Waldir Pires – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Não confundir com Waldir Peres.
Waldir Pires
Waldir Pires
Waldir Pires em 2007.
5.º Ministro da Defesa do Brasil
Período 31 de março de 2006 até 25 de junho de 2007
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Antecessor(a) José Alencar
Sucessor(a) Nelson Jobim
2.º Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União do Brasil
Período 1º de janeiro de 2003
a 31 de março de 2006
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Antecessor(a) Anadyr de Mendonça
Sucessor(a) Jorge Hage
6.º Ministro da Previdência Social do Brasil
Período 15 de março de 1985
a 13 de fevereiro de 1986
Presidente José Sarney
Antecessor(a) Jarbas Passarinho
Sucessor(a) Raphael de Almeida Magalhães
41.º Governador da Bahia
Período 15 de março de 1987
a 14 de maio de 1989
Antecessor(a) João Durval Carneiro
Sucessor(a) Nilo Moraes Coelho
Deputado federal pela Bahia
Período 1.º- 1º de fevereiro de 1959
a 1º de fevereiro de 1963
2.º- 1º de fevereiro de 1991
a 1º de fevereiro de 1995
3.º- 1º de fevereiro de 1999
a 1º de janeiro de 2003[a]
Vereador de Salvador
Período 1º de fevereiro de 2013
a 31 de dezembro de 2016
Dados pessoais
Nascimento 21 de outubro de 1926
Acajutiba, BA
Morte 22 de junho de 2018 (91 anos)
Salvador, BA
Alma mater Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Prêmio(s)
Esposa Yolanda Avena Pires (m. 2005)[3]
Partido PT (1998–2018)
Profissão advogado, político
Assinatura Assinatura de Waldir Pires

Francisco Waldir Pires de Souza GCMDGOMMCBJM (Acajutiba, 21 de outubro de 1926Salvador, 22 de junho de 2018) foi um advogado e político brasileiro filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Durante o Governo João Goulart, foi Consultor-Geral da República; no governo José Sarney, foi ministro da Previdência Social; no primeiro mandato de Lula, exerceu os cargos de ministro-chefe da Controladoria-Geral da União e ministro da Defesa. Pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB, atual MDB) foi governador da Bahia, além de deputado federal por três mandatos e vereador de Salvador.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido na Bahia, filho de José Pires de Souza, ex-seminarista e coletor de impostos, e de Lucíola Figueiredo Pires de Souza. Passou a infância em Amargosa, BA, onde estudou o primário. Cursou o ginasial no Colégio Clemente Caldas em Nazaré, BA, onde, aos quinze anos, a fim de obter recursos para fazer o curso preparatório para a faculdade em Salvador, deu aulas de datilografia a convite do diretor do colégio, Anísio Melhor, que lhe permitiu ainda utilizar uma das salas para ministrar aulas particulares de latim, matéria que havia se tornado obrigatória com a Reforma Capanema. Aos dezesseis anos, com os recursos ganhos, mudou-se para Salvador. Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia e, ao final do curso, foi escolhido o orador da sua turma, cuja formatura marcou a solenidade de inauguração do Fórum Ruy Barbosa, no ano do seu centenário. Enquanto estudante, na União dos Estudantes da Bahia - entidade à época existente -, liderou o Movimento Antinazista.[carece de fontes?]

Em 2008 foi condecorado com o título de Cidadão Benemérito da Liberdade e da Justiça Social João Mangabeira,[nota 1] que é concedido a brasileiros reconhecidamente dedicados às causas nobres, humanas e sociais que tenham resultado no desenvolvimento político e socioeconômico do Brasil, melhorando significativamente a vida das pessoas.[4][5][6]

Em 2012 foi eleito Vereador de Salvador aos 85 anos pelo PT.

A última aparição pública do líder político se deu a 14 de junho de 2018 quando do lançamento de sua biografia, escrita pelo jornalista Emiliano José, no Palácio Rio Branco, no Centro Histórico de Salvador.[7] Faleceu no dia 22 de junho e seu corpo foi cremado em Salvador.

Secretário de Estado[editar | editar código-fonte]

No início da década de 1950, aos 24 anos, foi Secretário de Estado no governo de Régis Pacheco e se casou com Yolanda Avena, filha do imigrante italiano José Avena e de Angelina Garcia Avena. Em 1954 elegeu-se deputado estadual, formando a base de apoio do Governo Antônio Balbino; em 1958 elegeu-se deputado federal, sendo escolhido vice-líder do Governo Juscelino Kubitschek. Em 1962 candidatou-se ao Governo da Bahia quando, apesar do veto da Igreja Católica — resistente a admitir que um católico aceitasse o apoio do Partido Comunista —, perdeu as eleições por uma diferença de apenas 3% dos votos para o candidato da União Democrática Nacional (UDN), Lomanto Júnior.

Consultor-Geral da República[editar | editar código-fonte]

Em 1963, quando exercia a função de Coordenador dos Cursos Jurídicos da Universidade de Brasília (UnB), onde era também professor de Direito Constitucional, foi convidado pelo Presidente João Goulart para ocupar o cargo de Consultor-Geral da República, o que o tornou responsável pelas análises e pareceres da juridicidade e da constitucionalidade das leis de Remessa de Lucros e Dividendos e da lei de reforma agrária, entre outras. Exercia este cargo quando da eclosão do golpe militar em 31 de março de 1964 e foi, junto com Darcy Ribeiro, o último membro do Governo a sair do Palácio do Planalto, onde ficaram, a pedido do presidente, para tentar garantir o respeito à Constituição, segundo um documento enviado ao Congresso - mas desprezado pelas forças de apoio aos militares, que declararam vaga a presidência quando o presidente encontrava-se ainda em território nacional, no Rio Grande do Sul.

Em 4 de abril, já na primeira lista de cassados e perseguido, sai com Darcy Ribeiro de Brasília, de madrugada, num monomotor conseguido pelo deputado Rubens Paiva, e vai para o exílio no Uruguai, onde depois encontra sua esposa Yolanda e seus cinco filhos. Em 1966 muda-se para a França onde, com auxílio de Celso Furtado, é indicado para lecionar Direito Constitucional Comparado e Ciências Políticas em Dijon e em Paris. Volta ao Brasil em 1970, ainda em plena ditadura militar, ocupando-se de uma empresa particular até a queda do Ato Institucional n.º 5, quando, retomados os seus direitos políticos, deixa tudo e volta para a vida pública na Bahia, visitando todos os rincões do Estado para fortalecer o então Movimento Democrático Brasileiro.

Ministro da Previdência[editar | editar código-fonte]

Ajudou na fundação do PMDB durante a abertura política. Em 1982 foi derrotado na eleição para o Senado por Luís Viana Filho (PDS), que foi reeleito.

Em 1985 é convidado pelo presidente Tancredo Neves para o Ministério da Previdência Social e mantido pelo presidente José Sarney. A gestão austera e eficaz habilita-o a concorrer para o governo da Bahia no ano seguinte e o torna o candidato mais votado da história daquele Estado, com uma vitória esmagadora em todas as regiões.

Governador da Bahia[editar | editar código-fonte]

Waldir Pires, caricatura privada.

Mais de duas décadas depois de ter perdido as eleições para o governo da Bahia, volta a se candidatar ao cargo em 1986, nas primeiras eleições diretas para governador após o regime militar. Seus principais adversários, os partidários de Antônio Carlos Magalhães, reúnem-se em torno da candidatura do jurista Josaphat Marinho (PFL), apoiado também pelo então governador João Durval. Com o poder dominante estadual desgastado, Waldir Pires, então no PMDB, consegue obter os apoios necessários para viabilizar uma ampla frente que reunia desde partidos de esquerda até dissidentes do carlismo. Waldir é eleito com ampla maioria, rompendo assim, por breve período, a hegemonia de ACM no Estado, ao tomar posse aos 15 de março de 1987.

Nos dois anos seguintes, seu vice-governador, a quem coube cumprir os dois anos restantes de seu mandato à frente do governo baiano, revelou-se impopular. Nilo Coelho chegou a tentar atropelar um cinegrafista da TV Globo que o filmava ao sair de um estacionamento. O carlismo retornou ao poder com facilidade em 1990, e ocuparia o governo da Bahia e as principais posições políticas no Estado até a vitória de Jaques Wagner, do PT, em 2006.

Eleição presidencial de 1989[editar | editar código-fonte]

Boca de urna de Ulysses Guimarães e seu vice, o próprio.

Após dois anos de governo, em 29 de abril de 1989, disputa a convenção nacional do PMDB que indicaria o candidato do partido a Presidente da República. No primeiro turno da votação, fica em segundo lugar, com 272 votos, atrás de Ulysses Guimarães, com 302, mas à frente de Iris Rezende (251) e Álvaro Dias (72). Após intensas negociações e com o objetivo de unir o partido, evitando assim um segundo turno da convenção, Ulysses e Waldir concordam em formar uma chapa única, com Waldir saindo candidato a vice-presidente. Com isso, Waldir tem que renunciar ao governo da Bahia, fazendo-o a 14 de maio de 1989, deixando em seu lugar o vice-governador, Nilo Coelho.

Alguns consideraram um mau cálculo político a decisão de Waldir de deixar o governo baiano e integrar uma candidatura que não estava bem nas pesquisas. Outros o defenderam como um gesto de lealdade para com Ulysses, que tinha a autoridade moral de haver liderado a oposição à ditadura. Ulysses e Waldir acreditavam reunir em si todo o carisma que haviam granjeado: o primeiro, como líder da oposição à ditadura e como presidente da Assembleia Constituinte que aprovara a Constituição de 1988; o segundo, pela vitória nas eleições estaduais de 1986. Além disso, contavam com a união do PMDB, maior partido de então, que contava com 22 governadores estaduais em seus quadros.

Mas os eleitores não entenderam assim: com a legalidade de todos os partidos, inclusive os comunistas, uma grande quantidade de candidatos disputou as primeiras eleições democráticas pós-ditadura, e a disputa acabou polarizada entre Fernando Collor e Lula. A chapa de Ulysses e Waldir, apesar dos bons resultados obtidos na Bahia, não consegue passar do primeiro turno, terminando em sétimo lugar.

Deputado federal[editar | editar código-fonte]

No ano seguinte, em 1990, já no PDT, o ressentimento dos baianos pela sua renúncia não foi maior do que os votos que lhe dedicaram, o que o tornou o deputado com a maior votação no Estado, em todas as épocas, até aquela data. Nas eleições seguintes, já no PSDB, após discordar da cúpula do PDT que passou a apoiar o presidente Collor, foi candidato ao Senado, concorrendo com o seu rival histórico, Antônio Carlos Magalhães. Acabou derrotado por Waldeck Ornelas, na disputa pela segunda vaga ao senado, por uma diferença de 3 mil votos, em uma eleição que levanta até hoje suspeitas de fraude.

Em 1998 elegeu-se deputado federal com a maior votação no Estado, apesar de não ter apoiado o candidato à presidência do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, que, preferindo o apoio do PFL de Antônio Carlos, não contou com o partido na Bahia. A coligação com o PFL o afasta do partido e ele ingressa no PT.

Candidatou-se a uma vaga no senado em 2002, ao lado de seu companheiro de chapa Haroldo Lima, perdendo para ACM, que voltou à Câmara Alta após o escândalo do painel eletrônico que pouco antes o fizera renunciar.

Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União[editar | editar código-fonte]

Waldir Pires recebe os cumprimentos do comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. Ao fundo, o sucessor de Pires, Nelson Jobim. Foto:Antonio Cruz/ABr

Em 2002 é convidado pelo presidente Lula para o cargo de ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU).

No princípio de sua gestão, iniciada em 1 de janeiro de 2003,[8] Waldir Pires promoveu ampla reestruturação da CGU, a fim de que o órgão pudesse cumprir adequadamente sua missão institucional. Da equipe inicialmente encarregada desse trabalho fizeram parte Jorge Hage Sobrinho, que em 2006 viria a suceder Pires no cargo; Luiz Navarro de Britto Filho, que em seguida viria a se tornar secretário-executivo e ministro-chefe da CGU; além de Eduardo de Freitas Filho, Renato Amaral Braga da Rocha e Ricardo Cravo Midlej Silva, entre outros destacados membros de carreiras de Estado.

Durante o período em que esteve no comando da CGU, Waldir Pires implementou diversas e importantes políticas de controle da Administração Pública e de prevenção e combate à corrupção. Nesse contexto, destacam-se o bem-sucedido Programa de Fiscalização a partir de Sorteios Públicos de recursos federais transferidos voluntariamente a estados e municípios, e o Portal da Transparência, ferramenta de transparência governamental reconhecida e premiada no Brasil e no exterior.

Em seu primeiro ano na CGU, foi admitido pelo presidente Lula à Ordem do Mérito Militar no grau de Grande-Oficial.[1] Já em 2005, foi condecorado pelo presidente com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito da Defesa.[2]

Ministro da Defesa[editar | editar código-fonte]

Em 31 de março de 2006 assume o Ministério da Defesa, a pedido do presidente Lula.[9]

Durante sua gestão aconteceu a chamada crise no setor aéreo brasileiro, da qual fazem parte dois terríveis capítulos: os acidentes com o voo Gol 1907, em setembro de 2006, e com o voo TAM 3054, em julho de 2007. A crise culminou com a demissão do ministro de seu cargo, no final de julho. Nelson Jobim, ex-ministro do STF, assumiu a pasta no lugar de Pires.[10] Ironicamente, a demissão ocorreu na mesma semana em que faleceu seu velho rival na política baiana, Antônio Carlos Magalhães.

Sua última função publica foi como vereador da cidade do Salvador, para a qual foi eleito em outubro de 2012, pelo Partido dos Trabalhadores. Cumpriu seu mandato até o fim, encerrando assim sua trajetória política em 31 de dezembro de 2016, aos 90 anos, um ano e meio antes do seu falecimento.[10]

Notas

  1. Título criado em 1993. Apenas seis cidadãos fizeram jus ao mesmo, dentre os quais; Taurino Araújo, Jorge Amado, Haroldo Lima e Fernando Santana.
  1. Renúncia em 1º de janeiro de 2003 para assumir a Controladoria-Geral da União.

Referências

  1. a b BRASIL, Decreto de 25 de março de 2003.
  2. a b BRASIL, Decreto de 28 de novembro de 2005.
  3. Controladoria-Geral da União; Assessoria de Comunicação Social. «Yolanda Pires morre em São Paulo». Consultado em 1 de junho de 2008 
  4. «AL homenageia Waldir Pires por sua contribuição ao país» 
  5. «Taurino Araújo receberá título na Assembleia Legislativa» 
  6. «AL homenageia Haroldo Lima por sua contribuição ao país» 
  7. «Corpo de Waldir Pires,CBJM será velado no Mosteiro de São Bento, em Salvador». Globo.com. 22 de junho de 2018. Consultado em 23 de junho de 2018 
  8. BRASIL, Decreto de 1º de janeiro de 2003.
  9. BRASIL, Decreto de 31 de março de 2006.
  10. a b Brasil, CPDOC-Centro de Pesquisa e Documentação História Contemporânea do. «Francisco Waldir Pires de Sousa». CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil. Consultado em 20 de agosto de 2020 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Jarbas Passarinho
Ministro da Previdência Social do Brasil
1985 — 1986
Sucedido por
Raphael de Almeida Magalhães
Precedido por
Antônio Balbino
Consultor Geral da República
1963 — 1964
Sucedido por
Adroaldo Mesquita da Costa
Precedido por
João Durval Carneiro
Governador da Bahia
1987 — 1989
Sucedido por
Nilo Moraes Coelho
Precedido por
Anadir Mendonça
Ministro-Chefe da Controladoria-Geral da União
2003 — 2006
Sucedido por
Jorge Hage
Precedido por
José Alencar

5º Ministro da Defesa do Brasil

2006 — 2007
Sucedido por
Nelson Jobim