Saque de Damieta – Wikipédia, a enciclopédia livre

Saque de Damieta
Guerras bizantino-árabes

Mapa do conflito naval bizantino-árabe no Mediterrâneo, séculos VII-XI
Data 22 de maio de 853
Local Damieta, Egito
Coordenadas 31° 25' N 31° 49' E
Desfecho Vitória bizantino
Beligerantes
Império Bizantino Califado Abássida
Comandantes
ibne Catuna Desconhecido
Forças
85 navios
5 000 homens
Desconhecidas
Baixas
Desconhecidas Desconhecidas
Damieta está localizado em: Egito
Damieta
Localização de Damieta no Egito

O saque de Damieta em 853 foi um grande sucesso do Império Bizantino. Em 22 de maio de 853, a marinha bizantina atacou a cidade portuária de Damieta no delta do Nilo, cuja guarnição estava ausente naquele momento. A cidade foi saqueada e pilhada, produzindo não só muitos cativos, mas também grandes quantidades de armas e suprimentos que seriam enviados ao Emirado de Creta.

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Durante os anos 820, os bizantinos sofreram duas grandes perdas que destruíram sua supremacia naval no mar Mediterrâneo: o começo da conquista muçulmana da Sicília e a queda de Creta para exilados andalusinos. Suas perdas marcaram o início de uma era onde piratas sarracenos invadiram as costas cristãs ao norte do Mediterrâneo quase à vontade. O estabelecimento do Emirado de Creta, que se tornou refúgio aos navios muçulmanos, abriu o mar Egeu para raides, enquanto o domínio - ainda parcial - da Sicília permitiu aos árabes atacar e mesmo assentar na Itália e costa adriática.[1][2] Várias tentativas bizantinas de retomar Creta no rescaldo da conquista andalusina, bem como uma grande invasão em 842-843, falharam totalmente.[3][4]

Expedição bizantino e saque de Damieta[editar | editar código-fonte]

Assim, em 852/853, o governo bizantino tentou uma nova abordagem: reuniu um grande armamento naval, alegadas três frotas consistindo de 300 navios, e enviou-as para atacar as bases navais muçulmanas no Mediterrâneo Oriental simultaneamente. Uma das frotas, compreendendo 85 navios e 5 000 homens sob um general conhecido das fontes árabes apenas como "ibne Catuna", dirigiu-se à costa egípcia, pois foi do Egito que os abássidas enviavam auxílio à Creta.[5][6] Várias identificações foram propostas pelos estudiosos modernos para "ibne Catuna", mas sem qualquer evidência. Henri Grégoire originalmente sugeriu Sérgio Nicetiata, que provavelmente morreu em 843, e depois o paracemomeno Damião. Outras Sugestões incluem o Fotino e Constantino Contomita.[7]

A frota bizantino chegou diante da cidade em 22 de maio de 853. Naquele tempo, a guarnição estava ausente, participando duma festa organizada pelo governador Ambaçá ibne Ixaque Aldabi em Fostate. Os habitantes de Damieta fugiram da cidade indefesa, que foi saqueada por dois dias e então incendiada pelos bizantinos. Os bizantinos levaram cerca de 600 mulheres árabes e coptas, bem como grandes quantidades de armamentos e outros suprimentos que seriam enviados à Creta.[8] Eles então velejaram para leste e atacaram a fortaleza de Ushtun. Após tomá-la, eles incendiaram muitas artilharias e armas de cerco que encontraram e retornaram para casa.[9]

Impacto[editar | editar código-fonte]

Embora "uma das mais brilhantes operações militares" (Christides) realizada pelo exército bizantino, o raide é completamente ignorado nas fontes bizantinos, cujos relatos são deformados pela atitude hostil ao imperador Miguel III, o Ébrio (r. 842–867) e seu reinado. Consequentemente, o raide é conhecido apenas através de dois relatos árabes, por Tabari e Iacubi.[5][10] Segundo os cronistas árabes, a percepção da vulnerabilidade do Egito pelo mar levou, após longa fase de negligência, ao fortalecimento urgente das defesas marítimas do Egito: navios foram construídos, novos tripulantes foram recrutados, e Damieta e outros sítios costeiros foram fortificados. Isso marcou o renascimento da marinha egípcia, que alcançou seu pico mais adiante sob o Califado Fatímida.[9][11]

Referências

  1. Pryor 2006, p. 46–49.
  2. Whittow 1996, p. 151–152.
  3. Bury 1912, p. 289–292.
  4. Pryor 2006, p. 46–47.
  5. a b Bury 1912, p. 292.
  6. Pryor 2006, p. 47.
  7. Lilie 2013, Ibn Qaṭūnā (#2651).
  8. Bury 1912, p. 292–293.
  9. a b Bury 1912, p. 293.
  10. Christides 1984, p. 164.
  11. Christides 1984, p. 52ff.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Bury, John Bagnell (1912). A History of the Eastern Roman Empire from the Fall of Irene to the Accession of Basil I (A.D. 802–867) (em inglês). Londres: Macmillan and Company 
  • Christides, Vassilios (1984). «The Conquest of Crete by the Arabs (ca. 824): A Turning Point in the Struggle between Byzantium and Islam». Atenas: Academia de Atenas 
  • Lilie, Ralph-Johannes; Ludwig, Claudia; Zielke, Beate et al. (2013). Prosopographie der mittelbyzantinischen Zeit Online. Berlim-Brandenburgische Akademie der Wissenschaften: Nach Vorarbeiten F. Winkelmanns erstellt 
  • Pryor, John H.; Elizabeth M. Jeffreys (2006). The Age of the ΔΡΟΜΩΝ: The Byzantine Navy ca. 500–1204 (em inglês). Leiden e Boston: Brill Academic Publishers. ISBN 978-90-04-15197-0 
  • Whittow, Mark (1996). The Making of Byzantium, 600–1025 (em inglês). Berkeley e Los Angeles: University of California Press. ISBN 0-520-20496-4