Vatileaks – Wikipédia, a enciclopédia livre

O Escândalo Vatileaks [1][2][3] é um escândalo envolvendo documentos secretos que vazaram do Vaticano, que revelam a existência de uma ampla rede de corrupção, nepotismo e favoritismo relacionados com contratos a preços inflacionados com os seus parceiros italianos.[4] Este termo foi usado pela primeira vez pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, em comparação com o fenômeno Wikileaks. [5]

O escândalo veio à tona em janeiro de 2012, quando o jornalista italiano Gianluigi Nuzzi publicou cartas de Carlo Maria Viganò, anteriormente o segundo administrador do Vaticano, em que ele implorava para não ser transferido por ter exposto uma suposta corrupção que custou a Santa Sé um aumento de milhões nos preços do contrato. Viganò está atualmente no Núncio Apostólico dos Estados Unidos.[6]

Caso[editar | editar código-fonte]

Nos meses seguintes, o escândalo aumentou com documentos que vazaram para jornalistas italianos, revelando uma luta pelo poder no Vaticano sobre seus esforços para mostrar maior transparência financeira e cumprir com as normas internacionais de combate à lavagem de dinheiro. Também no início de 2012, uma carta anônima virou manchete por seu alerta de uma ameaça de morte contra o Papa Bento XVI.[2] O escândalo agravou-se em maio de 2012, quando Nuzzi publicou um livro intitulado Sua Santidade, as Cartas Secretas de Bento XVI que consiste de cartas confidenciais e memorandos entre o Papa Bento XVI e seu secretário pessoal,[7] um livro polêmico que retrata o Vaticano como um foco de intrigas, confabulações e confrontos entre facções secretas.[8] O livro revela detalhes sobre finanças pessoais do Papa, e inclui histórias de subornos feitos para obter uma audiência com ele.[9]

Paolo Gabriele, que foi mordomo pessoal do papa desde 2006, é acusado de ter vazado a informação para Gianluigi Nuzzi. Gabriele foi preso em 23 de maio depois que cartas confidenciais e documentos endereçados ao papa e outras autoridades do Vaticano serem supostamente encontrados em seu apartamento no Vaticano. Documentos semelhantes haviam sido publicados na imprensa italiana ao longo dos cinco meses anteriores, muitos deles lidavam com denúncias de corrupção, abuso de poder e falta de transparência financeira do Vaticano.[10]

Ele foi preso pela polícia do Vaticano, que alega ter encontrado documentos secretos no apartamento que divide com sua esposa e três filhos.[7][11] Gabriele foi libertado em julho de 2012 e foi movido para prisão domiciliar.[12] Piero Antonio Bonnet, juiz do Vaticano, foi encarregado de analisar as evidências do caso e decidir se há material suficiente para prosseguir para julgamento. Se condenado, Gabriele poderá enfrentar uma pena de até 30 anos por posse ilegal de documentos de um chefe de Estado. A sentença seria provavelmente cumprida em uma prisão italiana, devido a um acordo entre a Itália e o Vaticano.[12]

Paolo Gabriele foi indiciado pelos magistrados do Vaticano em 13 de agosto de 2012 por roubo agravado.[13] A primeira audiência do julgamento de Paolo Gabriele e Claudio Sciarpelletti, ocorreu às 9h30, em 29 de setembro de 2012.[14]

Desfecho[editar | editar código-fonte]

No dia 22 de dezembro de 2012, o Papa Bento XVI concedeu o indulto a Paolo Gabriele.[15] O ex-mordomo havia sido condenado a três anos de reclusão, reduzidos a 18 meses por causa de atenuantes: ele não tinha antecedentes criminais, havia trabalhado para o Vaticano, e reconheceu ter traído a confiança do pontífice.[16] Antes de receber o indulto, Paolo enviara uma carta a Bento XVI, admitindo erros, não ter cúmplices, e pedindo perdão.[17] Respondendo-o, Bento XVI lhe mandara um livro dos salmos autografado e com bênção apostólica dirigida especialmente à pessoa de Gabriele.[18]

Durante a última apelação feita em julgamento, Paolo havia declarado: "O que sinto mais fortemente dentro de mim é a convicção de que agi exclusivamente por amor, eu diria um amor visceral, pela Igreja de Cristo e seu representante".[16]

Segundo o jornal italiano La Repubblica, o escândalo influenciou a renúncia do papa Bento XVI, em fevereiro de 2013.[19]

Referências

  1. «Pope's butler vows to help Vatican scandal probe». foxnews.com. 28 de maio de 2012. Consultado em 29 de maio de 2012 
  2. a b «Vatileaks: Hunt is on to find Vatican moles». The Independent. 28 de maio de 2012. Consultado em 29 de maio de 2012 
  3. «'Vatileaks' scandal widens as pope's butler vows to help investigators». The Guardian. 28 de maio de 2012. Consultado em 29 de maio de 2012 
  4. «Le majordome du pape inculpé dans une affaire de fuites au Vatican». e-TF1. Arquivado do original em 26 de maio de 2012 
  5. Seiner Heiligkeit untreuer Kammerdiener, Tagesspiegel vom 30. Mai 2012
  6. «Escândalo de corrupção no Vaticano». Euronews 
  7. a b «The Associated Press: Vatican confirms pope's butler arrested in scandal». Google.com. Consultado em 26 de maio de 2012 
  8. Squires, Nick (10 de fevereiro de 2012). «Vatican editor accused of dirty tricks against rival». Canada.com. Consultado em 26 de maio de 2012 [ligação inativa]
  9. «Vatican Newspaper Editor Accused Rival Of Being Gay, Harassing Lover's Wife / Queerty». Queerty.com. Consultado em 26 de maio de 2012 
  10. «Papal butler's lawyers say client acted out of love for church, pope». Consultado em 29 de setembro de 2012. Arquivado do original em 23 de agosto de 2014 
  11. «Vatican Documents Leak: The Butler Did It». Gawker.com. Consultado em 26 de maio de 2012 
  12. a b «Vatican: Pope's butler moved to house arrest». BBC News Online. 21 de julho de 2012. Consultado em 22 de julho de 2012 
  13. Wooden, Cindy (13 de Agosto de 2012). «Vatican magistrates order trial for papal assistant accused of theft». Catholic New Service. Consultado em 17 de Agosto de 2012 
  14. «First Hearing Of The Accused In The "Vatileaks" Case». Vation Infomation Services. 17 de Setembro de 2012. Consultado em 19 de Setembro de 2012 
  15. «Papa concede indulto a mordomo preso no escândalo VatiLeaks». G1. 22 de Dezembro de 2012. Consultado em 22 de Dezembro de 2012 
  16. a b «Ex-mordomo do papa é condenado a 18 meses de prisão». Instituto Humanitas Unisinos. 7 de Outubro de 2012. Consultado em 14 de Fevereiro de 2013 
  17. «Ex-mordomo do Papa envia carta pedindo perdão». Instituto Humanitas Unisinos. 26 de Julho de 2012. Consultado em 14 de Fevereiro de 2013 
  18. «O gesto do Papa para Gabriele». Instituto Humanitas Unisinos. 12 de Novembro de 2012. Consultado em 14 de Fevereiro de 2013 
  19. Sexo, dinheiro e poder podem ter influenciado renúncia do Papa

Ligações externas[editar | editar código-fonte]