Saturno devorando um filho – Wikipédia, a enciclopédia livre

Saturno devorando a un hijo
(Saturno devorando um filho)
Saturno devorando um filho
Autor Francisco de Goya
Data 1819-1823
Técnica Óleo sobre reboco trasladado a tela
Dimensões 146 cm × 83 cm 
Localização Museu do Prado, Madrid

O quadro Saturno devorando um filho (espanhol: Saturno devorando a un hijo) é uma das pinturas a óleo sobre reboco que fazia parte da decoração dos muros da casa que Francisco de Goya adquiriu em 1819 chamada a Quinta del Sordo. Pertence, portanto, à série das Pinturas negras.

A obra, junto com as restantes "Pinturas negras" foi trasladada de reboco para tela em 1873 por Salvador Martínez Cubells por encomenda de Frédéric Émile d'Erlanger,[1] um banqueiro belga, que tinha intenção de vendê-las na Exposição Universal de Paris de 1878. Contudo, as obras não atraíram compradores e ele próprio doou-as, em 1876, ao Museu do Prado, onde atualmente se expõem.

O afresco ocupava um lugar à esquerda da janela, no muro do lado leste, oposto à entrada do corredor do piso térreo da Quinta del Sordo.

Representa o deus Cronos, como é habitual indiferenciado de Chronos (Saturno na mitologia romana), no ato de devorar um dos seus filhos. A figura era um emblema alegórico do passar do tempo, pois Cronos comia os filhos recém nascidos de Reia, sua mulher, por temor a ser destronado por um deles.

Análise do quadro[editar | editar código-fonte]

O tema de Saturno está relacionado, segundo Freud, com a melancolia e a destruição e estes traços estão presentes nas pinturas negras. Com expressão terrível, Goya situa-nos frente do horror canibal das fauces abertas, os olhos em branco, o gigante envelhecido e a massa informe do corpo sanguinolento do seu filho.

O quadro não somente alude ao deus Chronos, que imutável governa o curso do tempo, senão que também era o reitor do sétimo céu e padroeiro dos septuagenários, como o era já Goya.

O ato de comer o seu filho foi visto, do ponto de vista da psicanálise, como uma figuração da impotência sexual, sobretudo ao compará-lo com outro dos afrescos que decoravam a estância, Judite e Holofernes, tema pictórico no qual a bela judia Judite convida o velho rei assírio Holofernes, então em guerra contra Israel, para um banquete libidinoso e, após se unir sexualmente, decapita-o.

O filho devorado, com um corpo já adulto, ocupa o centro da composição. Assim como na pintura de Judite e Holofernes, um dos temas centrais é o do corpo humano mutilado. Não somente o é o corpo atroz do menino, mas também, mediante o enquadre recolhido e a iluminação de claro-escuro extraordinariamente contrastada, as pernas do deus, sumidas a partir do joelho na negrura, num vácuo imaterial.

Emprega uma gama de brancos e negros, aplicada em manchas de cor grossas, só rota pelo ocre das carnações e a chama fúlgida em branco e vermelho da carne viva do filho. Sánchez Cantón comparou-o com o que pintara Rubens em 1636 para a Torre da Parada do Palácio de El Pardo de Madrid. No seu estudo assinala como a violência do de Goya é muito superior, despojado do seu pretexto de mitologia, prefigurando com isso o expressionismo.

Outra análise pode ser feita, se tomando por base a mitologia grega onde a imagem que se tem de Chronos (chamado de Saturno pelos romanos), é a de um homem que devora o seu próprio filho, num ato de canibalismo difícil de compreender na actualidade. No entanto, esta representação deve-se ao fato de os antigos gregos tomarem Chronos como o criador do tempo, logo de tudo o que existe e possa ser relatado, a exemplo do Deus único e criador dos cristãos, judeus e muçulmanos, sendo que, por este fato, se consideravam como filhos do tempo (Chronos), e uma vez que é impossível fugir do tempo, todos seriam mais cedo ou mais tarde vencidos (devorados) pelo tempo.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • BOZAL, Valeriano, Francisco Goya, vida y obra, (2 vols.) Madrid, Tf. Editores, 2005. ISBN 84-96209-39-3.
  • D'ORS FÜHRER, Carlos, e MORALES MARÍN, Carlos, Los genios de la pintura: Francisco de Goya, Madrid, Sarpe, 1990, pág. 93. Sección «Estudio de la obra seleccionada», por Carlos D'Orf Führer, págs. 83-93. ISBN 84-7700-100-2
  • GLENDINNING, Nigel, Francisco de Goya, Madrid, Cuadernos de Historia 16 (col. «El arte y sus creadores», nº 30), 1993, pp. 116–122.
  • HAGEN, Rose-Marie y HAGEN, Rainer, Francisco de Goya, Colonia, Taschen, 2003, pág. 76. ISBN 3-8228-2296-5

Referências

  1. Cfr. Valeriano Bozal (2005), vol. 2, pág. 247:"Salvador Martínez Cubells (1842 - 1914), restaurador do Museu do Prado e acadêmico de número da Real Academia de Belas-Artes de São Fernando, trasladou as pinturas para tela por encomenda do proprietário da quinta naquele momento, 1873, que era o barão Fréderic Emile d'Erlanger (1832 - 1911). Martínez Cubells realizou este trabalho ajudado pelos seus irmãos Enrique e Francisco (..)." -Valeriano Bozal, Francisco Goya, vida e obra, (2 vols.) Madrid, Tf. Editores, 2005, vol. 2, pág. 247, ISBN 84-96209-39-3.

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