Mateus 1 – Wikipédia, a enciclopédia livre

Genealogia de Jesus na Igreja de Chora, Istambul.

Mateus 1 é o primeiro capítulo do Evangelho de Mateus no Novo Testamento da Bíblia. Sua estrutura se divide em duas seções bem distintas: a primeira apresenta a genealogia do pai terreno de Jesus, José, desde Abraão; a segunda, começando em Mateus 1:18, estabelece a doutrina do nascimento virginal de Jesus.

Genealogia de Jesus[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Genealogia de Jesus

Mateus abre seu evangelho com a genealogia de seu pai terreno, José, o que, por si, é uma evidência da importância que Mateus dava ao tema. Ela demonstra que Jesus pertence à Casa de David e é, portanto, seu herdeiro. Mateus afirma ainda que Jesus é, na realidade, Filho de Deus e não é verdadeiramente filho de José. Legalmente, porém, José é pai de Jesus e alguns estudiosos defendem que a paternidade legal é de extrema importância. Ra McLaughlin argumenta, por exemplo, que o evento central desta seção é a adoção de Jesus por José (que se materializa quando ele dá nome à criança), um ato que torna possível que Jesus seja o prometido Messias da linhagem de David.

A seção começa com Abraão, que é tradicionalmente considerado como ancestral de todas as famílias da terra. Ela segue passando por importantes figuras do Antigo Testamento, como Isaac, Jacó e Judá. A passagem também faz referência aos irmãos de Judá que nada tem a ver com a genealogia. Gundry defende que eles foram incluídos por que Mateus estaria tentando retratar o povo de Deus como uma "irmandade"[1].

Há diversos problemas com a genealogia, porém. A lista é significativamente diferente da encontrada em Lucas 3, na qual a linhagem, do cativeiro na Babilônia até o avô de Jesus, é completamente diferente. Mateus pula diversos nomes onde a genealogia é bem conhecida a partir de outras fontes: Jeoiaquim ficou de fora de Mateus 1:11 e quatro nomes estão faltando em Mateus 1:8. Ao contrário da maior parte das genealogias bíblicas, a de Mateus menciona diversas figuras que não estão na linha direta de descendência, incluindo quatro mulheres, Tamar, Rute, Betsabé e Raabe.

Diversas teorias já foram propostas para tratar destes problemas. Uma, bastante popular, é que, enquanto Mateus provê a genealogia de José e de seu pai, Jacó, Lucas detalha a genealogia do sogro de José, Eli. McLaughlin argumenta que, como Jeconias precisa ser contado em dois diferentes grupos para que se completem as «quatorze gerações» (Mateus 1:17), a genealogia em Mateus deve ser vista não como uma lista historicamente completa, mas como um artifício literário que tinha por objetivo sublinhar a importância de alguns eventos na história dos israelitas: a Aliança com Abraão, a Aliança com David, o exílio na Babilônia e especialmente o reino do Messias, que é o tema do resto do evangelho.

Outros estudiosos duvidam destas teorias e a maioria dos que não acreditam na inerrância bíblica acreditam que um ou outra (ou ambas) contém erros históricos. A genealogia de Lucas contém um número de nomes mais realista para a época (na qual se vivia menos) enquanto que à lista de Mateus falta também a forma paponímica de atribuição de nomes utilizada na época. Gundry acredita que a parte final da lista de Mateus não passa de uma "grande figura de linguagem" e defende que, naquele tempo, era perfeitamente aceitável completar lacunas na narrativa histórica com "ficção plausível"[1].

Nascimento de Jesus[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Nascimento de Jesus

A segunda parte de Mateus 1 relata alguns dos eventos do nascimento de Jesus, como a Anunciação (Mateus 1:18–21). Enquanto Lucas e Mateus discordam entre si em alguns detalhes, as mais importantes ideias, como o nascimento virginal e a natureza divina de Jesus, são compartilhados. Ao contrário do relato de Lucas, Mateus se concentra em José, desde sua descoberta da gravidez de sua noiva virgem, sua preocupação com o fato e a mensagem do anjo pedindo-lhe que a aceitasse citando Isaías 7:14, um presságio do nascimento do Messias.

Este foco em José é pouco usual. Schweizer acredita que Mateus está muito mais preocupado em provar o status legal de Jesus como enteado de José (e, portanto, herdeiro de David), do que em provar o nascimento virginal, o que, para ele, revela que a audiência pretendida era de origem judaica, um padrão que se encontra por todo o seu evangelho. A importância das referências ao Antigo Testamento é também evidência disto[2]. Hill acredita que a citação de Isaías era, na realidade, o ponto central e acredita que toda esta seção foi escrita para provar que a história de Jesus corresponde à que foi profetizada[3].

Stendhal, por outro lado, vê nesta segunda seção uma grande nota rodapé da última linha da genealogia, uma longa explicação do motivo pelo qual José é meramente o marido da mãe de Jesus e também por que ele era o herdeiro de David. McLaughlin defende que Mateus teria reconhecido que a profecia de Isaías ao rei Acaz em Isaías 8:1 é sobre uma virgem da época (a esposa de Isaías) e uma criança (Maher-Shalal-Hash-Baz), que nascera como sinal a Acaz, e argumenta que Mateus via no ato de salvação sinalizado pelo nascimento de Maher-Shalal-Hash-Baz era um "tipo" ou "prefiguração" da salvação que viria da virgem e da criança que ele próprio estava descrevendo (Maria e Jesus)[4].

Outros comentaristas acreditam que esta seção deveria ter sido anexada ao começo do capítulo seguinte, que está dividido em quatro seções, cada uma focada numa passagem do Antigo Testamento[5].

Nome de Jesus[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Santo Nome de Jesus

Em Mateus 1:21, a mensagem do anjo no primeiro sonho de José inclui a origem do nome Jesus e tem implicações soteriológicas quando o anjo instrui a José: " ...a quem chamarás JESUS; porque ele salvará o seu povo dos pecados deles"[6][7]. É este o único trecho do Novo Testamento onde "salvará seu povo" aparece junto de "pecados"[8]. Este trecho também é o ponto de partida da cristologia do Nome de Jesus, realizando de partida dois importantes objetivos: primeiro afirmando Jesus como salvador e segundo, enfatizando que o nome não foi escolhido aleatoriamente e sim por um comando divino[9]. O nome Emanuel (que significa "Deus conosco") também aparece em Mateus 1:23 ("E ele será chamado Emanuel, que quer dizer, Deus conosco")[9] e este nome não aparece em nenhum outro ponto do Novo Testamento. Porém, Mateus 28:20 ("Eis que eu estou convosco todos os dias até o fim do mundo") indica que Jesus estará com os fiéis até o final dos tempos[9].

Manuscritos[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]


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Mateus 2

Referências

  1. a b Gundry, Robert H. Matthew a Commentary on his Literary and Theological Art. Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Company, 1982.
  2. Schweizer, Eduard. The Good News According to Matthew. Atlanta: John Knox Press, 1975
  3. Hill, David. The Gospel of Matthew. Grand Rapids: Eerdmans, 1981,
  4. McLaughlin, Ra. "The Adoption of Jesus: On Matthew 1:1-25". Reformed Perspectives Magazine, vol. 7, no. 35. 2005.
  5. France, R.T. The Gospel According to Matthew: an Introduction and Commentary. Leicester: Inter-Varsity, 1985.
  6. Bible explorer's guide by John Phillips 2002 ISBN 0-8254-3483-1 page 147
  7. All the Doctrines of the Bible by Herbert Lockyer 1988 ISBN 0-310-28051-6 page 159
  8. The Westminster theological wordbook of the Bible 2003 by Donald E. Gowan ISBN 0-664-22394-X page 453
  9. a b c Who do you say that I am?: essays on Christology by Jack Dean Kingsbury, Mark Allan Powell, David R. Bauer 1999 ISBN 0-664-25752-6 page 17

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Albright, W.F. and C.S. Mann. "Matthew." The Anchor Bible Series. New York: Doubleday & Company, 1971.
  • Brown, Raymond E. The Birth of the Messiah: A Commentary on the Infancy Narratives in Matthew and Luke. London: G. Chapman, 1977.
  • France, R.T. The Gospel According to Matthew: an Introduction and Commentary. Leicester: Inter-Varsity, 1985.
  • Gundry, Robert H. Matthew a Commentary on his Literary and Theological Art. Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Company, 1982.
  • Hill, David. The Gospel of Matthew. Grand Rapids: Eerdmans, 1981
  • Jones, Alexander. The Gospel According to St. Matthew. London: Geoffrey Chapman, 1965.
  • McLaughlin, Ra. "The Adoption of Jesus: On Matthew 1:1-25". Reformed Perspectives Magazine, vol. 7, no. 35. 2005.
  • Schweizer, Eduard. The Good News According to Matthew. Atlanta: John Knox Press, 1975

Ligações externas[editar | editar código-fonte]