Tomás Cranmer – Wikipédia, a enciclopédia livre

O Reverendíssimo
Tomás Cranmer

Retrato por Gerlach Flicke, 1545.
Nascimento 2 de julho de 1489
Aslockton, Nottinghamshire, Inglaterra
Morte 21 de março de 1556 (66 anos)
Oxford, Oxfordshire, Inglaterra
Cidadania Reino Unido
Progenitores
  • Thomas Cranmer
  • Agnes Hatfield
Cônjuge Margaret Cranmer
Alma mater
Ocupação teólogo, sacerdote, Canonista, bispo católico
Empregador(a) Universidade de Cambridge
Cargo Arcebispo de Cantuária
Religião anglicanismo, Igreja Católica
Causa da morte morte na fogueira

Tomás Cranmer (Aslockton, 2 de julho de 1489Oxford, 21 de março de 1556) foi um dos líderes da Reforma Inglesa e Arcebispo de Cantuária durante os reinados de Henrique VIII, Eduardo VI e brevemente Maria I. Cranmer ajudou a construir o caso para a anulação do casamento de Henrique com Catarina de Aragão, que foi uma das causas da separação da Igreja Anglicana da união com a Igreja Católica. Junto com Tomás Cromwell, ele apoiava o princípio da Supremacia Real, em que o rei era considerado o soberano da igreja em seu reino.

Durante seu período como arcebispo, foi responsável por estabelecer as primeiras estruturas doutrinais e litúrgicas da reformada Igreja da Inglaterra. Durante o reinado de Henrique, Cranmer não fez muitas mudanças radicais na igreja por causa das disputas de poder entre os conservadores e reformistas religiosos. Entretanto, ele conseguiu publicar o primeiro vernáculo autorizado, a Exortação e Ladainha.

Quando Eduardo chegou ao trono, Cranmer conseguiu promover grandes reformas. Ele escreveu e compilou as duas primeiras edições do Livro de Oração Comum, uma liturgia completa para a Igreja Anglicana. Com a ajuda de vários reformistas continentais que deu refúgio, ele desenvolveu novos padrões doutrinais em áreas como a eucaristia, celibato clerical, o papel das imagens em locais de culto e a veneração dos santos. Cranmer promulgou novas doutrinas através do Livro de Oração, das homílias e outras publicações.

Primeiros anos (1489–1533)[editar | editar código-fonte]

Cranmer nasceu em 1489 em Aslockton, próxima a Nottingham. Seus pais, Thomas e Agnes (Hatfield) Cranmer, eram de nível social humilde e possuíam bens o suficiente apenas para sustentar o filho mais velho até suas mortes. Devido à falta de terras, o jovem Tomás, ainda em fase escolar, e seu irmão mais novo foram iniciados nos serviços religiosos.

Uma praga forçou Cranmer a se mudar de Cambridge para Essex. Aí ele chamou a atenção do Rei Henrique VIII, que hospedara-se nas proximidades. O Rei e seus conselheiros encontraram em Cranmer um desejoso advogado para defender a anulação do matrimônio de Henrique com Catarina de Aragão, envolvendo-se com o caso na qualidade de pesquisador. Ele e John Foxe compilaram a Collectanea Satis Copiosa em 1530, gerando precedente legal e histórico para casos como o de Henrique, permitindo ao Rei construir uma tese acadêmica que rompesse com Roma. Tomás foi enviado à embaixada inglesa de Roma em 1530, e em 1532 ele se tornou embaixador do Imperador Carlos V do Sacro Império Romano Germânico.

Cranmer conheceu sua segunda mulher, Margarete, durante o verão de 1532 em Nuremberga.

Arcebispo por Henrique VIII (1533–1547)[editar | editar código-fonte]

Em janeiro de 1533, o Rei Henrique descobriu que Ana Bolena, a mulher que ele desejava desposar, estava grávida. Tal aumentou a urgência da anulação do casamento do Rei, fazendo-os casarem-se secretamente no final daquele mês.

Em 30 de março de 1533, Cranmer foi nomeado arcebispo de Cantuária, após a morte de William Warham. Cranmer foi escolhido por Henrique acreditar que ele apoiaria suas políticas e encontraria soluções para seus problemas. Essa indicação do Rei, apesar da recusa do Papa, demonstra o quanto Henrique já havia desistido em receber o consentimento de Roma para a anulação de seu matrimônio.

Cranmer trouxe consigo sua esposa, a alemã Margarete, quando se tornou arcebispo, mas manteve sua presença em sigilo para não tornar pública sua quebra do celibato clerical.

Em maio, Cranmer declarou o casamento de Henrique e Catarina anulado, e Ana Bolena sua esposa legal. Ao fazê-lo, Cranmer foi diretamente contra o comando do Papa. Em setembro, Ana deu à luz a segunda filha de Henrique, a Princesa Isabel. Cranmer foi o padrinho.

Sob a proteção de Henrique, Cranmer conseguiu dar seguimento à Reforma da Igreja inglesa, inclusos os Dez artigos, que representaram a pedra fundamental da liturgia anglicana.

Em 1538, ele condenou as visões de João Lambert ao negar a transubstanciação. Lambert foi queimado vivo, apesar de, posteriormente, Cranmer adotar suas percepções.

Cranmer também se opôs aos Seis artigos de Henrique VIII, que reafirmavam o celibato clerical.

À época da Dissolução dos Monastérios, foram cedidas a Cranmer várias ex-propriedades católicas.

Cranmer fora um grande admirador de Henrique e ante a morte do Rei declarou que nunca mais se barbearia, em sinal de luto.

Arcebispo por Eduardo VI (1547–1553)[editar | editar código-fonte]

À morte de Henrique VIII, em 1547, Cranmer tornou-se um indispensável conselheiro do príncipe sucessor, Eduardo VI, o qual crescera sob a mentalidade protestante.

Durante o reinado de Eduardo, Cranmer terminou seu grande trabalho litúrgico, iniciado durante o reinado de Henrique. Ele produziu uma linguagem litúrgica inglesa de caráter protestante. o Livro da Oração Comum, como veio a ser conhecido, foi muito influenciado por teólogos continentais, como Pietro Martire Vermigli, Martin Bucer (ambos convidados e hospedados na Inglaterra por Cranmer) e Hermann de Wied (arcebispo de Colônia, cujo Consultatio foi de grande inspiração a Cranmer). Cranmer foi responsável pelas primeiras duas edições do Livro da Oração Comum. A primeira edição, de 1549, era relativamente conservadora em sua estrutura literária, se comparada à segunda edição, de 1552, essa mais radical, a qual critica e exclui uma série de ritos católicos, como o exorcismo e a tripla submersão do batismo. A atual versão oficial do Livro da Oração Comum da Igreja Anglicana foi produzido em 1662. Cranmer também encorajou a destruição de imagens, seguindo a ideologia de João Calvino e Zwingli.

Preocupado com a necessidade de boas preces protestantes e a falta de clérigos letrados, Cranmer compilou e escreveu o primeiro Livro de Homilias, bem como os Quarenta e dois artigos que resumem a doutrina anglicana. Essas obras, no geral, levaram a Igreja da Inglaterra numa direção mais protestante. Os Trinta e nove artigos, os quais foram baseados nos Quarenta e dois artigos e adotados durante o reinado de Isabel I de Inglaterra, ainda são reconhecidos como parte da herança anglicana à qual os clérigos do culto juram fidelidade.

Últimos anos (1553–1556)[editar | editar código-fonte]

Eduardo VI morreu em 1553, para ser sucedido por sua meia-irmã Maria I de Inglaterra. Maria era filha de Henrique VIII e sua primeira esposa, Catarina de Aragão, uma princesa espanhola que a criou sob a fé católica. Em sintonia com suas crenças católicas, Maria I começou, tanto quanto lhe era possível, o processo de restauração da antiga religião, afetando o projeto levado a cabo durante toda a vida de Cranmer.

Primeiramente, ele foi acusado e condenado de traição por seu apoio a Jane Grey como Rainha, mas Maria poupou sua vida, resolvendo julgá-lo por heresia, mantendo-o preso até fevereiro de 1556, permanecendo Cranmer como arcebispo. Em novembro de 1554, o cardeal Reginald Pole foi a Inglaterra para restabelecer os laços do país com o catolicismo. Pole foi indicado como arcebispo de Cantuária em 1556. Entrementes, Cranmer, enfraquecido pelos mais de dois anos de prisão, declarou vários arrependimentos, reafirmando sua crença na transubstanciação e na supremacia papal– dizendo, posteriormente, que o fez a fim de evitar sua execução. Apesar disso, Cranmer foi sentenciado à morte pela fogueira.

De acordo com John Foxe, em 21 de março de 1556, Cranmer foi trazido em procissão à Igreja de Santa Maria, em Oxford, onde ele foi forçado a fazer uma declaração pública afirmando seu arrependimento. Em vez disso, Cranmer retirou sua declaração anterior de arrependimento e denunciou a doutrina da Igreja Católica e o Papa, dizendo: "E sobre o Papa, eu o recuso, como inimigo de Cristo e Anticristo, com toda sua falsa doutrina." Após isso, Cranmer foi executado na fogueira.

Encontra-se sepultado em Martyrs' Memorial, Oxford, Oxfordshire na Inglaterra.[1]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Tomás Cranmer (em inglês) no Find a Grave
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