Mestre Irineu – Wikipédia, a enciclopédia livre

Mestre Irineu
Nascimento 15 de dezembro de 1892
São Vicente Férrer
Morte 6 de julho de 1971
Rio Branco
Cidadania Brasil
Ocupação seringueiro

Raimundo Irineu Serra (São Vicente Ferrer, 15 de dezembro de 1892Rio Branco, 6 de julho de 1971), mais conhecido como Mestre Irineu[1] ou Mestre Juramidam. No início do século XX Raimundo Irineu Serra foi mais um dos inúmeros migrantes nordestinos a se mudarem para o território amazônico em busca de oportunidades com o ciclo da borracha. Mas foi depois de várias vivências pelo interior da floresta amazônica, trabalhando como soldado na divisa entre Brasil e Peru, que Irineu Serra conheceu por meio de indígenas da região a bebida sagrada ayahuasca. Após este acontecimento, desenvolveu um estudo, que foi dado através da Virgem da Imaculada Conceição, a partir desta bebida e foi fundador da doutrina espiritual do Daime, que possui como sacramento o chá da ayahuasca, cristianizada e rebatizada por ele mesmo, por meio da orientação da Rainha da Floresta (Virgem Maria) como Daime. Sua doutrina traz na essência cânticos e chamados que guiam e dão força na caminhada espiritual durante a comunhão da bebida sacramental na busca do auto-conhecimento e aperfeiçoamento do caráter individual dentro das escalas social, afetiva e espiritual.O culto é predominantemente Cristão, e traz consigo todas as divindades de cunho característico do batalhão da Rainha da Floresta, formado por caboclos protetores e orientadores a qual se inclui a mais forte como os Caboclos do Tucum, sendo esta a linha de trabalho do Mestre Irineu. As divindades máximas desta linha estão centradas em Deus e representadas por Jesus Cristo, Nossa Senhora da Conceição, o Patriarca São José e São João Batista.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Mestre Irineu era filho do ex-escravizado Sancho Martino e Joana Assunção, chegou no ano de 1912 ao estado do Acre, com dezenove anos de idade, afro-brasileiro de alta estatura, integrando o movimento migratório da extração do látex em seringais.[2]

Em 1912 vai para Manaus, no Porto de Xapuri, onde reside por dois anos, indo trabalhar posteriormente nos seringais da Brasiléia durante três anos e, em seguida, em Sena Madureira, onde residiu por mais três anos.

De volta a Rio Branco, foi para a Guarda territorial, até chegar ao posto de Cabo, e em seguida participou e passou no concurso para integrar a Comissão de Limites, entidade do Governo Federal que delimitava as fronteiras entre Acre, Bolívia e Peru, órgão este, comandado pelo Marechal Rondon. E foi o próprio Rondon que nomeou Irineu Tesoureiro da Tropa, um cargo de confiança.

Posteriormente retornou à floresta, de volta ao seringal, conheceu aquele que tornou-se um grande amigo: Antonio Costa.[2]

A doutrina do Daime[editar | editar código-fonte]

A experiência foi uma divulgação divina da Virgem Maria, aparecendo como a Rainha da Floresta. Irineu recebeu a tarefa de fundar uma doutrina espiritual, um sincretismo baseado na consagração da bebida consumida desde milhares anos, no contexto da cultura e simbolismo Cristão, utilizando ao mesmo tempo a sabedoria transcendental Indígena, Brasileira, Africana e Oriental. Fundou um centro comunitário em 1930, onde deu início a criação do culto do Daime. Assim, Mestre Irineu e sua doutrina passaram a sofrer preconceitos e perseguições devido a predominância de afro-descendentes entre seus seguidores e pelo medo que as elites de então possuíam relacionados à movimentos tradicionais de origem afro-indígena como o Daime. [3]

Em 1945, os companheiros do Mestre Irineu tiveram a oportunidade de dispor de um terreno e assim estabelecer uma comunidade, nomeada 'Alto Santo'. Irineu começou a canalizar mensagens da dimensão espiritual, sob forma de simples hinos, o princípio guiando da doutrina. Ficou conhecido ajudando o seu ambiente que era interessado na sua obra espiritual. Desenvolveu-se igualmente como curador espiritual, especialmente nas situações onde os medicamentos eram ineficazes e o sofrimento não levava à nada.

Mestre Império[editar | editar código-fonte]

O culto do Daime desenvolveu-se em redor do Mestre Irineu. Em 1971, quando voltou para a dimensão espiritual, já era conhecido sob o nome 'Mestre Império'. Com a morte de mestre Irineu, alguns de seus discípulos resolveram expandir a doutrina. Como não houve consenso, um grupo de daimistas, entre eles Sebastião Mota de Melo e Francisco Fernando Filho decidiram criar suas próprias igrejas, que se tornaram autônomas em relação ao Alto Santo.[4]

Sebastião Jaccoud, companheiro do Mestre Irineu, relata que "Mestre Irineu, sendo ele Jesus Cristo, veio para reimplantar a Santa Doutrina" e que o Mestre Irineu "corrigiu orações como o Pai Nosso que ele havia ensinado como Jesus Cristo à humanidade, mas que foi alterado pelos diversos grupos religiosos que se proclamaram proprietários da palavra de Deus depois da crucificação."[5] Para alguns adeptos, o Mestre Irineu é tido como sendo o próprio Daime.[6]

Referências

  1. Daniel Scarcello (15 de agosto de 2013). «Moradores contam história e dificuldades do bairro Irineu Serra». G1 Acre. Consultado em 18 de Agosto de 2013 
  2. a b Albuquerque, Maria Betânia B. «Pedagogia da Floresta: Um estudo sobre práticas educativas centradas no culto ao santo daime» (PDF). Universidade do Estado do Pará. Consultado em 18 de agosto de 2013 [ligação inativa]
  3. Martins, Samartony (7 de abril de 2012). «Livro revela detalhes da história do maranhense Irineu Serra». O Imparcial. Consultado em 18 de agosto de 2013. Arquivado do original em 14 de dezembro de 2014 
  4. Araújo, Jussara Rezende (2002). Comunicação Exclusão: A Leitura dos Xamãs. [S.l.]: São Paulo: Arte e Ciência. 188 páginas. ISBN 85-88452-10-3 
  5. «Relato: Sebastião Jaccoud» 
  6. DOS SANTOS, Júlia Otero. «Diferentes contextos, múltiplos objetos: reflexões acerca do pedido de patrimonialização da Ayahuasca» (PDF). (PPGAS DAN-UnB/Brasília: 9 rodapé 11 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]