Tradição judaico-cristã – Wikipédia, a enciclopédia livre

Jacó lutando com o anjo, de Gustave Doré (1832-1883)ː uma história judaico-cristã.

Tradição judaico-cristã ou somente judaico-cristianismo é um termo genérico usado para caracterizar o conjunto de crenças em comum do judaísmo e o cristianismo, bem como a herança das tradições judaicas herdadas pelos cristãos. Este termo é apropriado para caracterizar, como principal fonte doutrinária das crenças judaicas e cristãs, o conjunto de livros composto pelo Antigo Testamento e o Novo Testamento.

Significados múltiplos[editar | editar código-fonte]

O termo tradição judaico-cristã, ou somente judaico-cristianismo, foi usado primeiramente pelo Oxford English Dictionary, edições de 1899 e 1910, respectivamente, ambas discutindo as origens do cristianismo. Portanto, "judaico-cristão" significaria as crenças cristãs primitivas, que seriam uma continuação do judaísmo pregado pelos judeus.[1] O significado atual foi usado pela primeira vez em 27 de julho de 1939 pela New English Weekly.[2]

O termo ganhou popularidade mais particularmente na esfera política a partir das décadas de 1920 e 1930, promovido por grupos liberais, que evoluíram para a Conferência Nacional de cristãos e judeus, aliados na luta contra o antissemitismo por expressar uma ideia mais abrangente dos Estados Unidos do que a retórica anteriormente dominante da nação como um país especificamente cristão.[3][4] Em 1952, o presidente eleito Dwight Eisenhower disse que o "conceito judaico-cristão" é a sobre a qual "o nosso (...) governo … é fundado ".[5]

Base de um conceito comum das duas religiões[editar | editar código-fonte]

Apoiantes do conceito judaico-cristão reivindicam que o cristianismo é o herdeiro do judaísmo, e que toda a lógica do cristianismo como religião baseia-se no fato de que ele foi construída sobre o judaísmo. A maior parte da Bíblia cristã é, na verdade, o Tanakh judaico, embora em ordem diferente, sendo utilizado como material de ensino moral e espiritual de todo o mundo cristão. Os profetas, patriarcas e heróis das escrituras judaicas são também conhecidos no cristianismo, que utilizam o texto judaico como base para a sua compreensão da história judaico-cristã e de figuras como Abraão, Elias e Moisés. Como resultado, grande parte dos ensinamentos judaicos e cristãos são baseados em um texto comum.

Críticas[editar | editar código-fonte]

Dois livros notáveis abordaram as relações entre o judaísmo e o cristianismo contemporâneo, Where Judaism Differs, de Abba Hillel Silver, e Judaism and Christianity, de Leo Baeck, ambos motivados pelo desejo de esclarecer as relações inter-religiosas "em um mundo onde o termo judaico-cristão tinha obscurecido diferenças essenciais entre as duas religiões."[6] Reagindo contra a ofuscação das diferenças teológicas, o rabino Eliezer Berkovits escreveu que "o judaísmo é judaísmo porque rejeita o cristianismo, e o cristianismo é cristianismo porque rejeita o judaísmo".[7] O teólogo e romancista Arthur A. Cohen, em The Myth of the Judeo–Christian Tradition, questionou a validade teológica da herança judaico-cristã, e sugeriu que era essencialmente uma invenção das relações ecumênicas e políticas, enquanto Jacob Neusner, em Jews and Christians: The Myth of a Common Tradition, escreve que "as duas fés são direcionadas para pessoas diferentes falando sobre coisas diferentes (…)".[8]

O professor de direito Stephen M. Feldman questiona a validade da tradição judaico-cristã:

"Uma vez que se reconhece que o cristianismo tem historicamente enraizado o antissemitismo (...). Para os cristãos, o conceito de uma tradição judaico-cristã confortavelmente sugere que o judaísmo progride no cristianismo — que o judaísmo é algo concluído no cristianismo. O conceito de fluxos de tradição judaico-cristã a partir da teologia cristã ensina, que a Aliança Cristã (ou Testamento) com Deus substitui a Aliança judaica. O cristianismo, de acordo com este mito, reforma e substitui o judaísmo. O mito, portanto, implica, em primeiro lugar, que o judaísmo necessita de reforma e substituição, e, segundo, que o judaísmo moderno permanece apenas como uma "relíquia". O mais importante é que o mito da tradição judaico-cristã insidiosamente obscurece as diferenças reais e significativas entre o judaísmo e o cristianismo".[9]

Judaico-cristão-muçulmano[editar | editar código-fonte]

O filósofo esloveno Slavoj Zizek alegou que o termo judaico-muçulmano para descrever a cultura do Oriente Médio contra a cultura cristã ocidental seria mais adequado atualmente,[10] afirmando que uma influência da cultura judaica no mundo ocidental foi minimizada devido à perseguição e à exclusão histórica da minoria judaica (embora haja também uma perspectiva diferente sobre a contribuição judaica e sua influência).[11] O conceito de tradição Judaico-cristã-muçulmana refere-se, assim, às três principais religiões monoteístas, vulgarmente conhecidas como religiões abraâmicas. O intercâmbio formal entre as três religiões, modelado através do diálogo de intergrupos, tornou-se comum com a globalização.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Judæo-, Judeo- in the Oxford English Dictionary, Second Edition. Accessed online 2008-07-21
  2. See Peter Novick: Holocaust in American Life
  3. Mark Silk (1984), Notes on the Judeo–Christian Tradition in America, American Quarterly 36(1), 65-85
  4. Sarna, 2004, p.266
  5. Dwight D. Eisenhower, speech to the Freedoms Foundation in New York. "Our sense of government has no sense unless it is founded in a deeply religious faith, and I don't care what it is. With us of course it is the Judeo–Christian concept, but it must be a religion that all men are created equal." Quoted by Silk (1984).
  6. Sarna, Jonathan. American Judaism, A History. Yale University Press, 2004. p281
  7. Disputation and Dialogue: Readings in the Jewish Christian Encounter, Ed. F.E. Talmage, Ktav, 1975, p. 291.
  8. Jacob Neusner (1990), Jews and Christians: The Myth of a Common Tradition. New York and London: Trinity Press International and SCM Press. p. 28
  9. Stephen M. Feldman (1998), Please Don't Wish Me a Merry Christmas: A Critical History of the Separation of Church and State
  10. Slavoj Zizek—A Glance into the Archives of Islam
  11. «Jewish Nobel Prize winners». Jinfo.org 
Ícone de esboço Este artigo sobre religião é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.