São Félix (Marabá) – Wikipédia, a enciclopédia livre
Nome local | São Félix |
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São Félix é um núcleo urbano do município de Marabá, sendo um dos seis componentes do distrito-sede marabaense. No ano de 2000, a prefeitura de Marabá estimou sua população em 8367 habitantes.[1] É o quarto mais populoso núcleo urbano de Marabá, e há mais de uma década, é o que registra os maiores índices de crescimento populacional em Marabá.[2]
É uma das áreas de ocupação mais antiga do município, tendo esta iniciada na década de 1930. No plano diretor de 2006 foi convertido em um distrito,[3] porém, na revisão do plano diretor de 2018, voltou a figurar somente como núcleo.[4][2]
Histórico[editar | editar código-fonte]
A história do São Félix relaciona-se em sua fundação com fatores históricos e geoeconômicos marcantes para o município de Marabá. O primeiro são as enchentes que anualmente atingem Marabá, deixando grande parte da Velha Marabá (centro histórico do município) alagada. O segundo fator foram os ciclos econômicos das gemas (diamantes e cristais) e do extrativismo vegetal (castanha e caucho), e a posição geográfica estratégica que o núcleo dispunha em relação aos depósitos minerais e vegetais.[5]
Vilarejo de garimpeiros: 1937-1950[editar | editar código-fonte]
A descoberta dos depósitos de gemas de diamante e cristal de rocha no leito do rio Tocantins e nos lagos do Paleo-Canal do Tocantins nas proximidades de Marabá, em setembro de 1937,[6] fez ocorrer uma intensa imigração de garimpeiros e comerciantes para a região.[7]
Embora próximos da cidade de Marabá (à época restrita somente a Velha Marabá e uma pequena fração do bairro do Amapá), os depósitos minerais exigiam alguma infraestrutura básica em áreas mais próximas a estes. Desta forma, os garimpeiros e comerciantes de pedras preciosas, montam seus acampamentos próximo aos "pedrais de São Félix" e do "Espírito Santo", onde havia a lavra de tais gemas. Surge então, o povoado de São Félix de Valois, nome dado em homenagem à Félix de Valois, santo padroeiro de Marabá.[7]
A lavra torna os acampamentos dos garimpeiros um centro economicamente dinâmico, concentrado todo tipo de estabelecimentos comerciais e de lazer (bares, restaurantes, bordéis, etc), além de hotéis e outros serviços.[8]
Foi em São Félix, na década de 1940, que surgiu a primeira associação de classe do município de Marabá, a Associação dos Garimpeiros. As pressões da associação obrigaram o governo federal a instalar na localidade a um posto de assistência do Ministério do Trabalho (que depois tornou-se a Fundação de Assistência ao Garimpeiro-FAG), demonstrando assim a elevada influência da vila à época. Neste período surge um vilarejo próximo ao São Félix, a Vila do Espírito Santo, que também concentrava garimpeiros. Ambos possuíam escolas, postos de saúde e postos de negociação mineral.[6][9]
Com a mecanização da lavra, que passou a utilizar bombas para secar os lagos do Paleo-Canal do Tocantins, cujo leito havia muitas gemas, a escala produtiva de diamantes e cristais aumentou substancialmente. A partir de 1940 os garimpos de diamantes passam a utilizar escafandros para prospecção e extração submersa. A extração desenfreada precipitou a exaustão das gemas no Tocantins. Após o fim da 2ª Guerra Mundial, a produção dos garimpos cai, até que nos fins da década de 1950 praticamente inexiste, levando a vila a uma profunda crise.[5][8]
Mesmo com a crise, a vila de São Félix servia como área de abrigo durante as enchentes que atingem a Velha Marabá anualmente.[7]
Da década de 1950 à de 1970[editar | editar código-fonte]
A queda na produção de gemas a partir de 1950 deixou o povoado de São Félix em situação econômica difícil. Muitos dos estabelecimentos comerciais fecharam. Houve um esvaziamento populacional, com grande parte dos antigos moradores mudando-se para a Velha Marabá.[9]
Na década de 1950, São Félix tornou-se uma vila de pescadores e extratores silvícolas, recuperando parte de sua importância econômica. Graças a sua localização, dentro das terras dos povos Gavião, havia grande abundância de recursos vegetais em seu entorno, entretanto a relação entre indígenas e extrativistas era conflituosa.[5]
Já na década de 1960, tanto a vila de São Félix, quanto a vila do Espírito Santo haviam se recuperado economicamente, sendo assim de vital importância para Marabá. Estabeleceu-se um ciclo econômico vinculado aos castanhais dos territórios indígenas.[7] A importante Fundação de Assistência ao Garimpeiro (FAG), porém, encerrou suas atividades.[6]
Década de 1970: a rodovia e o porto da balsa[editar | editar código-fonte]
Em 1969 acontece a maior mudança estrutural do então vilarejo. Neste ano é inaugurada a PA-70 (atual BR-222), que fazia sua travessia de balsas exatamente na vila de São Félix. A rodovia ligava o Porto das Balsas do São Félix ao Porto das Pedras do Tocantins (na margem oposta, o atual bairro da Folha 08), que por sua vez conectava-se por um pequeno trecho rodoviário com a Velha Marabá. Foi o primeiro tronco de ligação do sudeste do Pará com o restante do Brasil.[10]
O sistema de balsas entre os dois pequenos portos que ligava o São Félix à futura área da Nova Marabá deu uma enorme dinâmica comercial e de serviços à vila de São Félix na década de 1970. Em pouco tempo, a vila já superava a população pré-crise dos diamantes em 1947.[10][7]
Expansão: ponte e novos bairros[editar | editar código-fonte]
Em janeiro de 1984 é iniciada a construção da Ponte Mista de Marabá, que viria servir para escoar a produção mineral pela Estrada de Ferro Carajás, além de servir como travessia rodoviária, em substituição a travessia por balsas.[6] Em 28 de fevereiro de 1985 a Ponte Mista é inaugurada, ligando por rodovia pela primeira vez a vila de São Félix e a Nova Marabá, e desta última à Velha Marabá, até então a centralidade da cidade.[8] A construção da Ponte Mista permitiu um maior fluxo de pessoas, mercadorias e serviços os núcleos.[10]
Em 1987 surge a primeira ocupação fora dos limites do que hoje é conhecido como São Félix Pioneiro (ou São Félix I), dando assim início ao atual bairro do São Félix II. Este novo bairro caracteriza-se pela ocupação ao longo da rodovia e pela não vulnerabilidade à enchentes (parte do São Félix Pioneiro é afligido por enchentes). Em 1989 são iniciadas as primeiras ocupações na área do atual bairro São Félix III, também caracterizado por sua ocupação ao logo da rodovia e da grande distância em relação ao rio Tocantins.[10]
Na década de 1990 as ocupações de São Félix I, II, e III são finalmente integradas à grade municipal, sendo reconhecidas como bairros. Ao mesmo tempo, são estabelecidas as primeiras linhas regulares de transporte urbano (ônibus coletivo) ligado os três bairros à Velha Marabá.
A partir do ano 2000 inicia-se a ocupação na área que hoje é conhecida como Novo São Félix, e desde 2006 são organizados os primeiros empreendimentos residências particulares, com destaque neste sentido aos bairros Novo Progresso, Vale do Tocantins, Francolândia e Paris.[11]
Grade urbana[editar | editar código-fonte]
Assim como o núcleo da Cidade Nova, seu povoamento beneficiou-se da topografia, grande porção não vulnerável à enchentes anuais, e pelo parcelamento em quadrícula.[5]
Em 2006, o plano diretor municipal elevou oficialmente a área de São Félix à categoria de distrito, dando a este a definição de "distrito de expansão". Porém, com a reconversão do São Félix em um núcleo (em 2018), na revisão do plano diretor, houve a definição de três áreas de ocupação distintas:[4]
- área em consolidação;
- área de recuperação e qualificação;
- área de expansão.
O núcleo do São Félix não dispõe de uma centralidade bem definida e homogênea, mas sim áreas intercaladas em formação. Em geral considera-se que o centro comercial está no trecho da BR-22 entre os bairros São Félix II e III, irradiando-se timidamente pela avenida Magalhães Barata (inclusive para dentro do bairro Novo Progresso) e para a avenida General Zacarias Assunção. Há um centro da avenida Belém-Brasília, no São Félix Pioneiro, mas ainda mais tímido que os demais.[10]
Área em consolidação: zona mista residencial e comercial[editar | editar código-fonte]
A área em consolidação é composta pelos bairros de São Félix II, São Félix III e Novo Progresso; o ultimo um bairro planejado, inserido nas disposições do antigo programa Minha Casa, Minha Vida.[10]
Área de recuperação e qualificação: periferias[editar | editar código-fonte]
A área periférica do São Félix corresponde aos demais bairros do núcleo, aglomerados nas bordas das áreas em consolidação, caracterizadas como território em processo de recuperação e qualificação. Há uma relativa divisão entre essas áreas, sendo: as mais antigas dispondo de alguns serviços básicos, como é o caso do São Félix Pioneiro,[4] Geladinho[12] ou o Vale do Tocantins (bairro residencial recente do antigo programa Minha Casa, Minha Vida), e; as áreas recentemente povoadas ainda muito carentes de recursos, como é o caso dos bairros Novo São Félix,[4] Norte, Francolândia e Magalhães — este deveria ser um bairro residencial inserido no antigo programa Minha Casa, Minha Vida, mas que foi abandonado pelo governo federal em 2017.
Área de expansão[editar | editar código-fonte]
Por fim, no núcleo São Félix há as áreas de expansão ordenada (loteamentos/condomínios) que prevalecem ao norte do perímetro. Foram oficialmente anexadas a partir do plano diretor de 2006,[3] reforçado em 2018.
Constam nesta categoria os empreendimento particulares (loteamentos e bairros residenciais) Paris e Parque do Araguaia e o condomínio fechado Mirante.
Referências
- ↑ Almeida, José Jonas (2008). A cidade de Marabá sob o impacto dos projetos governamentais. [S.l.]: USP
- ↑ a b Mercês, Simaia. (2009). «Relatório de Avaliação de PDP – Município de Marabá» (PDF). Rede de Avaliação e Capacitação para Implementação de PDP - Pará/Ministério das Cidades
- ↑ a b Câmara Municipal de Marabá (9 de outubro de 2006). «Lei Nº. 17.213 de 09 de outubro de 2006: Institui o Plano Diretor Participativo do Município de Marabá, cria o Conselho Gestor do Plano Diretor e dá outras providências.» (PDF). Secretaria de Estado de Integração Regional, Desenvolvimento Urbano e Metropolitano
- ↑ a b c d Câmara Municipal de Marabá (29 de março de 2018). «Lei Nº. 17.846 de 29 de março de 2018: Dispõe sobre a revisão do Plano Diretor Participativo do Município de Marabá, instituído pela Lei Municipal Nº. 17.213 de 09 de outubro de 2006, e dá outras providências.» (PDF). Prefeitura Municipal de Marabá
- ↑ a b c d Cardoso, Ana Cláudia Duarte.; Lima, José Júlio Ferreira. (2009). «A influência do governo federal sobre cidades na Amazônia: os casos de Marabá e Medicilândia». Periódicos UFPA. Novos Cadernos do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos. 12 (1): 161-192. ISSN 1516-6481
- ↑ a b c d Mattos, Maria Virgínia Barros de. (2018). «História: Do Extrativismo Ao Polo Industrial - O Diamante» 30 ed. Belém: Gráfica Sagrada Família. Revista PZZ: 29
- ↑ a b c d e Velho, Otávio (2009). Frentes de Expansão e Estrutura Agrária:estudo do processo de penetração numa área da Transamazônica. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais
- ↑ a b c Da Silva, Idelma Santiago. (2006). «Migração e Cultura no Sudeste do Pará: Marabá (1968-1988)» (PDF). Goiânia: Universidade Federal de Goiás
- ↑ a b «Marabá: A Fundação da Cidade». Maragusa. Consultado em 27 de fevereiro de 2013. Arquivado do original em 19 de agosto de 2010
- ↑ a b c d e f Moraes, Lindalva Canaan Jorge (2009). «Abastecimento de Água na Cidade de Marabá- Pará» (PDF). Belém: Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia / Núcleo de Meio Ambiente (PPGEDAM/NUMA/UFPA)
- ↑ «Beneficiários são convidados para assinar contratos de casas populares». Jus Brasil[ligação inativa]
- ↑ Galvão, Francisca de Calvares (2002). Os impactos das atividades de lazer no bairro São Félix: um estudo sobre o povoado Geladinho. Marabá: Universidade Federal do Pará