Mosteiro de Santa Cruz – Wikipédia, a enciclopédia livre

Mosteiro de Santa Cruz
Mosteiro de Santa Cruz
Nomes alternativos Igreja de Santa Cruz
Tipo mosteiro
Estilo dominante românico e manuelino
Arquiteto Mestre Roberto
Início da construção 1132
Fim da construção 1223
Função inicial Mosteiro da Ordem de Santo Agostinho
Proprietário atual Estado Português
Função atual religiosa (igreja paroquial e panteão nacional)
Religião católica
Diocese Coimbra
Património Nacional
Classificação  Monumento Nacional
Ano 1910
DGPC 69813
SIPA 4234
Geografia
País Portugal
Cidade Coimbra
Coordenadas 40° 12' 39.4" N 8° 25' 43.9" O
Mapa
Localização em mapa dinâmico
Planta do mosteiro
1 Nave da igreja; 2 Capela-mor; 3 Túmulo de D. Afonso Henriques; 4 Túmulo de D. Sancho I; 5 Sacristia; 6 Capela do tesouro; 7 Lavabo; 8 Sala do Capítulo; 9 Capela de S. Teotónio; 10 Capela de Jesus; 11 Capela de S. Miguel; 12 Claustro; 13 Antigo refeitório; 14 Café Santa Cruz; 15 Câmara Municipal de Coimbra

O Mosteiro de Santa Cruz localiza-se em Coimbra, Portugal.[1] Foi fundado em 1131 pela Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, com o apoio de D. Afonso Henriques e de D. Sancho I, que nele se encontram sepultados. Está classificado como Monumento Nacional desde 1910.[2]

A qualidade das intervenções artísticas no mosteiro, particularmente na época manuelina, fazem deste um dos principais monumentos históricos e artísticos do país.[carece de fontes?]

História[editar | editar código-fonte]

O mosteiro de Santa Cruz de Coimbra foi fundado em 1131 pelo Arcediago D. Telo, D. João Peculiar e S. Teotónio (primeiro prior do mosteiro e primeiro santo de Portugal) e outros religiosos, que adotaram a regra dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. A instituição recebeu muitos privilégios papais e doações dos primeiros reis de Portugal, tornando-se a mais importante casa monástica do reino.

O primitivo edifício do mosteiro e igreja de Santa Cruz foi erguido entre 1132 e 1223, com projeto de Mestre Roberto, conceituado artista do românico.

A sua escola foi uma das melhores instituições de ensino do Portugal medieval, notabilizando-se por sua vasta biblioteca (hoje na Biblioteca Pública Municipal do Porto) e seu ativo "scriptorium". À época de D. Afonso Henriques, esse "scriptorium" foi utilizado como instrumento de consolidação do poder real.

Ainda na Idade Média, o mais famoso estudante de Santa Cruz foi Fernando Martins de Bulhões, o futuro Santo António de Lisboa. Em 1220, o religioso aí assistiu à chegada dos restos mortais de cinco frades franciscanos martirizados no Marrocos (os Mártires de Marrocos), tendo então decidido fazer-se missionário e partir de Portugal.

A partir de 1507, o rei Manuel I ordenou uma extensa reforma, reconstruindo e redecorando o mosteiro e a sua igreja. Nessa época foram transladados os restos mortais de D. Afonso Henriques e de D. Sancho I dos seus primitivos sarcófagos para novos túmulos decorados em estilo manuelino.

Entre 1530 e 1577 funcionou uma oficina de tipografia no claustro. É possível que o poeta Luís de Camões tenha estudado em Santa Cruz, uma vez que um parente seu, D. Bento de Camões, foi prior do mosteiro à época, e que há evidências, em sua poesia, de uma estadia em Coimbra, santa.

O arco triunfal data do século XIX.

Características[editar | editar código-fonte]

Embora quase nada mais reste da fase românica do conjunto, a fachada da igreja era semelhante à da Sé Velha de Coimbra, com uma torre central avançada, dotada de um portal encimado por um janelão. Esses aspectos são perceptíveis ainda hoje, por trás da decoração posterior.

Com a campanha de D. Manuel I, entre 1507 e 1513 a fachada ganhou duas torres laterais com pináculos e uma platibanda decorativa. Mais tarde, entre 1522 e 1526, foi erguido o portal cenográfico manuelino, hoje infelizmente muito erodido, obra de Diogo de Castilho e do francês Nicolau de Chanterenne.

No interior do templo, a nave única e a capela-mor foram recobertas por uma abóbada manuelina de grande qualidade, em obras dirigidas por Diogo Boitaca e o coimbrão Marcos Pires. Cerca de 1530 foi adicionado sobre a entrada um coro-alto por Diogo de Castilho, sendo a parte escultórica de João de Ruão; nesse espaço foi instalado um magnífico cadeiral de madeira esculpida e dourada (ver: Cadeiral do Mosteiro de Santa Cruz). Este cadeiral é um dos raros da época manuelina ainda existentes no país e deve-se, em primeiro lugar, ao entalhador flamengo Machim, que o instalou na capela-mor (1513); a obra seria prosseguida por João Alemão (1518) e, mais tarde (1531), pelo escultor francês Francisco Lorete, que o ampliou e deslocou para o coro-alto.[3] A nave contém ainda um belo púlpito renascentista, obra de Nicolau de Chanterenne, datado de 1521.

No século XVIII instalou-se um novo órgão, em estilo barroco, obra do espanhol Manuel Gomes Herrera (ou Gómez Herrera, autor do instrumento musical) e Francisco Lorete (caixa em madeira entalhada), e as paredes da nave receberam um grupo de azulejos brancos-azuis lisboetas que narram passagens bíblicas.

Na capela-mor encontram-se os túmulos dos dois primeiros reis de Portugal. Os túmulos originais encontravam-se no nártex da igreja, junto à torre central da fachada românica, mas D. Manuel I não achou condignas as antigas arcas tumulares e ordenou a realização de novas. Estas ficaram concluídas por volta de 1520. Nicolau Chanterene realizou as esculturas jacentes representando os reis, enquanto outras esculturas e elementos decorativos são habitualmente atribuídos a um hipotético Mestre dos Túmulos Reais[4] e outros possíveis ajudantes (Diogo Francisco, Pêro Anes, Diogo Fernandes, João Fernandes[desambiguação necessária] e outros). Ambos os túmulos estão decorados com muitas estátuas e elementos gótico-renascentistas, além dos símbolos de D. Manuel I, a esfera armilar e a cruz da Ordem de Cristo.

A sacristia da igreja é um exemplar típico do estilo maneirista, construída entre 1622 a 1624 por Pedro Nunes Tinoco. A sacristia está decorada com azulejos seiscentistas e possui quadros notáveis de dois dos melhores pintores quinhentistas portugueses: Grão Vasco e Cristóvão de Figueiredo.[a]

A sala do capítulo, manuelina, construída por Diogo Boitaca entre 1507 e 1513, possui uma capela maneirista de São Teotónio, datada de cerca de 1588 e de autoria de Tomé Velho. Nessa capela se encontram os restos do fundador do mosteiro, canonizado já no século XII. Junto ao capítulo está o chamado "Claustro do Silêncio", obra de Marcos Pires construída entre 1517 e 1522, tendo abundante decoração manuelina. A fonte no centro é do século XVII.

Presentemente sem entrada pelo claustro o refeitório, com entrada pela actual Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes foi construído sob as ordens de Frei Brás de Braga por Diogo de Castilho. Nele se encontrava a Última Ceia do escultor Hodart, presentemente no Museu Nacional de Machado de Castro.

Nas traseiras do mosteiro encontra-se o chamado Claustro da Manga, que fez parte do complexo mas hoje encontra-se isolado. Desse claustro só se preservou a fonte renascentista no centro, que consiste de um pequeno templo central com um lanternim, assente sobre oito colunas conectado a quatro pequenas capelas de tipo guarita com espelhos d'água ao redor. O acesso ao templo central se faz por quatro pequenas escadarias. Todo o conjunto, construído na década de 1530 pelo francês João de Ruão, é de grande valor simbólico e artístico, sendo considerada a primeira arquitectónica inteiramente renascentista feita em Portugal.

Panteão Nacional[editar | editar código-fonte]

O estatuto de Panteão Nacional, sem prejuízo da prática do culto religioso, foi reconhecido ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em Agosto de 2003,[5] pela presença tumular dos dois primeiros reis de Portugal, D. Afonso Henriques e D. Sancho I. Esse estatuto é repartido desde 2016[6] com o Mosteiro dos Jerónimos (Lisboa) e com o Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha) mantendo-se a Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, como o Panteão Nacional original desde 1836.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. Outras pinturas originalmente feitas para o mosteiro podem ser vistas no Museu Nacional de Machado de Castro em Coimbra.

Referências

  1. Mosteiro de Santa Cruz na base de dados SIPA da Direção-Geral do Património Cultural
  2. Mosteiro de Santa Cruz, compreendendo os túmulos de D. Afonso Henriques e de D. Sancho I na base de dados Ulysses da Direção-Geral do Património Cultural
  3. Serrão, Vítor – História da Arte em Portugal: o renascimento e o maneirismo. Lisboa: Editorial Presença, 2001, p. 133, 134.
  4. Pereira, Fernando António Baptista – "Mestre dos Túmulos Reais". In: Pereira, José Fernandes – Dicionário de Escultura Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, SA, 2005, p. 596, 597.
  5. «Lei n.º 35/2003, de 22 de agosto, primeira alteração à Lei n.º 28/2000» (PDF). 22 de agosto de 2003. Consultado em 26 de maio de 2016 
  6. «Decreto da Assembleia da República 22/XIII que procede à segunda alteração à Lei n.º 28/2000.». www.parlamento.pt. Assembleia da República. 6 de maio de 2016. Consultado em 26 de maio de 2016. Arquivado do original em 14 de maio de 2016 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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