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Centranthus ruber
Centranthus ruber
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Dipsacales
Família: Valerianaceae
Género: Centranthus
Espécie: C. ruber
Nome binomial
Centranthus ruber
(L.) DC.

A Centranthus ruber, comummente conhecida como alfinetes[1], é uma planta perene da família das valerianáceas, originária da região do mediterrâneo.[2]

Nomenclatura[editar | editar código-fonte]

Além do nome «alfinetes», dá ainda pelos seguintes nomes comuns: boliana[3], cuidado-dos-homens[4], rosa-da-rocha[5] e valeriana-vermelha.[6]

De acordo com Francisco Arruda Furtado, o substantivo «boliana», que também conheceu a variante antiga moliana[7], hoje em desuso, será uma corruptela da palavra «valeriana».[8]

Distribuição[editar | editar código-fonte]

A boliana encontra-se distribuída pela orla mediterrânica, desde a Europa do Sul ao Noroeste africano e à Ásia Menor.[9]

Ocorre naturalmente em Marrocos, na Argélia, na Tunísia, na Espanha, em Portugal, na França, na Itália, nas Baleares, na Sardenha, na Corsega, em Montenegro, na Albânia, na Grécia, na orla do mar Egeu e na Ucrânia.[10]

Trata-se de uma espécie introduzida, nas ilhas Canárias, nos Açores e Madeira, e ainda na Bélgica, na Grã-Bretanha, na Suíça e na Aústria. Trat-se portanto de uma planta apófita (planta autóctone, que foi naturalizada fora do seu habitat natural, pela acção do homem)[11], dada a sua facilidade de naturalização e o seu amplo uso no âmbito da jardinagem.[12] [6]

Portugal[editar | editar código-fonte]

Trata-se de uma espécie presente no território português, nomeadamente em Portugal Continental, enquanto espécie autoctone, e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, enquanto espécie introduzida.[12]

Mais concretamente, em Portugal Continental, encontra-se nas zonas do Noroeste montanhoso, da Terra quente e da Terra fria transmontanas, do Centro-Norte, do Centro-Oeste calcário, do Centro-Oeste arenoso, do Centro-Oeste olissiponense, do Centro-Oeste cintrano e do Sudeste setentrional.[13]

Ecologia[editar | editar código-fonte]

Trata-se de uma planta ruderal, rupícola e ornamental. Pelo que é capaz de prosperar entre falésias, fragas, penedias e escombreiras, mas também em pennhascos e em brechas em muros, rochedos e escarpas. Privilegia os solos de substracto calcário e as zonas ricas em salitre.[14]

Ocorre, amiúde, em sociedade com a Parietaria judaica.[15]

Descrição[editar | editar código-fonte]

É uma planta hemicriptófita, portanto, uma herbácea peréne. É multicaule e apresenta uma coloração verde-clara. [6]

Tem talo erecto, arredondado e liso, que atinge uma média de 30 a 60 centímetros de altura, sendo que pode chegar no máximo aos 120 centímetros.[10] O talo pode ser simples ou conter ramadas axilares foliosas, junto à base. As folhas, que podem ser ovadas, lanceoladas ou ainda ovo-lanceoladas, por vezes um pouco dentadas de forma irregular, com veios paralelos na base e ramificados distalmente no resto da folha.[16] As folhas podem chegar aos 5 centímetros de largura e são um tanto carnudas, dispondo-se em sentidos opostos.[6][10]

As flores são muito numerosas e têm a corola cor-de-rosa ou vermelha, raramente branca, e agrupam-se em corimbos densos.[10]

O fruto é um pequeno aquénio, geralmente glabro (sem pêlos), raramente dispõe de uma penugem esbranquiçada.[6][16]

Usos e propriedades[editar | editar código-fonte]

  • As folhas podem ser consumidas cruas em saladas ou cozidas como legumes, sendo certo o forte perfume que exalam, pode não ser o mais aperiente.[16][6]
  • As sementes chegaram a ser usadas, historicamente, na confecção de óleos de embalsamação .[16][6]
  • Produz efeitos depressores do sistema nervoso central similares aos da valeriana.[6] Com efeito, há estudos recentes[17] que demonstram que as propriedades sedativas da tintura obtida a partir da raiz da boliana, quando administrada por via oral, em ratos, é significativa. Tendo em vista a sua reduzida toxicidade, face à sua expressiva actividade, há autores, como J. Iglesias e R. San Martin, que propõe a possibilidade de se usar a valeriana-vermelha como um sucedâneo, mais fraco da valeriana. [18]
  • Tem propriedades anti-espasmódicas e anti-escorbuticas.[19]
  • É amplamente usada como planta ornamental.[6][12]

No folclore tradicional[editar | editar código-fonte]

No folclore europeu, foram atribuidas inúmeras propriedades mágicas e apotropaicas a esta planta.

Portugal[editar | editar código-fonte]

Em Portugal, de acordo com Teófilo Braga, na sua obra «O Povo Português nos seus Costumes», havia a crença medieval de que a boliana a cada sete anos, por ocasião da noite de São João, fazia despontar de uma das suas flores uma pena, como a dos patos, com que se podia escrever.[20] Além de dar sorte, acreditava-se que arrancandando essa pena à planta, aquela soltaria um grito.[21] Também era crença medieval que as bruxas, quando assinavam o pacto de sangue com o diabo, se serviam dessa pena.[20]

O naturalista Arruda Furtado, chegou a relatar as crenças populares dos Açores, mais propriamente da ilha de São Miguel, que atribuiam à boliana a faculdade de conceder fortuna ao seu detentor, contanto que se plantasse junto do verbasco, do trovisco e da bela-luz. Inclusive faz menção de que os emigrantes açorianos, levavam folhas desta planta consigo, como amuleto da sorte.[22]

Abonações literárias[editar | editar código-fonte]

Na «Comédia de Rubena», peça de Gil Vicente de 1521, há uma alusão à boliana, sob a grafia medieval «moliana» ou ainda «muliana»,[23] quando a Ama pede à Feiticeira, para que aquela cante a Cismena, filha de Rubena, a cantiga da "Moliana, Moliana"[24], que por seu turno seria uma cantiga medieval castelhana, popularizada por Juan Bautista de Villegas.[25]

A cantiga verseja sobre um cavaleiro, cujo copo de vinho é envenenado com um preparado mágico, por uma donzela apaixonada. Ao beber do copo, o cavaleiro deixa de ser capaz de ver o próprio cavalo, o que o impossibilita de se ir embora de ao pé da donzela, que o pretende seduzir.[26]

Itália[editar | editar código-fonte]

Na Itália, em tempos recônditos, pulverizavam-se as raízes desta planta, dispersando-as pelas casas e pelas propriedades, a fim de as proteger das trovoadas. As folhas também eram usadas para confeccionar decoctos mágicos para reconciliar os amantes desavindos.[16]

Taxonomia[editar | editar código-fonte]

Centranthus ruber foi descrita por (Carlos Linneo) Augustin Pyrame de Candolle e publicado na «Flore Française. Troisième Édition 4: 239» no ano de 1805.[27]

Centranthus: nome genérico que deriva das palavras gregas:

kéntron = ‘alfinete’, ‘agulha’, 'esporão', etc".; e ánthos = ‘flor’. As flores, deste género, têm esporão[28] (extensão tubular cónico, situada na base de algumas flores, que às vezes parte da corola e noutras do cálice).[29]

ruber: epíteto latino que significa ‘de cor vermelha’.[30]

Número de cromossomas do Centranthus ruber (fam. Valerianaceae) e táxones infraespecíficos: 2n=32.[31]

Sinonímia
  • Centranthus latifolius Dufr.
  • Centranthus marinus Gray
  • Centranthus maritimus Gray
  • Centranthus maritimus DC.
  • Kentranthus ruber (L.) Druce
  • Valeriana alba Mazziari
  • Valeriana florida Salisb.
  • Valeriana hortensis Garsault
  • Valeriana rubra L.[32]


Galeria[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Infopédia. «alfinete | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Porto Editora. Consultado em 23 de maio de 2022 
  2. «Centranthus ruber». Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Consultado em 25 de janeiro de 2021 
  3. Infopédia. «boliana | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Porto Editora. Consultado em 23 de maio de 2022 
  4. Infopédia. «cuidado-dos-homens | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Porto Editora. Consultado em 23 de maio de 2022 
  5. Infopédia. «rosa-da-rocha | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Porto Editora. Consultado em 23 de maio de 2022 
  6. a b c d e f g h i Castroviejo, S. (coord. gen.). 1986-2012. Flora iberica 225. Real Jardín Botánico, CSIC, Madrid.
  7. Braga, Teófilo (1885). O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. Porto: .Livraria Ferreira. pp. 73–74  «No Norte de Portugal, já com o nome moliana(...)»
  8. Arruda Furtado, Francisco (1883). MATERIAIS PARA O ESTUDO ANTROPOLÓGICO DOS POVOS AÇORIANOS.OBSERVAÇÕES SOBRE O POVO MICAELENSE (PDF). Ponta Delgada, São Miguel, Portugal: Tipografia Popular. p. 41  «A boliana, contracção de valeriana (...)»
  9. E. von Raab-Straube & T. Henning (2017+): Valerianaceae. – In: Euro+Med Plantbase - the information resource for Euro-Mediterranean plant diversity. Datenblatt Valerianaceae
  10. a b c d E. von Raab-Straube & T. Henning (2017+): Valerianaceae. – In: Euro+Med Plantbase - the information resource for Euro-Mediterranean plant diversity. Datenblatt Valerianaceae
  11. «Dicionário Online - Dicionário Caldas Aulete - Significado de apófito». aulete.com.br. Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  12. a b c «Flora-On | Flora de Portugal interactiva». flora-on.pt. Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  13. «UTAD- Jardim Botânico -Centranthus ruber». Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Consultado em 25 de janeiro de 2021 
  14. «Flora-On | Flora de Portugal interactiva». flora-on.pt. Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  15. Oberdorfer, Erich (2001). Pflanzensoziologische Exkursionsflora für Deutschland und angrenzende Gebiete. Unter Mitarbeit von Angelika Schwabe und Theo Müller. 8., stark überarbeitete und ergänzte Auflage. Stuttgart (Hohenheim): Eugen Ulmer. 884 páginas. ISBN 3-8001-3131-5 
  16. a b c d e «Primavera nell'Altosannio: la Valeriana rossa». Altosannio magazine (em italiano). Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  17. Adzet, T. (2009). ACTIVITÉ DE LA TEINTURE DE CENTRANTHUS RUBER, PAR VOIE DIGESTIVE - Planta Medica, vol.29. Barcelona, España: Laboratoire de Pharmacognosie et Pharmacodynamie, Faculté de Pharmacie. pp. 305–309. doi:10.1055/s-0028-1097668 
  18. Adzet, T; Iglesias, J; San Martin, R; Torrent, M (junho de 1976). «ACTIVITÉ DE LA TEINTURE DECENTRANTHUS RUBER,PAR VOIE DIGESTIVE». Planta Medica (04): 305–309. ISSN 0032-0943. doi:10.1055/s-0028-1097668. Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  19. Rameau, J-C. (2008). Flore Forestière Française, guide écologique illustré, 3 région méditerranéenne,. Paris, France: Ministère de l'agriculture et de la pêche. 2426 páginas 
  20. a b Braga, Teófilo (1885). O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. Porto: .Livraria Ferreira. p. 73-74 
  21. Braga, Teófilo (1885). O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. Porto: .Livraria Ferreira. pp. 73–74  «O mais curioso desta superstição é que o povo crê que de sete em sete anos, na noite de S. João, a boliana dá uma flor que é exactamente do feitio duma pena de pato e com que também: se pode escrever. Para a poder colher é preciso ir à meia noite com um guardanapo de olhos pela cabeça, e a flor, ao ser cortada, dá uma grito. Afirma-se que muitos escrivães possuem uma pena destas e que a isto devem a sua fortuna»
  22. Arruda Furtado, Francisco (1883). MATERIAIS PARA O ESTUDO ANTROPOLÓGICO DOS POVOS AÇORIANOS.OBSERVAÇÕES SOBRE O POVO MICAELENSE (PDF). Ponta Delgada, São Miguel, Portugal: Tipografia Popular. p. 41  «A mais complicada e curiosa superstição micaelense que temos encontrado é a da boliana. A boliana, contracção de valeriana, é uma planta indispensável para se ter fortuna; mas para isto carece de estar sempre ao pé dos seus três companheiros, o verbasco, o trovisco e a bela-luz, e que se lhe diga todos os dias estas cantigas: "Bons dias, minha menina! Boliana minha amiga,/Como passastes a noite? verbasco teu companheiro,/Tu comigo e eu sem ti, hás’ pedir ao meu amor/e tu no coração doutro. Que me dê muito dinheiro." Quando se rega a boliana é preciso dizer-lhe: "A água que vem da serra,/vem de regar os craveiros;/também te venho aguar,/minha nobre cavalheira» « As pessoas que emigram levam consigo folhas dela, para lhes dar sorte»
  23. Braga, Teófilo (1885). O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. Porto: .Livraria Ferreira. pp. 73–74  «No Norte de Portugal, já com o nome moliana(...)» «Gil Vicente, na comédia de Rubena, allude á cantiga Moliana, moliana.»
  24. Vicente, Gil (1521). Comédia de Rubena. Lisboa: Prensa Real, ordem de Dom João III. p. 91 
  25. Fraústo, Ana Maria (2011). A REVELAÇÃO DO SENTIDO - Estudo da significação narrativo-dramática nos romances orais tradicionais. Lisboa: UNIVERSIDADE DE LISBOA, FACULDADE DE LETRAS, DEPARTAMENTO DE LITERATURAS ROMÂNICAS. p. 38. 716 páginas 
  26. Fraústo, Ana Maria (2011). A REVELAÇÃO DO SENTIDO - Estudo da significação narrativo-dramática nos romances orais tradicionais. Lisboa: UNIVERSIDADE DE LISBOA, FACULDADE DE LETRAS, DEPARTAMENTO DE LITERATURAS ROMÂNICAS. p. 37. 716 páginas «“Moriana, Moriana, qué me diste en este vino?/ que por las riendas le tengo y no veo al mi rocino!/ Moriana, en el cercado, qué me diste en este trago?/ que por las riendas le tengo y no veo al mi cavallo!»
  27. Centranthus ruber en Trópicos
  28. Infopédia. «esporão | Definição ou significado de esporão no Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Dicionários Porto Editora. Consultado em 26 de janeiro de 2021 
  29. Familia Valerianaceae en floravascular.com.
  30. En Epítetos Botánicos.
  31. Números cromosómicos para la flora española, 40-44. Cardona, M. A. (1977) Lagascalia 7(2): 212-216.
  32. Centranthus ruber en theplantlist.org.

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