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Pierre Hadot
Pierre Hadot
Pierre Hadot
Nascimento 21 de fevereiro de 1922
Paris
Morte 24 de maio de 2010 (88 anos)
Orsay
Nacionalidade francês
Cônjuge Ilsetraut Hadot
Principais trabalhos A Filosofia como Maneira de Viver
O Véu de Isis
Prémios Medalha de prata do CNRS
Grande prêmio de filosofia
Doutor Honorário da Universidade Laval
Doutor honoris causa da Universidade de Neuchâtel (1985)
Escola/tradição Neoplatonismo, Estoicismo, Eudemonismo
Principais interesses Filosofia e Filologia

Pierre Hadot (Paris, 21 de fevereiro de 1922 – Orsay 24 de abril de 2010) foi um filósofo, historiador e filólogo francês, especialista em Filosofia helenística e Platonismo. Hadot recupera, em sua obra, a ideia da filosofia como um modo de vida.[1] Ele atribui um significado filosófico e não religioso ao termo "exericício espiritual", que consiste em "uma prática pessoal e voluntária, destinada a provocar uma transformação do indivíduo, uma transformação do eu".[2]

Filólogo e filósofo foi diretor da École des hautes études en sciences sociales e professor no Collège de France, onde ocupou a cadeira de História do Pensamento Grego e Romano, consagrando-se professor honorífico.[3] Ele é considerado um dos símbolos da intelectualidade francesa.[4]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascido em 21 de fevereiro de 1921 em Paris, Hadot recebeu uma catequização católica, o que o levou a adotar a vida religiosa, ordenando-se sacerdote. Contudo, por desacordos teóricos e por querer se casar, abandonou a profissão em 1952.[5] O amplo interesse de Hadot pela espiritualidade o levou a se aprofundar em Plotino, e, em apenas um mês de estudos, escreveu uma das obras de maior referência sobre o filósofo neoplatônico. Entretanto, após esse mês de reclusão, ao confrontar-se com o cotidiano atual, ele percebeu que o modo de vida defendido por Plotino não era mais possível.

Além dos estudos sobre a filosofia antiga, Hadot teve diálogos com filósofos contemporâneos. Ele foi um dos primeiros a introduzir o estudo de Wittgenstein na França, introduzindo uma leitura muito própria da filosofia do vienense. Lendo o Tractatus, Hadot constatou que a linguagem não deveria designar objetos ou traduzir pensamentos, mas compreender algo próximo a um tema musical. Isso o auxiliou a apreender melhor os antigos, pois tais filósofos não aspiravam apenas informar conceitos, mas prover exercícios. Hadot também estudou as Investigações Filosóficas, de onde concluiu que as dificuldades da filosofia nascem da confusão dos diferentes jogos de linguagem, que permitem à Filosofia abarcar alguns aspectos de sua história, e em decorrência, compreender a si própria.[6]

Admirado por Michel Foucault, de quem recebeu incentivo para se candidatar à cátedra no Collège de France, Hadot teceu críticas sobre a estética da existência foucaultiana. De acordo com Hadot, Foucault transformou a filosofia antiga em uma ética do prazer que se retém em si mesmo.[7][8] Para Hadot, ao contrário, a terapêutica dos exercícios era destinada a produzir paz da alma, libertar da angústica provocada pelas preocupações da vida e pelo mistério da existência humana. Isso pode ser observado tanto nos estoicos, quanto nos epicuristas e neoplatônicos.[9] Contudo, pela morte precoce de Foucault, Hadot não pôde estabelecer grande discussão com seu admirador, fato pelo qual nomeou seu artigo crítico como Um Diálogo Interrompido com Michel Foucault.[9]

Hadot Faleceu na noite de 24 de abril de 2010.[10]

Filosofia[editar | editar código-fonte]

Hadot postulava que a interpretação das obras filosóficas da antiguidade clássica necessitaria ser feita sob uma modificação de ponto de vista; deveria ser a prática de exercícios espirituais, já que a Filosofia era um modo de vida, e quem a seguisse seria tão filósofo quanto àquele que a escrevera. Assim, quem vivesse de acordo com os princípios dos escritos filosóficos, filósofos também o seriam. A Filosofia na antiguidade clássica não era exclusivamente uma construção teórica, mas um método de desenvolvimento de pessoas a fim de viver e abranger o mundo sob um novo paradigma.[3]

Dessa maneira, Hadot defendeu a Filosofia como modo de vida, e assim o tentou fazer durante sua vida. A filosofia antiga propôs à humanidade uma arte de viver, por outro lado, a filosofia moderna aparece, sobretudo, como a construção de um serviço meramente técnico reservada a peritos.[3]

Obras[editar | editar código-fonte]

Em Português[editar | editar código-fonte]

  • Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga, É Realizações 2014
  • Wittgenstein e os Limites da Linguagem, É Realizações 2014
  • A Filosofia como Maneira de Viver, É Realizações 2016
  • O que é a Filosofia Antiga, Loyola, 1999
  • Elogio da Filosofia Antiga, Loyola
  • Véu de Ísis - Ensaio sobre a história da ideia de natureza, Loyola
  • Plotino ou A Simplicidade do Olhar, É Realizações, 2019
  • Não se Esqueça de Viver - Goethe e a tradição dos exercícios espirituais, É Realizações, 2019

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Evaldo Sampaio, Intuição e Exercícios Espirituais https://revistas.ufpr.br/doispontos/article/view/54616
  • Lucas Alves Nunes, Cesar Augusto Veras, Marcio Bogaz Trevizan, A COMPREENSÃO DE ‘EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS’ EM PIERRE HADOT, SYNESIS - ISSN(E) 1984-6754
  • Cassiana Lopes Stephan, MICHEL FOUCAULT E PIERRE HADOT: UM DIÁLOGO CONTEMPORÂNEO SOBRE A CONCEPÇÃO ESTOICA DO SI MESMO, Universidade Federal do Paraná, 2015
  • Antoni Bosch-Veciana, El moviment lector de Pierre Hadot. De l'antiguitat clàssica a la contemporaneïtat de la vida filosòfica, Prefaci d'Arnold I. Davidson. Barcelona 2013.
  • A. I. Davidson et F. Worms (dir.), Pierre Hadot, l'enseignement des antiques, l'enseignement des modernes, Paris, Rue d'Ulm, 120 p. (contient un entretien inédit avec Pierre Hadot).
  • Thomas Flynn, Philosophy as a Way of Life: Foucault and Hadot, in Philosophy & Social Criticism, vol. 31, (2005).
  • Maël Goarzin et Konstantin Büchler, « Pierre Hadot et la philosophie antique – Entretien avec Philippe Hoffmann »
  • Wayne J. Hankey, « Philosophy as Way of Life for Christians? », in Laval philosophique et théologique, vol. 59, 2) : 193-224.
  • Philippe Hoffmann, « Pierre Hadot (1922-2010) », Annuaire de l'École pratique des hautes études (EPHE), Section des sciences religieuses, 119 | 2012.
  • Véronique Le Ru, Pierre Hadot, Apprendre à lire et à vivre, Reims, Presses universitaires de Reims, 2014.
  • Michel Weber, L’Épreuve de la philosophie. Essai sur les fondements de la praxis philosophique, Louvain-la-Neuve, Les Éditions Chromatika, 2008.

Referências

  1. «Remembering Pierre Hadot - Part I» (em inglês). Harvard University Press 
  2. Pierre Hadot (2001). Le Livre de Poche, ed. La Philosophie comme manière de vivre (em francês). [S.l.: s.n.] ISBN 978-2-253-94348-8 
  3. a b c HADOT, P. Wittgenstein e os limites da linguagem.
  4. «Hadot and Foucault» (em inglês). Foucault 
  5. BNFn
  6. Wittgenstein e os Limites da Linguagem, É Realizações 2014
  7. A Resistência Íntima - Ensaio de uma Filosofia da Proximidade Por Josep Maria Esquirol
  8. Ejercicios espirituales para materialistas: El diálogo (im)posible entre Pierre Hadot y Michel Foucault 15 junho 2017, por Luis Roca Jusmet
  9. a b Hadot, Pierre - Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga, É Realizações 2014 p.280
  10. «Morre Pierre Hadot, Filósofo da sabedoria». UOL 
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