Taça de Santa Inês – Wikipédia, a enciclopédia livre

Taça de Santa Inês

A 'Taça de Santa Inês (ou Royal Gold Cup em inglês) é uma taça feita de ouro decorada com esmalte e pérolas. Foi concebida para a família real francesa, em particular João II, no final do século XIV, e, mais tarde, pertenceu a vários monarcas ingleses antes de passar para Espanha, durante cerca de 300 anos. A partir de 1892, a taça foi para o Museu Britânico onde se encontra exposta no Quarto 40, e, de forma geral, é considerada o melhor exemplo de um utensílio de metal existente do final do período medieval francês. Tem sido descrita como "[o símbolo de] esplendor real sobrevivente do período Gótico Internacional";[1] e de acordo com Thomas Hoving, antigo director do Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque, "de todos os objectos decorados com jóias e ouro que chegaram até nós, este é o mais espectacular — e esta comparação inclui os grandes tesouros reais."[nota 1]

A taça é feita em ouro maciço, tem 23,6 cm de altura e um diâmetro de 17,8 cm no seu ponto mais largo,[2] e pesa 1935 gramas.[3] Tem uma tampa removível, e a base triangular onde antes se apoiava desapareceu. A haste da taça já foi, por duas vezes, aumentada com a adição de faixas cilíndricas,[nota 2] dando-lhe uma forma "tipicamente robusta e um formato elegante e entroncado."[4] O ornamento original que ficava no topo da taça desapareceu, e um conjunto de 36 pérolas decorativas foi retirado da cobertura; uma faixa de ouro com as extremidades entalhadas pode ser observada onde estava anteriormente localizada. É possível que fosse semelhante àquela que ainda se encontra na base da taça.[nota 3]

As superfícies de ouro estão decoradas com cenas em basse-taille esmaltado com cores translúcidas que reflectem a luz do ouro abaixo; muitas zonas de ouro tanto abaixo do esmalte como no fundo, têm decorações gravadas e pointillé no ouro. Em particular, as decorações abrangem largas áreas de vermelho translúcido, que chegaram até aos nossos dias em excelentes condições. Esta cor, conhecida como rouge clair (vermelho claro em francês), era a mais difícil de obter tecnicamente, e altamente valorizada por esta razão e pelo brilho da cor quando era produzida com sucesso.[5] Imagens da vida de Santa Inês envolvem o topo da cobertura e a zona inferior do corpo principal da taça. Os Quatro Evangelistas estão representados na base da taça, e encontram-se quatro medalhões esmaltados no centro do interior da tampa e da taça. A parte baixa das duas bandas acrescentadas contêm duas rosas de Tudor esmaltadas num fundo pointillé ornamentado; estas rosas terão sido acrescentadas no reinado de Henrique VIII de Inglaterra. A banda mais alta tem uma inscrição a preto esmaltado, com uma área com ramos de louro em verde para separar o fim da inscrição do seu início.[6]

A taça chegou ao Museu Britânico numa caixa em couro de formato hexagonal, com um fecho, alças e suportes em ferro. A caixa terá sido feita na mesma altura, ou depois, da taça, e tem uma fina placa ornamental e uma inscrição em escrita gótica: YHE.SUS.O.MARYA.O.MARYA YHE SUS.[7]

Notas

  1. Hoving, 61, onde é referido como a "Taça de Santa Inês"; em francês, é sempre citado como Coupe de Saint Agnes, tal como em Neil Stratford.
  2. Em Dalton, fig. 1, e Cherry, p. 24 (e também numa fotografia parcial em Henderson, 138), pode ver-se a sua dimensão original. Contudo, Neil Stratford, 263, levanta a hipótese de ter havido uma haste ainda maior.
  3. Dalton, 1 e Lightbown, 81–82. Neil Stratford, 263, acrescenta que o topo hexagonal da cobertura seja recente.

Referências

  1. Lightbown, 78
  2. "British Museum collection database"
  3. Dalton, 1; Steane, 135
  4. Lightbown, 81
  5. "British Museum Investigation"
  6. Dalton, 1–4; "British Museum collection database"
  7. Wood and leather case British Museum collection database, 16 de Junho de 2010. Registo n.º 1892,0501.2

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Anglo, Sydney. Tudor Dynastic Symbols in Lascombes, André (ed.), Spectacle & Image in Renaissance Europe, BRILL, 1993, ISBN 978-90-04-09774-2

The Royal Gold Cup. British Museum. 13 de Julho de 2010

  • Buettner, Brigitte. Past Presents: New Year's Gifts at the Valois Courts, Ca. 1400. The Art Bulletin, Volume 83, Edição 4, 2001. 598
  • Campbell, Marian (1987); in Jonathan Alexander and Paul Binski (eds). Age of Chivalry, Art in Plantagenet England, 1200–1400. London: Royal Academy/Weidenfeld & Nicholson, 1987
  • Campbell, Marian (2001); in Blair, John and Ramsay, Nigel (eds). English Medieval Industries: Craftsmen, Techniques, Products, Continuum International Publishing Group, 2001, ISBN 1-85285-326-3
  • Caxton, William (translation of Jacobus de Voragine). Golden Legend, online version of Temple Classics edition, 1275/1483, with modernized spelling.
  • Cherry, John. The Holy Thorn Reliquary. The British Museum Press, 2010, ISBN 978-0-7141-2820-7
  • Cowling, Jane. A Fifteenth-century Saint Play in Winchester. In Medieval and Renaissance Drama in England, Volume 13. Fairleigh Dickinson University Press, 2001. ISBN 0-8386-3889-9
  • Croft, Pauline. England and the Peace with Spain, 1604: Pauline Croft Analyses the Causes and Traces the Consequences of a Momentous Treaty. History Review, Issue 49, 2004
  • Dalton, Ormonde M. The Royal Gold Cup in the British Museum. Londres: British Museum, 1924
  • Henderson, George. Gothic. Penguin, 1967. ISBN 0-14-020806-2
  • Hoving, Thomas. Greatest Works of Western Civilization. Artisan, 1997. ISBN 1-885183-53-4
  • Lane, Barbara G. The Altar and the Altarpiece, Sacramental Themes in Early Netherlandish Painting. Harper & Row, 1984. ISBN 0-06-430133-8
  • Legner, Anton (ed). Die Parler und der Schöne Stil, 1350-1400, Catálogo de uma exposição no Museu Schnütgen, Colónia, 1978. 3 vols.
  • Lightbown, Ronald W. Secular Goldsmiths' Work in Medieval France: A History. Reports of the Research Committee of the Society of Antiquaries of London. Volume XXXVI, 1978. 75–82
  • "Maryon (1971)": Maryon, Herbert. Metalwork and enamelling: a practical treatise on gold and silversmiths' work and their allied crafts. Courier Dover Publications, 1971. ISBN 0-486-22702-2
  • Nash, Susie. Northern Renaissance Art, Oxford History of Art, Oxford University Press, 2008, ISBN 0-19-284269-2
  • Needham, Paul, Twelve Centuries of Bookbindings 400–1600, 1979, Pierpoint Morgan Library/Oxford University Press
  • Osborne, Harold (ed). The Oxford Companion to the Decorative Arts. Oxford: Oxford University Press, 1975. ISBN 0-19-866113-4
  • Snyder, James. Northern Renaissance Art. Harry N. Abrams, 1985. ISBN 0-13-623596-4
  • Stratford, Jenny. The Bedford Inventories, Society of Antiquaries of London, 1993, ISBN 0-85431-261-7
  • Stratford, Neil, in Baron, Françoise; Avril, François; Chapu, Phillipe; Gaborit-Chopin, Danielle; Perrot, Françoise. Les fastes du gothique: le siècle de Charles V. Paris, Galeries nationales du Grand Palais, Réunion des musées nationaux, 1981 (in French) – Catalogue of an exhibition including the cup (as the Coupe de Sainte Agnes)
  • Steane, John. The Archaeology of the Medieval English Monarchy. Routledge, 1999. ISBN 0-415-19788-0
  • Ungerer, Gustav. Juan Pantoja De la Cruz and the Circulation of Gifts between the English and Spanish Courts in 1604/5. Shakespeare Studies, 1998
  • Ward, Gerald W. R. (ed). The Grove encyclopedia of materials and techniques in art. Oxford University Press US, 2008. ISBN 0-19-531391-7
  • Wilson, David M. The British Museum; A History. The British Museum Press, 2002. ISBN 0-7141-2764-7

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Ícone de esboço Este artigo sobre arte ou história da arte é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.