni-ô na década de 1990. In: ATHIAS, Renato (Org). Povos Indígenas de Pernambuco Identidade Diversidade e Conflito. Recife: Editora universitária UFPE: 87-112, 2007.
  • Vasconcelos, Sanelva de. Os Carnijós de Águas Belas: estudo histórico, geográfico, sociológico e estatístico de Águas Belas e genealógico de seu fundador. Recife: Arquivo Público Estadual, 1962.
  • Vianna, Mabel C. Aspectos Socioeconômicos e Sanitário dos Fulni-ô de Águas Belas-Pernambuco. DIV. Documentação: Recife, 1966.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Outros projetos Wikimedia também contêm material sobre este tema:
Commons Categoria no Commons