Tratado de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos – Wikipédia, a enciclopédia livre

Tratado de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos
Tratado de Paz Abraão: Tratado de Paz, Relações Diplomáticas e Normalização Total entre os Emirados Árabes Unidos e o Estado de Israel
Tratado de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos
Local de assinatura Casa Branca, Washington, D.C., Estados Unidos
Signatário(a)(s) Benjamin Netanyahu
Abdullah bin Zayed Al Nahyan
Donald Trump (mediador/testemunha)
Partes Israel
Emirados Árabes Unidos
Criado 13 de agosto de 2020
Assinado 15 de setembro de 2020

O tratado de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos, oficialmente conhecido como Tratado de Paz Abraão: Tratado de Paz, Relações Diplomáticas e Normalização Total entre os Emirados Árabes Unidos e o Estado de Israel,[1] é um acordo de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos (EAU) esboçado em 13 de agosto de 2020 e assinado em 15 de setembro de 2020. Os EAU foram o terceiro país do mundo árabe, depois do Egito em 1979 e da Jordânia em 1994, a normalizar formalmente seu relacionamento com Israel,[1][2][3] bem como o primeiro país do Golfo Pérsico a fazê-lo.[4][5] Simultaneamente, Israel concordou em suspender os planos de anexação da Cisjordânia.[4][6]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Localização de Israel (azul) e dos EAU (vermelho) dentro do Oriente Médio.

Em 1971, ano em que os Emirados Árabes Unidos (EAU) se tornaram um país independente, o primeiro presidente dos EAU, o xeque Zayed bin Sultan al Nahayan, havia se referido a Israel como "o inimigo".[7] Em novembro de 2015, Israel anunciou que iria abrir um escritório diplomático nos EAU, a primeira vez em mais de uma década que Israel teve uma presença oficial no Golfo Pérsico.[8] Em agosto de 2019, o ministro das Relações Exteriores de Israel fez uma declaração pública sobre a cooperação militar com os EAU em meio ao aumento das tensões com o Irã.[9]

Nos meses que antecederam o tratado, Israel trabalhou em segredo com os EAU para combater a pandemia de COVID-19. Os meios de comunicação social europeus informaram que o Mossad obteve discretamente equipamentos de saúde dos Estados do Golfo Pérsico.[10][11] Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, relatou no final de junho de 2020 que os dois países estavam cooperando para combater o coronavírus e que o chefe do Mossad, Yossi Cohen, havia viajado várias vezes aos EAU. No entanto, os EAU pareceram minimizar isso algumas horas depois, revelando que se tratava apenas de um tratado entre empresas privadas, e não de nível estatal.[12]

A medida também ocorre após o término do acordo nuclear com o Irã pelo governo Trump e aumentou as preocupações israelitas sobre o desenvolvimento de um programa nuclear iraniano, o que Teerã nega. Atualmente, o Irã apoia diferentes facções em guerras por procuração da Síria ao Iêmen, onde os EAU apoiaram a coalizão liderada pelos sauditas contra as forças alinhadas com o Irã que lutam por aquela região.[13] Nos últimos anos, as relações informais dos países se aqueceram consideravelmente e eles se envolveram em uma ampla cooperação não oficial com base em sua oposição conjunta ao programa nuclear do Irã e à influência regional.[14]

O tratado também é oficialmente chamado de "Tratado Abraão" em homenagem a Abraão, o patriarca das três principais religiões abraâmicas do mundo — judaísmo, islamismo e cristianismo.[15]

Tratado[editar | editar código-fonte]

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anuncia aos meios de comunicação social a confirmação do tratado do Salão Oval na Casa Branca, em 13 de agosto de 2020

Em 13 de agosto de 2020, o Ministro de Estado das Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos (EAU), Anwar Gargash, anunciou o tratado dos EAU para normalizar as relações com Israel, dizendo que seu país queria lidar com as ameaças enfrentadas pela solução de dois Estados, especificamente a anexação dos territórios palestinos e exortando os palestinos e israelitas a retornarem à mesa de negociações. Ele indicou que não acha que haverá qualquer embaixada em Jerusalém até que haja um tratado final entre palestinos e israelitas.[16] De acordo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, "Israel e os EAU normalizarão totalmente suas relações diplomáticas. Eles trocarão embaixadas e embaixadores e iniciarão cooperação em todos os setores e em uma ampla gama de áreas, incluindo turismo, educação, saúde, comércio e segurança."[17]

Uma declaração conjunta emitida por Trump, Netanyahu e Zayed dizia: "Este avanço diplomático histórico promoverá a paz na região do Oriente Médio e é um testemunho da ousada diplomacia e visão dos três líderes e da coragem dos EAU e de Israel para traçar um novo caminho que irá desbloquear o grande potencial da região."[13] Os EAU disseram que continuarão a apoiar o povo palestino e que o tratado manterá a perspectiva de uma solução de dois Estados entre Israel e Palestina. Apesar do tratado, no entanto, Netanyahu afirmou que a reivindicação de soberania de Israel ao Vale do Jordão ainda estava na agenda e apenas congelada por enquanto.[13]

Zayed twittou que "os EAU e Israel também concordaram em cooperar e estabelecer um roteiro para o estabelecimento de uma relação bilateral."[2]

O tratado de paz foi assinado na Casa Branca em 15 setembro de 2020.[18]

Reações[editar | editar código-fonte]

Egito

O presidente egípcio, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, saudou o tratado, dizendo que elogia os esforços das partes para "alcançar a prosperidade e a estabilização em nossa região."[19]

Estados do Golfo Pérsico

Yousef Al Otaiba, embaixador dos Emirados Árabes Unidos nos Estados Unidos, divulgou um comunicado exaltando o tratado como "uma vitória para a diplomacia e para a região", acrescentando que "reduz as tensões e cria novas energias para mudanças positivas".[5][20]

O Bahrein, o primeiro país do Golfo Árabe a comentar publicamente sobre o anúncio, deu parabéns a liderança dos Emirados Árabes Unidos (EAU) e saudou o tratado como "medidas para aumentar as chances de paz no Oriente Médio".[19] Omã também anunciou publicamente seu apoio à decisão dos EAU de normalizar os laços com Israel. Um comunicado do Ministro de Relações Exteriores do país afirmou que é um tratado "histórico".[21]

Estados Unidos

Kelly Craft, a embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, comemorou o anúncio, chamando-o de "uma grande vitória" para o presidente Trump e para o mundo, dizendo que os laços diplomáticos mostram "o quanto temos fome de paz neste mundo", e como os países do Oriente Médio estão entendendo a necessidade de "permanecer firmes contra um regime que é o principal patrocinador do terrorismo" — o Irã.[19]

Israel

O prefeito do município de Tel Aviv-Yafo, Ron Huldai, deu os parabéns ao primeiro-ministro Netanyahu pela "dupla conquista" da paz com os Emirados Árabes Unidos e arquivamento de planos para anexar partes da Cisjordânia.[19]

O chefe do grupo de colonos israelitas Yesha, David Elhayani, acusou Netanyahu de "trair" alguns de seus apoiadores mais leais e afirmou que "ele [Netanyahu] enganou meio milhão de residentes da área e centenas de milhares de eleitores." Oded Revivi, o prefeito de Efrat, um assentamento com mais de 9 000 residentes ao sul de Jerusalém, apoiou Netanyahu argumentando que "o tratado israelita para adiar a aplicação da lei israelita nos assentamentos judeus na Judeia e Samaria é um preço justo [a pagar]."[22]

Irã

A Agência de Notícias Tasnim do Irã disse que o tratado entre Israel e os Emirados Árabes Unidos foi "vergonhoso".[23]

Nações Unidas

O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, saudou "qualquer iniciativa que possa promover a paz e a segurança na região do Oriente Médio".[24]

Palestina

Hanan Ashrawi, oficial da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), criticou o acordo, escrevendo no Twitter que "Israel foi recompensado por não declarar abertamente o que tem feito à Palestina de forma ilegal e persistente desde o início da ocupação".[4] O Fatah acusou os Emirados Árabes Unidos de "desprezar seus deveres nacionais, religiosos e humanitários" para com o povo palestino, enquanto o Hamas disse que foi uma "facada traiçoeira nas costas do povo palestino".[4] O porta-voz do Hamas, Fawzi Barhoum, na Faixa de Gaza, também condenou o plano de recompensar Israel, alegando que o acordo era uma "recompensa gratuita por seus crimes e violações contra o povo palestino".[22]

A Autoridade Nacional Palestiniana chamou de volta seu embaixador de Abu Dhabi. Netanyahu disse que "não houve mudança" em seus planos de anexar partes da Cisjordânia se fosse aprovado pelos Estados Unidos, mas acrescentou que eles estavam temporariamente suspensos.[25][26][27]

Reino Unido

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, elogiou o tratado como um caminho para alcançar a paz no Oriente Médio e também elogiou a suspensão da anexação de áreas na Cisjordânia. O ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab, e o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, expressaram sentimentos semelhantes, com o primeiro acrescentando que era hora de um diálogo direto entre israelitas e palestinos, enquanto o último afirmou que isso criava uma oportunidade para retomar as negociações.[28]

Consequências[editar | editar código-fonte]

Em 16 de agosto de 2020, Israel e os Emirados Árabes Unidos inauguraram serviços de telefonia direta.[29] A empresa emiradense APEX National Investment e a israelita Tera Group firmaram acordo de parceria na pesquisa da vacina da COVID-19, tornando-se o primeiro negócio firmado entre empresas das duas nações desde a normalização dos laços.[30]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Holland, Steve (13 de agosto de 2020). «With Trump's help, Israel and the United Arab Emirates reach historic deal to normalize relations» (em inglês). Reuters. Consultado em 14 de agosto de 2020. Israel assinou tratados de paz com o Egito em 1979 e com a Jordânia em 1994. Mas os Emirados Árabes Unidos, junto com a maioria das outras nações árabes, não reconheceram Israel e não tiveram relações diplomáticas ou econômicas formais com ele, até agora. Tornou-se o primeiro país do Golfo Árabe a chegar a tal acordo com o Estado judeu. 
  2. a b Baker, Peter; Kershner, Isabel; Kirkpatrick, David D. (13 de agosto de 2020). «Israel and United Arab Emirates Strike Major Diplomatic Agreement». The New York Times (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2020. Se cumprido, o tratado tornaria os Emirados o terceiro país árabe a manter relações diplomáticas normais com Israel, juntamente com o Egito, que assinou um tratado de paz em 1979, e a Jordânia, que assinou um tratado em 1994. 
  3. Smith, Saphora (13 de agosto de 2020). «Israel, United Arab Emirates agree full normalization of relations». NBC News (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2020. Israel atualmente tem tratados de paz com apenas dois países árabes — Egito e Jordânia — onde possui embaixadas fortificadas. Se Israel e os Emirados Árabes Unidos assinarem tratados bilaterais, será a primeira vez que Israel normalizará as relações com um Estado do Golfo Pérsico. 
  4. a b c d «Israel and UAE announce normalisation of relations with US help» (em inglês). Al Jazira. 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  5. a b «Israel and UAE strike historic deal to normalise relations». BBC News (em inglês). 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  6. «Israel and United Arab Emirates strike historic peace accord» (em inglês). Financial Times. 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020. (pede subscrição (ajuda)) 
  7. Kristian Coates Ulrichsen (setembro de 2016). «Israel and the Arab Gulf States: Drivers and Directions of Change» (PDF) (em inglês). Rice University's Baker Institute for Public Policy. p. 3. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  8. Hadid, Diaa (27 de novembro de 2015). «Israel to Open Diplomatic Office in United Arab Emirates». The New York Times (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2020 
  9. Freedberg, Sydney J., Jr. «Israel Meets with UAE, Declares It's Joining Persian Gulf Coalition» (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2020 
  10. Baker, Peter; Kershner, Isabel; Kirkpatrick, David D. (13 de agosto de 2020). «Israel and United Arab Emirates Strike Major Diplomatic Agreement». The New York Times (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2020 
  11. Bergman, Ronen (12 de abril de 2020). «Israel's Not-So-Secret Weapon in Coronavirus Fight: The Spies of Mossad». The New York Times (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2020 
  12. Bergman, Ronen; Hubbard, Ben (25 de junho de 2020). «Israel Announces Partnership with U.A.E., Which Throws Cold Water On It». The New York Times (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2020 
  13. a b c «Israel, UAE agree to normalise relations, with help from Trump». Reuters (em inglês). 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  14. The New Yorker, 16 de junho de 2018, "Donald Trump's New World Order" (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2020
  15. «Trump Announces 'Historic Breakthrough' Between Israel, UAE» (em inglês). Voz da América. 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  16. «Further Israeli annexation of Palestinian territories would have eliminated hope for peace: UAE» (em inglês). AMN. 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020. Cópia arquivada em 13 de agosto de 2020 
  17. News, A. B. C. «Israel, UAE agree to normalize ties in what Trump calls a 'historic' agreement». ABC News (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2020 
  18. «Israel, UAE normalise relations in historic, Trump-brokered deal». France24 (em inglês). 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  19. a b c d The Latest: US envoy: UAE-Israel deal 'huge win' for Trump Arquivado em 22 de agosto de 2020, no Wayback Machine. (em inglês). 13 de agosto de 2020. WTOP News. Consultado em 14 de agosto de 2020
  20. «Ambassador Yousef Al Otaiba Statement Regarding Announcement Between Israel and United Arab Emirates». Embaixada dos Emirados Árabes Unidos nos Estados Unidos (em inglês). Ministry of Foreign Affairs and International Cooperation of the United Arab Emirates. 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  21. 🖉«Oman supports UAE decision to normalise ties with Israel» (em inglês). 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020 – via uk.reuters.com 
  22. a b Gearan, Anne; Hendrix, Steve (13 de agosto de 2020). «Trump announces historic peace agreement between Israel and United Arab Emirates» (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2020. (pede subscrição (ajuda)) 
  23. «Iran news agency tied to Revolutionary Guards calls UAE-Israel deal 'shameful'». Reuters (em inglês). 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  24. «World reacts to UAE's opening diplomatic ties with Israel». Arab News (em inglês). 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  25. EDT, Tom O'Connor On 8/13/20 at 4:26 PM (13 de agosto de 2020). «Palestinians recall UAE ambassador, call deal with Israel "betrayal of Jerusalem"». Newsweek (em inglês). Consultado em 14 de agosto de 2020 
  26. «UAE and Israel to establish full diplomatic ties». AP News (em inglês). 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  27. «Palestinian Authority recalls its envoy to UAE». New Straits Times (em inglês). Agence-France Presse. 14 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  28. «Ambassador Yousef Al Otaiba Statement Regarding Announcement Between Israel and United Arab Emirates». The National (em inglês). 13 de agosto de 2020. Consultado em 14 de agosto de 2020 
  29. Elbahrawy, Farah (16 de agosto de 2020). «UAE, Israel Companies Sign First Deal After Breakthrough in Ties». Bloomberg (em inglês). Consultado em 17 de agosto de 2020 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]