Linguagem sexista – Wikipédia, a enciclopédia livre

Linguagem sexista faz referência às expressões que difamam a pessoas de ambos os sexos com respeito a seus atributos ou funções dentro da sociedade ou meio. A expressão se emprega para se referir ao sexismo associado ao uso da linguagem. Diversos organismos e legislações recomendam usar uma linguagem não sexista, a cujo fim se editaram guias e se desenvolveram políticas inclusive legislativas.[1]

Características[editar | editar código-fonte]

Linguagem sexista, também chamada de androcêntrica, são os rasgos relacionados com os preconceitos culturais relacionados com a identidade sexual, frequentemente sócios ao machismo, à misoginia ou a um desprezo real ou aparente dos valores femininos.[2]

A linguagem sexista refere-se à discriminação de pessoas, que se manifesta no uso da linguagem de um sexo se considerar inferior a outro. Isto se dá em dois sentidos: por um lado, no que diz respeito à identidade sexual de quem fala, e por outro no que se refere ao tratamento discriminatório que sofrem as mulheres no discurso, seja pelo termo utilizado ou pela maneira de construir a frase.[3]

Em idiomas como o espanhol, o gênero gramatical tem por forma não marcada o masculino dos substantivos e adjetivos, de forma que passa a ser o gênero masculino o inclusivo ou includente em frente ao feminino marcado, que passa a ser o gênero exclusivo ou excludente: "Os alunos desta classe" inclui homens e mulheres, mas "as alunas desta classe" exclui os homens.[4]

Por outra parte, o feminino pode ter conotações semânticas despetivas (oposição zorro/zorra; homem público/mulher pública; ser um galo/ser uma galinha) ou de coisificação (ou objetificação) e passividade (impressor/impressora). Estas diferenças percebem-se também a nível léxico (algo é "cojonudo" se é bom, um "coñazo" se é mau, ainda que "acojonado" é assustado e em alguns países de língua latina güevón é sinônimo de 'torpeza' e cuquito, sinônimo de 'terno').[5]

O uso sexista na denominação de títulos oficiais, profissões, cargos ou ofícios pode-se corrigir através de diversos processos de feminilização. Um destes processos é o legislativo. A título de exemplo, na Espanha ditou-se a Ordem Ministerial de 22 de março de 1995, que se adequa a denominação de títulos acadêmicos oficiais à condição feminina ou masculina de quem os obtenham.[6]

Linguagem neutra[editar | editar código-fonte]

Alguns movimentos e militâncias atuais, principalmente algumas vertentes inseridas no feminismo, afirmam que a corrente e que a linguagem atual é sexista, já que usa do gênero masculino genérico, o qual se relaciona com a definição de sexo masculino para o que se começou a definir a linguagem não sexista. Apesar de não haver consenso,[7] tais movimentos propõem que se pode evitar o emprego excessivo do masculino usando, entre outras, as seguintes estratégias:[8][9][10][11][12][13][14]

  • Nomes coletivos (professorado, em vez dos professores, alunado, em vez de alunos...)
  • Perífrase ("a pessoa interessada", em vez de "o interessado")
  • Construções metonímicas (a juventude, em vez dos jovens) ou (os estudantes, em vez dos alunos)
  • Desdobramentos (senhores e senhoras, meninos e meninas)
  • Uso de barras (estimado/a, sr/a) ou parênteses (cirurgiões(ãs), alemã(e)s, cidadã(o); enfermeiro(a))
  • Omissão de determinantes ou emprego de determinantes sem marca de gênero ("a cada contribuinte" em lugar de "os contribuintes")
  • Uso de formas pessoais genéricas ou formas não pessoais dos verbos ("é preciso atender mais" em lugar de "é preciso que o aluno atenda mais").[15]
  • Ambiguação de a/o por arroba (@s candidat@s) ou a/e por æ (escritoræ, diretoræs)
  • Uso da linguagem neutra ("Alune precisa focar, João é muito chatx")

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. claudiomoreno. «sexismo na linguagem – Sua Língua». Consultado em 29 de junho de 2020 
  2. «Sexismo y androcentrismo». puntogenero.inmujeres.gob.mx. Consultado em 29 de junho de 2020 
  3. Pérez Belchí, Azahar. Uso del lenguaje en los textos de los servicios públicos desde una perspectiva de género (lenguas, español e inglés) (PDF). España: [s.n.] 3 páginas 
  4. Llamas Sáiz, Carmen (2015). «Academia y hablantes frente al sexismo lingüístico: ideologías lingüísticas en la prensa española». Circula (1): 196–215. ISSN 2369-6761. doi:10.17118/11143/7995 
  5. «El significado sexista de las palabras, la discriminación del lenguaje * SOY OPTIMISTA». SOY OPTIMISTA (em espanhol). Consultado em 29 de junho de 2020 
  6. BOE. «Orden Ministerial de 22 de marzo de 1995, por la que se adecua la denominación de títulos académicos oficiales a la condición femenina o masculina de quienes los obtengan» (PDF) 
  7. Declercq, Marie (10 de julho de 2020). «Linguagem neutra: proposta de inclusão esbarra em questões linguísticas». tab.uol.com.br. Consultado em 3 de abril de 2021 
  8. Hawad, Helena Feres (26 de junho de 2012). «O paradoxo da linguagem não sexista». Revista Letra. 1. ISSN 1806-5333. doi:10.17074/rl.v1i0.17 
  9. Bosque, Ignacio (4 de março de 2012). «Opinión | Sexismo lingüístico y visibilidad de la mujer». Madrid. El País (em espanhol). ISSN 1134-6582 
  10. «Escrevemos 'alunos(as)' ou 'alunos/as'? Parênteses ou barra? | Sobre Palavras». VEJA. Consultado em 2 de maio de 2021 
  11. «Por uma linguagem menos sexista». Jornal Plural. 14 de junho de 2021. Consultado em 24 de agosto de 2021 
  12. «Linguagem inclusiva — Manual de Comunicação». www12.senado.leg.br. Consultado em 24 de agosto de 2021 
  13. «Guia de linguagem inclusiva». www.tre-pb.jus.br. Consultado em 24 de agosto de 2021 
  14. Lomotey, Benedicta Adokarley (2011). «On Sexism in Language and Language Change – The Case of Peninsular Spanish». Linguistik Online. 70 (1). ISSN 1615-3014. doi:10.13092/lo.70.1748 
  15. Mäder, Guilherme Ribeiro Colaço (2015). «Masculino genérico e sexismo gramatical»