Mildred Cohn – Wikipédia, a enciclopédia livre

Mildred Cohn
Mildred Cohn
Nascimento 12 de julho de 1913
Nova Iorque, Estados Unidos
Morte 12 de outubro de 2009 (96 anos)
Philadelphia, Estados Unidos
Residência Estados Unidos
Nacionalidade Estados Unidos Norte-americano
Prêmios Medalha Garvan–Olin (1963), Medalha Elliott Cresson (1975),[1] National Medal of Science (1982)
Instituições University of Pennsylvania
Campo(s) Bioquimíca Física

Mildred Cohn (Nova Iorque, 12 de julho de 1913 – Filadélfia, 12 de outubro de 2009) foi uma bioquímica estadounidense que fomentou o entendimento dos processos bioquímicos mediante seu estudo das reacções químicas no interior das células animais.[2][3] Foi pioneira no uso da ressonância magnética nuclear para o estudo das reacções enzimáticas, particularmente no adenosín trifosfato (ATP).[4] Recebeu o prêmio científico mais importante de seu país, a Medalha Nacional de Ciência, em 1982.[5]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Os pais de Cohn, Isidore Cohn e Bertha Klein Cohn —quem foram noivos desde muito jovens—, eram judeus.[4] Seu pai era um rabino. Emigraram de Rússia a Estados Unidos ao redor de 1907.

Nasceu 12 de julho 1913 no Bronx, onde sua família vivia num apartamento. Quando tinha 13 anos, seu pai transladou à família a uma cooperativa de fala yidis, Heim Gesellschaft, onde enfatizou fortemente a educação, as artes, a justiça social, e a preservação da cultura yidis.[6][7]

Carreira científica[editar | editar código-fonte]

Cohn na Conferência Brown Bag (outubro de 2005).

Se gradou da escola secundária aos 14 anos.[8] Assistiu ao Hunter College[9] Recebeu sua licenciatura em 1931 com um cum laude.[8] Conseguiu pagar um ano sozinha na Universidade de Columbia, mas não foi elegivél para adjunta porque era uma mulher.[9] Após receber seu título de mestre em 1932, trabalhou para o Comité Conselheiro Nacional para a Aeronáutica por dois anos.[8] Apesar de que tinha um supervisor de apoio, era a única mulher entre 70 homens, e foi-lhe informada que nunca seria promovida.[9] Posteriormente regressou a Universidade de Columbia e estudou com Harold Urey, quem acabava de ganhar o Prêmio Nobel.[10][11] Escreveu sua tese sobre os isótopos de oxigénio e obteve seu PhD em fisicoquímica em 1938.[12]

Com a recomendação de Urey, foi capaz de obter uma posição como investigadora sócia no laboratório de Vincent du Vigneaud na Universidade Washington em San Luis. Ali realizou estudos posdoctorais sobre o metabolismo do ácido amino-enxofre usando isótopos de enxofre radiactivos. Foi pioneira no uso de traçadores isotópicos para examinar o metabolismo dos compostos que contêm enxofre.[13] Quando Du Vigneaud mudou o seu laboratório para a escola de medicina da Universidade Cornell na cidade de Nova York, Cohn e seu novo marido, o físico Henry Primakoff, se transladaram a Nova York também.[9][14]

Em 1946, a Primakoff ofereceu-se-lhe um posto docente na Universidade Washington. Cohn pôde obter um posto de pesquisadora com Carl e Gerty Cori em seu laboratório de bioquímica na escola de medicina da Universidade.[14] Ali, teve a liberdade de eleger seus próprios temas de investigação. Usou ressonância magnética nuclear para pesquisar a reacção do fósforo com adenosín trifosfato, que revelou informação considerável sobre a bioquímica do ATP, como a estrutura do ATP, a fosforilação oxidativa e papel dos íones divalentes na conversão enzimática do ATP e ADP.[4][15] Quando se lhe perguntou numa entrevista a respeito de seus momentos mais emocionantes na ciência, respondeu: «Em 1958, quando usava a ressonância magnética nuclear, vi os três primeiros bicos de ATP. Isso foi emocionante. [Podia] distinguir os três átomos de fósforo no ATP com um método espectroscópico, que nunca se tinha feito dantes».[15] Ao usar radioisótopos de oxigénio, Cohn descobriu como a fosforilação e o água são parte da corrente de transporte de elétrons da fosforilação oxidativa via metabólica, o processo ubícuo utilizado por todo o organismo aerobio para gerar energia, em forma de ATP, a partir dos nutrientes. Explicou como os íones metálicos divalentes estão implicados nas reacções enzimáticas de ADP e ATP mediante o estudo de espectros de RMN dos núcleos de fósforo e a mudança estrutural na presença de vários íones divalentes.[13]

Em 1958, foi promovida de investigadora sócia a professora associada.[9] Em 1960, Cohn e seu marido uniram-se à Universidade de Pensilvania. Foi nomeada professora associada de Biofísica e Física Bioquímica, e converteu-se em professora a tempo completo no ano seguinte.[3][14] Em 1964, converteu-se na primeira mulher em receber o Prêmio à Trajectória da Associação Estadounidense do Coração, que lhe proporcionou apoio até que chegou aos sessenta e cinco anos de idade.[16] Em 1971, foi eleita membro da Academia Nacional de Ciências.[9] Em 1982, retirou-se da Faculdade Benjamin Rush como professora emérita de Química Fisiológica.[14]

No curso de sua carreira, Mildren Cohn trabalhou com quatro pessoas que receberam o Prêmio Nobel:

Prémios e honrarias[editar | editar código-fonte]

Escreveu ao redor de 160 trabalhos, sobretudo em sua investigação principal na utilização da ressonância magnética nuclear para estudar o ATP.[15] Recebeu vários doctorados honoris causa.

Ganhou a Medalha Garvan-Olin da Sociedade Estadounidense de Química em 1963.[19] Em 1968, foi eleita membro da Academia Estadounidense das Artes e as Ciências.[20] Concedeu-se-lhe a Medalha de Ouro Elliott Cresson do Instituto Franklin em 1975, por seu trabalho na análise de complexos enzimáticos com ressonância magnética nuclear. Recebeu o International Organization of Women Biochemists Award em 1979.[8][21] Recebeu a Medalha Chandler da Universidade de Columbia em 1986.[22]

Em 1983, o presidente Ronald Reagan impôs-lhe a Medalha Nacional de Ciência por ser «pioneira no uso de traçadores isotópicos estáveis e espectroscopia de ressonância magnética nuclear no estudo dos mecanismos de catalises enzimática».[23]

Durante sua carreira, foi a primeira mulher em ser nomeada membro do conselho de redacção da revista Journal of Biological Chemistry, onde se desempenhou como editora de 1958-1963 e 1968-1973. Também foi a primeira mulher em se converter em presidenta da Sociedade Estadounidense de Bioquímica e Biologia Molecular, e a primeira pesquisadora profissional da Associação Estadounidense do Coração.[3][14] Em 2009, foi incluída no Salão da Fama Nacional da Mulher em Seneca Falls.[3][24]

Vida privada[editar | editar código-fonte]

Esteve casada com o físico Henry Primakoff desde 1938 até sua morte em 1983.[5] Tiveram três filhos, todos os quais receberam doctorados.[9] É citada no livro de Elga Wasserman The Door in the Dream: Conversations With Eminent Women in Science, dizendo «Meu maior golpe de sorte foi casar-me com Henry Primakoff, um excelente cientista que me tratou como a um colega intelectual e sempre supôs que devia seguir uma carreira científica e se comportou em consequência».[2][9]

Bibliografia parcial[editar | editar código-fonte]

  • Cohn, Mildred; Hughes, TR (1960). «Phosphorus magnetic resonance spectra of adenosine diphosphate and triphosphate. I. Effect of PH». The Journal of Biological Chemistry (em inglês). 235: 3250–3253 
  • Cohn, Mildred; Hughes, TR (1962). «Nuclear magnetic resonance spectra of adenosine di- and triphosphate. II. Effect of complexing with divalent metal ions». The Journal of Biological Chemistry (em inglês). 237: 176–181 
  • Cohn, Mildred (1953). «A study of oxidative phosphorylation with 0-18 labeled inorganic phosphate». The Journal of Biological Chemistry (em inglês). 201: 735–750 

Referências

  1. «Laureates» (em inglês). The Franklin Institute. Consultado em 1 de julho de 2015. Cópia arquivada em 1 de julho de 2015 
  2. a b Schudel, Matt (23 de outubro de 2009). «Mildred Cohn, 96; acclaimed scientist overcame bias». The Washington Post (em inglês). Washington D. C.: Nash Holdings LLC. ISSN 0190-8286. OCLC 0190-8286 Verifique |oclc= value (ajuda) 
  3. a b c d Martin, Douglas (11 de novembro de 2009). «Mildred Cohn, Biochemist, Is Dead at 96». The New York Times (em inglês). Nueva York: The New York Times Company. ISSN 0362-4331. OCLC 433669505. Consultado em 11 de novembro de 2009 
  4. a b c Oakes, Elizabeth H (2007). Encyclopedia of world scientists (em inglês). Nueva York: Facts on File. p. 145. ISBN 978-0-816-06158-7. OCLC 83610106 
  5. a b Maugh, Thomas H. (13 de outubro de 2009). «Mildred Cohn dies at 96; chemist applied physics to problems of biology, earned National Medal of Science». Los Angeles Times (em inglês). ISSN 0458-3035. OCLC 3638237 
  6. «Mildred Cohn, Ph.D.: The Science of Fearlessness» 
  7. «Mildred Cohn: The Science of Fearlessness (Film Transcript)» (em inglês). Filadelfia: The Catalyst Series: Women in Chemistry, Chemical Heritage Foundation. Consultado em 26 de Maio de 2015. Arquivado do original em 4 de Abril de 2015 
  8. a b c d «Interview with Mildred Cohn, 15 de diciembre 1987 & 6 de enero 1988» (em inglês). Filadelfia: Oral History Program, Chemical Heritage Foundation. Consultado em 26 de Maio de 2015. Arquivado do original em 14 de Maio de 2013 
  9. a b c d e f g h Wasserman, Elga (2002). The door in the dream: conversations with eminent women in science (em inglês) Reprint in pbk. ed. Washington D. C.: Joseph Henry Press. ISBN 0-309-08619-1. OCLC 41272916 
  10. a b «The Nobel Prize in Chemistry 1934: Harold C. Urey» (em inglês). The Nobel Foundation. 1934 
  11. «Mildred Cohn» (em inglês). Filadelfia: Chemical Heritage Foundation 
  12. «Mildren Cohn (1913–2009)» (em inglês). Washington D. C.: American Chemical Society 
  13. a b Kresge, Nicole; Simoni, Robert D; Hill, Robert L (6 de novembro de 2009). «Succeeding in Science Despite the Odds; Studying Metabolism with NMR by Mildred Cohn». Baltimore: American Society for Biochemistry and Molecular Biology. Journal of Biological Chemistry (em inglês). 284 (45): e12–e13. ISSN 0021-9258. OCLC 1782222. PMC 2781545Acessível livremente. PMID 19891052 
  14. a b c d e «Mildred Cohn (b. 1913)» (em inglês). Bernard Becker Medical Library 
  15. a b c Johnson, Erica P. (6 de dezembro de 2003). «First Person | Mildred Cohn (Interview)». The Scientist (em inglês) 
  16. Barrer, Betty. «Mildred Cohn» (em inglês). Jewish Women's Archive 
  17. «The Nobel Prize in Physiology or Medicine 1947: Carl Cori, Gerty Cori, Bernardo Houssay» (em inglês). The Nobel Foundation. 1947 
  18. «The Nobel Prize in Chemistry 1955: Vincent du Vigneaud» (em inglês). The Nobel Foundation. 1955 
  19. «Francis P. Garvan-John M. Olin Medal» (em inglês). American Chemical Society 
  20. «Book of Members, 1780–2010: Chapter C» (PDF) (em inglês). American Academy of Arts and Sciences. Consultado em 25 de julho de 2014 
  21. Hyman, Paula E; Moore, Deborah Dash, eds. (1997). Jewish women in America (em inglês). Nueva York: Routledge. ISBN 0-415-91936-3. OCLC 470203673 
  22. De Bary, William Theodore; Mathewson, Tom, eds. (2006). Living legacies at Columbia (em inglês). Nueva York: Columbia University Press. p. 208. ISBN 0-231-13884-9. OCLC 62804985 
  23. «The President's National Medal of Science: Recipient Details, Mildred Cohn» (em inglês). The National Science Foundation 
  24. «Mildren Cohn - National Women's Hall of Fame» (em inglês). National Women's Hall of Fame