Verão Quente de 1975 – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para outros significados, veja Verão quente (desambiguação).

O período ficou conhecido em Portugal por Verão Quente de 1975, uma época conturbada caracterizada por uma certa anarquia no Governo, Forças Armadas e Sociedade,[1][2] que teve como consequência crescentes tensões entre grupos de esquerda e de direita.

Este período teve como prenúncio as comemorações do 1.º de Maio desse ano, levadas a cabo pela Intersindical.[1]

História[editar | editar código-fonte]

O general António de Spínola, como outros militares, teve um papel determinante nesse período. Durante o Processo Revolucionário em Curso (PREC), as facções de direita e a Igreja Católica receavam uma evolução mais radical do processo político iniciado com a Revolução dos Cravos e actuaram para a impedir. Isso em resposta às expropriações e ocupações de terras promovidas pela Reforma Agrária estabelecida pela esquerda no Sul do país,[3] foram assim perpetrados actos violentos, como o assalto a sedes de partidos de esquerda e atentados bombistas. Estes ocorreram em várias localidades, sobretudo no Norte de Portugal[4], de que Rio Maior, palco de grandes distúrbios organizados pela CAP (Confederação dos Agricultores de Portugal), onde passava a Estrada Nacional n.º 1, era a fronteira.[5]

Uma violência tal gera rumores sobre uma possível guerra civil.[1]

Como consequência disso, seguiu-se a demissão do IV Governo Provisório, coligação entre partidos de esquerda e direita, dando azo à crise governamental que levaria à queda deste Governo e, logo a seguir, à contestação ao V Governo Provisório e à demissão de Vasco Gonçalves.[6]

Nesta altura surge o Grupo dos Nove, liderado por Melo Antunes, que tomaram posição através da elaboração do "Documento dos Nove".[1]

O PS abandona o governo como sinal de protesto contra a ocupação do jornal "República", facto que ficou conhecido como "Caso República".[1]

Os interesses estratégicos dos EUA fizeram-se então sentir pela acção do seu embaixador Frank Carlucci, dirigente da CIA, nessa altura destacado para Lisboa, e pelos propósitos pouco pacíficos de Henry Kissinger, que não excluía a hipótese de uma intervenção armada norte-americana, de que foi dado sinal pelo envio do porta-aviões Saratoga, que fundeou no Tejo. Mário Soares, ao lado de Carlucci, teve papel importante nesse processo.[7]

Outro dos eventos que marcaram o Verão Quente foi o caso que ficou conhecido por "Saneamento dos 24", situação que envolveu o despedimento de 24 jornalistas do Diário de Notícias (DN) — metade da redacção do jornal —, no seguimento de os mesmos terem entregado à direcção um abaixo-assinado em que defendiam a revisão da linha editorial. Um dia depois, na recusa da publicação no DN, o abaixo-assinado foi publicado no Expresso e enviado à BBC.[8]

Referências

  1. a b c d e Verão Quente de 1975, CITI, Universidade Nova de Lisboa
  2. No dia seguinte à abertura da Assembleia Constituinte (2 de Julho), há o primeiro atentado bombista contra-revolucionário em Lisboa (3 de Junho). No dia 8 de Junho, a Assembleia do MFA aprovava o projecto da Aliança Povo/MFA, mas três dias depois já o centro de trabalho do PCP em Fafe era atacado à granada. Otelo Saraiva de Carvalho (que chefiava a COPCON), em 14 de Junho, ainda fala em mandar os fascistas para o Campo Pequeno, mas dois dias depois, era assaltada a sede do MDP em A-ver-o-mar. No dia 19 de Junho, o MFA aprova um Plano de Acção Política, uma espécie de segundo programa do MFA, assumindo-se como movimento de libertação do povo português. O processo revolucionário em curso começava a estar ao rubro, dando-se em 3O de Junho a fuga de 88 agentes da PIDE/DGS, detidos em Alcoentre - in: Verão Quente, Politipédia.
  3. http://www.infopedia.pt/$verao-quente-de-1975
  4. «Verão Quente de 1975». CITI Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas. Consultado em 11 de agosto de 2011 
  5. Um caso de violência política: o «Verão quente» de 1975, por Diego Palacios Cerezales, Análise Social, vol. XXXVII (165), 2003, 1127-1157
  6. «Verão Quente de 1975». Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011. Consultado em 11 de agosto de 2011 
  7. Álvaro Cunhal (1999). A verdade e a mentira na Revolução de Abril: A contra-revolução confessa-se. Lisboa: Edições Avante!. ISBN 972-550-272-8. Consultado em 11 de agosto de 2011 
  8. Carla Aguiar (19 de junho de 2010). «O director que marcou o 'verão quente' de 1975». Diário de Notícias. Consultado em 11 de agosto de 2011. Arquivado do original em 26 de novembro de 2012 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Artigos[editar | editar código-fonte]

Livros[editar | editar código-fonte]

  • Revolução das Flores, Do 25 de Abril ao Governo Provisório (Documentos), Pedro Seobreiro e Raúl Nascimento, Lisboa, Editorial Aster, 1975.
  • A Resistência. O Verão Quente de 1975 , José Gomes Mota, Lisboa, Edições jornal Expresso, Junho de 1976.
  • Congeminações: 25 de Novembro, a data que não se comemora: O Verão Quente de 1975, Edições jornal Expresso, Junho de 1976
  • A Resistência. O Verão Quente de 1975, José Gomes Mota, Lisboa, Edições jornal Expresso, 1976
  • Contos Proibidos – Memórias de um PS Desconhecido, Rui Mateus, Lisboa, Dom Quixote (ver referências e passagens do livro artigo)
  • Perspectivas e Realidades, Lisboa, Dom Quixote, 1996 (Ver referência)
  • Verdade e Mentira na Rev. de Abril (Ver: O 25 de Novembro, cap. 8), Álvaro Cunhal, Lisboa, Edições Avante, 1999
  • Igreja Católica, Estado e Sociedade, 1968-1975: o Caso Rádio Renascença, Paula Borges Santos, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2005
  • Carlucci vs. Kissinger - Os EUA e a Revolução Portuguesa, Bernardino Gomes e Tiago Moreira de Sá, Dom Quixote, Lisboa, 2008 (Recensão: As Memórias Secretas de Washington no PREC, Maria Inácia Rezol, em Scielo Portugal, 22-06-2009)
  • Verão Quente de 1975 - Portugal Tempo de Paixão, por Leonor Xavier, Temas & Debates/Círculo de Leitores.
  • 25 de Abril -Episódio do Projecto Global , Fernando Pacheco de Amorim, Porto, 1997
  • Os Saneamentos Políticos no Diário de Notícias no Verão Quente de 1975, por Pedro Marques Gomes, Alêtheia Editores, 2013, ISBN: 9789896225926.
  • 1975: Independência? – O ‘verão quente’ nos Açores, de José Andrade, Publiçor, 2015

Teses universitárias[editar | editar código-fonte]

Outros documentos[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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