Suérquero (rei lendário) – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para outros significados, veja Suérquero.
Suérquero
Suérquero (rei lendário)
Representação de Suérquero de 1554 na História de João Magno
Rei lendário dos Suíones
Reinado século I
Antecessor(a) Fliolmo
Sucessor(a) Valandro
 
Morte século I
  Stein, Suídia
Cônjuge Vana
Descendência Valandro
Casa Casa dos Inglingos
Pai Fliolmo

Suérquero[1] (em nórdico antigo: Sveigðir; em islandês: Sveigder, Svegder ou Swegde; em latim: Swegthir ou Suercherus) foi rei dos Suíones (Suídia) no século I. Pertencia à Casa dos Inglingos e era filho do antecessor Fliolmo e pai do sucessor Valandro. De acordo com a Saga dos Inglingos, fez voto para achar a morada de Odim, o Velho e para isso ficou cinco anos viajando em terras distantes. Passou pela Tirclândia (Ásia Menor) e Cítia (Svithjóth), onde achou vários parentes, e então em Vanalândia, onde se casou com Vana e com quem teve seu filho e sucessor. Ao continuar sua busca pela casa de Odim, passou pela propriedade de Stein, na Suídia, onde achou uma enorme rocha. Um anão persuadiu-o a entrar na passagem protegida pela rocha, e ela se fechou e nunca mais abriu.

Nome[editar | editar código-fonte]

Suérquero aparece como Sveigðir na Lista dos Inglingos do poeta norueguês Tiodolfo de Hvinir do século IX,[2][3] Swegthir na obra História da Noruega do século XII,[4] Svegðir no Livro dos Islandeses do historiador islandês Ari, o Sábio do século XII,[5] Sveigder,[6] na Saga dos Inglingos do historiador islandês Esnorro Esturleu do século XIII e Suercherus na obra História de todos os reis gautas e suíones escrita em latim em 1554 pelo arcebispo sueco João Magno.[7] Alguns autores modernos, por sua vez, citam-no como Svegder [8] ou Swegde.[9] Ásgeir Blöndal Magnússon, numa obra de 1989, argumentou que seu nome nórdico Sveigðir deriva de *swaigjōn (em nórdico antigo: sveigja), "aquele que se dobra".[10]

Vida[editar | editar código-fonte]

Suérquero era filho de Fliolmo e pertencia à Casa dos Inglingos.[11][12] Segundo a História da Noruega, havia um conto de fadas sobre ele no qual foi persuadido por um anão para entrar numa rocha de onde nunca retornou.[13] No Livro dos Islandeses de Ari, o Sábio, foi citado na linhagem inglinga ao fim do livro ([...] IIII Fjölnir. sá er dó at Friðfróða. V Svegðir [...])[a][5] Na Saga dos Inglingos, sucedeu ao pai[14][15] e fez voto de que encontraria o lar dos deuses e Odim, o Velho. Saiu com 12 colegas pelo mundo, chegando na Tirclândia (Ásia Menor) e Cítia (Svithjóth), chamada "a Grande", onde achou muitos parentes. Após cinco anos de jornada, voltou à Suídia e ficou em casa por algum tempo. Em Vanalândia, casou-se com Vana com quem teve seu filho Valandro.[16]

O rei partiu de novo em busca do lar dos deuses. Na porção oriental da Suídia, havia grande propriedade chamada Stein ("na Pedra" [17]), onde havia uma rocha tão grande quanto uma grande casa. À noite, após o pôr do sol, quando Suérquero saia de uma festa para seus aposentes, viu um anão sentado perto dela. O rei e seus homens estavam muito bêbados e correram à rocha. O anão, sentado junto a porta da rocha, chamou o rei e convidou-o a entrar se queria ver Odim. Suérquero escorregou na rocha e ela se fechou atrás dele, que nunca mais foi visto.[16][18][19] Segundo Tiodolfo de Hvinir:[20]


O tímido diurnal,
parente de Durni,
o guardião da porta,
enganou rei Suérquero,
quando numa rocha,
o grande,
parente de Dusli,
correu atrás do anão;
e aquele salão brilhante,
de Socmimir [um gigante],
construído por gigantes,
engoliu o rei.

Interpretações modernas[editar | editar código-fonte]

Para Claus Krag, ao analisar, em conjunto, as mortes dos primeiros quatro reis citados da Saga dos Inglingos depois de Ínguino (Fliolmo, Suérquero, Valandro e Visbur), é possível inferior que os escandinavos tinham conhecimentos da teoria clássica dos quatro elementos (fogo, água, terra e ar) nessa interpretação: segundo Claus, Fliolmo foi morto pela água (metáfora da tina de hidromel), Suérquero foi morto pela terra (metáfora da rocha), Visbur morreu pelo ar (metáfora do mora enviado para sufocá-lo) e Valandro morreu pelo fogo. Para John McKinnell, aplicando esse raciocínio a outras obras nórdicas cujas mortes poderiam induzir à mesma conclusão, é mais provável que representem a visão germânica das três forças destrutivas da natureza – mar, fogo e tempestade – em vez da ideia dos quatro elementos.[21] Svante Norr sugeriu que a teoria dos elementos, cristianizada de Platão por Agostinho de Hipona, chegou no norte da Europa via Beda e outros e deve ter alcançado a Escandinávia, mediante contato com os anglo-saxões, no final do século XI,[22] uma data que Rory McTurk concorda.[23] Mckinnell, por sua vez, concorda com a teoria de que Fliolmo e Suérquero representam opostos de fortuna: a morte de Fliolmo na tina cheia de hidromel pode ser uma metáfora para morte por excesso, enquanto a morte de Suérquero seria uma metáfora para esterilidade.[24]

Para Henrik Schück, que traduziu o termo Dusli do poema de Tiodolfo como "relâmpago", o rei pode ser associado ao deus Tor. Considerou essa possibilidade devido as lendas em torno da pedra sagrada do templo de Upsália, capital dos Inglingos, que se tornou morada de Tor após ser atingida por um raio.[25] Para Valdimar Tr. Hafstein, os versos do poema de Tiodolfo que falam dele sendo engolido pela rocha podem indicar que, no fim das contas, em vez de ir ao lar dos deuses, foi para o lar dos gigantes (Jotunheimo).[26] Já Goeres lembra que Fliolmo e Suérquero estavam embriagados no momento de suas mortes[27] e Claus Krag pensou que as estrofes de Tiodolfo sobre a vida deles podem se referir, não a reis propriamente, mas a Odim, vencedor do hidromel da poesia, como comumente era referido. Stephan Grundy, assumindo que ele estava certo, sugeriu que talvez essa menção a Odim fosse uma convenção de invocá-lo no início de uma poema escáldico e que podia não ter havido motivos antes do tempo de Esnorro para assumirem Fliolmo e Suérquero como reis históricos.[28] E. O. G. Turville-Petrie, assumindo que Esnorro associou o Socmimir de Tiodolfo com Odim, sugeriu que Valhala (em nórdico antigo: Valhǫll) derivou de vala hallr. Grundy e outros, no entanto, questionam a associação à luz de outras menções a Sucmimir noutras obras nas quais é descrito como gigante. Diante disso, Krag sugeriu que Sucmimir fosse outro nome de Surtur,[29] dando mais ênfase à teoria da ligação de Suérquero e Fliolmo com Odim, pois Surtur aparece na lenda do hidromel da poesia.[30]

Outras menções e paralelos[editar | editar código-fonte]

Tal como o nome de seu pai Fliolmo, o nome de Suérquero foi utilizado em outras fontes nórdicas como um dos nomes de Odim.[23] Christian Carlsen e Balliol College compararam a narrativa do rei com a vida de Érico, o Viajante, como descrito na Saga de Érico, o Viajante (Eiríks saga víðförla). Para eles, há tantos paralelos entre as estórias (as origens semidivinas dos protagonistas, seu estatuto nobre, sua promessa de encontrar um reino mítico, a natureza sobrenatural do reino e a viagem para o leste com tripulação de onze homens [31]) que é possível que a narrativa de Suérquero fosse amplamente conhecida pelos leitores medievais a ponto do autor da saga de Érico ter ciência dela e se basear na obra de Esnorro.[32]

Notas[editar | editar código-fonte]

[a] ^ Da passagem IIII Fjölnir. sá er dó at Friðfróða. V Svegðir, IIII e V são os algarismos romanos que indicam a ordem de Fliolmo e seu filho Suérquero dentro da linhagem dos Inglingos, enquanto sá er dó at Friðfróða indica o suposto local de morte de Fliolmo. Friðfróða é nórdico antigo para Frodo, o Pacífico, um rei mítico dinamarquês junto do qual Fliolmo morreu.[5]

Referências

  1. Neves 2019.
  2. Tiodolfo de Hvinir 1915.
  3. Grundy 2014, p. 103.
  4. Ekrem 2003, p. 74.
  5. a b c Ari, o Sábio 2006, p. 14.
  6. Esnorro Esturleu 2011, p. 15-16.
  7. João Magno 1554, p. 243.
  8. Rasmussen 2004, p. 286.
  9. Esnorro Esturleu 1961, p. 16; 452-453.
  10. Samplonius 2003, p. 452.
  11. João Magno 1554, p. 243-244.
  12. Lagerqvist 2004, p. 7.
  13. Ekrem 2003, p. 74-75.
  14. Henrikson 1963, p. 38.
  15. RB 1918.
  16. a b Esnorro Esturleu 2011, p. 15.
  17. Mikučionis 2017, p. 63.
  18. Lagerqvist 2004, p. 15.
  19. Esnorro Esturleu 2011, p. 16.
  20. Hafstein 2003, p. 34.
  21. Mckinnell 2009, p. 24-25.
  22. Norr 1998, p. 102-103.
  23. a b McTurk 1997, p. 25.
  24. Mckinnell 2009, p. 29.
  25. Schück 1941, p. 24-25.
  26. Hafstein 2003, p. 35.
  27. Goeres 2015, p. 35.
  28. Grundy 2014, p. 71, nota 132.
  29. Grundy 2014, p. 70.
  30. Norr 1998, p. 89.
  31. Carlsen 2002, p. 83; 161.
  32. Carlsen 2002, p. 84; 100.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

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  • Carlsen, Christian; College, Balliol (2002). Old Norse Visions of the Afterlife. Oxônia: Universidade de Oxônia 
  • Ekrem, Inger; Mortensen, Lars Boje (2003). Historia Norwegie. Traduzido por Fisher, Peter. Copenhague: Museum Tusculanum Press. ISBN 8772898135 
  • Esnorro Esturleu (2011). Heimskringla - History of the Kings of Norway. Traduzido por Hollander, Lee M. Austin: University of Texas Press 
  • Esnorro Esturleu (1961). Heimskringla: Part Two, of Sagas of the Norse Kings. Traduzido por Leinge, Samuel. Boston: Dutton Adult 
  • Goeres, Erin Michelle (2015). The Poetics of Commemoration: Skaldic Verse and Social Memory, C. 890-1070. Oxônia: Oxford University Press 
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  • Lagerqvist, Lars O.; Åberg, Nils (2004). «Saga och sägen om våra förhistoriska kungar (Lendas e tradições dos nossos reis pré-históricos)». Litet lexikon över Sveriges regenter (Pequeno léxico dos regentes da Suécia) (em sueco). Estocolmo: Vincent. 63 páginas. ISBN 91-87064-43-X 
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  • Schück, Henrik (1941). «Odin, Vili och Vé». Fornvännen. 36: 22-29