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Sherlock Holmes Baffled
Sherlock Holmes Baffled
Holmes encontra pela primeira vez o intruso.
Estados Unidos
1900 •  p&b •  0,5 min 
Direção Arthur Marvin
Cinematografia Arthur Marvin
Distribuição American Mutoscope and Biograph Company
Lançamento 1900–1903
Idioma mudo

Sherlock Holmes Baffled (em português: Sherlock Holmes Perplexo)[nota 1] é um curta-metragem mudo norte-americano dirigido por Arthur Marvin em 1900. É a primeira adaptação cinematográfica conhecida do detetive Sherlock Holmes, criado pelo escritor britânico Arthur Conan Doyle.[1] A gravação também é considerada o primeiro filme de mistério conhecido, sobretudo pela inclusão do personagem Holmes.[1][2] No filme, um ladrão, que pode aparecer e desaparecer à vontade, rouba um saco de itens de Sherlock Holmes e todas suas tentativas de impedir o intruso terminam em fracasso.[3]

Originalmente produzido para mutoscópio em 1900 e registrado apenas em 1903,[3] Sherlock Holmes Baffled tem uma duração de 30 segundos. Não se conhece o nome dos atores. Considerado durante anos um filme perdido, foi redescoberto em 1968 como uma impressão de papel na Biblioteca do Congresso.[4]

Enredo[editar | editar código-fonte]

Sherlock Holmes entra em sua sala e descobre um intruso, porém ao confrontar o vilão se surpreende quando ele desaparece. Holmes inicialmente tenta ignorar o evento, acendendo um charuto, no entanto com o reaparecimento do ladrão, o detetive tenta recuperar o saco de bens roubados. Saca uma pistola do bolso de seu roupão e dispara contra o intruso, que desaparece ileso. Quando Holmes recupera seus bens, o saco desaparece de sua mão e retorna as mãos do ladrão, que imediatamente desaparece através de uma janela. Neste momento, o filme termina abruptamente com Holmes olhando perplexo.[1][3]

Produção[editar | editar código-fonte]

Anúncio de 1899 de um mutoscópio.

O filme foi produzido pela American Mutoscope and Biograph Company, conhecida como Biograph, com a intenção de ser reproduzido em um mutoscópio, um dispositivo cinematográfico arcaico, patenteado por Herman Casler em 1894.[5] Semelhante ao cinetoscópio de Thomas Edison, o mutoscópio não se projetava numa tela e as imagens só podiam ser visualizadas por uma pessoa de cada vez. Mais barato e simples do que a invenção de Edison, o sistema comercializado pela Biograph rapidamente dominou o mercado de filmes peep show, incorporados em máquinas que podiam ser ativadas com moedas.[6]

O mutoscópio funcionava com o mesmo princípio de um flip book, com imagens individuais impressas em cartões flexíveis ligados a uma estrutura circular que podia ser girado manualmente.[7] Os cartões eram iluminados por uma série de lâmpadas situadas no interior da máquina, um sistema desenvolvido pelo irmão de Arthur Marvin, Henry, um dos fundadores da companhia Biograph. As primeiras máquinas dependiam de luz natural refletida.[8]

Para evitar violar as patentes de Edison, as câmeras da Biograph de 1895 a 1902 utilizavam uma medição de grande formato, com sessenta milímetros de largura, e uma área de imagem de 2 × 2½ polegadas, quatro vezes maior que o formato de 35 mm de Edison.[9] Os filmes da Biograph não estavam perfurados, porém a própria câmara perfurava cada lado do cartão conforme eram expostos a uma velocidade de 30 imagens por segundo.[10][11] Sherlock Holmes Baffled mede 86,56 metros de comprimento, com um total de 30 segundos de duração (embora este tempo, na prática, podia variar como a velocidade de exibição, dependia da ação manual do usuário).[12]

O diretor de Sherlock Holmes Baffled foi Arthur W. Marvin (maio de 1859 – 18 de janeiro de 1911), um cinegrafista contratado pela Biograph,[13] que rodou cerca de 418 curtas entre 1897 e 1911, especialmente vaudeville. Depois ficou conhecido por trabalhar como cinegrafista para os primeiros filmes mudos de D. W. Griffith.[13] Não se conhece o nome dos atores que interpretam Holmes e o ladrão.[14]

Os filmes produzidos pela Biograph até 1903 eram principalmente sobre atualidades, documentários que registravam pessoas, lugares e eventos reais, no entanto Sherlock Holmes Baffled é um dos poucos exemplos de filmes narrativos e cômicos produzidos no estúdio da companhia em Broadway, Nova Iorque.[3] De acordo com Sherlock Holmes Handbook, de Christopher Redmond, o filme foi rodado em 26 de abril de 1900.[15] Julie McKuras afirma que foi lançado em maio daquele ano,[3] mas, apesar de estar em circulação, não foi registrado até 24 de fevereiro de 1903, data gravada no cartão de direitos autorais do filme.[16] Alguns autores datam o filme em 1905, provavelmente devido à confusão com outra gravação, Adventures of Sherlock Holmes; or, Held for Ransom, produzido pelo estúdio Vitagraph nesse ano.[17]

Redescoberta[editar | editar código-fonte]

O filme foi considerado perdido durante anos até que Michael Pointer, um historiador dos filmes de Sherlock Holmes, identificou uma cópia em papel em 1968 nos arquivos da Biblioteca do Congresso.[4] Uma vez que os filmes não entravam nas leis de direitos autorais até 1912, as cópias eram enviadas à Biblioteca pelos estúdios para registrar suas obras. Estas cópias eram feitas usando papel altamente sensível da mesma largura e comprimento que o filme, formando uma coleção de imagens fixas, método utilizado tanto pela Edison Company como pela Biograph.[18] A obra foi posteriormente transformada em um filme de 16 mm que permaneceu guardada no acervo da Biblioteca durante anos.[19]

Análise[editar | editar código-fonte]

Sherlock Holmes Baffled, filme completo.

A trama do filme não tem nenhuma relação com as histórias contidas no chamado Cânone de Sherlock Holmes de Arthur Conan Doyle e parece que o nome do personagem foi usado exclusivamente por sua popularidade.[20] Filmado em um único ponto de vista sobre um cenário, a intenção do filme era provavelmente servir como exemplo de truques cinematográficos e efeitos especiais, em particular o stop trick descoberto pelo diretor francês Georges Méliès, quatro anos antes, em 1896.[21]

O filme marcou o início da tendência que os primeiros cineastas tinham de mostrar o protagonista em situações cômicas; neste caso, Holmes fica "perplexo" ao ser superado por um ladrão, em contraste com as situações habituais nas histórias literárias, onde o detetive sempre demonstra sua destreza.[3] William K. Everson, em seu livro The Detective in Film, destaca que em Sherlock Holmes Baffled, assim como em outros filmes mudos sobre detetives, "[diante] da dificuldade de não poder conduzir um interrogatório prolongado ou uma série de deduções orais... a ênfase está centrada na ação física, não nas conclusões investigativas da literatura."[22] A primeira adaptação fiel e séria do personagem de Conan Doyle foi o filme de William Gillette, Sherlock Holmes, lançado em 1916.[23] Michael Pointer sugere que o traje e a aparência do ator anônimo em Sherlock Holmes Baffled era uma imitação da interpretação de Gillette na obra de teatro Sherlock Holmes,[24] que estreou no Teatro Garrick da Broadway em 6 de novembro de 1899.[25]

No artigo original sobre a redescoberta, Michael Pointer afirma que "se trata de um filme com truques antigos claramente produzido para ser visto em um mutoscópio ou outra máquina de peep show. Embora, em parte, o filme seja quase trivial, é histórico, por se tratar da primeira aparição conhecida do personagem de Sherlock Holmes num filme."[4][26] Além disso, é também o primeiro filme de detetive já feito[1][2] e aquele que marcou o início das diversas adaptações do personagem de Conan Doyle na história do cinema.[15]

Referências

  1. a b c d Tuska, Jon (1978). The Detective in Hollywood. New York: Doubleday. p. 1. ISBN 978-0-385-12093-7 
  2. a b Harmon, Jim (2003). Radio Mystery and Adventure and Its Appearances in Film, Television and Other Media. Jefferson, North Carolina: McFarland & Company. p. 176. ISBN 978-0-7864-1810-7 
  3. a b c d e f McKuras, Julie (Dezembro de 2000). «100 Years Ago: Sherlock Holmes Baffled» (PDF). Minneapolis: Friends of the Sherlock Holmes Collections, University of Minnesota Libraries. Friends of the Sherlock Holmes Collections Newsletter. 4 (4). 2 páginas. Consultado em 7 de agosto de 2010 
  4. a b c Pointer, Michael (Verão de 1968). «Earliest Holmes film». The Sherlock Holmes Society of London. Sherlock Holmes Journal. 8 (4): 138–140 
  5. Spehr, Paul C. (2000). «Unaltered to Date: Developing 35mm Film». In: Fullerton, John and Widding, Astrid Söderbergh. Moving Images: From Edison to the Webcam. Sydney: John Libbey & Co. p. 17. ISBN 978-1-86462-054-2 
  6. Slide, Anthony (1998). The New Historical Dictionary of the American Film Industry. Lanham, Maryland: Scarecrow Press. p. 22. ISBN 978-0-8108-3426-2 
  7. Musser, Charles (1994). The Emergence of Cinema: The American Screen to 1907. Berkeley: University of California Press. p. 176. ISBN 978-0-520-08533-6 
  8. Hendricks, Gordon (1964). Beginnings of the biograph: the story of the invention of the mutoscope and the biograph and their supplying camera. Berkeley: Beginnings of the American Film, University of California Press. p. 60 
  9. Bordwell, David; Staiger, Janet; Thompson, Kristin (1988). The Classical Hollywood cinema: Film Style & Mode of Production to 1960. London: Routledge. p. 265. ISBN 978-0-415-00383-4 
  10. Bitzer, Billy (Primavera de 1995). «The Biograph Camera». Toluca Lake, California: Society of Camera Operators. The Operating Cameraman. Consultado em 6 de outubro de 2012 
  11. Musser, Charles (1994). The Emergence of Cinema: The American Screen to 1907. Berkeley: University of California Press. pp. 303–313. ISBN 978-0-520-08533-6 
  12. Doyle, Steven; Crowder, David A. (2010). Sherlock Holmes for Dummies (PDF). Hoboken, New Jersey: John Wiley & Sons. p. 26. ISBN 978-0-470-48444-9 
  13. a b Henderson, Robert M. (1972). D. W. Griffith: His Life and Work. Oxford: Oxford University Press. p. 36. ISBN 978-0-8240-5763-3 
  14. Hardy, Phil (1997). The BFI Companion to Crime. Berkeley: University of California Press. p. 168. ISBN 978-0-304-33215-1 
  15. a b Redmond, Christopher (1993). A Sherlock Holmes Handbook. Toronto: Dundern Press. p. 164. ISBN 978-1-55488-446-9 
  16. Nollen, Scott Allen (1996). Sir Arthur Conan Doyle at the Cinema. Jefferson, North Carolina: McFarland & Co. p. 249. ISBN 978-0-7864-0269-4 
  17. «The Adventures of Sherlock Holmes; or, Held for Ransom». British Film Institute Film & TV Database. Consultado em 2 de setembro de 2012 
  18. «The Paper Print Film Collection at the Library of Congress». Library of Congress. Washington, D.C. Consultado em 2 de setembro de 2012 
  19. «Mary Pickford Theater screening archive: Sherlock Holmes: Silent to Sound». Library of Congress. Washington, D.C. 18 de janeiro de 2000. Consultado em 2 de setembro de 2012 
  20. Leitch, Thomas M. (2007). Film Adaptation and its Discontents. Baltimore: JHU Press. p. 260. ISBN 978-0-8018-8565-5 
  21. Ezra, Elizabeth (2000). Georges Méliès: the birth of the auteur. Manchester: Manchester University Press. p. 15. ISBN 978-0-7190-5396-2 
  22. Everson, William K. (1972). The Detective in Film. Secaucus, New Jersey: Citadel Press. p. 4. ISBN 978-0-8065-0448-3 
  23. Moody, Nickianne (2003). «Crime in Film and on TV». In: Priestman, Martin. The Cambridge Companion to Crime Fiction. Cambridge, England: Cambridge University Press. p. 228. ISBN 978-0-521-00871-6 
  24. Pointer, Michael (1975). The Public Life of Sherlock Holmes. London and Vancouver: Drake Publishers. p. 31. ISBN 978-0-87749-725-7 
  25. Banham, Martin (1983). British and American playwrights Volume 5 (1750-1920): Plays by William Gillette, Rosemary Cullen, Don B. Wilmeth. Cambridge, England: Cambridge University Press. p. 30. ISBN 978-0-521-28431-8 
  26. Klinger, Leslie S. «The Search for Sherlock Holmes on the Screen». Zionsville, Indiana: Steven Doyle. Baker Street Journal. Consultado em 2 de setembro de 2012. Arquivado do original em 10 de junho de 2011 

Notas

  1. Sherlock Holmes Perplexo, numa tradução literal ao português.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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