História do alpinismo – Wikipédia, a enciclopédia livre
A história do alpinismo está intimamente ligada às montanhas, que sempre fizeram parte da história da Humanidade por se tratarem de obstáculos a serem transpostos em viagens, explorações e/ou migrações.
Até à Idade Média, os homens evitavam os cumes, sobre os quais se criaram rumores e lendas. Por exemplo, em 1387 os magistrados de Lucerna expulsaram o monge Niklaus Bruder e cinco outros religiosos que haviam tentado subir o Monte Pilatus da região.[1]
O alpinismo moderno nasceu em 8 de agosto de 1786, quando dois franceses, o médico Michel Paccard e o cristaleiro Jacques Balmat, motivados por um prémio oferecido por Horace-Bénédict de Saussure (considerado o fundador do alpinismo), venceram os 4810 m do Monte Branco, na fronteira entre França e Itália.
O Humanismo
[editar | editar código-fonte]No século XVI a nova perceção do mundo devido ao humanismo abriu as portas aos primeiros esboços do alpinismo. Foi em 1518 que se fez a primeira ascensão do Monte Pilatus (Lucerna). Konrad Gessner exaltava as montanhas helvéticas. Mas foi sobretudo o interesse pelas ciências naturais levantado no Iluminismo e o sentimento da natureza magnificada pelo Romantismo que tiveram por efeito uma multiplicação de viagens através de montes e vales no século XVIII. Assim, em 1723, Johann Jakob Scheuchzer relata minuciosamente os Itinera per Helvetiae alpinas regiones de 1702 a 1711. A Schesaplana Bergreis de Nicolin Sererhard publicada cerca de 1730 passa por ser o mais antigo texto de uma excursão nos Alpes Orientais. Laurent Joseph Murith, botânico e prior do Grand Saint Bernard, foi o primeiro a subir o Monte Vélan em 1779. Geógrafo, botânico e geólogo, o padre Placidus Spescha, do convento de Disentis, é o primeiro a atingir o Rheinwaldhorn durante um passeio na natureza em 1789.
Os Alpes
[editar | editar código-fonte]As mais altas perspetivas, no sentido próprio, deveriam no entanto abrir-se ao alpinismo depois da conquista do Monte Branco pelo naturalista genebrino Horace Bénédict de Saussure e os seus companheiros em 1786-1787. Durante a primeira metade do século XIX, foram sobretudo os glaciólogos tais que Louis Agassiz, Edouard Desor ou Franz Joseph Hugi, ou o explorador inglês William Windham que foram atirados pelos Alpes berneses e Alpes valaisanos, quando as necessidades da cartografia que trouxeram a conquista do Jungfrau em 1811 e do Piz Bernina em 1850. Editado por Karl Ulysses von Salis, Conhecimento preciso dos Alpes (em alemão: Alpina, eine Schrift, der genaueren Kenntnis der Alpen gewidmet) foi em 1806 o primeiro anuário do género.[1]
França
[editar | editar código-fonte]Em 1492, Antoine de Ville escalou o Mont Aiguille, na França, apesar das inúmeras superstições existentes a respeito de seu cume. Em 1744 ocorre a chegada ao cume (chamada pelos montanhistas de "conquista"), do Monte Titlis, nos Alpes Berneses; em 1770, a do Monte Buet, no Maciço do Giffre, Alpes Ocidentais, e, em 1779, o Monte Vélan, nos Alpes Peninos, também é conquistado.
Inglaterra
[editar | editar código-fonte]Os alpinistas ingleses tiveram um papel fundamental naquilo que é conhecido pela idade de ouro do alpinismo, e do qual participaram ativamente grandes nomes como Edward Whymper, Albert F. Mummery, Frederick Gardiner, etc
Suíça
[editar | editar código-fonte]Outros continentes
[editar | editar código-fonte]No fim do século XIX e início do século XX ocorreu uma verdadeira corrida a conquistas de montanhas até então inexploradas. Assim, em 1868, os ingleses conquistaram os principais picos do Cáucaso. Na cordilheira dos Andes, o Chimborazo (6267 m) foi vencido em 1880, e o Aconcágua (6959 m) em 1897. Em 1889 foi conquistado o Kilimanjaro (5895 m), na África, e o Monte McKinley (6194 m), no Alasca, em 1913. O Monte Everest, ponto culminante do planeta, com 8848 m de altitude, foi finalmente conquistado pelo neozelandês Edmund Hillary e pelo xerpa Tenzing Norgay, em 1953[1]
O Himalaia
[editar | editar código-fonte]Entre 1950 e 1964, "os 8000" do Himalaia foram todos conquistados devido a verdadeiras expedições. A que foi conduzida pelo suíço Albert Eggler foi a segunda a atingir o cume do monte Everest, logo depois da de Edmund Hillary e Tenzing Norgay a 29 de maio de 1953, e a primeira ascensão do Lhotse foi em 1956. Em 1960, os alpinistas realizaram sob direção de Max Eiselin a primeira do Dhaulagiri. Depois do tirolês Reinhold Messner e o polaco Jerzy Kukuczka, o suíço Erhard Loretan conquista por sua vez os 14 cumes com mais de 8000 m de altitude.
Em 1978, a União Internacional das Associações de Alpinismo juntou cinco graus à escala das dificuldades criadas por Wilhelm Welzenbach em 1947, e que na origem só contava seis.[1]
Primeiras suíças
[editar | editar código-fonte]Primeiras ascensões nos Alpes suíços e primeiras realizadas por suíços nos Andes e no Himalaia
Ano | Cume (maciço) | Altitude (m) | Alpinista |
---|---|---|---|
1744 | Titlis | 3 239 | I. Hess, J.E. Waser e dois outros monges de Engelberg |
1811 | Jungfrau | 4 158 | J.R. e H. Meyer, J. Bortis, A. Volker |
1812 | Finsteraarhorn | 4 274 | A. Volker, J. Bortis, A. Abbühl |
1824 | Töd | 3 614 | A. Bisquolm, P. Curschellas |
1850 | Les Diablerets | 3 210 | G.S. Studer, M. Ulrich, J.D. Ansermoz, J. Madutz |
1850 | Piz Bernina | 4 049 | J.W. Coaz, J. e L. Raguth Tscharner |
1855 | Ponta Dufour | 4 634 | E.J. Grenville Smyth, C. Smyth, C. Hudson, J. Birbeck, E.-J. Stephenson, U. Lauener, J. e M. Zum Taugwald |
1858 | Eiger | 3 970 | C. Barrington, C. Almer, P. Bohren |
1858 | Dom | 4 545 | J.L. Davies, J. Zum Taugwald, J. Kronig, H. Brantschen |
1859 | Bietschhorn | 3 934 | L. Stephen, J. Siegen, J. Ebener |
1861 | Schreckhorn | 4 078 | L. Stephen, C. e P. Michel, U. Kaufmann |
1861 | Weisshorn | 4 505 | J. Tyndall, J.J. Benet/Bennen, U. Wenger |
1862 | Dent Blanche | 4 357 | T.S. Kennedy, W. Wigram, J.B. Croz, J. Kronig |
1864 | Rothorn de Zinal | 4 221 | L. Stephen, F.C. Grove, M. Anderegg, J. Anderegg |
1865 | Monte Cervino | 4 478 | E. Whymper, D.R. Hadow, C. Hudson, F. Douglas, M.A. Croz, P. Taugwalder pai e filho |
1897 | Aconcágua (Andes) | 6 958 | M. Zurbriggen |
1956 | Lhotse (Himalaya) | 8 516 | E. Reiss, F. Luchsinger |
1960 | Dhaulagiri (Himalaya) | 8 167 | E. Forrer, A. Schelbert, M. Vaucher, H. Weber, P. Diener |
Fonte:Musée alpin suisse, Berna[1]
Clubes de alpinismo
[editar | editar código-fonte]Os refúgios de montanha são geralmente propriedade do clube alpino do respetivo país que por sua vez fazem parte dos Clubes do Arco Alpino (CAA) que foi fundado a 18 de Novembro de 1995 em Schaan no Liechtenstein.[1] (Ver lista dos clubes em Categoria:Clubes de Montanhismo)
Na Suíça
[editar | editar código-fonte]Como é confirmado no mosteiro do Grand Saint Bernard já em 1129, o acompanhamento dos peregrinos, comerciantes ou viajantes pelos autóctones tomou um desenvolvimento considerável depois da descoberta dos Alpes e profissionalizou-se a partir da idade de ouro do alpinismo. Assim, no cantão do Valais, foi editado o primeiro regulamento sobre a profissão de guia de montanha que iria ser sucedido por numerosos regulamentos e mesmo por leis cantonais.
Fundada em 1906 e composta quase exclusivamente por membros do cantão de Uri e do cantão de Berna, uma primeira associação de guias suíços foi substituída em 1929 pela atual Associação Suíça de Guias de Montanha, que no entanto só se viria a desenvolver depois da Segunda Guerra Mundial, sob a direção de Christian Rubi e dos seus sucessores. Em 1998, contava já com 1300 membros (dos quais 11 mulheres), dos quais metade já exerciam a atividade a tempo completo. A formação implica uma parte teórica e outra prática, durante um curso de três anos, tanto no verão como no inverno. Em 2000, a Association Suisse des Écoles d'Alpinisme, fundada em 1969, reunia 29 centros repartidos entre Genebra e Pontresina.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- M. Senger, Wie die Schweizer Alpen erobert wurden, 1945
- F. Keenlyside, Berge und Pioniere, 1976
- P.P. Bernard, Rush to the Alps, 1978, 1-43
- J. Perfahl, Kleine Chronik des Alpinismus, 1984
- Ch. Bonington, Deux siècles d'hist. de l'alpinisme, 1992 (angl. 1992)
- Th. Antonietti et al., Entre rocs et glaces, 1994
- R. Frison-Roche, S. Jouty, Hist. de l'alpinisme, 1996