Lesbianismo político – Wikipédia, a enciclopédia livre

O lesbianismo político é um fenômeno dentro do feminismo, principalmente segunda onda do feminismo e o feminismo radical; inclui, mas não se limita a, separatismo lésbico. O lesbianismo político afirma que a orientação sexual é uma escolha política e feminista, defendendo a lesbianidade como uma alternativa positiva à heterossexualidade para as mulheres[1] como parte da luta contra o sexismo e o machismo.[2][3]

História[editar | editar código-fonte]

O lesbianismo político se originou no final dos anos 1960 entre as feministas radicais da segunda onda como uma forma de combater o sexismo e a heterossexualidade compulsória. Sheila Jeffreys ajudou a desenvolver o conceito quando coescreveu em 1981 "Love Your Enemy? The Debate Between Heterosexual Feminism and Political Lesbianism".[4] Elas argumentaram que as mulheres deveriam abandonar o apoio à heterossexualidade e parar de dormir com homens, enquanto encorajavam mulheres a remover os homens "de suas camas e cabeças".[5] Embora a ideia principal do lesbianismo político seja estar separada dos homens, isso não significa necessariamente que as lésbicas políticas devam dormir com mulheres; algumas escolhem ser celibatárias ou se identificam como assexuais. A definição do Leeds Revolutionary Feminist Group [en] de uma lésbica política é "uma mulher identificada como mulher que não transa com homens". Proclamaram os homens como inimigos e as mulheres que se relacionavam com eles como colaboradoras e cúmplices de sua própria opressão. O comportamento heterossexual é visto como a unidade básica da estrutura política do patriarcado, lésbicas que rejeitam o comportamento heterossexual, portanto, desafiam o sistema político estabelecido.[6]

Ti-Grace Atkinson, uma feminista radical que ajudou a fundar o grupo The Feminists, é creditada com a frase que veio a personificar o movimento: 'Feminismo é a teoria; lesbianismo é a prática'.[7][8]

Separatismo lésbico[editar | editar código-fonte]

O feminismo separatista é uma forma de feminismo radical que sustenta que a oposição ao patriarcado é melhor feita focando exclusivamente em mulheres e meninas.[9] Algumas feministas separatistas não acreditam que os homens possam fazer contribuições positivas ao movimento feminista e que mesmo homens bem-intencionados reproduzam a dinâmica do patriarcado.[10]

Charlotte Bunch [en], uma das primeiras membras do The Furies Collective [en], percebia o feminismo separatista como uma estratégia, um período de "primeiro passo" ou retirada temporária do ativismo convencional para atingir objetivos específicos ou aumentar o crescimento pessoal.[11] The Furies recomendam que as lésbicas separatistas se relacionem "apenas (com) mulheres que cortam seus laços com o privilégio masculino" e sugerem que "enquanto as mulheres ainda se beneficiarem da heterossexualidade, receberem seus privilégios e segurança, elas em algum momento terão que trair suas irmãs, especialmente irmãs lésbicas que não recebem esses benefícios".[12]

Construções sociais da sexualidade e crítica[editar | editar código-fonte]

Algumas teorias feministas sobre a sexualidade evitavam a fixação biológica e abraçavam a construção social como base da sexualidade. No entanto, esta ideia colocou mais questões sobre o tema da sexualidade e lesbianismo, e a sustentabilidade a longo prazo de uma sociedade puramente lésbica sem homens ou crianças. Se a sexualidade pudesse ser uma construção da natureza humana, pouco espaço seria dado para a compreensão da natureza da formação histórica da natureza humana, especialmente se a natureza histórica do homem ou da mulher aumentasse a heterossexualidade.[13] A falta de clareza teórica sobre lesbianismo e sexualidade torna-se mais profunda à medida que a sexualidade é vista como muito mais do que uma escolha.[14][15]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Proponentes

Referências

  1. Bindel, Julie (27 de março de 2004). «Location, location, orientation». The Guardian 
  2. Krebs, Paula. «Lesbianism as a Political Strategy». Off Our Backs 17.6. ProQuest 197156630 
  3. Santos, Ana Cristina (novembro de 2005). «Heteroqueers contra a heteronormatividade: Notas para uma teoria queer inclusiva». Consultado em 27 de junho de 2023 
  4. Love Your Enemy?: The Debate Between Heterosexual Feminism and Political Lesbianism (em inglês). [S.l.]: Onlywomen Press. 1981 
  5. Bindel, Julie (30 de janeiro de 2009). «My sexual revolution». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077. Consultado em 27 de junho de 2023 
  6. Bunch, Charlotte. «Lesbians in Revolt». The Furies: Lesbian/Feminist Monthly. Consultado em 12 de maio de 2014 
  7. Koedt, Anne. «Lesbianism and Feminism». Arquivado do original em 29 de abril de 2015 
  8. "Feminism is the theory, lesbianism is the practice." (Chicago Women's Liberation Union pamphlet, Lesbianism and Feminism, 1971; Stevi Jackson, Sue Scott, Feminism and Sexuality: A Reader, Columbia University Press, 1996, p. 282)
  9. Skelton, Christine; Francis, Becky (17 de dezembro de 2008). Feminism and 'The Schooling Scandal' (em inglês). [S.l.]: Taylor & Francis 
  10. Hoagland, Sarah Lucia (1988). Lesbian Ethics: Toward New Value (em inglês). [S.l.]: Institute of Lesbian Studies 
  11. Davis, Flora. Moving the Mountain: The Women's Movement in America since 1960, University of Illinois Press, 1999, ISBN 0-252-06782-7, p271
  12. Bunch, Charlotte/The Furies Collective, "Lesbians in Revolt", in The Furies: Lesbian/Feminist Monthly, vol. 1, Janeiro de 1972, pp.8–9
  13. Ramazanoglu; Routledge, Feminism and the Contradictions of Oppression, Routledge, 1989. pp 84–86
  14. «Answers to Your Questions For a Better Understanding of sexual orientation & Homosexuality». American Psychological Association. Consultado em 13 de maio de 2014 
  15. «Psychiatry and LGB People». Royal College of Psychiatrists. Consultado em 13 de maio de 2014