Transição demográfica – Wikipédia, a enciclopédia livre

Transição demográfica é um conceito que descreve a dinâmica do crescimento populacional, decorrente dos avanços da medicina, urbanização, desenvolvimento de novas tecnologias, taxas de natalidade e outros fatores.

Um processo em quatro fases[editar | editar código-fonte]

A teoria nasce dos estudos iniciados pelo demógrafo estadunidense Warren Thompson, no ano e é hoje mais vigente que nunca. Thompson observou as mudanças (ou transição) que tinham experimentado nos últimos duzentos anos as sociedades industrializadas do seu tempo com respeito às taxas de natalidade e de mortalidade. De acordo com estas observações expôs a teoria da transição demográfica segundo a qual uma sociedade pré-industrial passa, demograficamente falando, por 4 fases ou estágios antes de derivar numa sociedade plenamente pós-industrial.

Pirâmides etárias de acordo com as 5 fases.

Fase 1[editar | editar código-fonte]

Fase com elevadas taxas de natalidade compensadas por altas taxas de mortalidade. Muitas crianças morreram antes de atingir a idade adulta, e as doenças e fomes foram generalizadas. A expectativa de vida foi menor do que hoje, mas, em média, mais crianças nasceram para cada mãe. Esta etapa ocorre antes do processo de industrialização/urbanização. O crescimento vegetativo é equilibrado. Nessa época não existiam métodos contraceptivos e as condições de saúde eram precárias.

Fase 2[editar | editar código-fonte]

Os índices de mortalidade iniciam uma importante descida motivada por diferentes razões: a melhoria nas condições sanitárias, a evolução da medicina, e a urbanização, aumentando a expectativa de vida. Os problemas são: explosão demográfica, superpopulação e aumento do desemprego. Hoje em dia, muitos países subdesenvolvidos vivem essa fase. A taxa de natalidade sofre um pequeno declínio.

Fase 3[editar | editar código-fonte]

Ocorre um declínio na taxa de natalidade devido ao acesso à métodos anticoncepcionais, o elevado custo de vida nas cidades, e à educação (fazendo com que o planejamento familiar fique mais difundido). O resultado é um crescimento vegetativo reduzido em relação à segunda fase.

Fase 4[editar | editar código-fonte]

As taxas de natalidade e mortalidade se encontram muito baixas, é criada uma estabilização no crescimento vegetativo, tendo por consequência uma taxa de crescimento natural nula ou negativa.

Para uma fase 5?[editar | editar código-fonte]

Enquanto o modelo original de Transição Demográfica descrito por Warren Thompson apresenta só quatro fases, atualmente se aceita uma quinta fase, onde a mortalidade superará a natalidade, devido ao alto custo de se criar filhos (principalmente em países desenvolvidos), famílias optam por ter um número muito reduzido (entre 1 e nenhum) de filhos para manter o padrão de vida.

Esse efeito é muito temido por analistas, e já está iniciado em países como a Alemanha, Japão e Itália, pois com o decréscimo populacional, o número de idosos tende a superar o de jovens, o que pode acarretar problemas em relação a previdência.

O crescimento demográfico de hoje[editar | editar código-fonte]

O quadro abaixo permite captar a evolução da transição demográfica atualmente. Assim, escolheram-se 20 países - com as taxas de natalidade e mortalidade correspondentes a uma estimativa da CIA para o ano de 2020 - que põem de manifesto os diferentes ritmos existentes à hora de completar as 5 fases do processo.

É importante assinalar, no entanto, que na atualidade não há nenhum país que se encontre ainda na fase 1 porque, felizmente, as taxas de mortalidade próximas de 40 ou 50‰ não são registradas há décadas.

Estado Taxa de natalidade
(em ‰)
Taxa de mortalidade
(em ‰)
Características Fonte
Fase 1 - 40-50 40-50 Na atualidade não há nenhum estado no mundo que apresente Taxas de Mortalidade tão altas. Para encontrar algum país do Terceiro Mundo nesta fase, teria que se remontar à primeira metade do século XX; e até o século XVIII para encontrar algum risco.
Fase 2 Níger 47,5 10,2

A Taxa de Natalidade (TN) mantém-se alta. Por contra, a Taxa de Mortalidade (TM) experimenta uma forte baixada que se traduz num forte aumento da população.

[2]
Mali 42,2 9 [3]
Uganda 42,3 5,3 [4]
Angola 42,7 8,5 [5]
Somália 38,7 12,4 [6]
Fase 3 Haiti 21,7 7,4 A TN inicia uma baixada, mas como a TM continua reduzindo-se o crescimento demográfico segue sendo marcadamente positivo. [7]
Camboja 21,3 7,3 [8]
Filipinas 22,9 6 [9]
Laos 22,4 7,2 [10]
Argélia 20 4,4 [11]
Fase 4 Reino Unido 10,78 10,18

A TN e a TM reduzem-se até chegar a valores muito parecidos, pelo qual se produz um crescimento insignificante ou o estancamento (como no caso da Suécia).

Noruega 11,67 9,45
Espanha 10,1 9,63
Japão 9,47 8,95
Suécia 10,36 10,36
Fase 5 Alemanha 8,33 10,55

A TN segue experimentando uma baixada até o ponto que se situa por baixo da TM, com o qual o crescimento demográfico é negativo (perdem-se habitantes).

Itália 8,89 10,3
Eslovénia 8,95 10,22
Lituânia 8,62 10,92
Áustria 8,81 9,7

Fonte: dados obtidos do CIA World Factbook Arquivado em 6 de janeiro de 2019, no Wayback Machine..

Algumas considerações[editar | editar código-fonte]

De acordo com o exposto até aqui se podem obter algumas conclusões:

  • O resultado final ao início e ao fim do processo é o mesmo: um crescimento natural baixo. Ora, as circunstâncias são radicalmente opostas: na etapa 1 porque as taxas natalidade e mortalidade são muito altas; e na etapa 4 porque as mesmas taxas se equalizam em valores baixos.
Crescimento da população mundial entre 10.000 a.C. - 2000.
  • Desde suas origens e até o século XVIII, a humanidade esteve ancorada no estágio 1 da transição demográfica. Podemos observar no gráfico 2 que encontra-se à direita, a lentidão com que cresceu a população mundial durante este longo período de tempo.
  • Com o estalido da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, os países hoje desenvolvidos fizeram o salto no estágio 2, iniciando o rápido crescimento da população mundial que reflete o gráfico 2. Os países ricos completaram todo o processo no final do século XX, momento no qual estabilizaram à baixa suas taxas de natalidade e mortalidade. Portanto, a transição demográfica começou aqui lentamente ao longo de uns 250 anos.
  • Os países em via de desenvolvimento ou do Terceiro Mundo, em mudança, iniciaram a transição demográfica mais tarde e repentinamente. Atualmente, a maioria deles -sobretudo os países africanos- se encontram no estágio 2 do processo: mantêm a natalidade muito alta, mas em geral, estão reduzindo consideravelmente a mortalidade. Outros países, especialmente em América Latina, em Ásia e também algum de África, já se encontram na fase 3 do processo porque reduziram muitíssimo a mortalidade e, ao mesmo tempo, estão diminuindo paulatinamente a natalidade.
  • Os demógrafos consideram que o atual ritmo de crescimento da população mundial tem data de caducidade, dado que os países em via de desenvolvimento, tarde ou temporão, completarão a transição demográfica e acabarão desfrutando de umas taxas de natalidade e mortalidade semelhantes as que têm os países desenvolvidos. Por esta razão, os demógrafos consideram que a catástrofe malthusiana prognosticada por Thomas Malthus ao princípio do século XIX não acabará produzindo-se.
  • A moderação no crescimento da população mundial dependerá da velocidade com que os países em via de desenvolvimento sejam capazes de completar a transição demográfica. Segundo cálculos da ONU, se os países pobres aceleram o ritmo, no ano 2050 terão no planeta uns 7,5 bilhões de habitantes. Se, por contra, o processo se modera a população mundial se poderia situar aquele ano em cerca dos 11 bilhões de habitantes.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Kirk, Dudley (1996). «Demographic Transition Theory». Population Studies. 50 (3): 361. ISSN 0032-4728. Consultado em 26 de fevereiro de 2020 
  2. «Niger: People and Society». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 8 de junho de 2020 
  3. «Mali». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 10 de novembro de 2015 
  4. «Uganda». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 18 de outubro de 2015 
  5. «Angola». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 6 de maio de 2020 
  6. «Somalia». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 1 de julho de 2016 
  7. «Haiti». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 31 de janeiro de 2016 
  8. «Cambodia». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 29 de dezembro de 2010 
  9. «Philippines». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 19 de julho de 2015 
  10. «Laos». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 29 de dezembro de 2010 
  11. «Algeria». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 30 de setembro de 2012