Vologases I da Pártia – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para outros significados, veja Vologases.
Vologases I
Rei dos reis da Pártia
Vologases I da Pártia
Moeda de Vologases I
Reinado 51 d.C.78 d.C.
Antecessor(a) Vonones II
Sucessor(a) Vologases II
Morte 78
Dinastia Dinastia arsácida
Pai Vonones II
Mãe Uma concubina bizantina
Filho(s) Vardanes II
Vologases II

Vologases I da Pártia (em persa: ولاش يکم), chamado também de Vologeses, foi rei dos reis do Império Parta entre 51 até sua morte em 78.

Família e ascensão[editar | editar código-fonte]

Vologases era um príncipe de ascendência iraniana e bizantina. Era um dos filhos de Vonones II com uma concubina,[1][2] sucedeu ao pai em 51. Ao ascender ao trono parta, nomeou seu irmão, Pácoro II como rei de Atropatene.

Invasão da Armênia[editar | editar código-fonte]

Em 52, Vologases I invadiu o Reino da Armênia, conquistando Artaxata e proclamando seu irmão mais novo, Tirídates I como rei,[3] um ato que violou o tratado de paz que havia sido assinado pelo imperador romano Augusto e o Fraates IV, que concedia explicitamente aos romanos o direito de nomear e coroar os reis da Armênia[a]. Vologases I considerava que o trono da Armênia era uma antiga propriedade de seus ancestrais e que vê-lo usurpado por um monarca estrangeiro sem fazer nada era um crime[b]. Uma epidemia juntamente com uma insurreição iniciada por seu filho Vardanes forçaram a sua retirada da Armênia, permitindo que Radamisto voltasse e punisse os locais como traidores; ele se revoltaram de vez e colocar o príncipe Tirídates I em seu lugar em 55 a.C. Radamisto escapou com sua esposa Zenóbia, que estava grávida. Incapaz de continuar fugindo, ela pediu que o marido a matasse para que ela não fosse capturada. Radamisto a esfaqueou com uma adaga meda e atirou seu corpo no rio Araxes. Zenóbia não foi ferida fatalmente e acabou salva por dois pastoes, que a envionu para Tirídates. O rei a recebeu com carinho e a tratou como um membro da corte.[6] O próprio Radamisto voltou para a Ibéria e logo depois foi executado por seu pai, Farasmanes I da Ibéria por ter conspirado contra o poder real.[7]

Guerra contra Roma[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Guerra romano-parta de 58–63
Mapa da região da Armênia por volta de 50
Catafractário, a principal unidade do exército parta na época de Vologases I.

Descontente com o crescimento da influência parta em sua vizinhança,[6] o imperador Nero enviou o general Cneu Domício Córbulo com um grande exército para o oriente para restaurar os antigos reis clientes romanos.[6][8] Um hasmoneu chamado Aristóbulo recebeu a Armênia Menor (Nicópolis e Satala) e Soemo de Emesa, a Armênia Sofena. Na primavera de 58, Córbulo invadiu a Armênia Maior a partir da Capadócia e marchou direto para Artaxata enquanto Farasmanes I da Ibéria atacou pelo norte e Antíoco IV de Comagena, pelo sudoeste. Apoiado por seu irmão, Tirídates I enviou colunas em raides contra os romanos em todas as direções, o que fez com que Córbulo adotasse a mesma tática enquanto avançava para Tigranocerta atravessando terreno difícil e cruzando Taronitida, onde diversos de seus comandantes perderam a vida em emboscadas da resistência armênia; porém, a cidade abriu seus portões e, com a exceção de uma das cidadelas, que acabou destruída no ataque seguinte.[9] Nesta época, a maioria dos armênios já havia abandonado a resistência e aceito príncipe imnposto por Roma.[10]

Nero deu a coroa ao último descendente dos reis da Capadócia, neto Glafira e Alexandre da Judeia, o irmão de Herodes Arquelau e filho de Herodes, o Grande,[11] que assumiu o nome de Tigranes VI da Armênia (seu tio era Tigranes V).[12] Seu filho, chamado Caio Júlio Alexandre, se casou com Jotapa, a filha de Antíoco IV de Comagena, e foi nomeado rei da Cilícia. Nero foi muito elogiado em público por esta vitória inicial[13] e Córbulo foi nomeado governador da Síria como prêmio,[14] uma nomeação muito prestigiosa, pois a Síria era, além de muito rica, uma das maiores da época.

Uma guarda de 1 000 legionários, três coortes auxiliares e duas alas de cavalos foram entregues a Tirídate para que ele pudesse defender suas fronteiras.[9] As fronteiras de borda foram concedidas a aliados que apoiaram Córbulo, incluindo Pôlemon, Farasmanes I, Aristóbulo e Antíoco.[9]

Vologases I ficou furioso pelo fato de, novamente, um estrangeiro estar sentado no trono armênio, mas hesitou em reinstalar seu irmão enquanto estava ocupado com um conflito contra os hircanos, que estavam em revolta.[9] Tigranes invadiu o Reino de Adiabena, um estado-vassalo parta, em 61 e depôs Monobas II.[15] Vologases considerou o ato uma agressão romana e começou uma campanha para restaurar Tirídates. Sob o comando do aspabedes Moneses estava uma bem-disciplinada força de catafractários com auxiliares adiabenos e ordenou-lhe que expulsasse Tigranes da Armênia. Depois de sufocar a revolta hircana, Vologases I reuniu as forças de seus domínios e marchou para a Armênia.[9] Córbulo, tendo sido informado antes do ataque iminente, enviou duas legiões sob o comando de Verulano Severo e Vécio Bolano para ajudar Tigranes, sob ordens secretas de agirem com cautela e não vigor. Ele também despachou uma mensagem para Nero, urgindo-o que enviasse um segundo comandante com a missão explícita de defender a Armênia, pois a Síria agora estava também ameaçada. Córbulo colocou o resto das legiões nas margens do Eufrates e armou tropas irregulares com o pessoal das províncias vizinhas. Como havia pouca água, ele construiu fortes sobre fontes nas montanhas e escondeu os pequenos riachos jogando areia sobre eles.[9]

Moneses marchou até Tigranocerta, mas não conseguiu ultrapassar as muralhas da cidade pois suas tropas estavam despreparadas para um longo cerco. Córbulo, apesar da vitória, achou melhor agir com prudência e enviou um centurião romano chamado Caspério para o acampamento de Vologases, em Nísibis, a 60 quilômetros de Tigranocerta, com a exigência de que eles levantassem o cerco. Por causa de uma recente praga de gafanhotos e da falta de forragem para seus cavalos, Vologases I concordou em levantar o cerco a Tigranocerta e pediu em troca o trono da Armênia para consolidar a paz.[9] Ele também exigiu que romanos e partas saíssem da Armênia. Os romanos recusaram os termos e enviaram Lúcio Cesênio Peto, governador da Capadócia, para colocar a Armênia definitivamente sob a administração romana.[16][17][18]

Peto era um comandante sofrível e foi derrotado de forma humilhante na Batalha de Randeia (62), perdendo as legiões XII Fulminata, comandada por Calvísio Sabino, e a IIII Scythica, comandada por Funisulano Vetoniano. O comando do exército passou novamente para Córbulo, que, no ano seguinte, liderou uma poderosa força até Melitene e o interior da Armênia, eliminando todos os governadores regionais suspeitos de ajudar os partas. Finalmente, em Randeia, Córbulo e Tirídates se encontraram para firmar o tratado de paz. Tirídates se submeteu e concordou em ir à Roma para conseguir a aprovação de Nero.[19] Os termos garantiram que ele seria um rei vassalo de Roma, que uma guarnição imperial ficaria em Sofena permanentemente e que Artaxata seria reconstruída. Córbulo encarregou seu genro, Ânio Viniciano, de acompanhar Tirídates I até Roma para garantir sua própria lealdade a Nero.[16]

Depois da visita, Nero convocou Vologases I a Roma diversas vezes, sem sucesso, até que, cansado da insistência, ele enviou a seguinte mensagem ao imperador romano: "É muito mais fácil para você do que para mim atravessar um mar tão vasto. Portanto, se você vier até a Ásia, podemos combinar um encontro".[20]

Anos finais e morte[editar | editar código-fonte]

Porém, Vologases I estava satisfeito com o resultado e honrou a memória de Nero[21] e manteve também boas relações com Vespasiano, a quem ele ofereceu um exército de 40 000 arqueiros em sua batalha contra Vitélio. Logo depois, os alanos, uma grande tribo nômade das regiões além do Cáucaso, invadiu Atropatene e a Armênia. Vologases pediu, em vão, ajuda a Vespasiano. Os alanos se retiraram rapidamente com um grande espólio dos saques realizados na região.[22]

Vologases I morreu em 78 e foi sucedido por seu filho Vologases II.

Vologases I e o renascimento iraniano[editar | editar código-fonte]

O reino de Vologases I foi marcado por uma determinada reação contra o helenismo. Ele promoveu o retorno dos costumes iranianos e tradições aquemênidas, substituindo o alfabeto grego pela escrita pálavi[23] e, em algumas moedas, as iniciais de seu nome aparece em letras pálavis. Vologases também reverteu os nomes de várias cidades iranianas rebatizadas pelos gregos. Segundo os textos zoroástricos, ele ordenou uma coleção de antigos textos avestanos. Em algumas moedas, um templo do fogo apareceu pela primeira vez,[24] iniciando uma tradição que continuou por muitos séculos e só terminou com o final do Império Sassânida.

Vologases construiu diversas cidades, incluindo Vologesocerta ("Vologases a construiu") nas redondezas de Ctesifonte, com o objetivo de atrair os habitantes de Selêucia no Tigre, e Vologésias, num canal do Eufrates, ao sul de Babilônia (perto de Hira).

Ver também[editar | editar código-fonte]

Vologases I da Pártia
Precedido por:
Vonones II
Rei dos reis da Pártia
51–78
Sucedido por:
Vologases II

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Este mesmo tratado permitiu que Augusto recuperasse o estandarte romano mantido pelos partas como troféu depois da Batalha de Carras, limpando uma antiga mancha na honra romana.[4]
  2. Vologases está fazendo referência a Vonones I e os filhos de Artabano, Ársaces e Orodes, como antigas arsácidas que haviam se sentado no torno armênio.[5]

Referências

  1. Tarn, William Woodthorpe (2010). The Greeks in Bactria and India (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. pp. 51–52. ISBN 9781108009416 
  2. Bunson, Matthew (1995). A Dictionary of the Roman Empire (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press. p. 454. ISBN 9780195102338 
  3. Tácito, Anais 12.50.1–2
  4. Boardman, John (1925). The Cambridge ancient history (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. pp. 158–159. ISBN 0-521-26430-8 
  5. Tácito, Anais, 12.5
  6. a b c Yarshater, Ehsan (1983). The Cambridge History of Iran (em inglês). Massachusetts: Cambridge University Press. pp. 80–83. ISBN 0-521-20092-X 
  7. Sherk, Robert K. (1980). ANRW II.7, Politische Geschichte (Provinzen und Randvölker: Griechischer Balkanraum; Kleinasien), Roman Galatia: The Governors from 25 B. C. to A. D. 114 (em inglês). Berlin & New York: Walter de Gruyter & Co. pp. 954–1052. ISBN 311008015X 
  8. Tácito, Anais 13.9
  9. a b c d e f g Lindsay, John. A View of the History and Coinage of the Parthians (em inglês). [S.l.]: Adamant Media Corporation. pp. 83–84. ISBN 1-4021-6080-1 
  10. Tácito, Anais 13.55
  11. Tabor, James D. «The Jewish Roman World of Jesus» (em inglês). Department of Religious Studies • The University of North Carolina at Charlotte. Consultado em 30 de novembro de 2006 
  12. Estrabão, 12.3.35
  13. Tácito, Anais 13.56
  14. Tácito, Anais 14.36
  15. Tácito, Anais 15.1
  16. a b Smith, William (1867). «Corbulo». Dictionary of Greek and Roman Biography and Mythology (em inglês). Boston. 851 páginas 
  17. Tácito, Anais 15.1–6
  18. Dião Cássio, História Romana 62.20
  19. The Penny Cyclopædia of the Society for the Diffusion of Useful Knowledge (em inglês). Great Britain: Society for the Diffusion of Useful Knowledge. 1842. p. 496 
  20. Cassius, Dio (2004). Dio's Rome Vol. 5 (em inglês). [S.l.]: Kessinger Publishing. p. 36. ISBN 1-4191-1613-4 
  21. Suetônio Nero, p. 57
  22. Flávio Josefo, Guerras Judaicas 7.8.4
  23. Garthwaite 2005, pp. 80–81; ver também Curtis 2007, p. 21 e Schlumberger 1983, p. 1030
  24. Political history of Parthia, Neilson C. Debevoise, p. 196.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Fontes primárias[editar | editar código-fonte]

Fontes secundárias[editar | editar código-fonte]

  • Bivar, H.D.H (1968). «The Political History of Iran under the Arsacids: Continuation of conflict with Rome over Armenia». In: William Bayne Fisher, Ilya Gershevitch, Ehsan Yarshater, R. N. Frye, J. A. Boyle, Peter Jackson, Laurence Lockhart, Peter Avery, Gavin Hambly, Charles Melville. The Cambridge History of Iran (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 0-521-20092-X 
  • Henderson, Bernard W. (1901). «The Chronology of the Wars in Armenia, A. D. 51–63». Cambridge University Press. Classical Review (em inglês). 15 (3): 159–165. ISSN: 0009840X 
  • Toumanoff, Cyril (1986). «Arsacids». Encyclopaedia Iranica, Vol. II, Fasc. 5 (em inglês). Cyril Toumanoff. pp. 525–546 
  • Chaumont, M. L. (1988). «BALĀŠ». Encyclopaedia Iranica, Vol. III, Fasc. 6 (em inglês). pp. 574–580 
  • Theodor Nöldeke, Zeitschrift der deutschen-morgenl. Gesellschaft, xxviii. (em inglês)
  • Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.