União Nacional da Rússia – Wikipédia, a enciclopédia livre

União Nacional da Rússia
Русское национальное единство
União Nacional da Rússia
Presidente Alexander Barkashov
Fundação 1990
Dissolução 2000 (banido)
Sede Moscou
Ideologia neonazismo
irredentismo russo
nacionalismo russo
antissemitismo
islamofobia
anti-imigração
anticomunismo
Terceira Posição
Espectro político extrema-direita
Religião Igreja Ortodoxa Russa
Publicação Ordem Russa
Dividiu-se de NPF "Pamyat"
Membros (2000) 20 000 - 25 000[1]
País Rússia
Afiliação internacional União Mundial de Nacional-Socialistas
Cores      Marrom
Slogan Rússia para os russos
Bandeira do partido
Página oficial
soratnik.com

A União Nacional da Rússia (UNR, em russo RNE) ou Movimento cívico patriótico de toda a Rússia "União Nacional da Rússia" (em russo: Всероссийское общественное патриотическое движение "Русское национальное единство"), foi um grupo não registrado, neonazista[2][3][4][5][6], irredentista[7] com base na Rússia e que operava anteriormente em estados com população russófonas.[8][9] Foi fundado pelo ultranacionalista Alexander Barkashov.[8] O movimento defende a expulsão de não-russos e uma maior participação de instituições tradicionais russas como a Igreja Ortodoxa Russa. A organização não possuía registro a nível federal na Rússia, ainda assim colaborou com certa limitação com o Serviço de Segurança Federal.[7] O grupo foi banido de Moscou em 1999[10][11] se tornando extinto logo em seguida.[12][13]

Ideologia, táticas e atividades[editar | editar código-fonte]

Promovendo o conceito de "Rússia para russos e compatriotas", os membros do partido (às vezes chamados de Barkashovitas) apoiam práticas que incluem a expulsão de minorias que "têm sua pátria fora da Rússia", especialmente judeus e migrantes do Cáucaso do Sul, como azeris, georgianos e armênios, assim como nacionalidades da Ásia Central, cazaques, uzbeques, tajiques e outros. A visão deles da Rússia é dividida entre privilegiados, etnicamente russos, a quem garantiriam a maioria da representação política, e não-russos, que vivem na Rússia e têm sua pátria nacional ali, incluindo populações indígenas do extremo oriente russo, extremo norte, turcomanos e outras minorias.[14]

Novos recrutas (storonniki, literalmente "apoiadores" ou "acompanhantes") na organização tinham tradicionalmente a exigência de servirem como funcionários de baixo escalão na organização, atuando como motoristas e distribuindo panfletos, bem como comparecendo às sessões de formação sobre a filosofia e crenças do grupo, muitas das quais derivavam de um livro escrito por Barkashov. À medida que os membros avançavam, poderiam alcançar o nível spodvizhniki (literalmente arcaico, "colega de trabalho" ou "colega de esforços") e ganhar o direito de usar a insígnia e participar de treinamento paramilitar. Os membros mais dedicados avançam ao nível de soratniki (literalmente "camarada-em-armas"), que servem como lideranças do grupo.[15][16]

Membros de alguns grupos locais da RNE foram condenados por crimes graves de racismo, como foi o caso do grupo da RNE em Tver, que vandalizou túmulos judaicos e muçulmanos, assassinou e agrediu indivíduos pertencentes a minorias étnicas, difundiu ódio racial, entre outros crimes.[2][17]

Alegadamente, a RNE falava sobre matar judeus e ciganos que residiam na Rússia. Apesar da semelhança da RNE com o Nazismo, seu fundador Barkashov rejeitava os rótulos "fascista" e "nazi", no entanto, admitiu ter sido um nacional-socialista. O grupo tinha um número de aproximadamente 20 a 25 mil membros antes de sua dissolução em 2000.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Em 1989, Barkashov era o segundo em comando da Frente Nacional-Patriótica da Rússia Pamyat. Seu conflito com Dmitri Vasilyev culminou em Barkashov liderando, segundo suas palavras, "os membros mais disciplinados e ativos, insatisfeitos com o papo furado e peripécias teatrais do Pamyat". Em 1990, a RNE cresceu face as dificuldades econômicas e sociais enfrentadas pelos russos ao longo da dissolução da União Soviética.

O movimento União Nacional da Rússia foi fundado em 16 de outubro de 1990 de um racha do grupo Frente Nacional-Patriótica "Memória" (NPF "Pamyat"), ganhando corpo entre 1990 e 1991. Os membros vestiam preto e uniformes camuflados. O grupo também adotou um emblema vermelho e branco com a suástica e expressava abertamente admiração pelo nacional-socialismo alemão e por celebrações públicas da ascensão dos nazistas, apesar de a organização oficialmente negar qualquer apoio a ideologia nazista. Eram ativos não só na Rússia, mas também na Estônia, Letônia, Lituânia e Ucrânia. A RNE tentou unir grupos nacionalistas organizando primeiro sobors eslavos, e depois russos. Se reuniram com diversos grupos para buscar objetivos comuns, mas tiveram pouco progresso.

Em meados de 1993, a RNE havia se tornado o movimento nacionalista russo mais proeminente, com uma vasta rede de divisões regionais. Além de se engajar em ações políticas, a RNE conduzia exercícios militares e treinamentos táticos. Quando a crise constitucional russa de 1993 deslanchou, a RNE militou em defesa do parlamento russo contra o presidente Boris Yeltsin. Em 1993, ela também tomou parte na defesa e patrulhamento da Casa Branca, a residência do Conselho Supremo da Federação Russa, contra as tropas do presidente. Após a vitória de Yeltsin, a RNE operou ilegalmente por vários meses. Enquanto esteve no submundo, o movimento continuou a publicar seu jornal Ordem Russa.

No mesmo ano, a organização foi registrada como "um clube para uma criação militar e patriótica", e mais tarde foi reconhecida por autoridades locais como "uma unidade voluntária popular de autodefesa". Para ajudar a alcançar seus objetivos, a RNE desenvolveu um quadro paramilitares armados, conhecidos como Vityazi russos, que eram treinados no uso de armas de pequeno porte e explosivos.

Em 15 de outubro de 1995, 304 delegados de 37 divisões regionais compareceram a uma conferência da RNE em Moscou. Em 1998, o prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov, com o apoio de autoridades de alto escalão do governo, proibiram a segunda conferência regional da RNE de ser realizada na cidade.[18]

O grupo foi banido em Moscou em 1999 e Barkashov perdeu seu controle por volta de 2000, à partir de então se tornou extinto.[10][11][12][13]

Após o banimento, alguns líderes da RNE foram presos e o grupo foi dividido em diversos grupos.[19][20] Os membros desses novos grupos, especificamente Alexander Barkashov, o Exército Ortodoxo da Rússia, e outros, desde então se engajaram em atividades religiosas e ativismo pró-russo na guerra de Donbas.[21][22][23][24]

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Blamires, C.; Jackson, P. (2006). World Fascism: A-K. Col: World Fascism: A Historical Encyclopedia. [S.l.]: ABC-CLIO. ISBN 978-1-57607-940-9. Consultado em 16 de março de 2022. a RNE tinha força organizativa substancial antes de sua dissolução no fim de 2000, e estimava-se que tivesse, pouco antes de sua fratura, aproximadamente 20 a 25 mil membros 
  2. a b https://www.interfax.ru/russia/146964
  3. Russia: Information on the Russian National Unity (RNU or RNE) political party, including size, influence, activities, relations with government, Ottawa: Research Directorate, Immigration and Refugee Board, 9 de junho de 2004, cópia arquivada (PDF) em 24 de fevereiro de 2017 
  4. «CIDOB - "Russia for Russians!"» 
  5. «Dokument - Lifos extern» 
  6. «Dokument - Lifos extern» 
  7. a b Likhachev, Vyacheslav (julho de 2016). «The Far Right in the Conflict between Russia and Ukraine» (PDF). IFRI Russia/NEI Center. Consultado em 16 de março de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 13 de março de 2022. Muitos partidos etnonacionalistas, como a União Nacional de Toda a Rússia, também têm proclamado a necessidade de unir a Rússia, Ucrânia e Belarus em um único Estado. Era um senso comum entre figuras da extrema-direita da Rússia que ucranianos, bielorrussos e russos são, na verdade, uma nação. Essa alegação era repetida consistentemente nos programas do movimento da União Nacional da Rússia. 
  8. a b Simonsen, Sven Gunnar (dezembro de 1996). «Aleksandr Barkashov and Russian National Unity: Blackshirt friends of the nation». Nationalities Papers. 24 (4): 625–639. doi:10.1080/00905999608408473 
  9. «Founding of Russian National Unity (RNU/RNE) in St. Petersburg; RNU/RNE activities and state response in that city (1997-de agosto de 2000) [RUS35390.E]». 22 de agosto de 2000 
  10. a b Saunders, R.A.; Strukov, V. (2010). Historical Dictionary of the Russian Federation. [S.l.]: Scarecrow Press. p. 69. ISBN 978-0-8108-7460-2. Consultado em 9 de março de 2022 
  11. a b Orttung, R.; Latta, A. (2013). Russia's Battle with Crime, Corruption and Terrorism. Col: Routledge Transnational Crime and Corruption. [S.l.]: Taylor & Francis. p. 297. ISBN 978-1-134-08900-0. Consultado em 9 de março de 2022 
  12. a b Ekaterina, Ivanova; Andrey, Kinyakin; Sergey, Stepanov (2019). «The European and Russian Far Right as Political Actors: Comparative Approach» (PDF). Journal of Politics and Law. 12 (2): 86. doi:10.5539/JPL.V12N2P86 
  13. a b Laruelle, M. (2018). Russian Nationalism: Imaginaries, Doctrines, and Political Battlefields. Col: BASEES/Routledge Series on Russian and East European Studies. [S.l.]: Taylor & Francis. ISBN 978-0-429-76198-0. Consultado em 16 de março de 2022 
  14. Jackson, William D. (1 de janeiro de 1999). «Fascism, Vigilantism, and the State: The Russian National Unity Movement»Subscrição paga é requerida. Problems of Post-Communism. 46 (1): 34–42. ISSN 1075-8216. doi:10.1080/10758216.1999.11655819 – via Taylor & Francis Online 
  15. Barkashov, Alexander (2009). «Кто и как может вступить в РНЕ». Интернет-ресурс Общероссийского общественного патриотического движения «Русское национальное единство» (ООПД РНЕ) (em russo). Cópia arquivada em 16 de setembro de 2009 
  16. Barkashov, Alexander Petrovich (2009). «Рекомендации по формированию региональной организации Русского Национального Единства». Русское Национальное Единство (em russo). Cópia arquivada em 9 de fevereiro de 2009 
  17. «В Твери осуждена банда нацистов: лидер получил пожизненный срок» 
  18. United States (1999). Anti-Semitism in Russia: Hearing Before the Subcommittee on European Affairs of the Committee on Foreign Relations, United States Senate, One Hundred Sixth Congress, First Session, de fevereiro de 24, 1999. Col: Anti-Semitism in Russia: Hearing Before the Subcommittee on European Affairs of the Committee on Foreign Relations, United States Senate, One Hundred Sixth Congress, First Session, de fevereiro de 24, 1999. [S.l.]: U.S. Government Printing Office. p. 249. ISBN 978-0-16-058443-5 
  19. Sakwa, R. (2020). The Putin Paradox. [S.l.]: Bloomsbury Publishing. p. 61. ISBN 978-1-83860-372-4. Consultado em 20 de março de 2022. Membros dos extremistas de direita RNE eram presos constantemente. 
  20. Stephen E. Atkins. Encyclopedia of Modern Worldwide Extremists and Extremist Groups. [S.l.]: Greenwood Publishing Group. p. 280. 26 grupos locais se dividiram da RNE 
  21. Miroslav Mareš, Martin Laryš, Jan Holzer (2018). Militant Right-Wing Extremism in Putin's Russia: Legacies, Forms and Threats. [S.l.]: Routledge. p. 289. Tropas voluntárias da RNE tinha vínculos próximos com o Exército Ortodoxo da Rússia. 
  22. Mitrokhin, Nikolay (2015). «Infiltration, instruction, invasion: Russia's war in the Donbass» (PDF). Ournal of Soviet and Post-Soviet Politics and Society. 1 (1): 219–249 
  23. Jarzyńska, Katarzyna (24 de dezembro de 2014). «Russian nationalists on the Kremlin's policy in Ukraine» (PDF). OSW Commentary, Centre for Eastern Studies. 156 
  24. Laruelle, M. (2009). In the Name of the Nation: Nationalism and Politics in Contemporary Russia. Col: The Sciences Po Series in International Relations and Political Economy. [S.l.]: Palgrave Macmillan US. ISBN 978-0-230-10123-4. A União Nacional da Rússia passou por um golpe interno em 2000. Diversos líderes regionais decidiram retirar Alexander Barkashov de sua posição como líder do partido, rachando-o em múltiplas facções, nenhuma delas foi capaz de sair adiante no papel de unificação... Barkashov, que teve problemas legais por "hooliganismo" em 2005, criou um novo partido que carregava seu nome em dezembro do ano seguinte mas não teve sucesso efetivo. 

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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