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Universidade Amílcar Cabral
Universidade Amílcar Cabral
UAC
Lema Educar, Desenvolver e Promover
Fundação 6 de dezembro de 1999 (24 anos)
Tipo de instituição Pública
Mantenedora Ministério da Educação
Localização Bissau, Guiné-Bissau
Reitor(a) Incanhe Natanda[1]
Campus Complexo Escolar 14 de Novembro
Afiliações Associação das Universidades de Língua Portuguesa
Página oficial uac.gw

A Universidade Amílcar Cabral (UAC) é uma instituição de ensino superior pública da Guiné-Bissau. É a única universidade pública do país.

Fundada em 1999 com a missão de federar as diversas instituições superiores da nação, foi fechada abruptamente em 2008; a partir de 2010 passou por uma profunda reestruturação, que culminou com a sua retomada de atividades em 2013, com a nomeação do seu novo corpo administrativo.

Em 2018 foi anunciado que o sistema federativo da UAC seria composto pelas faculdades de direito, humanidades e medicina, e pelas escolas superiores de administração e educação. Tal formato nunca entrou em operações de fato.

Com reitoria instalada na cidade de Bissau, a universidade foi nomeada em homenagem a Amílcar Cabral, considerado o "pai" da independência do país.

Histórico[editar | editar código-fonte]

A tradição universitária do sistema federativo da Universidade Amílcar Cabral surgiu da "Escola de Habilitação de Professores do Posto de Bolama General Arnaldo Sachutz", instituída pelo decreto-lei 45908, de 10 de setembro de 1964, com funcionamento pleno a partir de 13 de fevereiro de 1967; em 1975 tornou-se a Escola Nacional Amílcar Cabral. Em 1972 já havia surgido a Escola de Magistério Primário de Bissau, que se tornaria, em 1975, a Escola Nacional 17 de Fevereiro.[2][3][4]

O ano de 1979 viria trazer uma explosão da oferta de ensino com a abertura da Escola de Direito (atual Faculdade de Direito de Bissau), a Escola Normal Superior Tchico Té (primeira a verdadeiramente ofertar ensino superior, em 1983-84) e a Escola Nacional de Educação Física e dos Desportos. O Centro de Formação Administrativa (atual Escola Nacional de Administração) foi inaugurado em 1982 e a Faculdade de Medicina só surgiria em 1986.[2][3][4]

Criação da UAC[editar | editar código-fonte]

A maioria das instituições componentes do sistema federativo UAC já estavam formadas quando uma relevante discussão da importância de uma universidade pública iniciou-se em 1984, porém não achava-se vontade política e recurso orçamentário para dar conta do projeto. Pensou-se inclusive na cooperação soviética e cubana para levar adiante uma universidade que reunisse os cursos isolados. A discussão porém foi interrompida na iminência do colapso do sistema socialista e da abertura política nacional, empurrando-a para a década de 1990.[5]

A UAC foi criada pelo decreto n.° 6/99 de 6 de dezembro de 1999, como uma universidade pública com gestão privada/autónoma, gerida por uma fundação privada, a Fundação para Promoção do Ensino e da Cultura (FUNPEC). A FUNPEC era composta pela parceria do governo da Guiné-Bissau com uma universidade privada portuguesa, a Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.[5]

O início das suas operações deu-se a 13 de novembro de 2003, por decreto do então presidente interino guineense, Henrique Rosa.[6] Para seu início foram criadas as faculdades de Ciências, Economia, Letras e Ciências da Comunicação, Tecnologias, Ciências Agrárias e Veterinárias bem como uma Escola Superior de Educação Física e Desportiva.[7] Ademais, a universidade deveria, gradualmente, federar as outras instituições de ensino superior públicas do país, iniciando pela Faculdade de Direito.

A partir de 2006, a Escola Nacional de Saúde (ENS), juntamente com a sua principal instituição, a Faculdade de Medicina Raúl Diaz Arguelles, passaram a congregar também a UAC.[8]

Em 3 novembro de 2008, o governo alegou falta de condições para financiar a instituição, declarando em seguida cedência da Universidade ao seu parceiro – Universidade Lusófona de Portugal.[9] O então reitor da UAC, Alberto Sanhá, considerou, numa entrevista ao canal Portuguese News Network, o acordo como "um negócio sujo". No mesmo dia a Associação dos Professores da UAC questionou a legitimidade do executivo para alterar o estatuto jurídico do estabelecimento, afirmando estar surpreendido pela forma como o assunto foi tratado, apelando também à intervenção do Ministério Público para que viesse proceder a auditoria da gestão financeira da universidade[10].

Com a passagem total da instituição ao capital privado, algumas faculdades, tal como a de medicina e a de direito (até então integradas na UAC), se desfiliaram e passaram a autonomia novamente.[11]

Reestruturação[editar | editar código-fonte]

Desde 2010 o governo guineense vem tentando reestruturar a instituição, com a criação de um convénio de cooperação com o governo brasileiro através da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), para estruturação administrativa e formação de docentes.[12][13]

Em 2013, após cinco anos desativada, a UAC retomou as suas atividades, com a nomeação de uma novo corpo administrativo - reitor e vice-reitores. Em setembro de 2014 a universidade ganhou uma nova reitora, a então ministra Zaida Maria Lopes Pereira Correia (cessante em 2018).[14]

Em 2014 iniciou-se a negociação para integração da estrutura da Faculdade de Direito de Bissau, como unidade orgânica da UAC, muito embora tal integração nunca tenha avançado ou sido concluída (mesmo facto com a FMRDA, com a ESEGB e com a ENA-Bissau).[15][16]

Em 2015 a UAC fez vários eventos de caráter académico enquanto não reabria oficialmente as suas atividades para o ano letivo de 2015/2016. Sua reabertura foi possível através de um outro convénio, desta vez com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para aquisição dos materiais para os cursos de licenciatura em tecnologias.[17]

A 23 de junho de 2016 conseguiu os materiais para a primeira biblioteca universitária do país, a "Biblioteca Central da UAC", com a doação dos livros da biblioteca particular do professor americano Russell Hamilton, um dos entusiastas da UAC, morto em fevereiro de 2016. A biblioteca funcionou em estruturas provisórias até 2019, quando ganhou local apropriado.[18]

Ensino e investigação[editar | editar código-fonte]

Entre 2014 e 2020 foi anunciado repetidas vezes que a UAC funcionaria como um sistema federativo,[19][20] que seria composto pela Faculdade de Direito de Bissau (FDB),[21] pela Faculdade de Medicina Raúl Diaz Arguelles (FMRDA),[22][23][24] pela Faculdade de Humanidades (FH),[25][26] pela Escola Nacional de Administração (ENA-Bissau) e pela Escola Superior de Educação da Guiné-Bissau[27] (que congregaria a Escola Normal Superior Tchico Té (ENSTT), Escola Nacional de Educação Física e Desporto (ENEFD), a Escola Nacional 17 de Fevereiro (EN-17F) e a Escola Nacional Amílcar Cabral (ENAC)).[28][29]

Porém, em 2021 os únicos cursos implantados eram as licenciaturas de:[30]

  • Tecnologia de informação e comunicação;
  • Ciências agropecuárias;
  • Comunicação e marketing;
  • Letras (línguas e literaturas);
  • Humanidades (ciências humanas);
  • Serviços sociais;
  • Economia;
  • Ciências de educação.

Cada oferta de licenciatura funciona na alçada de um departamento universitário da UAC, que possui nome idêntico ao do curso.

A universidade mantém um periódico de divulgação científica, a Revista Tapada, sob curadoria de um núcleo de estudos.[31]

Reitores[editar | editar código-fonte]

Nome Mandato Afiliação Forma de eleição
Tcherno Djaló[32] 13 de novembro de 2003 - 9 de dezembro de 2005 Faculdade de Economia Indicação presidencial
Augusto Idrissa Embaló[33] 9 de dezembro de 2005 - Novembro de 2007 Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias Indicação parlamentar
Alberto Sanhá[10] Novembro de 2007 - 3 de novembro de 2008 Faculdade de Direito de Bissau Indicação parlamentar
Interregno
Maria Odete da Costa Soares Semedo[34] 8 de janeiro de 2013 - 20 de setembro de 2014 Escola Superior de Educação da Guiné-Bissau Indicação ministerial
Zaida Maria Lopes Pereira Correia[14] 20 de setembro de 2014 - 10 de janeiro de 2018 Escola Superior de Educação da Guiné-Bissau Indicação ministerial
Joel Aló Fernandes[35] 10 de janeiro de 2018 - 14 de setembro de 2018 Faculdade de Direito de Bissau Indicação ministerial
Fodé Abulai Mané[36] 14 de setembro de 2018 - Abril de 2020 Faculdade de Direito de Bissau Indicação ministerial
Timóteo Saba M'bunde[37] Abril de 2020 - Abril de 2022[38] Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Indicação ministerial
Incanhe Natanda[1] Abril de 2022 - presente ? Indicação ministerial

Pessoas notáveis[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Rádio Jovem (26 de maio de 2022). «Estudantes Exigem a Despolitização da Universidade Amílcar Cabral». Rádio Jovem 
  2. a b Indalá, Samuel. Sistema Educativo e Formação de Professores na Guiné-Bissau. In: IV Congresso Nacional de Formação de Professores e XIV Congresso Estadual Paulista sobre a Formação de Educadores, 2018, Águas de Lindóia, Anais...São Paulo: Água de Lindóia, 2018, p. 101.. 2018.
  3. a b Augel, Moema Parente. Desafios do ensino superior na África e no Brasil: a situação do ensino universitário na Guiné-Bissau e a construção da guineidade. Estudos de Sociologia. Rev, do Progr. de Pós-Graduação em Sociologia da UFPE. v. 15. n. 2, p. 137-159.
  4. a b Furtado, Alexandre Brito Ribeiro. Administração e Gestão da Educação na GuinéBissau: Incoerências e Descontinuidades. Aveiro: Universidade de Aveiro/Departamento de Ciências da Educação, 2005.
  5. a b Sanhá, Alberto (2010). «Educação Superior em Guiné-Bissau» (PDF). Porto Alegre: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 
  6. «Aberta oficialmente Universidade Amílcar cabral». Agência Pan-Africana de Notícias. 15 de novembro de 2003 
  7. AFP (Janeiro de 2004). «Guiné-Bissau - Inaugurada a primeira universidade pública» (PDF). A Página da Educação (130) 
  8. «Guiné-bissau: Faculdade de Medicina reabre em Bissau». ANGOP. 28 de janeiro de 2006 
  9. Correia, Heldomiro Henrique (2013). «O Projeto Africanidade e o Contexto Educacional da Guiné-Bissau» (PDF). João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba 
  10. a b Sami, Onis (3 de novembro de 2008). «Extinção da Universidade Amílcar Cabral: Grupo Lusófono cria universidade na Guiné-Bissau». Jornal Digital. Portuguese News Network 
  11. «Mais 16 médicos formados na Faculdade Raúl Diaz Arguelles». Portal GBissau. 29 de outubro de 2014 
  12. «Projetos na área educacional». Embaixada do Brasil em Bissau. Ministério das Relações Exteriores. Consultado em 26 de janeiro de 2017 
  13. «Ministro da educação nacional promete que Universidade Amílcar Cabral vai em breve ser realidade». Portal GBissau. 1 de agosto de 2012 
  14. a b «Conselho de Ministros nomeia novos Directores-gerais». Portal GBissau. 22 de setembro de 2014. Consultado em 26 de janeiro de 2017 
  15. Seide, Tiago (23 de outubro de 2014). «Guiné-Bissau: Responsáveis pelo Ensino Superior particular acusados de «mercantilismo»». Jornal Digital. Portuguese News Network 
  16. «Responsáveis pelo Ensino Superior particular acusados de "mercantilismo"». Portal GBissau. 24 de outubro de 2014 
  17. «Unesco disponibiliza 500 mil dólares à Universidade Amílcar Cabral, na Guiné-Bissau». Voz da América. 12 de maio de 2015 
  18. Santos, Elisangila Raisa Silva dos (23 de junho de 2016). «Universidade Amílcar Cabral já dispõe de biblioteca geral». Rádio Sol Mansi 
  19. «Research4Life Academic Institutions» (PDF). Research4Life. 7 de junho de 2018 
  20. Araújo, Sofia Melvill de (21 de janeiro de 2017). «Visita à Universidade Amílcar Cabral – Guiné-Bissau». Plataforma Sharing Knowledge Agrifood Networks 
  21. «Guiné-Bissau». Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Universidade de Lisboa. Consultado em 26 de janeiro de 2017. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2017 
  22. Guerreiro C. S.; et al. (31 de dezembro de 2018). «Formação de Recursos Humanos em Saúde na República da Guiné-Bissau: Evolução das Estruturas e Processos num Estado Frágil» 12 ed. Revista Científica da Ordem dos Médicos: 749 
  23. «Guiné-Bissau: Crise política crónica hipoteca futuro dos jovens». Deutsche Welle. 11 de março de 2020 
  24. «Grande Reportagem: Universidades privadas e estudantes apreensivos com o futuro dos seus cursos». O Democrata. 10 de maio de 2015. Consultado em 15 de maio de 2015. Arquivado do original em 18 de outubro de 2016 
  25. «Reitor da UAC: "Cabral para nós é mais que um agrônomo! É um cientista social, estadista e estratega militar"». O Democrata. 17 de janeiro de 2019 
  26. Fundo de Pequenos Projetos da Guiné-Bissau financia Curso de TIC aplicado à Agricultura. Instituto Camões. 30 outubro 2019.
  27. Candé, Amatinjane (19 de maio de 2015). «Equipamento novo e desafios adicionais para Universidade Amílcar Cabral». Rádio das Nações Unidas 
  28. Alves, Sofia; Rebelo, Margarida. (17 de maio de 2012). «2. O setor da educação: principais problemas e boas práticas» (PDF). Bissau: IPAD. Revista Guineense de Educação e Cultura 
  29. «Instituições do ensino guineense divergem em relação a instalação do centro virtual». Conosaba. 8 de março de 2018 
  30. «Cursos». Portal UAC. 2021 
  31. «Revista Tapada». NEPAC. 2021 
  32. «Tcherno Djaló». Projeto Guiné-Bissau. Consultado em 26 de janeiro de 2017 
  33. Fiúza, Montenegro (11 de dezembro de 2005). «Novo Reitor da Universidade Amílcar Cabral». Fórum de Debate Político 
  34. Lopes, Avito Ferreira (8 de janeiro de 2013). «O governo de transição nomeou Odete Semedo como a reitora da Universidade Amilcar Cabral UAC». Guiné Visão Futuro 
  35. «Joel Aló Fernandes, nomeado novo reitor da UAC». Rádio Jovem Bissau. 12 de janeiro de 2018 
  36. «Fodé Mané nomeado novo reitor da UAC». Rádio Jovem Bissau. 14 de setembro de 2018 
  37. Saqui, Rozimélia (22 de setembro de 2020). «Reitor da Universidade Amílcar Cabral apresentado em Bissau». Capital News Bissau 
  38. «Universidade Amílcar Cabral: Estudantes Exigem Inspeção de Docentes e Início do Novo Ano Letivo». Jornal O Democrata. 11 de abril de 2022 
  39. «A Minha Vontade Esmorece». Catarse. 9 de agosto de 2009 
  40. «Reitoria». Universidade Católica da Guiné-Bissau. 2018 
  41. «Kumba Ialá, o homem do "barrete vermelho", tenta regressar à presidência». Diário de Notícias. 2009. Consultado em 3 de fevereiro de 2017 
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