Recessão causada pela pandemia de COVID-19 – Wikipédia, a enciclopédia livre

Mapa mostrando taxas de crescimento reais do PIB de cada país em 2020, conforme registrado pelo Fundo Monetário Internacional em 26 de janeiro de 2021. Países em marrom foram os que enfrentaram recessão.

A recessão da COVID-19 é uma grave crise econômica global que causou recessão em alguns países (principalmente nos Estados Unidos) e em outros uma depressão econômica. É a pior crise econômica global desde a Grande Depressão na década de 1930.[1] A crise começou devido a várias restrições governamentais criadas para conter a pandemia de COVID-19 ainda em curso.[2] O primeiro grande sinal de recessão foi o colapso dos mercados durante a queda do mercado de ações de 2020, que começou no final de fevereiro e durou até março.[3][4][5] Mas a queda foi rápida e muitos índices do mercado em todo o mundo se recuperaram. Em setembro de 2020, todas as economias avançadas haviam caído para recessão ou depressão, enquanto todas as economias emergentes estavam em recessão.[6][7][8] A modelagem do Banco Mundial sugere que, em algumas regiões, uma recuperação econômica total não será alcançada antes de 2025 ou mais.[9][10][11][12]

A pandemia fez com que metade da população mundial fosse colocada em lockdown para impedir a disseminação de COVID-19.[13] Isso causou graves repercussões nas economias em todo o mundo,[14] logo após uma desaceleração econômica global em 2019, que viu a estagnação dos mercados de ações e da atividade de consumo em todo o mundo.[15][16]

A recessão tem apresentado aumentos extraordinariamente altos e rápidos no desemprego em muitos países.[17][18] A Organização das Nações Unidas (ONU) previu em abril de 2020 que o desemprego global eliminará 6,7 por cento das horas de trabalho globalmente no segundo trimestre de 2020 - equivalente a 195 milhões de trabalhadores em tempo integral.[19] Em alguns países, espera-se que o desemprego gire em torno de 10%, com as nações mais afetadas pela pandemia de COVID-19 apresentando taxas de desemprego mais altas.[20][21][22] O mundo em desenvolvimento também está sendo afetado por uma queda nas remessas,[23] agravando as crises globais de alimentos.[24]

A recessão viu uma queda no preço do petróleo desencadeada pela guerra de preços do petróleo entre a Rússia e a Arábia Saudita em 2020; o colapso do turismo e da indústria de energia ; e uma queda significativa na atividade de consumo em comparação com a década anterior.[25][26][27]

Contexto[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Impactos da pandemia de COVID-19

Queda do mercado de ações[editar | editar código-fonte]

Imagem em microscópio eletrônico do SARS-CoV-2 (centro, amarelo).[28]

No final de fevereiro de 2020, houve um colapso global contínuo do mercado de ações.[29][30]

A Dow Jones Industrial Average, o Índice S&P 500 e o NASDAQ-100 caíram em uma correção em 27 de fevereiro, durante uma das piores semanas de negociação desde a crise financeira de 2007-2008.[31][32] Os mercados da semana seguinte (2 a 6 de março) tornaram-se extremamente voláteis, com oscilações de 3% ou mais por sessão diária (exceto em 6 de março).[33][34] Em 9 de março, os estoques globais caíram mais de 7%, principalmente em resposta à guerra de preços de petróleo entre a Rússia e a Arábia Saudita. Esse acontecimento ficou conhecido coloquialmente como "segunda-feira negra" e foi a pior queda desde o início da Grande Recessão, em 2008.[35][36]

Depois houve a "quinta-feira negra", dia em que as ações na Europa e na América do Norte caíram mais de 9%. Wall Street teve sua maior queda percentual em um dia desde a segunda-feira negra de 1987 e o FTSE MIB caiu quase 17%, tornando-se o mercado mais atingido na quinta-feira Negra.[37][38][39]

Guerra de preços do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita[editar | editar código-fonte]

Mohammad bin Salman Al Saud e Vladimir Putin em 2015.

A redução na demanda por viagens e a falta de atividade fabril devido ao surto de COVID-19 afetaram significativamente a demanda por petróleo, causando a queda de seu preço.[40] Em meados de fevereiro, a Agência Internacional de Energia previu que o crescimento da demanda por petróleo em 2020 seria o menor desde 2011.[41] A queda na demanda chinesa resultou em uma reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para discutir um possível corte na produção para equilibrar a perda na demanda.[42] O cartel inicialmente fez um acordo provisório para reduzir a produção de petróleo em 1,5 milhão de barris por dia, após uma reunião em 5 de março de 2020 em Viena, que traria os níveis de produção ao nível mais baixo desde a Guerra do Iraque.[43]

Em 8 de março de 2020, a Arábia Saudita anunciou inesperadamente que aumentaria a produção de petróleo bruto e a venderia com desconto (de 6 a 8 dólares por barril) a clientes na Ásia, América do Norte e Europa, após o colapso das negociações, à medida que a Rússia resistisse aos chamados para cortar a produção. Os maiores descontos foram direcionados aos clientes do petróleo russos no noroeste da Europa.[44] Antes do anúncio, o preço do petróleo havia caído mais de 30% desde o início do ano e, após o anúncio da Arábia Saudita, caiu mais 30%, mas depois se recuperou um pouco.[45]

Por país[editar | editar código-fonte]

Brasil[editar | editar código-fonte]

Famílias esperando doação de alimentos durante a crise gerada pela pandemia de COVID-19.

O início da pandemia ocorreu em um momento em que o país ainda se recuperava da recessão de 2015/2016, o que, segundo estimativas, atrasará ainda mais a volta do Produto Interno Bruto (PIB) ao nível pré-crise de 2015. Em maio de 2020, o governo brasileiro previa que a economia do país vai experimentar sua maior queda desde 1900, com uma retração no produto interno bruto (PIB) de 4,7%.[46] No primeiro trimestre de 2020, o PIB era 1,5% menor do que o do primeiro trimestre de 2019 e caiu para os patamares de 2012.[47] Até abril de 2020, pelo menos 600 mil negócios foram à falência e 9 milhões de pessoas foram demitidas.[48]

Segundo a consultoria Capital Economics, o Brasil será um dos países que mais levará tempo para se recuperar da recessão causada pela epidemia, devido ao forte aumento da dívida pública. Segundo o relatório da consultoria, "as repercussões do forte aumento da dívida podem atrasar [a recuperação de] alguns países, incluindo Itália e Brasil, por uma década ou mais".[49]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Zumbrun, Josh (10 de maio de 2020). «Coronavirus Slump Is Worst Since Great Depression. Will It Be as Painful?». Wall Street Journal (em inglês). ISSN 0099-9660. Consultado em 20 de janeiro de 2021 
  2. Devereaux, Abigail. «Unemployment Far Worse in Lockdown States, Data Show – AIER». www.aier.org (em inglês). Consultado em 15 de maio de 2021 
  3. Islam, Faisal (20 de março de 2020). «Coronavirus recession not yet a depression». BBC News. Consultado em 16 de abril de 2020 
  4. Hawkins, John. «How will the coronavirus recession compare with the worst in Australia's history?». The Conversation. Consultado em 16 de abril de 2020 
  5. Stewart, Emily (21 de março de 2020). «The coronavirus recession is already here». Vox. Consultado em 16 de abril de 2020 
  6. «World Economic Outlook Update, June 2020: A Crisis Like No Other, An Uncertain Recovery». IMF (em inglês). Consultado em 11 de setembro de 2020 
  7. «The Great Lockdown: Worst Economic Downturn Since the Great Depression». IMF Blog. Consultado em 16 de abril de 2020 
  8. «COVID-19 to Plunge Global Economy into Worst Recession since World War II». World Bank (em inglês). Consultado em 11 de setembro de 2020 
  9. «The Great Recession Was Bad. The 'Great Lockdown' Is Worse.». BloombergQuint. Consultado em 15 de abril de 2020 
  10. «IMF Says 'Great Lockdown' Worst Recession Since Depression, Far Worse Than Last Crisis». nysscpa.org. Consultado em 15 de abril de 2020 
  11. Winck, Ben (14 de abril de 2020). «IMF economic outlook: 'Great Lockdown' will be worst recession in century». Business Insider. Consultado em 27 de abril de 2020 
  12. Larry Elliott Economics editor. «'Great Lockdown' to rival Great Depression with 3% hit to global economy, says IMF | Business». The Guardian. Consultado em 27 de abril de 2020 
  13. McFall-Johnsen, Juliana Kaplan, Lauren Frias, Morgan (14 de março de 2020). «A third of the global population is on coronavirus lockdown – here's our constantly updated list of countries and restrictions». Business Insider Australia. Consultado em 15 de abril de 2020 
  14. «World Economic Outlook, April 2020 : The Great Lockdown». IMF. Consultado em 15 de abril de 2020 
  15. Elliott, Larry (8 de outubro de 2019). «Nations must unite to halt global economic slowdown, says new IMF head». The Guardian. ISSN 0261-3077. Consultado em 15 de abril de 2020 
  16. Cox, Jeff (21 de novembro de 2019). «The worst of the global economic slowdown may be in the past, Goldman says». CNBC. Consultado em 15 de abril de 2020 
  17. Aratani, Lauren (15 de abril de 2020). «'Designed for us to fail': Floridians upset as unemployment system melts down». The Guardian. ISSN 0261-3077. Consultado em 15 de abril de 2020 
  18. «The coronavirus has destroyed the job market. See which states have been hit the hardest.». NBC News. Consultado em 15 de abril de 2020 
  19. «ILO: COVID-19 causes devastating losses in working hours and employment». 7 de abril de 2020. Consultado em 19 de abril de 2020 
  20. Partington, Richard (14 de abril de 2020). «UK economy could shrink by 35% with 2m job losses, warns OBR». The Guardian. ISSN 0261-3077. Consultado em 15 de abril de 2020 
  21. Sullivan, Kath (13 de abril de 2020). «Unemployment forecast to soar to highest rate in almost 30 years». ABC News. Consultado em 15 de abril de 2020 
  22. Amaro, Silvia (15 de abril de 2020). «Spain's jobless rate is set to surge much more than in countries like Italy». CNBC. Consultado em 15 de abril de 2020 
  23. «Covid stops many migrants sending money home». The Economist. ISSN 0013-0613. Consultado em 23 de abril de 2020 
  24. Picheta, Rob. «Coronavirus pandemic will cause global famines of 'biblical proportions,' UN warns». CNN. Consultado em 13 de julho de 2020 
  25. Yergin, Daniel (7 de abril de 2020). «The Oil Collapse». Foreign Affairs : An American Quarterly Review. ISSN 0015-7120. Consultado em 15 de abril de 2020 
  26. Dan, Avi. «Consumer Attitudes And Behavior Will Change in the Recession, And Persist When It Ends». Forbes. Consultado em 15 de abril de 2020 
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  28. «New Images of Novel Coronavirus SARS-CoV-2 Now Available». NIH: National Institute of Allergy and Infectious Diseases. 13 de fevereiro de 2020. Consultado em 1 de março de 2020. Cópia arquivada em 22 de fevereiro de 2020 – via niaid.nih.gov 
  29. «Washington Post - What Crash of 2020 Means». Washington Post 
  30. «Wall Street and FTSE 100 plunge on worst day since 1987 – as it happened». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  31. Menton, Jessica. «Dow plunges 1,191 points, its biggest one-day point drop, as coronavirus fears escalate». USA TODAY (em inglês) 
  32. «Stock market enters a correction, down 10% from recent peak». Los Angeles Times (em inglês) 
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  34. DeCambre, Mark. «Wild stock-market swings are 'emotionally and intellectually wearing' on Wall Street». MarketWatch (em inglês) 
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  36. «Global stock markets post biggest falls since 2008 financial crisis». The Guardian (em inglês). ISSN 0261-3077 
  37. «Milan bourse closes almost 17% down - English». ANSA.it (em inglês) 
  38. Lopez, Jonathan. «Europe crude, petchems prices extend losses as stocks suffer 'Black Thursday'». Icis (em inglês) 
  39. «Dow Suffers Biggest Point Drop Ever, as Disney and Apple Fall Hard». TheWrap (em inglês) 
  40. «Oil prices fall as coronavirus spreads outside China». AP. 29 de fevereiro de 2020. Consultado em 9 de março de 2020. Cópia arquivada em 8 de março de 2020 
  41. «Coronavirus set to knock oil demand growth to slowest since 2011». Financial Times. 13 de fevereiro de 2020. Consultado em 9 de março de 2020. Cópia arquivada em 14 de fevereiro de 2020 
  42. Kollewe, Julia (4 de fevereiro de 2020). «Opec discusses coronavirus as Chinese oil demand slumps – as it happened». The Guardian. Consultado em 9 de março de 2020. Cópia arquivada em 6 de fevereiro de 2020 
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  47. «Queda de 1,5% do PIB no primeiro trimestre põe economia brasileira ao nível de 2012». Agência do Rádio Mais. 1 de junho de 2020. Consultado em 3 de junho de 2020 
  48. «Mais de 600 mil pequenas empresas fecharam as portas com coronavírus». 9 de abril de 2020. Consultado em 24 de julho de 2020 
  49. Ana Conceição (29 de abril de 2020). «Brasil está entre os que levarão mais tempo para se recuperar, diz consultoria». Valor Econômico. Consultado em 17 de Maio de 2020 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]