Théâtrophone – Wikipédia, a enciclopédia livre

Le Théâtrophone, uma litografia de 1896, integrante da série Les Maitre de L'Affiches, de Jules Chéret
Uma caricatura de 1884, feita por Rafael Bordalo Pinheiro, retrata o rei D. Luís I de Portugal ouvindo a ópera ao théâtrophone.
Le théâtrophone. Uma ilustração de Le Magasin pittoresque (1892).

Théâtrophone ("teatrofone") foi um sistema de distribuição telefônica disponível em partes da Europa que permitia aos assinantes a audição de conteúdo operístico e teatral através de linhas telefônicas. O théâtrophone desenvolveu-se a partir de uma invenção do francês Clément Ader, cuja demonstração inicial foi realizada em 1881, em Paris. Posteriormente, em 1890, o sistema passou a ser comercializado pela Compagnie du Théâtrophone, que continuou a operar até 1932.

A origem do théâtrophone remonta à demonstração de uma transmissão telefônica feita por Clément Ader em uma exposição internacional feita em 1881 em Paris. O sistema foi inaugurado pelo presidente francês Jules Grévy e permitia a transmissão de concertos ou peças teatrais. Ader havia arranjado 80 transmissores telefônicos na frente de um palco para criar uma forma de som binaural estereofônico.[1] Foi o primeiro sistema de áudio em dois canais, consistindo de uma série de transmissores telefônicos conectados do palco da Ópera Garnier a um conjunto de salas na Exposição de Eletricidade de Paris, nas quais os visitantes tinham acesso a apresentações da Comédie-Française e de ópera em estéreo usando dois fones de ouvido; a Ópera Nacional situava-se a mais de dois quilômetros da Exposição.[2] Em nota redigida em 11 de novembro de 1881, Victor Hugo descreveu sua experiência com o théâtrophone como prazerosa.[3][4]

Em 1884, o rei D. Luís I de Portugal decidiu fazer uso do sistema quando não pudesse comparecer à opera pessoalmente. O diretor da Edison Gower Bell Company, responsável pela instalação do théâtrophone nos aposentos do rei, mais tarde foi condecorado com a Ordem de Cristo.[5]

A tecnologia do théâtrophone foi disponibilizada na Bélgica em 1884 e em Lisboa em 1885. Na Suécia, a primeira transmissão telefônica de uma apresentação operística teve lugar em Estocolmo em maio de 1887. A escritora britânica Ouida descreveu uma personagem do romance Massarenes (1897) como "Uma mulher moderna do mundo. Custosa como um encouraçado e complicada como um theatrophone."[5]

Operação[editar | editar código-fonte]

Diagrama do protótipo do théâtrophone no Opéra, durante a exposição mundial em Paris (1881).

Em 1890, o sistema tornou-se operacional sob o título "théâtrophone" em Paris. O serviço era oferecido pela Compagnie du Théâtrophone, fundada por M. M. Marinovitch e Szarvady.[5] O théâtrophone oferecia apresentações teatrais e operísticas aos assinantes. Pode-se considerar esse sistema como um protótipo de jornal telefônico, uma vez que incluía blocos informativos em intervalos regulares.[6] A companhia que operava o Théâtrophone instalou aparelhos públicos com operação por moedas, em hotéis, cafés, clubes e outras localidades, cobrando 50 cêntimos por cinco minutos de áudio.[7]

O escritor francês Marcel Proust foi um entusiasta do théâtrophone, conforme demonstra sua correspondência. Ele assinou o serviço em 1911.[8][9]

Vários desenvolvimentos tecnológicos foram incorporados ao théâtrophone. O relé telefônico de Brown, inventado em 1913, trouxe resultados interessantes no tocante à amplificação da corrente.[5]

No entanto, o théâtrophone veio a sucumbir ante à concorrência e ao sucesso crescentes da radiodifusão e do fonógrafo, vindo a Compagnie du Théâtrophone a encerrar suas operações em 1932.[5]

Sistemas similares[editar | editar código-fonte]

Outros sistemas correlatos coexistiram na Europa com o Théâtrophone, dentre eles o Telefon Hírmondó (1893) de Budapeste e Electrophone de Londres (1895). Nos Estados Unidos, a maioria dos sistemas correlatos ao Théâtrophone jamais foram além da fase experimental. Erik Barnouw relatou um concerto por telefone organizado no verão de 1890: por volta de 800 pessoas no Grand Union Hotel em Saratoga ouviram uma transmissão telefônica de The Charge of the Light Brigade conduzida no Madison Square Garden.[5]

Referências

  1. «Chronomedia: 1880-1884». Terra Media 
  2. A. Lange. «Le Premier Medium Electrique De Diffusion Culturelle: Le Theatrophone De Clement Ader (1881)». Histoire de la télévision (em French) 
  3. A. Lange. «Victor Hugo, Premier Temoin Du Theatrophone». Histoire de la télévision (em French) 
  4. Hugo, Victor (1951). Choses vues. Le Cercle du Livre de France. Ottawa: [s.n.] OCLC 883063 
  5. a b c d e f A. Lange. «Les Ecrivains Et Le Theatrophone». Histoire de la télévision (em French) 
  6. «Wanted, A Theatrophone». The Electrical Engineer. 4 páginas 
  7. «The Theatrophone». The Electrical Engineer. 161 páginas 
  8. A. Lange. «Marcel Proust, Amateur De Theatrophone». Histoire de la télévision (em French) 
  9. Luc Fraisse, ed. (1996). Proust au miroir de sa correspondance. SEDES. Paris: [s.n.] ISBN 978-2-7181-9340-3. OCLC 36309265 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]