Sismo dos Açores de 1980 – Wikipédia, a enciclopédia livre

Sismo dos Açores de 1980
Sismo dos Açores de 1980 (Açores)
Terceira
Graciosa
São Jorge
Epicentro No oceano, entre as ilhas da Terceira, São Jorge e Graciosa[1]
Profundidade 10 quilómetros
Magnitude 7,2 MW
Tipo Deslizamento
Data 1 de janeiro de 1980
Zonas mais atingidas Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico e Faial
Vítimas 73 mortos
+400 feridos
+20 mil desalojados

O sismo dos Açores de 1980, ou sismo d'oitenta, foi um sismo que ocorreu às 15h42 (hora local) do dia 1 de Janeiro de 1980, no qual entre seis a sete dezenas de pessoas faleceram e mais de 400 ficaram feridas, causando sérios danos na Ilha Terceira e afectando Graciosa e São Jorge. Com uma magnitude de 7,2 na escala de Richter, também se fez sentir nas ilhas Pico e Faial, resultando numa fractura de deslize, algo típico no historial de sismos do Arquipélago dos Açores.

Depois do sismo, o então Presidente da República Portuguesa António Ramalho Eanes anunciou três dias de luto nacional, enquanto os esforços de ajuda humanitária, iniciados pela Força Aérea Portuguesa, foram rapidamente enviados ao local por agências governamentais.

Geologia[editar | editar código-fonte]

Três décadas antes, outro grande sismo havia atingido a região do arquipélago, e este era o maior sismo desde então.[2] De origem vulcânica, os Açores situam-se numa área tectonicamente complexa de ambos os lados da cordilheira mesoatlântica, entre os limites das placas euro-asiática e africana, formando a sua própria microplaca.[3] O sismo de 1980 foi o resultado de um movimento ao longo de uma falha tectónica.[3] Quando as réplicas do sismo cessaram, deu-se início ao estudo do acontecimento, uma deformação que deu origem ao evento. O movimento da crosta foi semelhante aos sismos anteriores que haviam atingido o arquipélago. Para estes sismos, os cientistas determinadas que o plano nodal era o responsável, tendo em consideração o corte no lado direito.[4] Todas as falhas nesta área são orientadas para o deslizamento numa grande escala.[5] Devido a esta pesquisa, a informação recolhida aponta agora para que o vulcanismo dos Açores seja controlado pelo movimento dos sismos.[4] Na Ilha Terceira, a mais afectada pelo sismo, os sismos mais destruidores ocorreram desde o século XVI, destacando-se os sismos de 1547, 1614, 1841 e este de 1980.[6]

Danos e baixas[editar | editar código-fonte]

O sismo ocorreu às 15h42 (hora local) do dia 1 de Janeiro de 1980, foi de magnitude 7.2 na escala de Richter e deu-se a cerca de 35 quilómetros a su-sudoeste de Angra do Heroísmo.[7][8] Isso causou danos consideráveis em três ilhas: Terceira, São Jorge e Graciosa,[7] destruindo vários edifícios.[9] De acordo com os relatórios locais, cerca de 70% das casas da Ilha Terceira foram demolidas, incluindo o centro histórico da cidade de Angra do Heroísmo.[2] Em termos gerais, os edifícios públicos como as sedes governamentais permaneceram intactos, as igrejas, embora, na maioria dos casos, tenham permanecido de pé sofreram danos muito significativos, enquanto outros edifícios cederam.[2] Serviços essenciais, como a electricidade e a água, ficaram cortados em várias áreas.[2]

Inicialmente, o numero de mortes foi fixado em 52,[9] mas posteriormente contabilizou-se 61 e, mais tarde ainda, 73.[3][8] Além disso, foram contabilizadas cerca de 300 pessoas feridas,[10] embora posteriormente o número tenha ultrapassado as 400.[7] Pelo menos vinte mil pessoas ficaram desalojadas,[11][12] e danos menores foram registados nas ilhas do Pico e do Faial.[2] Na Base aérea das Lajes, onde se encontra colocada a Força Aérea Portuguesa, um destacamento da Força Aérea dos Estados Unidos e, na época, um destacamento da Marinha dos Estados Unidos, não houve nenhuma baixa e os danos foram mínimos.[2]

Esforços de socorro[editar | editar código-fonte]

A Força Aérea Portuguesa, a Marinha dos Estados Unidos e a Força Aérea dos Estados Unidos, estacionados na base das Lajes, trabalharam em ajuda às populações locais,[2] abrigando mais de 150 famílias;[13] a Força Aérea Portuguesa levaram mantimentos e bens essenciais às vítimas do sismo, enquanto a corveta João Coutinho da Marinha Portuguesa levou médicos para o local. O Presidente da República, Ramalho Eanes, voou num avião até ao local, acompanhado por pessoal médico e suprimentos.[2]

Os funcionários locais, incluindo a PSP, Guarda Fiscal os bombeiros e o RIAH (Regimento de Infantaria de Anga do Heroísmo) abriram caminhos e limparam vias de circulação para a passagem de meios de transporte com suprimentos e pessoal médico. Em resposta ao sismo, estes funcionários públicos também estiveram envolvidos na busca de sobreviventes nos escombros.[2] Imediatamente após o desastre, foram instaladas tendas para substituir temporariamente as casas destruídas para aproximadamente 200 famílias. Casas portáteis também foram construídas pelo projecto People and Prople International, o que resultou em mais 100 abrigos.[13]

Três dias de luto nacional foram declarados por Ramalho Eanes.[2] Depois dos esforços de socorro às populações, dezanove estações sismográficas foram instaladas pela região para monitorizas as actividades sísmicas. Onze destas instalações foram usadas para monitorizar a actividade sísmica, enquanto as outras oito também serviam para a recolha de informações sobre as áreas geotérmicas.[14] O sismo ajudou a que centenas de pessoas das ilhas decidissem emigrar para os Estados Unidos.[11]

Análise e situação actual[editar | editar código-fonte]

Estudos posteriores ao evento que resultou nesta tragédia encontraram vários factores que contribuíram para a grande extensão dos danos. A. Malheiro (2006) fez a ligação de várias causas principais para a provocação dos danos aquando do sismo. Os edifícios mais danificados pelo sismo estavam perto de linhas de falhas em cima de solo instável; estes, de construção pobre, não estavam em conformidade com o código de construção adequados, nem tinham sido examinados após a construção por entidades competentes,[15] o que resultou em cerca de doze mil infraestruturas danificadas.[8] A área em torno do Arquipélago dos Açores continua a ser uma área activa, e as ameaças de sismos e deslizamentos permanecem.[15]

Referências

  1. Localização do Sismo dos Açores de 1980 Consultado em 19 de agosto de 2017
  2. a b c d e f g h i j Western Newspapers (2 January 1980)
  3. a b c Borges et al. (2007), p.37-54
  4. a b Hirn, A.; Haessler, H.; Trong, P. Hoang; Wittlinger, G.; Vcitor, L. A. Mendes (julho de 1980). «Aftershock sequence of the January 1, 1980, earthquake and present-day tectonics in the Azores». American Geophysical Union. Geophysical Research Letters. 7 (7): 501–504. Bibcode:1980GeoRL...7..501H. doi:10.1029/GL007i007p00501 
  5. Udías, Agustín; Buforn, Elisa (1990). «Regional stresses along the Eurasia-Africa plate boundary derived from focal mechanisms of large earthquakes». Birkhäuser Basel. Pure and Applied Geophysics. 136 (4): 433–448. Bibcode:1991PApGe.136..433U. doi:10.1007/BF00878580 
  6. «Sismos Destruidores». www.cvarg.azores.gov.pt. Consultado em 3 de agosto de 2017 
  7. a b c «Today in Earthquake History: January 1». United States Geological Survey. 18 de fevereiro de 2009. Cópia arquivada em 1 de junho de 2008 
  8. a b c Mendes, Ana Isabel. «Memórias do sismo de 1980 nos Açores reunidas num site». PÚBLICO. Consultado em 3 de agosto de 2017 
  9. a b «Quake Hits Azores Islands; at Least 52 Die, 300 Hurt». Los Angeles Times. Eddy Hartenstein. 2 de janeiro de 1980. Consultado em 3 de agosto de 2017 
  10. «Earthquake Kills 52 in the Azores». The New York Times. Arthur Ochs Sulzberger, Jr. 2 de janeiro de 1980. Consultado em 3 de agosto de 2017 
  11. a b «Azores' Exiles Forsake U.S. And Go Home». The New York Times. Arthur Ochs Sulzberger, Jr. 3 de outubro de 1982 
  12. «Sismo de 1980 destruiu Angra do Heroísmo há 35 anos». Açoriano Oriental. Consultado em 3 de agosto de 2017 
  13. a b «Lajes Field History - Humanitarian Efforts, 1980s and 1990s». Lajes Air Field. Arquivado do original em 7 de maio de 2008 
  14. Lee & Hung 2003, p. 1415.
  15. a b Malheiro, A. (agosto de 2006). «Geological hazards in the Azores archipelago: Volcanic terrain instability and human vulnerability». Journal of Volcanology and Geothermal Research. 156 (1–2) 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Lee, Kan; Hung, William (2003). International handbook of earthquake and engineering seismology, Part 2. [S.l.]: International Association of Seismology and Physics of the Earth's Interior's 
  • Silva, M (2005). Caracterização da sismicidade histórica dos Açores com base na reinterpretação de dados de macrossísmica: contribuição para avaliação do risco sísmico nas ilhas do Grupo Central. Ponta Delgada: University of the Azores, Departamento de Geociências. p. 146 
  • Madeira, J.; A. Ribeiro (1992). «O regime tectónico nos Açores». In: C.S. Oliveira; A.R. Lucas; J.H. Guedes. Monografia 10 anos após o sismo dos Açores de 1 de Janeiro de 1980. 1. [S.l.]: Secretaria Regional da Habitação e Obras Públicas (Terceira); Laboratório Nacional de Engenharia Civil (Lisbon). pp. 163–174 
  • CVARG (2010). «Sismo de 1 de Janeiro de 1980». Centro de Vulcanologia e Availação de Riscos Geológicos. Consultado em 9 de abril de 2010 
  • Borges, J.F.; Bezzeghoud, M.; Buforn, E.; Pro, C.; Fitas, A. (2007), «The 1980, 1997 and 1998 Azores earthquakes and some seismo-tectonic implications», Tectonophysics (435), doi:10.1016/j.tecto.2007.01.008 
  • Udías, Agustín; Buforn, Elisa (1990). «Regional stresses along the Eurasia-Africa plate boundary derived from focal mechanisms of large earthquakes». Birkhäuser Basel. Pure and Applied Geophysics. 136 (4): 433–448. Bibcode:1991PApGe.136..433U. doi:10.1007/BF00878580 
  • «Earthquakes devastates Azores Island». Western Newspapers Inc. 2 de janeiro de 1980. Consultado em 1 de setembro de 2009