Plot twist – Wikipédia, a enciclopédia livre

Plot twist (em português brasileiro: reviravolta no enredo[1]) é uma mudança radical na direção esperada ou prevista do enredo de um romance, filme, série de televisão, quadrinho, jogo eletrônico ou outra obra narrativa.[2] É uma prática muito usada para manter o interesse do público na obra, para normalmente surpreendê-los com uma revelação surpresa. Quando acontece perto do fim de uma história, geralmente é conhecido como um final surpresa, uma conclusão inesperada que faz com que o público pare para reavaliar toda a narrativa e os personagens.[3]

Revelar uma reviravolta para leitores ou espectadores com antecedência é comumente considerado um spoiler, uma vez que a maior parte das obras relacionadas a este elemento desenvolvem-se no intuito de alcançar a surpresa.[4]

Mecânicas[editar | editar código-fonte]

Anagnórise[editar | editar código-fonte]

Anagnórise, ou descoberta, é o reconhecimento súbito do protagonista (ou de outro personagem) de sua própria identidade e natureza.[5] Através desta técnica, as informações anteriormente inexplicadas do personagem são reveladas. Um exemplo notável de anagnórise acontece em Édipo Rei.[6] Onde Édipo mata seu pai e se casa com sua mãe na ignorância, aprendendo a verdade apenas no clímax da peça.[6] O primeiro uso deste dispositivo como o final surpresa de um mistério de assassinato foi em "As Três Maçãs", um conto medieval das Mil e Uma Noites, onde o protagonista Jafar ibne Iáia descobre por acaso um item-chave no final da história que revela o culpado por trás do assassinato.[7][8]

Flashback[editar | editar código-fonte]

Flashback ou analepse é a interrupção súbita da sequência cronológica narrativa da história pela interpolação de eventos ocorridos anteriormente.[5] É usado para surpreender o leitor com informações previamente desconhecidas que fornecem a resposta para um determinado mistério, colocando certo personagem em uma visão diferente ou revelando a razão para uma ação anteriormente inexplicável.

Narrador não confiável[editar | editar código-fonte]

Um narrador não confiável distorce o final revelando, quase sempre no final da narrativa, que o mesmo havia manipulado ou inventado a história contada até então, forçando o leitor a questionar suas suposições prévias sobre o texto.[5]

Falso protagonista[editar | editar código-fonte]

Um falso protagonista é um personagem apresentado no início da história como o personagem principal, mas depois descartado, geralmente morto para enfatizar que não retornará. Um exemplo clássico é Marion Crane, de Psicose, que é brutalmente assassinada no início do filme. Outro exemplo é a personagem Casey Becker em Pânico, que apesar de estampar o cartaz e todo o material promocional do filme, é morta nos primeiros quinze minutos.

Peripeteia[editar | editar código-fonte]

Peripeteia é uma inversão súbita da fortuna do protagonista, seja para o bem ou para o mal, que surge a partir das circunstâncias do personagem de maneira natural.[9] Ao contrário da mecânica de deus ex machina, a peripeteia deve ser lógica dentro do quadro da história.

Deus ex machina[editar | editar código-fonte]

Deus ex machina é um termo latino que significa "deus vindo da máquina". Refere-se a um inesperado, artificial ou improvável dispositivo, personagem ou evento introduzido repentinamente em uma obra de ficção para resolver uma determinada situação ou desemaranhar a trama.[10] Nos teatros da Grécia Antiga, o "deus ex machina" ('ἀπὸ μηχανῆς θεός') era o personagem de um deus grego, literalmente trazido ao palco em um guindaste (μηχανῆς-mechanes), logo após a resolução de um problema aparentemente insolúvel pela vontade do deus. Em seu sentido moderno e figurativo, o "deus ex machina" traz o final da narrativa através da resolução inesperada (geralmente de maneira feliz) para o que aparentava ser um problema insuperável. Este mecanismo é usado frequentemente para terminar uma história sombria sobre uma nota mais positiva.

Justiça poética[editar | editar código-fonte]

Justiça poética é um mecanismo literário em que a virtude é recompensada e o vício é punido, de tal forma que a recompensa ou punição tem conexão lógica com o ato.[10] Na literatura moderna, este mecanismo é muitas vezes usado para criar reviravoltas irônicas do destino em que o vilão é pego em seu/sua própria armadilha.

Arma de Chekhov[editar | editar código-fonte]

A arma de Chekhov refere-se a uma situação em que um personagem ou elemento da trama é introduzido no início da narrativa[11] e, muitas vezes, a utilidade do item não é imediatamente aparente até chegar o momento em que este alcança importância fundamental na história. Um mecanismo semelhante a arma de Chekhov é a "planta", o qual prepara determinado elemento para ser repetido inúmeras vezes ao longo da história. Durante a resolução, o verdadeiro significado da planta é revelada. Ambos os mecanismos são usados para criar uma antecipação do que irá acontecer.

Arenque vermelho[editar | editar código-fonte]

Um "arenque vermelho" é uma pista falsa, criada com a intenção de direcionar os investigadores a uma solução incorreta.[12] Este mecanismo geralmente aparece em romances policiais e ficções de mistério. A pista falsa é usada como um tipo de desorientador, um mecanismo destinado a distrair o protagonista e por extensão, o leitor, afastando-o da resposta correta ou das pistas verdadeiras. Um arenque vermelho também pode ser usado como um tipo de falso antecipador.

In medias res[editar | editar código-fonte]

In medias res (latim para "no meio das coisas") é uma técnica literária onde a narrativa começa no meio da história, ao invés do início (ab ovo ou ab initio).[13] Os personagens, cenários e conflitos são frequentemente introduzidos através de uma série de flashbacks ou através de personagens que discorrem entre si sobre eventos passados. Esta técnica cria uma reviravolta quando a causa não explicada anteriormente do incidente é revelada, culminando no clímax.

Narrativa não-linear[editar | editar código-fonte]

Narrativa não-linear é um mecanismo de narração que revela a trama e o personagem em uma ordem não-cronológica.[14] Esta técnica requer a atenção do leitor em tentar organizar a linha do tempo da trama, a fim de compreender a história. Um final surpresa pode ocorrer como resultado de todas as informações reunidas, sendo direcionada até o clímax que coloca os personagens ou os eventos em uma perspectiva diferente.

Cronologia reversa[editar | editar código-fonte]

A cronologia reversa tem como função revelar o enredo em ordem inversa, ou seja, a partir do evento final para chegar no inicial.[15] Ao contrário de histórias cronológicas, onde as causas vão progredindo antes de chegar a um efeito final, as não cronológicas revelam o efeito final antes de explicar e desenvolver as causas que levaram a ela, portanto. A causa inicial seria nada mais do que o final surpresa da trama.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «"Rei da comédia" derrapa em "Tá Rindo do Quê?"». Folha de São Paulo. Consultado em 14 de outubro de 2022. Acontece que o filme tem mais de duas horas e uma reviravolta no enredo que faz com que o drama inicial vire uma espécie de comédia romântica. 
  2. Ralph Stuart Singleton; James A. Conrad; Janna Wong Healy (1 de agosto de 2000). Filmmaker's dictionary. [S.l.]: Lone Eagle Pub. Co. p. 229. ISBN 978-1-58065-022-9. Consultado em 27 de julho de 2013 
  3. Judith Kay; Rosemary Gelshenen (26 de fevereiro de 2001). Discovering Fiction Student's Book 2: A Reader of American Short Stories. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 65. ISBN 978-0-521-00351-3. Consultado em 27 de julho de 2013 
  4. Jonah Lehrer, Spoilers Don’t Spoil Anything, Wired Science Blogs
  5. a b c Chris Baldick (2008). The Oxford Dictionary of Literary Terms. [S.l.]: Oxford University Press. p. 12. ISBN 978-0-19-920827-2. Consultado em 23 de julho de 2013 
  6. a b John MacFarlane, "Aristotle's Definition of Anagnorisis." American Journal of Philology - Volume 121, Number 3 (Whole Number 483), Fall 2000, pp. 367-383.
  7. Pinault, David (1992). Story-Telling Techniques in the Arabian Nights. [S.l.]: Brill Publishers. pp. 95–6. ISBN 90-04-09530-6 
  8. Marzolph, Ulrich (2006). The Arabian Nights Reader. [S.l.]: Wayne State University Press. pp. 241–2. ISBN 0-8143-3259-5 
  9. Michael Payne; Jessica Rae Barbera (31 de março de 2010). A Dictionary of Cultural and Critical Theory. [S.l.]: John Wiley & Sons. p. 689. ISBN 978-1-4443-2346-7. Consultado em 23 de julho de 2013 
  10. a b Joseph Twadell Shipley (1964). Dictionary of World Literature: Criticism, Forms, Techniques. [S.l.]: Taylor & Francis. p. 156. GGKEY:GL0NUL09LL7. Consultado em 23 de julho de 2013 
  11. Gregory Bergman; Josh Lambert (18 de dezembro de 2010). Geektionary: From Anime to Zettabyte, An A to Z Guide to All Things Geek. [S.l.]: Adams Media. p. 201. ISBN 978-1-4405-1188-2. Consultado em 23 de julho de 2013 
  12. Linus Asong (2012). Detective Fiction and the African Scene: From the Whodunit? to the Whydunit?. [S.l.]: African Books Collective. p. 31. ISBN 978-9956-727-02-5. Consultado em 23 de julho de 2013 
  13. Tim Clifford (1 de janeiro de 2013). The Middle School Writing Toolkit: Differentiated Instruction Across the Content Areas. [S.l.]: Maupin House Publishing, Inc. p. 63. ISBN 978-0-929895-75-8. Consultado em 23 de julho de 2013 
  14. Josef Steiff (2011). Sherlock Holmes and Philosophy: The Footprints of a Gigantic Mind. [S.l.]: Open Court. p. 96. ISBN 978-0-8126-9731-5. Consultado em 23 de julho de 2013 
  15. John Edward Philips (2006). Writing African History. [S.l.]: University Rochester Press. p. 507. ISBN 978-1-58046-256-3. Consultado em 23 de julho de 2013