Revolução de Saur – Wikipédia, a enciclopédia livre

Revolução de Saur
Parte de Guerra Fria
e Guerra Civil do Afeganistão

Parte externa do palácio presidencial, em Cabul, um dia após a revolução.
Período 27 - 28 de abril de 1978
Local Afeganistão
Resultado
Participantes do conflito
República do Afeganistão Unidades Militares Golpistas
PDPA
Líderes
Mohammed Daoud Khan
Abdul Qadir Nuristani
Mohammad Aslam Watanjar
Abdul Qadir Dagarwal
Nur Mohammad Taraki
Hafizullah Amin
Babrak Karmal

A Revolução de Saur (Persa: انقلاب ثور) foi a tomada do poder político, no Afeganistão, pelos comunistas do Partido Democrático do Povo do Afeganistão (PDPA), em 27 de abril de 1978. Saur é o segundo mês do calendário persa, em dari (o mês em que a revolução ocorreu).[1]

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Em 17 de abril de 1978, um membro proeminente do grupo político Parcham, ligado ao PDPA, Mir Akbar Khyber (ou "Kaibar"), foi morto. Embora o governo emitisse um comunicado lamentando o fato, Nur Mohammad Taraki, do PDPA, afirmou que o próprio governo era responsável pelo assassinato de Khyber, crença partilhada por grande parte da intelectualidade de Cabul. Líderes do PDPA aparentemente temiam que Mohammed Daoud Khan estivesse planejando exterminá-los.

Durante as cerimônias fúnebres de Khyber, um protesto contra o governo ocorreu logo em seguida, e os líderes do PDPA, incluindo Babrak Karmal, foram, em sua maioria, presos. Hafizullah Amin, no entanto, foi colocado em prisão domiciliária, o que lhe deu oportunidade para ordenar uma revolta, que vinha sendo urdida por mais de dois anos.[2] Amin, sem ter a autoridade, instruiu os oficiais do exército da Khalq a derrubar o governo.

A revolução[editar | editar código-fonte]

O regime do presidente Mohammad Daoud Khan, uma república declarada após a derrubada da monarquia, chegou ao fim na madrugada do dia 28 de abril de 1978, quando as unidades militares leais ao Khalq, grupo político ligado ao PDPA invadiram o Palácio Arg, no coração de Cabul. A revolução foi estrategicamente planejado para esta data porque era uma sexta-feira, dia de adoração muçulmana, religião predominante no país, quando a maioria dos militares e funcionários do governo não trabalha. Com a ajuda da força aérea militar do Afeganistão, as tropas insurgentes superaram a resistência da Guarda Presidencial. Daoud e a maioria dos membros de sua família foram mortos.

O dia após a Revolução de Saur em Cabul

Novo governo[editar | editar código-fonte]

O PDPA, dividido entre os grupos Khalq e Parcham, sucedeu ao regime de Daoud, formando um novo governo sob a liderança de Nur Muhammad Taraki. Em Cabul, o gabinete inicial parecia ter sido cuidadosamente construído de modo a atribuir os cargos de maneira alternada, aos Khalqis e aos Parchamis. Assim, Taraki (Khalqi) era o primeiro-ministro, Karmal (Parchami) era o vice-primeiro-ministro, e Hafizullah Amin (Khalqi) era o Ministro das Relações Exteriores.

Uma vez no poder, o partido implementou uma agenda comunista. Proclamou um estado ateísta[3] em um país majoritariamente muçulmano e empreendeu uma reforma agrária mal planejada, que não foi bem recebida pelos afegãos.

Os novos governantes também proibiram a usura,[4] fizeram várias declarações sobre direitos das mulheres, igualdade entre os sexos e introduziram as mulheres na vida política. Parte da população nas cidades, incluindo Cabul, viu a alteração de forma positiva ou ambivalente em relação a essas políticas. No entanto, a natureza secular do governo tornou-se impopular entre os afegãos, em sua maioria muçulmanos tradicionais que não tiveram qualquer participação ou envolvimento na revolução. A oposição tornou-se particularmente pronunciada após a ocupação da União Soviética do país no final de dezembro de 1979. Havia o temor de que o governo pró-soviético estivesse em perigo e pudesse ser derrubado por forças mujahidin. Outra interpretação é a de que a revolução era apenas uma etapa da iminente invasão soviética.

Os Estados Unidos viram na situação uma oportunidade privilegiada para enfraquecer a União Soviética, e o movimento essencialmente sinalizou o fim da Era de Distensão, iniciada pelo ex-secretário de Estado Henry Kissinger. Em 1978, os Estados Unidos começaram então a treinar insurgentes e dirigir transmissões de propaganda para Afeganistão a partir do Paquistão.[5] Em seguida, no início de 1979, os oficiais de serviço diplomático norte-americano começaram a reunir líderes insurgentes estrangeiros para determinar as suas necessidades.[6] De acordo com o então Secretário de Estado dos EUA, Zbigniew Brzezinski, a ajuda da CIA aos insurgentes no Afeganistão foi aprovada em julho de 1979, seis meses antes da invasão soviética.[7] Brzezinski afirmou que a ajuda aos insurgentes, iniciada sob a administração de Jimmy Carter, tinha a intenção de provocar a intervenção soviética e foi significativamente impulsionada sob a administração de Ronald Reagan, que estava empenhado em reverter a influência soviética no Terceiro Mundo. A insurgência, apesar de tecnologicamente muito inferior ao exército vermelho, foi bem sucedida e a derrota da União Soviética enfraqueceu ainda mais o já combalido governo soviético.

Referências

  1. Barnett R. Rubin, The Fragmentation of Afghanistan (Yale University Press, 2002), p. 105 [1]
  2. Barnett R. Rubin, The Fragmentation of Afghanistan (Yale University Press, 2002), p. 104 [2]
  3. «The Soviet-Afghan War:Breaking the Hammer & Sickle» (PDF). Consultado em 13 de agosto de 2010. Arquivado do original (PDF) em 18 de julho de 2006 
  4. Library of Congress Country Studies Afghanistan. Communism, Rebellion, and Soviet Intervention.
  5. Tim Weiner, Blank Check: The Pentagon’s Black Budget (Warner Books, New York, 1990), p. 149.
  6. Conforme telegramas confidenciais do Departamento de Estado, que estavam entre os documentos encontrados na tomada da embaixada dos Estados Unidos em Teerã, em 4 de novembro de 1979, posteriormente publicados sob o título Documents from the Den of Espionage; vol. 29, p. 99.
  7. Vincent Javert, 'Interview with Brzezinski', (Le Nouvel Observateur, Paris, 15–21 Janeiro de 1998), p. 76.

Ver também[editar | editar código-fonte]