Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta – Wikipédia, a enciclopédia livre

Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta
Atividade Operadora ferroviária
Fundação 1878
Destino Extinta
Encerramento 1946
Área(s) servida(s) Portugal
Locais Figueira da Foz, Pampilhosa, Guarda, Vilar Formoso
Sucessora(s) Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses

A Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta, mais conhecida como Companhia da Beira Alta, foi uma empresa portuguesa, que construiu e explorou a Linha da Beira Alta e o Ramal da Figueira da Foz, em Portugal. Foi formada em 1878,[1] e integrada na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses em 1947.[2]

História[editar | editar código-fonte]

Fotografia antiga da Estação de Figueira da Foz.

Formação[editar | editar código-fonte]

Em 23 de Março de 1878, uma lei abriu o concurso para a construção da Linha da Beira Alta, e em 3 de Agosto desse ano foi assinado um acordo com a Société Financière de Paris, que fundou a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta para construir e explorar a Linha.[1] O primeiro troço da Linha da Beira Alta entrou ao serviço, de forma provisória, em 1 de Julho de 1882, tendo a linha sido inaugurada na sua totalidade, de Vilar Formoso à Figueira da Foz, no dia 3 de Agosto do mesmo ano.[1][3]

Expansão[editar | editar código-fonte]

Em 1901, esta companhia apresentou ao governo uma proposta para um novo regulamento de circulação ferroviária nas suas linhas.[4] Em 11 de Janeiro de 1911, iniciou-se uma greve na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, que no dia seguinte estendeu-se aos Caminhos de Ferro do Estado, Companhia Nacional de Caminhos de Ferro e à Beira Alta. Este movimento inseriu-se na vaga de greves dos ferroviários nos primeiros anos da República.[5]

As previsões que inicialmente se fizeram do tráfego internacional para a Linha da Beira Alta, devido à circunstância de ser a principal ligação ferroviária com Espanha, revelaram-se demasiado optimistas, uma vez que o movimento dos comboios sempre se revelou diminuto.[6] De igual forma, o trânsito interno também não foi muito intenso, tendo a receita quilométrica atingido, em 1913, apenas o valor de 2.231$00.[6] As dificuldades exacerbaram-se com o início da Primeira Guerra Mundial, pelo que a operadora teve de exercer uma cuidadosa gestão económica para garantir a exploração da Linha, sem menosprezar as condições das infra-estruturas e do material circulante.[6] Ainda assim, o processo do melhoramento do serviço foi muito limitado devido aos escassos recursos da Companhia e à falta de apoio do Estado, que não permitiam empreendimentos de maior vulto, como as obras no Porto da Figueira da Foz.[7] Em finais de 1914, a Companhia estava a fabricar várias carruagens de terceira classe nas suas instalações oficinais na Figueira da Foz, onde já tinham sido produzidas outras carruagens de primeira e segunda classes, que já estavam em circulação, e já tinha feito a renovação da via entre Nelas e Mangualde.[7] Também nesse período, a companhia tinha enviado vários automóveis a França para modificar os motores, que no entanto foram apreendidos pelo estado francês devido à Primeira Guerra Mundial.[7] A situação da Companhia agravou-se em 1917, com grandes dificuldades no fornecimento do carvão devido ao bloqueio germânico, tendo sido forçada a suprimir alguns comboios.[8]

Locomotiva n.º 102 da Companhia da Beira Alta

Declínio e encerramento[editar | editar código-fonte]

Já em 1913, tinha surgido a intenção de resgatar as concessões da CP e da Companhia da Beira Alta, de forma a entregá-las a uma só empresa.[5] No final da década de 1920, o engenheiro Duarte Pacheco promoveu a aquisição, pelo Fundo de Desemprego, de grandes lotes de acções e obrigações, que se encontravam na posse de financeiros e especuladores, que tinham influência no conselho de administração da Companhia da Beira Alta e noutras empresas ferroviárias; desta forma, Duarte Pacheco procurou iniciar o processo de nacionalização das principais operadoras ferroviárias em Portugal.[2]

Em 1933, as receitas de exploração líquidas de impostos e reembolsos atingiram o valor de 12.748,671$00, um incremento de 186.582$00 em relação ao ano anterior; no entanto, as despesas também aumentaram, tendo atingido os 10.994,801$00, mais 560.014$00 do que em 1932.[6] As receitas líquidas de passageiros, grande velocidade e de fora do tráfego caíram, mas foram compensadas por um considerável acréscimo nas receitas de pequena velocidade.[6] Em termos de passageiros, os movimentos das primeira e segundas classes caíram de 1932 para 1933, mas houve um grande aumento na terceira classe.[6] Em relação às mercadorias, verificou-se um apreciável crescimento na pequena velocidade.[6] Em meados da década a situação de declínio dos caminhos de ferro nacionais agravou-se, devido à crise económica, e ao desenvolvimento dos transportes rodoviários e da rede telefónica, tendo a Companhia da Beira Alta sofrido uma forte regressão no tráfego internacional.[9]

Em 1946, foi assinada a escritura para a transferência da concessão da Linha da Beira Alta, para a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses;[2] a exploração iniciou-se no dia 1 de Janeiro do ano seguinte.[2]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c TORRES, Carlos Manitto (16 de Março de 1958). «A evolução das linhas portuguesas e o seu significado ferroviário» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 71 (1686). Lisboa. p. 133-140. Consultado em 3 de Setembro de 2015 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  2. a b c d REIS et al, p. 62-63
  3. MARTINS et al, 1996:248
  4. «Linhas Portuguezas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 15 (337). Lisboa. 1 de Janeiro de 1902. p. 11. Consultado em 13 de Março de 2015 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  5. a b SOUSA, José Fernando de (16 de Março de 1935). «Greves e Caminhos de Ferro 1910-1926» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 47 (1134). Lisboa. p. 119-120. Consultado em 26 de Agosto de 2015 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  6. a b c d e f g SOUSA, José Fernando de (16 de Junho de 1934). «A Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta em 1933» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 46 (1116). Lisboa. p. 303-305. Consultado em 13 de Março de 2015 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  7. a b c «Linhas Portuguesas» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 27 (647). 1 de Dezembro de 1914. p. 363. Consultado em 13 de Março de 2015 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  8. «A Crise do Carvão» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 30 (700). Lisboa. 16 de Fevereiro de 1917. p. 49-50. Consultado em 13 de Março de 2015 – via Hemeroteca Municipal de Lisboa 
  9. SOUSA, José Fernando de (1 de Fevereiro de 1935). «A Crise dos nossos Caminhos de Ferro» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 47 (1131). p. 57-58. Consultado em 13 de Março de 2015 
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Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • MARTINS, João Paulo, BRION, Madalena, SOUSA, Miguel de, LEVY, Maurício, AMORIM, Óscar (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. [S.l.]: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas 
  • REIS, Francisco Cardoso dos; GOMES, Rosa Maria; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. [S.l.]: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X 
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