Trebaruna – Wikipédia, a enciclopédia livre

Trebaruna ou Treborunnis era a deusa da casa, das batalhas, da morte e da família na mitologia lusitana.

Nomes[editar | editar código-fonte]

O seu nome também aparece como Trebarune, Trebaronna, Trebarone, Trebaronne e Trebaroni.[1] [2] [3] O historiador espanhol José María Blázquez Martínez também lista os seguintes atestados de nome para a divindade:[4]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

O seu nome pode ser derivado do celta *trebo ('casa') e *runa ('segredo, mistério').[5] O filólogo espanhol Antonio Tovar sugeriu que, como a primeira parte do nome Trebopala, esta deusa poderia estar ligada à comunidade.[6] Jürgen Untermann afirma que os nomes desta divindade encontram-se no caso dativo, o que sugere uma forma nominativa como *Trebaru ou *Trebaro.[7]

Evidência epigráfica[editar | editar código-fonte]

Tovar listou três inscrições onde o seu nome é atestado: uma de Idanha-a-Velha, uma segunda de Cória e a terceira de Lardosa.[8] Em Portugal foram encontrados dois pequenos altares dedicados a esta deusa, um na Egitânia romano-lusitana (atual Idanha-a-Velha) e outro em Lardosa. O Museu Regional Tavares Proença, em Castelo Branco, contém agora o altar de Lardosa. Ele estava situava numa zona onde os castristas fundaram uma vila romano-lusitana. Este altar costumava conter uma estátua da deusa que desde então se perdeu. No entanto, ainda preserva esta inscrição: TREBARONNE V(otum) S(Olvit) OCONUS OCONIS f(ilius) que se traduz como: Ocono, filho de Oco, cumpriu a promessa a Trebaruna.[9]

Numa inscrição do Fundão em Portugal, uma divindade Trebarune é invocada por um Tôncio Toncetano:[10] Ara(m) pos(uit) Toncius Toncetani f(ilius) Icaedit(anus) milis Trebarun(a)el(ibens) m(erito) v(otum) s(olvit) José d'Encarnação enumera uma inscrição da vila romana da Freiria (Cascais) (encontrada a 27 de Agosto de 1985), onde é invocado um Triborunnis, uma possível referência a esta divindade.[11] O componente Tribo- ele interpreta como cognato para PIE *treb-.[12] [13] Uma inscrição mais recente de Capera é uma epigrafia dedicatória de uma pessoa chamada Marco Fídio a Augusta Trebaruna.[14]

Papel possível[editar | editar código-fonte]

José Leite de Vasconcellos sugeriu que Trebaruna era uma deusa da guerra, pois encontrou um segundo altar da mesma pessoa (Toncius Toncetami), dedicado à deusa romana Vitória.[15]

Com base numa possível etimologia do seu nome, parece que ela era uma protetora de propriedades, casas e famílias.[16] Na mesma linha, Olivares Pedreños citou posições de d'Arbois de Jubainville e Lambrino que a interpretam como protetora do grupo ou tribo.[17]

Legado[editar | editar código-fonte]

Após o anúncio, em 1895, por José Leite de Vasconcelos da descoberta de Trebaruna como um novo teónimo, foi publicado um poema comemorativo que comparava Trebaruna à Vitória romana.[18] Recentemente[19] ela tornou-se, entre os neopagãos, uma deusa das batalhas e alianças.[20]

Referências

  1. Tovar, Antonio (1966). «L'inscription du Cabeço das Fráguas et la langue des Lusitaniens». Études Celtiques. 11 (2): 256. doi:10.3406/ecelt.1966.2167 .
  2. Prósper, Blanca (1994). «El teónimo paleohispano Trebarune». Veleia. 11: 187. ISSN 0213-2095 .
  3. Untermann, Jürgen (2010). "Las divinidades del Cabeço das Fráguas y la gramática de la lengua lusitana". In: Actas de las jornadas Porcom, oilam, taurom. Cabeço das Fráguas: o santuário no seu contexto, celebradas en Guarda (Portugal) el 23 de abril de 2010. Revista Iberografias 6 (2010): 82. ISSN 1646-2858.
  4. Blázquez, José Mª. Arte Y Religión En El Mediterráneo Antiguo. Ediciones Cátedra, 2008. p. 126.
  5. Mees, Bernard (2014). «The etymology of "rune"». Beiträge zur Geschichte der deutschen Sprache und Literatur. 136 (4): 530. ISSN 0005-8076. doi:10.1515/bgsl-2014-0046 .
  6. Tovar, Antonio. "L’inscription du Cabeço das Fráguas et la langue des Lusitaniens". In: Etudes Celtiques, vol. 11, fascicule 2, 1966. pp. 256. DOI: https://doi.org/10.3406/ecelt.1966.2167; www.persee.fr/doc/ecelt_0373-1928_1966_num_11_2_2167
  7. Untermann, Jürgen (2010). "Las divinidades del Cabeço das Fráguas y la gramática de la lengua lusitana". In: Actas de las jornadas Porcom, oilam, taurom. Cabeço das Fráguas: o santuário no seu contexto, celebradas en Guarda (Portugal) el 23 de abril de 2010. Revista Iberografias 6 (2010): 82-83. ISSN 1646-2858.
  8. Tovar, Antonio. "L’inscription du Cabeço das Fráguas et la langue des Lusitaniens". In: Etudes Celtiques, vol. 11, fascicule 2, 1966. pp. 255. DOI: https://doi.org/10.3406/ecelt.1966.2167; www.persee.fr/doc/ecelt_0373-1928_1966_num_11_2_2167
  9. O Archeologo Português, 1/29, 1933, pp. 165-166.
  10. Jud, J. "MOTS D'ORIGINE GAULOISE?". In: Romania 47, no. 188 (1921): 495 (footnote nr. 1). Accessed July 29, 2021. http://www.jstor.org/stable/45044435. www.persee.fr/doc/roma_0035-8029_1921_num_47_188_4452
  11. "Lusitanie". In: L'Année épigraphique 1985 (1988): 133. Accessed July 30, 2021. http://www.jstor.org/stable/25607451.
  12. Encarnação, José d'. "O ex-voto à divindade Triborunnis". In: Kairós (Boletim do Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património) Nº. 4 - Inverno de 2019. pp. 78-80. http://hdl.handle.net/10316/88700
  13. Encarnação, José d' (2019). "Epigrafia romana no concelho de Cascais". In: Lisboa Romana – Felicitas Iulia Olisipo – Monumentos Epigráficos. p. 131. ISBN 978-989-658-608-9.
  14. Mora, Noelia Cases (2021). «Inscripción dedicada a Augusta Trebaruna en Capera (Oliva de Plasencia, Cáceres)». Boletín del Archivo Epigráfico. 7: 68–75. ISSN 2603-9117 .
  15. Vasconcellos, José de. "Cultos luso-romanos em Idegitania". In: O Archeologo Português. Vol. 1, N. 9. Setembro de 1895. pp. 225-232.
  16. O Archeologo Português, 1/29, 1933, p. 163.
  17. Olivares Pedreño, Juan Carlos. Los dioses de la hispania céltica. Universitat d´Alacant / Universidad de Alicante, Servicio de Publicaciones: Real Academia de la Historia. 2002. p. 245. ISBN 84-95983-00-1.
  18. Trebaruna, deusa Lusitana, ode heroica, José Leite de Vasconcelos, Barcelos : Typographia da Aurora do Cavado (1895)
  19. O que é a Pagan Federation? Arquivado em 2009-03-25 no Wayback Machine
  20. Pagan Federation Portugal Arquivado em 2008-09-06 no Wayback Machine