Voo Swissair 306 – Wikipédia, a enciclopédia livre

Voo Swissair 306
Acidente aéreo
Voo Swissair 306
Sud SE-210 Caravelle III similar ao avião destruído.
Sumário
Data 4 de setembro de 1963
Causa Incêndio em voo, levando a falha hidráulica e perda de controle
Local Dürrenäsch, Suíça
Origem Aeroporto de Zurique, Suíça
Escala Aeroporto Internacional de Genebra, Suíça
Destino Aeroporto Internacional de Roma, Itália
Passageiros 74
Tripulantes 6
Mortos 80
Feridos 0
Sobreviventes 0
Aeronave
Modelo Sud Aviation Caravelle
Operador Swissair
Prefixo HB-ICV Schaffhausen
Primeiro voo 1962

O Voo Swissair 306 foi uma linha aérea internacional da empresa suíça Swissair. No dia 4 de setembro de 1963, um Sud Aviation Caravelle realizando o voo 306 cairia pouco tempo após a decolagem. O acidente causaria a morte dos seus 80 ocupantes, entre eles 43 habitantes da comuna de Humlikon.[1]

Aeronave[editar | editar código-fonte]

Com a corrida armamentista provocada pela segunda guerra mundial, a aviação experimentaria uma de maiores evoluções. Ao final do conflito, os primeiros aviões com propulsão a jato já eram uma realidade, porém essa tecnologia era até então restrita a aviação militar. No início dos anos 1950, a inglesa de Havilland e as americanas Boeing, Douglas e Convair estudariam o uso da propulsão a jato em aeronaves comerciais. Para não ficar atrás das indústrias inglesa e americana, o governo francês iria lançar o projeto uma aeronave comercial a jato. Assim surgiria o Caravelle. Em 27 de maio de 1955 , o Caravelle iria realizar seu primeiro voo. Seriam construídos 282 Caravelle de nove versões diferentes. Ao entrar em serviço em 1959, o Caravelle voaria em praticamente todos os continentes sob as cores de diversas companhias aéreas. Ao final dos anos 1970, a maior parte das aeronaves seriam convertidas para o transporte de cargas, tendo o Caravelle voado até 2005, quando a última aeronave seria retirada de serviço.[2]

A companhia aérea Swissair ingressaria na era a jato com a aquisição de oito Sud Aviation Caravelle III. As primeiras aeronaves seriam entregues em 1960 enquanto que a última seria recebida em 1964. O Caravelle substituiria os Douglas DC-6 e DC-7 empregados pela Swissair nas rotas europeias. Após 11 anos de operação, os últimos Caravelle da Swissair seriam substituídos por Douglas DC-9.[3]

A aeronave destruída no desastre do voo 306 havia sido fabricada em 1962, tendo sido entregue para a Swissair em 19 de outubro daquele ano. O Caravelle III tinha o número de construção 147 e ao ser entregue a Swissair receberia o prefixo HB-ICV. A empresa suíça o batizaria Schaffhausen, em homenagem a cidade homônima.[3]

Acidente[editar | editar código-fonte]

Um denso nevoeiro cercava a região de Zurique na manhã de 4 de setembro de 1963, prejudicando as operações do aeroporto local. Após ser preparado pelas equipes de terra, o Caravelle III prefixo HB-ICV Schaffhausen receberia instruções para aguardar a autorização para a decolagem. Durante alguns minutos o Caravelle taxiou até ser concedida autorização para a decolagem na pista 034. Após correr os 3 700 metros da pista 034, o Caravelle decolaria as 06h13min e subiria rapidamente para o nível de voo 150, onde atingiria velocidade de cruzeiro. O Caravelle realizava o voo internacional 306 entre Zurique e Roma, com escala em Genebra. A aeronave estava lotada, transportando 74 passageiros e 6 tripulantes.[1]

Quatro minutos após a decolagem, uma grande quantidade de fumaça iria invadir a cabine de comando. Pega de surpresa, a tripulação tentaria retornar ao aeroporto de Zurique. Às 06h21 min, o ATC de Zurique receberia uma mensagem de Mayday do Voo Swissair 306. Um minuto depois, uma explosão derrubaria o Caravelle em chamas sobre uma região de casas em Dürrenäsch, cerca de 48 km a oeste de Zurique.[4]

As equipes de resgate chegariam rapidamente, porém encontrariam apenas restos humanos irreconhecíveis e pedaços pequenos da aeronave. Na queda, o Caravelle atingiria uma casa além de derrubar destroços sobre outras três. O impacto da aeronave contra o solo abriria uma cratera de 15 metros de profundidade por 30 de comprimento e aproximadamente 20 de largura.[1] Dos 80 ocupantes da aeronave, seriam retirados dos destroços apenas metade de uma cabeça e uma mão decepada, sendo os demais corpos reduzidos a pequenos fragmentos queimados.[5]

Investigações[editar | editar código-fonte]

Apesar do rastro de destruição, os poucos fragmentos que sobraram serviriam para a equipe de investigação suíço-francesa descobrir a causa da queda. O relato de testemunhas iria contribuir significativamente para a reconstrução dos fatos desde a decolagem em Zurique até a queda em Dürrenäsch.[4]

O denso nevoeiro que prejudicava as operações do aeroporto de Zurique levaria a torre de controle a suspender as decolagens até que houvesse condições mínimas para a decolagem. Quando o Caravelle foi retirado do hangar, por volta das 5h40 min, os freios dos trens de pouso estariam travados no 9º nível. O Caravelle tinha um freio de estacionamento de 9 níveis. Os freios seriam aliviados para o 1º nível (stand by), quando a aeronave foi movida do hangar para o local de embarque.[4]

A tripulação do Caravelle iria taxiar sem autorização pelas pistas de taxiamento do aeroporto tentando limpar o caminho.[6] Durante o taxiamento, a tripulação do Caravelle manteria o freio de estacionamento no 1º nível. Nesse caso, o freio de estacionamento no 1º nível deixaria as pastilhas do freio tocavam levemente os discos de freio. Com uma movimentação constante da aeronave com o freio de estacionamento posicionado no 1º nível, os discos iriam ficar superaquecidos pelo pequeno atrito existente entre eles e as pastilhas.[4]

Com os discos superaquecidos, o Caravelle iniciaria a corrida para a decolagem. Durante o recolhimento do trem de pouso, um pequeno incêndio ocorre no sistema de freios do mesmo. O incêndio aumentaria de intensidade e danificaria os dutos dos sistemas hidráulicos da aeronave que se romperiam posteriormente, despejando fluido hidráulico inflamável sobre as chamas (parte do fluido vazaria pela porta do trem de pouso e cairia em áreas próximas ao aeroporto), aumentando a gravidade do incêndio. Como o Caravelle não contava ainda com sensores de medição de temperatura dos freios do trem de pouso, a tripulação só notaria o incêndio quando o mesmo já estava fora de controle. A destruição do sistema hidráulico tornaria a aeronave incontrolável e em pouco tempo, as chamas atingiriam toda a aeronave, incluindo tanques de combustível, o que levaria a uma explosão dos mesmos. Transformado em uma bola de fogo gigante (segundo testemunhas oculares), o Caravelle cairia numa área residencial de Dürrenäsch.[4]

Nacionalidades[editar | editar código-fonte]

A maior parte das vítimas era suíça (incluindo a totalidade da tripulação), sendo que 43 passageiros eram da comuna de Humlikon,[7] incluindo funcionários municipais, dentre eles o prefeito. Eles viajariam para Genebra, onde conheceriam uma cooperativa agrícola modelo, sendo que desejavam implantar uma similar em sua comuna.[1]

Nacionalidade Tripulação Passageiros Total Sobreviventes
Suíça Suíça 6 68 74 0
Israel israelense 1 1 0
Reino Unido britânica 1 1 0
Estados Unidos estadunidense 1 1 0
Estados Unidos/Irã estadunidense/iraniana 1 1 0
Egito egípcia 1 1 0
Bélgica belga 1 1 0
Total 6 74 80 0

Consequências[editar | editar código-fonte]

Após o desastre com o Caravelle suíço, a Sud Aviation implantaria sensores de temperatura dos freios de trens de pouso nas aeronaves, além de substituir o fluido hidráulico por um não inflamável.[4] Entre os mortos, estavam 43 habitantes da comuna de Humlikon (que tinha cerca de 200 habitantes à época[1]) que tinham o objetivo de visitar uma granja modelo em Genebra. Para muitos deles, esta seria a primeira viagem de avião, sendo que quase todos os funcionários da prefeitura local estavam no voo 306. O acidente faria desaparecer 1/5 dos habitantes de Humlikon, além de paralisar completamente a administração local (que perderia quase todos os seus funcionários). Dezenas de crianças ficariam órfãs, tendo sido criadas por parentes em outras comunas. O desastre comoveria toda a Suíça. O governo suíço, auxiliado pelas grandes empresas do país e por centenas de cidadãos iria investir na reconstrução econômica e social da comuna de Humlikon.[8]

Referências

  1. a b c d e AP-UPI-FP-JB (5 de setembro de 1963). «Jato explode e mata 80 pessoas na Suíça». Jornal do Brasil, ano LXXIII, número 208, página 7 - Biblioteca Nacional- Hemeroteca Digital Brasileria. Consultado em 20 de março de 2013 
  2. «History». SudAviation.com. Consultado em 20 de março de 2013 
  3. a b Patrick Eberhard. «SE 210 Caravelle». Swissair Information website. Consultado em 20 de março de 2013 
  4. a b c d e f g «Swissair HB-ICV – 4. September 1963». SudAviation.com. Consultado em 20 de março de 2013 
  5. UPI (5 de setembro de 1963). «Turbina de jato explode sobre Zurique: 80 mortos». Última Hora, Ano XIII, número 4142 ,página6-Arquivo Público do Estado de S. Paulo- Projeto UH Digital. Consultado em 20 de março de 2013 
  6. «Strange and Unusual Accidents-Details of the accidents can be obtained by looking up the dates in the main database». Plane Crash Info. Consultado em 20 de março de 2013 
  7. «Der 4. September 1963 - Humlikon verliert einen Fünftel seiner Einwohner». Humlikon.net. Consultado em 20 de março de 2013 
  8. «Der 4. September 1963-Humlikon verliert einen Fünftel seiner Einwohner». Humlikon.net. Consultado em 20 de março de 2013. Arquivado do original em 17 de julho de 2012 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • JOB, Macarthur. "Chapter 3:"...Taxi onto the runway...to have a look around...?". Air Disaster:Volume 1. Aerospace Publications, 1994. pp. 30–36. ISBN 1875671110.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]