Rudolf Höß – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Se procura o deputado e líder do NSDAP, veja Rudolf Hess.
Rudolf Höß
Rudolf Höß
Höss em 1944.
Nascimento 25 de novembro de 1900
Baden-Baden, Império Alemão
Morte 16 de abril de 1947 (46 anos)
Oświęcim, Polônia
Nacionalidade alemão
Cônjuge Hedwig Hensel (1929-1947)
Filho(a)(s) 5
Serviço militar
País Alemanha Nazista Alemanha Nazista
Serviço Schutzstaffel
Anos de serviço 1934–1945
Patente SS-Obersturmbannführer
Unidades SS-Totenkopfverbände
Comando Campo de concentração de Auschwitz

Rudolf Franz Ferdinand Höss (ou Höß, Hoeß e Hoess; Baden-Baden, 25 de novembro de 1901Oświęcim, 16 de abril de 1947) foi um oficial alemão da SS nazista. Ele serviu, por quase dois anos, como comandante do campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial. Ele foi um dos responsáveis por testar, e depois implementar, vários métodos de matança para executar o plano de Adolf Hitler para exterminar a população judaica na Europa ocupada pela Alemanha Nazista, em um projeto denominado de "a Solução final".[1]

Höss foi posteriormente acusado e condenado de perpetrar diversos crimes contra a humanidade. Entre suas atrocidades mais conhecidas estão os testes, que ele supervisionou, da introdução do pesticida Zyklon B, que continha cianeto de hidrogênio, para acelerar o processo de matança de judeus no Holocausto. Em 1944, mais de 2 mil pessoas morreram por hora no campo de concentração de Auschwitz. Sob a supervisão de Höss, foi criado um dos maiores sistemas de aniquilação sistemática de seres humanos da história.[2]

Juventude e Primeira Guerra Mundial[editar | editar código-fonte]

Höß nasceu na cidade alemã de Baden-Baden, de rigorosa família católica.[3] A despeito dos anseios paternos de que se tornasse padre, Rudolf se uniu ao corpo voluntariado do exército alemão durante a Primeira Grande Guerra em 1915, alistando-se pouco após a morte de seu pai. Höß foi transferido para a Turquia, onde ascendeu ao posto de Feldwebel (sargento) e recebeu a Cruz de Ferro de primeira e segunda classe.

Após o fim da guerra, Höß tornou-se combatente na Freikorps Roßbach, na Alta Silésia (Oberschlesien), no Báltico e no vale do Ruhr, para lutar contra a expansão do comunismo.[4] Juntou-se ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) em 1922, e foi sentenciado a 10 anos de reclusão em 1923 após seu envolvimento no assassinato de Walther Kadow, o suposto traidor do mártir proto-nazi Albert Leo Schlageter, vindo a cumprir pequena parcela da pena na Penitenciária de Brandemburgo. No entanto, seu cúmplice Martin Bormann recebeu apenas 1 ano. Höß foi libertado em 1928 após uma anistia geral, vindo a se juntar ao Völkisch Artamanen-Gelsellschaft em 1929. Em 1929 veio a se casar com Hedwig Hensel, com quem teve 5 filhos.

Partido Nazista e a SS[editar | editar código-fonte]

Instalações de Rudolf Höß em Auschwitz

Desde cedo Höß tornou-se membro do Partido Nazista, envolvendo-se com tal grupo no final de 1920 e detendo o número 3240 como membro desta organização. Depois da ascensão nazista ao poder, Höß é apontado como um SS-Anwärter, mais precisamente em 20 de setembro de 1933. Em abril do ano seguinte, com a permissão do Reichsführer Heinrich Himmler, Höß foi aceito como membro da SS no posto de SS-Mann e designado ao número 193616 da supracitada instituição.

Em meados de 1930, Höß desempenhou diversas funções, ascendendo a diversos postos em campos de concentração e tornou-se membro da SS Totenkopfverbände (Unidade da Caveira) em 1934. Ele iniciou sua carreira nas SS como um simples guarda, sendo mais tarde, em 1935, transferido para o campo de concentração de Dachau, habilitando-se e subscrevendo-se no Blockfürer. Em razão de sua experiência, adquirida por já ter estado 10 anos recluso, teve distinção em suas atividades, sendo posteriormente reconhecido por seus superiores, devido ao senso de responsabilidade. Höß também combateu a ideologia comunista, associando-a aos judeus.[4]

Höss durante seu julgamento por crimes contra a humanidade, em 1947.

Höß foi comissionado ao cargo de SS-Hauptsturmführer (Capitão) e tornou-se ajudante no campo de concentração de Sachsenhausen. Em 1939-1940, depois de aliar-se à Waffen SS, tornou-se comandante em Auschwitz, até ser destituído de seu cargo em 1943. Durante sua presença em Auschwitz, Höß organizou a ala administrativa do processo genocida ou Endlösung der Judenfrage (solução final da questão (ou problema) judaico(a)) e obteve uma prolífera e harmoniosa relação com o médico e antropólogo nazista Josef Mengele, mais conhecido como "Anjo da Morte".

Adolf Eichmann conta em seu livro, que foi designado em 1942 para visitar o campo de concentração de Auschwitz e relatar aos seus superiores como era executado o extermínio dos judeus. Segundo ele os métodos que lá eram aplicados apresentavam-se um tanto quanto incipientes, mas representavam uma terrível amostra de como funcionava o estilo fabril dos crematórios e das câmaras de gás, tal como mostra o seguinte fragmento de sua obra “Prison Memoirs”:

Höß, o Kommandant (Comandante), disse-me que usava ácido sulfúrico em suas execuções. Algodões redondos eram molhados com tal veneno e jogados para dentro das salas onde os judeus estavam reunidos. O veneno era instantaneamente fatal.

Ele queimava os corpos ao ar livre em uma grelha de ferro. Após a execução ele me levou a uma cova rasa onde um grande número de cadáveres acabara de ser carbonizado”.

Após ser substituído como comandante de Auschwitz por Arthur Liebenhenschel em 1 de dezembro de 1943, Höß assumiu o cargo anterior de Liebehenschel, ou seja chefe da Amt I no Amtsgruppe D da SS-Wirtschafts-Verwaltungshauptamt (WVHA), onde ele introduziu o uso do pesticida Zyklon-B, um cianeto super-poderoso, em substituição do monóxido de carbono e do ácido sulfúrico, com o objetivo de executar o genocídio, sendo mais tarde apontado e designado como vice-líder de toda a unidade da WVHA, que tinha como líder o general e supervisor Richard Glücks.

Em 8 de maio de 1944, porém, Höß retornou a Auschwitz, a pedido pessoal de Heinrich Himmler, para cumprir a tão citada Aktion Höß, que consistiu na preparação e execução do mortífero e infausto maquinário em Auschwitz II Birkenau, com o objetivo de assassinar os judeus húngaros. Estima-se que somente nesta ação, sob ordens de Höß, cerca de 430 000 judeus foram mortos em 56 dias.[5]

Captura, julgamento e veredicto[editar | editar código-fonte]

Höß sendo levado ao cadafalso para ser executado, em abril de 1947

Höß foi capturado a 11 de março de 1946 pela polícia militar britânica. Inicialmente ele negou ser o antigo comandante de Auschwitz e afirmou ser "um humilde jardineiro". Segundo Hanns Alexander, Höß pensou em se suicidar com uma capsula de cianeto quando foi preso mas foi impedido de o faze-lo pelos soldados aliados.[6] Durante os Julgamentos de Nuremberg, foi ouvido como testemunha nos julgamentos de Ernst Kaltenbrunner e Oswald Pohl, além da companhia IG Farben, fabricante do gás Zyklon B.[7][8]

Durante seu julgamento em Nurembergue, em 5 de abril de 1946, Höss afirmou:

Eu comandei Auschwitz até 1 de dezembro de 1943 e estimo que um total de 2 500 000 vítimas tenham sido executadas e exterminadas lá por gaseamento ou carbonização, e pelo menos outros meio milhão sucumbiram a fome e doença, totalizando 3 000 000 de mortos. Estes números representam um total de 70% a 80% de todas as pessoas envidas para Auschwitz como prisioneiras, o restante foi selecionado e usado como trabalho escravo nas indústrias do campo de concentração. Entre os executados e carbonizados, estão aproximadamente 20 000 prisioneiros de guerra russos que foram entregues a Auschwitz nos transportes da Wehrmacht por homens e oficiais do exército. O resto incluía pelo menos 100 000 judeus alemães e um grande número de cidadãos (maioria judeus) dos Países Baixos, França, Bélgica, Polônia, Hungria, Checoslováquia, Grécia e outros países. Nós executados cerca de 400 000 judeus húngaros em Auschwitz apenas no verão de 1944.[9]
Patíbulo onde Höess foi executado em Auschwitz

Embora inicialmente tenha se mostrado apático com as revelações a respeito da magnitude do que aconteceu em Auschwitz, Rudolf Höß não se eximiu da responsabilidade por seus crimes. Em suas memórias e conversas que teve com os carcereiros e com os juízes em seu julgamento, ele começou a expressar remorso por seus atos. Quatro dias antes de ser executado, ele confessou para o promotor: "Na solidão de minha cela, eu cheguei ao amargo reconhecimento de que pequei gravemente contra a humanidade. Como comandante de Auschwitz, eu fui responsável por executar os planos cruéis do Terceiro Reich para a destruição humana. Ao fazê-lo, infligi feridas terríveis à humanidade. Causei sofrimento indescritível ao povo polonês em particular. Eu pagarei por isso com minha vida. Que o Senhor Deus me perdoe um dia pelo que fiz."[10]

Em 25 de maio de 1946, Höß foi entregue às autoridades polonesas e para o Supremo Tribunal Nacional. Seu julgamento por lá durou de 11 a 29 de março de 1947. Em 2 de abril, foi sentenciado à morte por enforcamento. A sentença foi executada no dia 16 de abril de 1947, na entrada do que outrora fora o crematório do campo de concentração Auschwitz I. Antes de sua execução, ele retornou ao catolicismo e recebeu os sacramentos finais.[11]

Em sua autobiografia publicada em 1958, Rudolf Höß: Kommandant in Auschwitz, Höß se descreveu como um homem de "grande virtude e obediência militar", tendo "um grande senso de dever".

Síntese de sua carreira na SS[editar | editar código-fonte]

Eis seu progresso como membro da SS:

SS-Mann SS-Sturmmann SS-Unterscharführer SS-Scharführer SS-Oberscharführer SS-Hauptscharführer
1 de Abril de 1934 20 de Abril de 1934 28 de Novembro de 1934 1 de Abril de 1935 1 de Julho 1935 1 de Março de 1936
SS-Untersturmführer SS-Obersturmführer SS-Hauptsturmführer SS-Sturmbannführer SS-Obersturmbannführer
13 de Setembro de 1936 11 de Setembro de 1938 9 de Novembro de 1938 30 de Janeiro de 1941 18 de Julho de 1942

Citações[editar | editar código-fonte]

Galeria[editar | editar código-fonte]

Prêmios Relevantes[editar | editar código-fonte]

  • Cruz de Ferro (Primeira e Segunda Classe)
  • Totenkopfring ou SS-Ehrenring
  • Cruz Báltica (Primeira e Segunda Classe - Freikorps)

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Harding, Thomas (Setembro de 2013). Hanns and Rudolf: The True Story of the German Jew Who Tracked Down and Caught the Kommandant of Auschwitz. [S.l.]: Simon & Schuster. p. 288. ISBN 978-0-434-02236-6. Author's Note to Chapter One. 
  2. Levy, Richard S. (2005). Antisemitism: A Historical Encyclopedia of Prejudice and Persecution. [S.l.]: ABC-CLIO. p. 324. ISBN 1-85109-439-3 
  3. Laurence Rees, Auschwitz. Les nazis et la « Solution finale », Paris, Albin Michel, col. « Le livre de poche », 2005, 475 p., p.31 (ISBN 978-2-253-12096-4)
  4. a b BBC History
  5. Jozef Boszko, Encyclopedia of the Holocaust vol. 2, p. 692
  6. «Hanns und Rudolf». ORF.at (em alemão). 29 de agosto de 2014. Consultado em 24 de julho de 2018 
  7. Nuremberg Trial Proceedings Volume 11. pp. 396–422. Monday, 15 April 1946
  8. Hoess, Rudolph. Commandant of Auschwitz: The Autobiography of Rudolph Hoess. Translated by Constantine FitzGibbon. Ohio: World Publishing, 1959. p. 194
  9. Modern History Sourcebook: Rudolf Hoess, Commandant of Auschwitz: Testimony at Nuremberg, 1946
  10. Hughes, John Jay (25 March 1998). A Mass Murderer Repents: The Case of Rudolf Hoess, Commandant of Auschwitz. Archbishop Gerety Lecture at Seton Hall University. PDF file, direct download.
  11. PAP (16 de abril de 2012). "Kat Hoess nawrócił się w Wadowicach". (em polonês)