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Sistema Cantareira
Represas: Paiva Castro, Águas Claras, Cachoeira, Atibainha, Jaguari e Jacareí

Reservatório Paiva Castro em Mairiporã 2005
Localização
Localização São Paulo, Brasil Editar isso no Wikidata
Divisão Municípios de Bragança Paulista, Piracaia, Vargem, Joanópolis, Nazaré Paulista, Franco da Rocha, Mairiporã, Caieiras e São Paulo.
Coordenadas 23°19'48"S, 46°40'44"W
Mapa
Dados gerais
Proprietário Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP)
Tipo estrutura arquitetónica
Vazão 33 metros cúbicos por segundo
Dados da albufeira
Capacidade total 982 milhões de metros cúbicos

O Sistema Cantareira é o maior dos sistemas administrados pela Sabesp destinados a captação e tratamento de água para a Grande São Paulo e um dos maiores do mundo, sendo utilizado para abastecer 8,8 milhões de habitantes.[1][2]

Durante a seca na Região Sudeste do Brasil em 2014–2017 o sistema cantareira foi um dos mais afetados. A gestão da Sabesp foi responsabilizada pela crise.[3]

História[editar | editar código-fonte]

Por volta de 1960, o governo paulista preocupado com o alto crescimento demográfico da cidade de São Paulo e dos municípios vizinhos, cuja população já totalizava 4,8 milhões de habitantes, decide reforçar o abastecimento de água da Região Metropolitana de São Paulo planejando a construção de diversas represas nas nascentes da bacia do rio Piracicaba, iniciando assim o Sistema Cantareira.[carece de fontes?]

Em 1966 iniciou-se a construção das barragens de Paiva Castro e Águas Claras na bacia do Rio Juqueri com capacidade de 2 mil litros/segundo, e posteriormente as barragens de Cachoeira e Atibainha na bacia do rio Piracicaba com capacidade de 9 mil litros/segundo. Em 1976 foram iniciadas as construções das barragens de Jaguari e Jacareí na bacia do rio Piracicaba, acrescentando uma capacidade de 22 mil litros/segundo ao sistema.[4] Em março de 2018, após a seca na Região Sudeste do Brasil em 2014–2017,[5] entrou em operação a transferência de cerca de 5 mil litros/segundo da bacia do rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira.[6]

A gestão do Sistema Cantareira é de responsabilidade da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE).  Apesar do sistema estar localizado integralmente em território paulista, recebe água de uma bacia hidrográfica de gestão federal. A ANA e o DAEE fazem o acompanhamento por meio dos dados de níveis da água, vazão e volume armazenado, e definem dentro de suas atribuições legais as normas e regras que determinam a operação do sistema. Já a operação é realizada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), responsável por observar as restrições estabelecidas e comunicar os casos de necessidade de operação emergencial.[7]

Características[editar | editar código-fonte]

Estrutura[editar | editar código-fonte]

O Sistema Cantareira é composto por seis represas:[4][8]

Também fazem parte do sistema a Estação Elevatória Santa Inês e a Estação de Tratamento de Água do Guaraú.

Funcionamento[editar | editar código-fonte]

No sistema os seis reservatórios são interligados por um complexo sistema composto por um canal, 48 km de túneis e uma estação de bombeamento de alta tecnologia para ultrapassar a barreira física da Serra da Cantareira.[9] O sistema chama atenção ainda pela distância de sua estrutura em relação ao núcleo urbano ao qual ela serve e também pela extensão da sua área de drenagem, que se estende até o sul do estado de Minas Gerais.[4]

  1. A partir das represas Jaguari e Jacareí, que são interligadas entre si através de um canal e operam na cota 844 metros, as águas do sistema descem por gravidade através do túnel 7 para a Represa Cachoeira;
  2. Da Represa Cachoeira, que opera na cota 822 metros, descem através do túnel 6 para a Represa Atibainha;
  3. Na Represa Atibainha, que opera na cota 787 metros, junta-se ao sistema as águas da bacia do rio Paraíba do Sul vindas do reservatório da Usina Hidrelétrica Jaguari através de bombeamento, descendo através do túnel 5 para o Rio Juqueri. É neste momento que as águas das bacias do rio Piracicaba e do rio Paraíba do Sul são transferidas para a bacia do rio Tietê;
  4. Através do Rio Juqueri as água chegam a Represa Paiva Castro, que opera na cota 745 metros, e através do túnel 3 chegam a Estação Elevatória Santa Inês;
  5. A Estação Elevatória Santa Inês bombeia as águas através dos túneis 1 e 4 para a Represa Águas Claras, que opera na cota 860 metros, vencendo assim a barreira natural da Serra da Cantareira. Este reservatório tem uma função de segurança, permitindo que o funcionamento do sistema prossiga por até 3 horas em caso de alguma paralisação;
  6. Da Represa Águas Claras as águas finalmente descem por gravidade através do túnel 2 para a Estação de Tratamento de Água do Guaraú,[10] que opera na cota 830 metros e onde são tratados atualmente 23 m3/s de água.[9]

O sistema atende na Região Metropolitana de São Paulo a Capital (zonas Norte e Central e parte das zonas Leste e Oeste), além dos municípios de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba e São Caetano do Sul, e também parte dos municípios de Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo André.[11]

Crise hídrica de 2014–2016[editar | editar código-fonte]

Devido a sucessivas baixas históricas no início de 2014, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Água e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE) determinaram uma redução da vazão máxima de captação de água do sistema, de 31 para 27,9 m3/s, a partir de 10 de março de 2014. Para atender esta determinação, a Sabesp utilizou água dos sistemas Guarapiranga e Alto Tietê para abastecer clientes antes atendidos pelo sistema Cantareira.[12][13][14]

Em 1 de fevereiro de 2014, a Sabesp anunciou um programa de descontos, válido de fevereiro a setembro, para incentivar a redução do consumo de água de clientes atendidos pelo sistema Cantareira. Clientes que reduzirem em ao menos 20% o consumo em relação à média dos 12 meses de 2013 terão desconto de 30% na conta.[15]

Em 17 de março de 2014, a Sabesp iniciou obras nas represas de Nazaré Paulista e Joanópolis, orçadas em 80 milhões de reais, para captar o chamado "volume morto", uma reserva de 300 bilhões de litros de água que fica abaixo do nível das atuais comportas e que é capaz de abastecer a região metropolitana de São Paulo por 4 meses.[16]

Em 18 de março de 2014, o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pediu autorização para retirar água do Rio Paraíba do Sul e colocá-la no sistema Cantareira. Essa autorização teve que ser analisada pela Agência Nacional de Águas já que o Paraíba do Sul é um rio interestadual e é utilizado para abastecer o estado do Rio de Janeiro.[17]

Em 31 de março de 2014, o governo de São Paulo e a Sabesp anunciaram a ampliação, a partir de 1 de abril, do programa de descontos nas tarifas de água e esgoto para todos os 31 municípios da região metropolitana de São Paulo atendidos pela empresa .[18]

Em 21 de abril de 2014, durante evento na cidade de Franca, o governador Geraldo Alckmin anunciou que a Sabesp a partir de maio utilizará também 500 litros de água por segundo do Sistema Rio Grande para abastecer clientes antes atendidos pelo sistema Cantareira.[19] Também a partir de maio, clientes da Grande São Paulo que tiverem consumo acima da média dos 12 meses de 2013 terão que pagar multa de 30% na conta.[19]

A partir de 1 de maio, a Sabesp ampliou para mais 11 cidades o programa de desconto de 30% para quem consumir pelo menos 20% a menos do que a média de consumo de 2013, mas para estas cidades não está prevista multa caso haja aumento no consumo. As cidades são: Paulínia, Morungaba, Monte Mor, Hortolândia, Itatiba, Pinhalzinho, Bragança Paulista, Piracaia, Nazaré Paulista, Joanópolis e Vargem.[20]

Em 15 de maio de 2014, devido ao prolongado período de secas na região que abastece o Sistema Cantareira, seus reservatórios atingiram 8,2% de sua capacidade utilizável, o pior nível desde 1974, ano em que foi criado.[21]

Em 24 de outubro de 2014, o nível dos reservatórios do sistema Cantareira, incluindo a primeira cota da reserva técnica, atingiu 2,9% de sua capacidade. Neste dia a Sabesp incorporou a segunda cota da reserva técnica à medição do nível dos reservatórios do sistema Cantareira. Esta segunda cota possui um volume total de 105 bilhões de litros e adicionou 10,7 pontos percentuais ao nível medido.[22]

Reparos ambientais[editar | editar código-fonte]

A Sabesp mantém próximo à represa do Jaguari um viveiro que produz anualmente 300 mil mudas de espécies nativas destinadas ao reflorestamento e recomposição das matas ciliares. Ali também funciona um Centro de Educação Ambiental, que atende escolas e faculdades públicas e privadas. Na Represa Cachoeira, a Sabesp conserva livre de ocupação uma área de 200 hectares, visando futura recomposição vegetal.[4]

Controvérsias e riscos ambientais[editar | editar código-fonte]

O Sistema Cantareira corre sérios riscos de degradação ambiental, juntamente com o Parque do Horto Florestal, com a construção do Trecho Norte do Rodoanel, segundo alguns ambientalistas. O projeto do Rodoanel tem sido objeto de intensa controvérsia, por atravessar a Serra da Cantareira, temendo-se a possibilidade de comprometimento do Sistema Cantareira e do abastecimento de água da cidade de São Paulo em razão da obra.[23][24][25][26][27][28][29]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Sabesp - Sistema Cantareira
  2. «Nível da Cantareira cai a 16,4%, novo recorde negativo». Estadão. 28 de fevereiro de 2014. Consultado em 1 de março de 2014 
  3. Coutinho, Renato M.; Roberto A. Kraenkel, Paulo I. Prado (2015). «Catastrophic Regime Shift in Water Reservoirs and São Paulo Water Supply Crisis». PLoS ONE. 10 (9): e0138278. PMID 26372224. doi:10.1371/journal.pone.0138278 
  4. a b c d SOLIA, Mariângela; FARIA, Odair Marcos; ARAÚJO, Ricardo. Mananciais da região metropolitana de São Paulo. São Paulo: Sabesp, 2007
  5. Risco de racionamento de água no interior de São Paulo é alto, por Lucas Sampaio. Folha de S.Paulo, 4 de fevereiro de 2014 (inclui mapa dos sistemas que abastecem a Grande São Paulo)]
  6. «Entra em operação a Interligação Jaguari-Atibainha» (PDF). Diário Oficial do Estado de São Paulo 
  7. ASCOM. «Sistema Cantareira (Saiba mais) — Agência Nacional de Águas». www3.ana.gov.br. Consultado em 27 de março de 2019 
  8. Sabesp. Sistema Cantareira (diagrama)
  9. a b «Sabesp » Sistema Cantareira». site.sabesp.com.br. Consultado em 27 de março de 2019 
  10. «Estação de Tratamento de Água do Guaraú (ETA Guaraú)». Consultado em 23 de março de 2014. Arquivado do original em 23 de março de 2014 
  11. Sabesp - Região Metropolitana de São Paulo
  12. «Alckmin diz que vai remanejar água para evitar racionamento na Grande SP». Estadão. 6 de março de 2014. Consultado em 7 de março de 2014 
  13. Maior crise hídrica de SP expõe lentidão do governo e sistema frágil. 22 de Março de 2014
  14. Má gestão leva à pior crise de água em SP. Governo paulista ignorou relatórios sobre crise e superexploração de sistema que abastece Grande SP e interior Arquivado em 23 de março de 2014, no Wayback Machine.. Por Rafael Zanvettor. Caros Amigos, 19 Março 2014.
  15. «Sabesp anuncia desconto para quem economizar água em SP». G1. 1 de fevereiro de 2014. Consultado em 1 de fevereiro de 2014 
  16. «Sabesp começa obras para captar volume morto de reservatório». G1. 17 de março de 2014. Consultado em 18 de março de 2014 
  17. «Alckmin pede para usar água do Paraíba do Sul no Cantareira». G1. 19 de março de 2014. Consultado em 19 de março de 2014 
  18. «Nível do Sistema Cantareira cai para 13,4%». G1. 31 de março de 2014. Consultado em 31 de março de 2014 
  19. a b Fabio Leite e Rene Moreira (21 de abril de 2014). «Alckmin anuncia 'reforço' ao Cantareira e confirma multa por desperdício». Estadão. Consultado em 22 de abril de 2014 
  20. «Sabesp amplia desconto em conta para 6 cidades da região de Campinas». G1. 1 de maio de 2014. Consultado em 1 de maio de 2014 
  21. «Nível do Sistema Cantareira cai novamente e chega a 8,2%». G1. 15 de maio de 2014. Consultado em 15 de maio de 2014 
  22. «Sabesp incorpora 2º volume morto à medição mas não inicia captação». G1. 24 de outubro de 2014. Consultado em 24 de outubro de 2014 
  23. «Novo traçado do Rodoanel afetará zona norte». Consultado em 23 de março de 2014. Arquivado do original em 23 de março de 2014 
  24. «Obras do Rodoanel Norte podem começar em fevereiro». Consultado em 23 de março de 2014. Arquivado do original em 23 de março de 2014 
  25. «Após diversas denúncias encaminhadas ao BID, ambientalistas da Cantareira não entendem a demora da vinda do Painel MICI». Consultado em 23 de março de 2014. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2014 
  26. A Verdade do Rodoanel
  27. Jornal da Serra
  28. Instituto Socioambiental. Para quem serve o Rodoanel de São Paulo? Arquivado em 24 de fevereiro de 2011, no Wayback Machine.
  29. Rodoanel vai fechar ruas de SP Arquivado em 11 de janeiro de 2011, no Wayback Machine.. Estadão, 7 de outubro de 2010

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • SOLIA, Mariângela; FARIA, Odair Marcos; ARAÚJO, Ricardo. Mananciais da região metropolitana de São Paulo. São Paulo: Sabesp, 2007

Ligações externas[editar | editar código-fonte]