Tour de France durante a Segunda Guerra Mundial – Wikipédia, a enciclopédia livre

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O Tour de France não foi realizado no período da Segunda Guerra Mundial, porque os organizadores se recusaram a organizar a competição durante a ocupação alemã na França. Como o Tour de France de 1940 já havia sido anunciado anteriormente, o surto da guerra tornou impossível sua realização. Os alemães se ofereceram para abrir as fronteiras entre a França ocupada pelos alemães no norte e na região sul para tentar manter um sentido de normalidade, mas L'Auto não aceitou. Outras competições foram realizadas como substituto. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, L'Auto fechou as portas, pois a publicação de artigos era muito favorável aos alemães,[1] e o governo francês assumiu os direitos para organizar o Tour. Dois jornais esportivos se interessaram nesses direitos, e cada um deles organizou um pequeno Tour de cinco etapas, e a competição realizada pela L'Équipe foi considerada a mais bem-sucedida e, portanto, ao L'Équipe foi dado o direito de organizar o Tour de France de 1947.[2]

Logotipo oficial do Tour de France

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Antes da Segunda Guerra Mundial, a situação política na Europa já teve a sua influência sobre o Tour de France. As razões políticas fizeram com que Itália, Alemanha e Espanha se recusassem a enviar equipes para disputar o Tour de France de 1939.[3] O ciclista Gino Bartali, que venceu o Tour de France de 1938, estava entre os afetados. Henri Desgrange, o primeiro organizador do Tour de France, e Jacques Goddet, seu vice e substituto, prepararam o Tour para o mês de agosto de 1940.[4]

Corridas planejadas ou realizadas durante a ocupação[editar | editar código-fonte]

Tour de France de 1940[editar | editar código-fonte]

Henri Desgrange em 1914.

Henri Desgrange preparou Tour para 1940, após a guerra ter começado, mas antes de a França ter sido invadida. O percurso, aprovado pelas autoridades militares, incluía um trajeto ao longo da Linha Maginot.[5] Os planos foram descartados após a invasão alemã. Os registros e os documentos do Tour foram levados para o sul para mantê-los seguros, mas nunca foram vistos novamente.[6][7] Desgrange morreu em agosto de 1940, e seu sucessor, Jacques Goddet, inicialmente queria organizar o Tour durante a guerra, argumentando que o esporte deve se manter imparcial,[8] após a guerra, foi analisado e declarado que, na verdade, os verdadeiros ganhadores foram Erwin Rommel e sua 7.ª Divisão Panzer (Alemanha), que estavam muitos dias a frente do ganhador.

Tour de France de 1941[editar | editar código-fonte]

Em 1941, o jornal Paris-Soir, dirigido pelos alemães, tentou convencer o jornal L'Auto a coorganizar o Tour, mas Goddet não aceitou.[8]

Tour de France de 1942[editar | editar código-fonte]

A Propaganda Staffel alemã queria que o Tour fosse disputado, e eles ofereceram instalações que de outra forma eram negadas, na esperança de manter um sentido de normalidade.[7][9] Eles se ofereceram para abrir as fronteiras entre a França ocupada pelos alemães no norte e a região sul, a nominalmente independente França de Vichy, para que o L'Auto pudesse organizar um Tour, junto com La France Socialiste, mas Goddet recusou.[7][10] Ele estava, de qualquer maneira, com pouca operação para organizar uma corrida dessa escala, pois vários funcionários havia deixado o escritório de L'Auto em Paris.[7]

Circuit de France 1942[editar | editar código-fonte]

O jornal La France Socialiste, dirigido por Jean Leulliot, antigo colega de trabalho de Goddet no jornal L'Auto, não teve a mesma relutância e organizou a corrida por conta própria. Leulliot, que foi treinador da equipe francesa vencedora do Tour de 1937, tinha se tornado o chefe do esporte no La France Socialiste, que, apesar do nome, era um jornal de direita que simpatizava com os alemães. Leulliot convidou sessenta e nove ciclistas para disputar o Circuit de France, que decorreu de 28 de setembro a 4 de outubro de 1942, com mais de seis etapas e 1 650 quilômetros (1,030 milhas) de trajeto, com a largada saindo de Paris e parando em Le Mans, Poitiers, Limoges, Clermont-Ferrand, St-Étienne, Lyon e Dijon.[8][10]

Um dos ciclistas, Émile Idée, disse ao escritor e também ciclista Jean Bobet que ele havia sido ameaçado pela Gestapo caso não participasse da corrida.[11] Bobet disse: "Pedi para ele repeti-la para ver se eu tinha entendido. Eu estava atordoado [dans la tête ça fait tilt]!"[11][12]

O Circuit de France foi realizado entre 28 de setembro e 4 de outubro de 1942[13] pela La France Socialiste tanto na zona ocupada como na França de Vichy, para passar o sentimento de nacionalidade. A competição continha seis equipes multinacionais e foi vencida por François Neuville. A inexperiência dos organizadores, combinado com o mau tempo e problemas logísticas, fez da corrida um desastre. Embora houvesse planos para realizar a corrida novamente em 1943, ela nunca foi realizada.[14]

Pierre Brambilla venceu a classificação de montanha.[13]

Tour de France de 1943[editar | editar código-fonte]

O Tour de France de 1943 não foi realizado, mas, em vez disso, o L'Auto criou no mesmo ano uma enquete entre os leitores para escolher a equipe perfeita para o Tour de France. Mais de cem mil participaram.[10]

Grand Prix du Tour de France 1943[editar | editar código-fonte]

Em 1943, o L'Auto organizou o que chamou de "Grand Prix du Tour de France" (Grande Prêmio).[17][18] No final da temporada, uma camisa amarela foi dada ao ciclista com a melhor classificação geral.[19][20] O vencedor foi Jo Goutorbe.[15] Apesar de o Grand Prix du Tour de France ter sido organizado por Jacques Goddet, ele deixou claro que não se trata de um Tour de France oficial.[9] O Grand Prix du Tour de France 1943 consistia das seguintes corridas:[21]

Grand Prix du Tour de France[editar | editar código-fonte]

Em 1944, o Grand Prix du Tour de France foi realizado mais uma vez, mas não pôde ser concluído porque a libertação da França impediu a continuidade das corridas.[18] Maurice De Simpelaere era o líder na época em que as corridas foram interrompidas.[15]

Tours candidatos após a libertação[editar | editar código-fonte]

Após a libertação francesa em 1944, o L'Auto se fechou e seus pertences, que inclui o Tour de France, foram apreendidos pelo estado pois a publicação de artigos era muito favorável aos alemães.[1] Portanto, o governo passou a assumir todos os direitos do Tour. Jacques Goddet recebeu permissão para publicar outro jornal diário esportivo, o L'Équipe, mas havia uma pretendente rival para realizar o Tour: uma associação das revistas Sports e Miroir Sprint. Cada um deles organizou uma corrida. L'Équipe e Le Parisien Libéré tiveram "La Course du Tour de France",[15] (A Corrida do Tour de France" – o mais próximo quanto ousaram chamar a corrida pelo nome original.), e Sports e Miroir Sprint ficaram com a "La Ronde de France". Ambas foram corridas de cinco etapas, a mais longa que o governo permitiria devido à escassez.[22][23]

Ronde de France[editar | editar código-fonte]

O Ronde de France foi realizado entre os dias 10 e 14 de julho de 1946. Os ciclistas se dividiram em equipes comerciais, mas as equipes comerciais receberam permissão para colocar na pista duas equipes, uma composta por ciclistas franceses, e outra composta por ciclistas estrangeiros.[24] O vencedor foi Giulio Bresci, que também venceu duas etapas e a classificação de montanha.[15]

La Course du Tour de France[editar | editar código-fonte]

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A Course du Tour de France (em português: Prova do Circuito da França), também conhecida como Monaco–Paris, foi realizado em 1946 pela Le Parisien Libéré em parceria com o L'Equipe. A competição tinha vários valores familiares aos velhos Tours de France: estavam presentes seis equipes nacionais e cinco equipes regionais franceses, e o líder da corrida também foi dado uma camisa amarela.[25] A corrida foi vencida pelo ciclista francês Apo Lazarides, e o vencedor da classificação de montanha foi Jean Robic.

Referências

  1. a b Blandine, Hennion (4 de julho de 2003). «Comment le Tour a echappé au PCF.». Libération. Consultado em 17 de agosto de 2010 
  2. Goddet 1991.
  3. McGann, p. 144
  4. McGann, p. 149
  5. The Bicycle, UK, 8 July 1943, p6
  6. McGann, p. 151
  7. a b c d Goddet, Jacques (1991). L'Équipée Belle. [S.l.]: Laffont, Paris. ISBN 2-221-07290-1 
  8. a b c Thompson, p. 79
  9. a b McGann, p. 150
  10. a b c Boeuf, Jean-Luc; Léonard, Yves (2003). La République du Tour de France. [S.l.]: Seuil, France. ISBN 2-02-058073-X 
  11. a b Turgis, Dominique. «Memoire du Cyclisme – Bobet Leulliot». Memoire du Cyclisme. Consultado em 17 de agosto de 2010 
  12. Bobet, Jean (2008). Le Vélo à l'Heure Allemande. [S.l.]: La Table Ronde, França. ISBN 978-2-7103-2983-1 
  13. a b «Circuit de France 1942». Cyclingarchives. Consultado em 20 de agosto de 2010 
  14. Thompson, p. 80
  15. a b c d e f g h i j Boyce, Barry (2004). «1940–1946: 'TdF Style' Racing During World War 2». Cycling Revealed. Consultado em 17 de agosto de 2010 
  16. a b c James, Tom (28 de julho de 2003). «The Tour de France during the War». Veloarchive. Consultado em 17 de agosto de 2010 
  17. Laget, Serge (2002). «1940–1946 Des Ersatz». 100 Ans de Tour de France. [S.l.]: L'Equipe. ISBN 90-5947-028-1 
  18. a b Dauncey, p. 269
  19. Blandine, Hennion (3 de julho de 2003). «La France occupee, "l'Auto" gare le tour». Libération. Consultado em 17 de agosto de 2010 
  20. Dauncey, p. 9
  21. «Grand Prix du Tour De France». Velo-club. 15 de fevereiro de 2004. Consultado em 17 de agosto de 2010. Arquivado do original em 16 de agosto de 2012 
  22. Dauncey, p. 10
  23. «Chronology of the tour 1902–2003». Routlegde. International Journal of the History of Sport. 20 (2): 267–273. 2003. doi:10.1080/09523360412331305723 
  24. Demouveaux, Gautier (4 de setembro de 2007). «Les débats de presse autour de la réorganisation du Tour de France, après la libération 1945–1947» (PDF). Université de Lyon. p. 36. Consultado em 20 de agosto de 2010. Cópia arquivada (PDF) em 7 de março de 2012 
  25. Thompson, p. 81

Leitura adicional[editar | editar código-fonte]