Proteína do soro do leite – Wikipédia, a enciclopédia livre

Proteína do soro do leite comercializada enquanto suplemento proteico para musculação.

A proteína do soro do leite é uma mistura de proteínas globulares isoladas a partir de soro de leite, uma substância líquida obtida durante a produção de queijo. Os efeitos da proteína do soro do leite estão atualmente a ser investigados enquanto possível forma de redução do risco ou tratamento complementar de diversas doenças.[1] Alguns ensaios pré-clínicos em roedores sugerem que a proteína do soro do leite pode possuir propriedades anti-inflamatórias ou anti-cancerígenas.[2][3]

A proteína do soro do leite é geralmente comercializada e ingerida na qualidade de suplemento alimentar. A comunidade de medicina alternativa alega que a substância apresenta vários benefícios para a saúde.[4]

Embora a proteína do soro do leite seja o elemento responsável por algumas das alergias ao leite, os principais alergénios do leite são as caseínas.[5][6]

Ver artigo principal: Soro de leite

O soro de leite é o resíduo que resulta da coagulação do leite durante o fabrico de queijo, o qual contém todos os elementos solúveis do leite. Corresponde a uma solução de 5% lactose em água, juntamente com alguns minerais e lactoalbumina.[7] A gordura é então removida e processada para alimentação humana.[7] O processamento pode ser feito através de secagem simples, ou o conteúdo proteico pode ser aumentado através da remoção de lípidos e outros materiais não proteicos.[8] Por exemplo, a secagem por atomização separa as proteínas do soro do leite.[9]

O soro do leite pode ser desnaturado através do calor. Embora a proteína do soro natural não se agregue durante o coalho ou acidificação do leite, a desnaturação da proteína do soro do leite desencadeia interações hidrofóbicas com outras proteínas e a formação de um gel de proteínas.[8] O soro de leite desnaturado através de calor pode, no entanto, causar alergias em alguns indivíduos.[10]

A proteína do soro do leite é o conjunto de proteínas globulares isoladas a partir do soro do leite, um subproduto do queijo fabricado a partir de leite de vaca. No leite de vaca, 20% das proteínas são de soro de leite e 80% caseínas,[11] enquanto no leite humano 60% são proteínas do soro do leite e 40% são caseínas.[12] As proteínas representam apenas cerca de 10% do resíduo seco do soro do leite. Estas proteínas são geralmente uma mistura de betalactoglobulina (~65%), alfalactoalbumina (~25%), albumina do soro bovino (~8%) e imunoglobulinas.[13]

Principais formas

[editar | editar código-fonte]

A proteína do soro do leite apresenta-se geralmente em três formas: concentrado (WPC), isolado (WPI) e hidrolisado (WPH).

  • Os concentrados apresentam geralmente (mas nem sempre) níveis reduzidos de gordura e colesterol. No entanto, em comparação com as outras formas de proteína do soro do leite, têm maior número de compostos bioativos e hidratos de carbono na forma de lactose. Os concentrados são 29-89% proteína por volume.
  • Os isolados são processados de modo a remover a gordura ou a lactose. No entanto, apresentam níveis também reduzidos de compostos bioativos. Os isolados são >90% proteína por volume.
  • Os hidrolisados são proteínas do soro do leite pré-digeridas através de um processo químico e parcialmente hidrolisadas de modo a facilitar o metabolismo, embora o seu custo de mercado seja superior.[8] A proteína do soro do leite bastante hidrolisada pode ser menos alergénica em relação a outras formas da proteína.[10]

Efeitos na saúde

[editar | editar código-fonte]

O uso de proteína do soro do leite enquanto fonte de aminoácidos e o seu papel na redução do risco de doenças cardíacas, cancro e diabetes encontra-se em estudo.[1] O soro do leite é uma fonte rica em aminoácidos ramificados (BCAA),[14] os quais são utilizados para estimular a síntese de proteínas.[15] A leucina, em particular, desempenha um papel essencial ao iniciar a transcrição da síntese de proteínas.[16] Quando a leucina é ingerida em grande quantidade, como no caso dos suplementos de proteína do soro do leite, verifica-se maior estimulação da síntese proteica, o que pode acelerar a recuperação e adaptação ao stress do exercício físico.[17][18]

A proteína do soro do leite contém o aminoácido cisteína, o qual pode ser usado para produzir glutationa. No entanto, este aminoácido não é essencial para a síntese de glutationa e alguns estudos sugeriram que a quantidade de cisteína na dieta pouco efeito tem na síntese de glutationa.[19] No entanto, outro estudo sugere que uma grande quantidade de proteína do soro do leite pode aumentar os níveis de glutationa nas células.[20] A glutationa é um antioxidante que defende o corpo contra os danos dos radicais livres e algumas toxinas, e alguns estudos em animais sugeriram que as proteínas do leite podem reduzir o risco de cancro.[21]

Um estudo em animais sugeriu que a proteína do soro do leite inibe a aflatoxina, um cancerígeno extremamente potente e a principal causa de lesões pela mitocôndria.[22]

Problemas de digestão

[editar | editar código-fonte]

Algumas pessoas experienciam diversos problemas de digestão após o consumo de proteína do soro do leite em pó.[23] Entre estes estão a acumulação de gases, inchaço da região abdominal, fadiga, dores de cabeça e irritabilidade. Uma das causas possíveis é a intolerância à lactose após a ingestão de concentrado.[24] Quando proteína que não tenha sido digerida se encontra no colón é fermentada pelas bactérias, o que leva à produção de gases e ácidos gordos, entre outros produtos.[25]

Os efeitos dos suplementos de proteína do soro do leite no crescimento muscular após o treino de resistência são controversos. Um estudo demonstrou algum aumento da massa magra do corpo em homens que tomavam suplementos de proteína do soro do leite em relação aos que não tomavam qualquer suplemento,[26] enquanto outro estudo verificou maior aumento de força muscular num grupo que tomava suplementos de proteína do soro do leite em relação a outro grupo que tomava suplementos de caseína.[27] Um estudo concluiu que os jovens adultos que ingeriram suplementos de proteínas durante um programa de resistência estruturado apresentam benefícios pouco significativos ao nível da massa muscular magra e da força.[28] O horário da ingestão de suplementos proteicos pode não ter quaisquer efeitos significativos na força ou composição do corpo.[29] Um estudo em homens mais velhos concluiu que os suplementos de proteína do soro do leite após o exercício melhorava a síntese proteica muscular.[30]

Há evidências científicas que as proteínas ricas em aminoácidos essenciais, aminoácidos ramificados e, em particular, leucina, estão associadas a uma maior síntese proteica muscular, perda de peso, perda de gordura e a uma menor vida da insulina plasmática e dos triglicerídeos.[31] A proteína do soro do leite e a leucina são benéficas para a estimulação da síntese proteica aguda em adultos mais velhos.[32]

Referências

  1. a b Krissansen GW (dezembro de 2007). «Emerging health properties of whey proteins and their clinical implications». J Am Coll Nutr. 26 (6): 713S–23S. PMID 18187438. Consultado em 8 de maio de 2014. Arquivado do original em 4 de maio de 2009 
  2. Hakkak R, Korourian S, Ronis MJ, Johnston JM, Badger TM (maio de 2001). «Dietary whey protein protects against azoxymethane-induced colon tumors in male rats». Cancer Epidemiol. Biomarkers Prev. 10 (5): 555–8. PMID 11352868 
  3. Xiao R, Carter JA, Linz AL, Ferguson M, Badger TM, Simmen FA (setembro de 2006). «Dietary whey protein lowers serum C-peptide concentration and duodenal SREBP-1c mRNA abundance, and reduces occurrence of duodenal tumors and colon aberrant crypt foci in azoxymethane-treated male rats». J. Nutr. Biochem. 17 (9): 626–34. PMID 16504496. doi:10.1016/j.jnutbio.2005.11.008 
  4. Marshall, K (2004). «Therapeutic applications of whey protein». Alternative Medicine Review. 9 (2): 136–156. PMID 15253675 
  5. Wal JM (novembro de 2004). «Bovine milk allergenicity». Ann. Allergy Asthma Immunol. 93 (5 Suppl 3): S2–11. PMID 15562868. doi:10.1016/S1081-1206(10)61726-7 
  6. Burks W, Helm R, Stanley S, Bannon GA (junho de 2001). «Food allergens». Curr Opin Allergy Clin Immunol. 1 (3): 243–8. PMID 11964696 
  7. a b "Whey." The Encyclopædia Britannica. 15th ed. 1994
  8. a b c Foegeding, EA; Davis, JP; Doucet, D; McGuffey, MK (2002). «Advances in modifying and understanding whey protein functionality». Trends in Food Science & Technology. 13 (5): 151–9. doi:10.1016/S0924-2244(02)00111-5 
  9. Tunick MH (2008). «Whey Protein Production and Utilization.». In: Onwulata CI, Huth PJ. Whey processing, functionality and health benefits (abstract). Ames, Iowa: Blackwell Publishing; IFT Press. pp. 1–13 
  10. a b Lee YH (Novembro de 1992). «Food-processing approaches to altering allergenic potential of milk-based formula.». J. Pediatr. 121 (5 Pt 2): S47–50. PMID 1447634. doi:10.1016/S0022-3476(05)81406-4 
  11. Jay R. Hoffman and Michael J. Falvo (2004). «Protein - Which is best?». Journal of Sports Science and Medicine (3): 118–130 
  12. Luhovyy BL, Akhavan T, Anderson GH (2007). «Whey proteins in the regulation of food intake and satiety». Journal of the American College of Nutrition. 26 (6): 704S–712S. PMID 18187437. Consultado em 8 de maio de 2014. Arquivado do original em 26 de março de 2011 
  13. Haug A, Høstmark AT, Harstad OM, A; Høstmark, AT; Harstad, OM (25 de setembro de 2007). «Bovine milk in human nutrition – a review». Lipids Health Dis. 6: 25. PMC 2039733Acessível livremente. PMID 17894873. doi:10.1186/1476-511X-6-25 
  14. Rieu I, Balage M, Sornet C; et al. (abril de 2007). «Increased availability of leucine with leucine-rich whey proteins improves postprandial muscle protein synthesis in aging rats». Nutrition. 23 (4): 323–31. PMID 17367997. doi:10.1016/j.nut.2006.12.013 
  15. Kimball Scott; Jefferson, LS (2006). «Signaling Pathways and Molecular Mechanisms through which Branched-Chain Amino Acids Mediate Translational Control of Protein Synthesis». The Journal of Nutrition. 136 (1): 227S–31S. PMID 16365087 
  16. Fujita, Dreyer, Drummon, Glynn, cadenas; et al. (2007). «Nutrient signalling in the regulation of human muscle protein synthesis». The Journal of physiology. 582 (Pt 2): 813–23. PMC 2075348Acessível livremente. PMID 17478528. doi:10.1113/jphysiol.2007.134593 
  17. Ha E, Zemel MB (maio de 2003). «Functional properties of whey, whey components, and essential amino acids: mechanisms underlying health benefits for active people (review)». J. Nutr. Biochem. 14 (5): 251–8. PMID 12832028. doi:10.1016/S0955-2863(03)00030-5 
  18. Layman D.K., Evans E., Baum J.I., Seyler J., Erickson D.J., Boileau R.A. (2005). «Dietary protein and exercise have additive effects on body composition during weight loss in adult women». J. Nutr. 135: 1903–1910 
  19. Courtney-Martin G, Rafii M, Wykes LJ, Ball RO, Pencharz PB (novembro de 2008). «Methionine-adequate cysteine-free diet does not limit erythrocyte glutathione synthesis in young healthy adult men». J. Nutr. 138 (11): 2172–8. PMID 18936215. doi:10.3945/jn.108.093302 
  20. Zavorsky, Kubow, Grey, Riverin, Lands (2007). «An open-label dose-response study of lymphocyte glutathione levels in healthy men and women receiving pressurized whey protein isolate supplements». International Journal of Food Sciences and Nutrition. 58 (6): 429–36. PMID 17710587. doi:10.1080/09637480701253581 
  21. P.W. Parodi. «A Role for Milk Proteins and their Peptides in Cancer Prevention». Current Pharmaceutical Design. 13 (8): 813–828. ISSN 1873-4286. Consultado em 15 de maio de 2019. Arquivado do original em 24 de setembro de 2009 
  22. Abdel-Aziem SH1, Hassan AM, Abdel-Wahhab MA (2011). «Dietary supplementation with whey protein and ginseng extract counteracts oxidative stress and DNA damage in rats fed an aflatoxin-contaminated diet». 1 (723): 65-71. doi:10.1016/j.mrgentox.2011.04.007 
  23. «Digestive Problems Commonly Associated With Whey Protein». Livestrong.Com. Consultado em 7 de fevereiro de 2013 
  24. Does 100% whey protein make you have bad gas?, Livestrong.com
  25. Le Leu, R. K.; Brown, I. L.; Hu, Y.; Morita, T.; Esterman, A.; Young, G. P. (2006). «Effect of dietary resistant starch and protein on colonic fermentation and intestinal tumourigenesis in rats». Carcinogenesis. 28 (2): 240–5. PMID 17166881. doi:10.1093/carcin/bgl245 
  26. Burke, Darren G. «The Effect of Whey Protein Supplementation With and Without Creatine Monohydrate Combined With Resistance Training on Lean Tissue Mass and Muscle Strength» (PDF). International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism. Human Kinetics Publishers, Inc. Consultado em 4 de abril de 2012. Arquivado do original (PDF) em 20 de outubro de 2013 
  27. Cribb, Paul J.; Andrew D. Williams, Michael F. Carey, Alan Hayes. «The Effect of Whey Isolate and Resistance Training on Strength, Body Composition, and Plasma Glutamine» (PDF). International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism. Human Kinetics, Inc. Consultado em 4 de abril de 2012. Arquivado do original (PDF) em 20 de outubro de 2013 
  28. Candow, DG; Burke, NC; Smith-Palmer, T; Burke, DG (2006). «Effect of whey and soy protein supplementation combined with resistance training in young adults». International journal of sport nutrition and exercise metabolism. 16 (3): 233–44. PMID 16948480 
  29. Hoffman, JR; Ratamess, NA; Tranchina, CP; Rashti, SL; Kang, J; Faigenbaum, AD (2009). «Effect of protein-supplement timing on strength, power, and body composition changes in resistance-trained men». International journal of sport nutrition and exercise metabolism. 19 (2): 172–85. PMID 19478342 
  30. Yang, Y; Breen, L; Burd, NA; Hector, AJ; Churchward-Venne, TA; Josse, AR; Tarnopolsky, MA; Phillips, SM (7 de fevereiro de 2012). «Resistance exercise enhances myofibrillar protein synthesis with graded intakes of whey protein in older men.». The British journal of nutrition. 108 (10): 1–9. PMID 22313809. doi:10.1017/S0007114511007422 
  31. Etzel, M.R. «Manufacture and use of dairy protein fractions». J. Nutr. doi:134:996S-1002S Verifique |doi= (ajuda) 
  32. Luiking, Yvette C (2014). «Postprandial Muscle Protein Synthesis Is Higher After A High Whey Protein, Leucine-Enriched Supplement Than After A Dairy-Like Product In Healthy Older People: A Randomized Controlled Trial». Academic Search Premier. Nutrition Journal (13.1): 1-26