Teologia da substituição – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Teologia da substituição ou supersessionismo é uma interpretação cristã do Novo Testamento que vê a relação de Deus com os cristãos como sendo ou a "substituição" ou a "realização" da promessa feita aos judeus (ou os israelitas). A expressão bíblica desta relação de Deus com as pessoas é chamada de aliança,[1] o que torna o ponto de disputa da teologia da substituição a ideia de que uma Nova Aliança com os cristãos e a Igreja cristã teria substituído ou completado a Aliança Mosaica (ou a Torá) com os israelitas. Uma questão central na teologia da substituição é como e em que medida a ética da Aliança Mosaica foi colocada de lado ou mesmo completamente abolida pela Nova Aliança.

Tipologia[editar | editar código-fonte]

Tanto os teólogos cristãos quanto os judeus identificaram diferentes tipos de teologia da substituição na interpretação bíblica.

R. Kendall Soulen aponta três categorias: punitiva, econômica e estrutural[2]:

  • Punitivo: é representado por teólogos como Hipólito de Roma, Orígenes e Lutero. Representa o ponto de vista que os judeus que rejeitam Jesus como Messias estão, consequentemente, condenados por Deus, perdendo assim a promessa que lhes fora feita sob a Aliança Mosaica. É importante salientar que tanto Orígenes quanto Hipólito esperavam que os judeus fossem salvos juntamente com os gentios no fim dos tempos.[3]
  • Econômico: não se refere a dinheiro e sim à função técnica teológica do termo (veja Trinitarismo econômico). É o ponto de vista que o objetivo prático da nação de Israel nos planos de Deus foi substituído pela Igreja. Seus principais representantes são escritores como Justino Mártir e Santo Agostinho. Este esperava também que os judeus fosse salvos com os gentios no fim dos tempos.[4]
  • Estrutural: é o termo utilizado por Soulen para a marginalização de facto do Antigo Testamento como um normativo para o pensamento cristão. Em suas palavras, "O supercessionismo estrutural se refere à narrativa lógica de um modelo lógico que torna as escrituras hebraicas em grande parte inconclusivas na formação das convicções cristãos sobre como Deus funciona como Realizador e, como Redentor, engaja a humanidade de forma universal e duradoura.".[5][6] Veja também Visão cristã sobre o Antigo Testamento, Antinomianismo, Revelação progressiva e Marcionismo.

Estas três visões não são nem mutuamente exclusivas e nem logicamente dependentes, sendo possível acreditar em todas elas ou em qualquer combinação entre elas.

O teólogo judeu e estudioso da lei rabínica David Novak sugere que há três opções:[7]:

  • A Nova Aliança é uma extensão [no sentido de prorrogação] da Aliança Mosaica.
  • A Nova Aliança é uma adição à Aliança Mosaica.
  • A Nova Aliança é uma substituição da Aliança Mosaica.

Ele observa ainda que "Na igreja antiga, parece, a Nova Aliança apresentada pelo Novo Testamento ou entendida como sendo uma adição à anterior (a religião da Torá e as tradições judaicas farisaicas, sumarizadas nos dez mandamentos), ou ela foi entendida como sendo uma substituição dela".[7]

Novak considera tanto ambas as formas como supersessionistas e chama a primeira de "supersessionismo fraco" e a segunda, de "supersessionismo forte". A primeira "não afirma que Deus terminou a Aliança do Êxodo-Sinai com o povo judeu. Ao invés disso, ela afirma que Jesus veio para realizar a sua promessa, primeiro para os judeus que "já" iniciados na Aliança, e que "então" o aceitaram como Messias, como a realização da Aliança. "E", ela afirma que Jesus veio tanto para iniciar quanto realizar a promessa da Aliança para os gentios, cuja única conexão com ela é através dele. Assim, neste tipo de supersessionismo, os judeus que não aceitaram Jesus como Messias também são parte da Aliança no sentido de que o 'o que Deus juntou, o homem não separa' [ênfase no original].".[7] Ver também Teologia da dupla-aliança.

O supersessionismo forte, por outro lado, afirma que "...a Antiga Aliança está morta. Os judeus, por seus pecados e principalmente pela rejeição de Jesus como Messias, abriram mão de sua Aliança.[7] Veja também antinomianismo.

Esta classificação provê opções mutuamente exclusivas. O supercessionismo forte implica numa visão punitiva e econômica da teologia cristã. O supersessionismo fraco não se insere em nenhuma das três categorias e, ao invés disso, está associado diretamente com o judeu-cristianismo.

Referências

  1. "The notion of covenant is at the foundation of religious identity because it constitutes the primary designation of relationship between humanity and God." Michael A. Signer, 'The Covenant in Recent Theological Statements', in Eugene B. Korn (ed.), Two Faiths, One Covenant?: Jewish and Christian Identity in the Presence of the Other, (Rowman & Littlefield, 2004), p. 111.
  2. Soulen, R. Kendall (1996). The God of Israel and Christian Theology (em inglês). Minneapolis: Fortress 
  3. Veja o Orígenes, "Comentário sobre a Epístola aos Romanos" 4:272, 274 e Hipólito - o primeiro citado em Bray. Ancient Christian Commentary. Romans. VI. [S.l.: s.n.] p. 291  e este, no mesmo livro, página 313
  4. Veja Santo Agostinho. «29 e 30». City of God (em inglês). XX. [S.l.: s.n.] Consultado em 25 de abril de 2011 
  5. Soulen, 181, n6.
  6. A terminologia de Soulen é utilizada também por Blaising, A. (2001). Journal of the Evangelical Theological Society (em inglês) (44): 442 
  7. a b c d Novak, David (2004). Eugene B. Korn, ed. Two Faiths, One Covenant?: Jewish and Christian Identity in the Presence of the Other. The Covenant in Rabbinic Thought (em inglês). [S.l.]: Rowman & Littlefield  Texto " páginas 65-80" ignorado (ajuda)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]