Pará (monitor) – Wikipédia, a enciclopédia livre

Pará
Pará (monitor)
Passagem de Humaitá, efetuada na noite de 19 de fevereiro de 1868 pelos encouraçados Barroso, Bahia e Tamandaré, levando a reboque os monitores Rio Grande, Alagoas e Pará (Angelo Agostini, A Vida Fluminense, 1868).
 Brasil
Operador Armada Imperial Brasileira
Fabricante Arsenal de Marinha da Corte, Rio de Janeiro
Homônimo Província do Grão-Pará
Batimento de quilha 8 de dezembro de 1866
Lançamento 21 de maio de 1867
Comissionamento 15 de junho de 1867
Destino Descartado em 10 de dezembro de 1884
Características gerais
Tipo de navio Monitor
Classe classe Pará
Deslocamento 500 toneladas
Comprimento 39
Boca 8,54
Calado 1,51 – 1,54
Propulsão Duas máquinas a vapor (cada uma com duas caldeias), cada uma com uma hélice de 1,3 metros
- 177 cv (130 kW)
Velocidade 8 nós
Armamento 1 canhão Whitworth de 70 libras
Blindagem Cinturão: 51 – 102 mm
Torre de canhão: 76 – 152 mm
Convés: 12,7 mm
Tripulação 43 homens

O Pará foi um dos monitores fluviais da classe Pará construídos para a Marinha do Brasil durante a Guerra do Paraguai no final da década de 1860. O Pará participou na Passagem de Humaitá em fevereiro de 1868 e forneceu apoio de fogo ao exército pelo resto da guerra. O navio, que carregava um canhão Whitworth de 70 libras na sua torre de canhão, foi destinado à Flotilha do Mato Grosso após a guerra. Em 1884, o Pará foi desarmado e descartado.

Design e descrição[editar | editar código-fonte]

Os monitores fluviais da classe Pará foram projetados para atender à necessidade da Marinha do Brasil em possuir navios blindados, de pequeno calado e capazes de suportar fogo pesado. A configuração do monitor foi a escolhida porque o projeto com torres não apresentava os mesmos problemas de abordagem de navios e fortificações inimigas que os couraçados casamata já em serviço no Brasil apresentavam. A torre de canhão oblonga ficava numa plataforma circular que tinha um pivô central. Era girada por quatro homens através de um sistema de engrenagens; eram necessários 2,25 minutos para uma rotação completa de 360 graus. Um rostro de bronze também foi instalado nesses navios. O casco foi revestido com metal Muntz para reduzir a bioincrustação.[1]

A sua construção, assim como a dos outros da sua classe, foi inspirada nos estudos e experiências de combates da Guerra Civil Americana e da própria guerra do Paraguai, além de ser considerado uma inovação em sua época. Apenas britânicos, franceses e norte-americanos possuíam tais embarcações.[2] Os navios mediam 39 metros de comprimento, com uma boca de 8,54 metros. Eles tinham um calado de entre 1,51 e 1,54 metros e deslocavam 500 toneladas.[3] Com apenas 0,3 metros de borda livre tiveram que ser rebocados entre o Rio de Janeiro e a sua área de operação.[1] A sua tripulação era composta por 43 oficiais e homens.[3]

Propulsão[editar | editar código-fonte]

Os navios da classe Pará tinham duas máquinas a vapor de ação direta, cada uma dirigindo uma hélice de 1,3 metros. Os seus motores eram movidos por duas caldeiras tubulares a uma pressão de 59 psi. Os motores produziram um total de 180 ihp que deu aos monitores uma velocidade máxima de 8 nós em águas calmas. Os navios carregavam carvão suficiente para um dia.[4]

Armamento[editar | editar código-fonte]

O Pará carregava um canhão Whitworth de 70 libras na sua torre de canhão. O canhão de 70 libras tinha uma elevação máxima de 15 graus e tinha um alcance máximo de 5540 metros.[5] A Whitworth de 70 libras pesava 3892 kg e disparava um projéctil de 140 milímetros que pesava 36,7 kg.[6] Uma característica incomum é que a estrutura de ferro, criada no Brasil, foi projetada para girar verticalmente com o cano do canhão; isso foi feito de modo a minimizar o tamanho da porta do canhão através da qual projecteis do inimigo poderiam entrar.[7]

Armadura[editar | editar código-fonte]

O casco dos navios da classe Pará era feito de três camadas de madeira que se alternavam na orientação. Tinham uma espessura de 457 milímetros e eram cobertas com uma camada de madeira de peroba-comum de 102 milímetros. Os navios tinham um cinturão de linha de água completo de ferro forjado, com uma altura de 0,91 metros; ele tinha uma espessura máxima de 102 milímetros a meio da embarcação, diminuindo para 76 milímetros e 51 milímetros nas extremidades do navio. O convés curvo foi blindado com ferro forjado de 12,7 milímetros.[1]

A torre do canhão tinha a forma de um retângulo com cantos arredondados. Foi construído de forma muito semelhante ao casco, mas a frente da torre era protegida por uma armadura de 152 milímetros, os lados em 102 milímetros e a parte traseira em 76 milímetros. O seu teto e as partes expostas da plataforma sobre a qual repousava eram protegidos por 12,7 milímetros de armadura. A casa do piloto blindada foi posicionada à frente da torre.[1]

Serviço[editar | editar código-fonte]

Passagem de Humaitá: momento em que o couraçado Bahia transpunha as amarras, seguido pelo terceiro par, o Tamandaré e Pará (aquarela do Almirante Trajano Augusto de Carvalho).

O batimento de quilha do Pará deu-se no Arsenal de Marinha da Corte no Rio de Janeiro, no dia 8 de dezembro de 1866, durante a Guerra do Paraguai, que viu a Argentina e o Brasil aliarem-se contra o Paraguai. O navio foi lançado no dia 21 de maio de 1867 e concluído em 15 de junho de 1867. Ele foi rebocado para o Río da Prata no dia 20 de junho de 1867 e subiu o rio Paraná através dos seus próprios meios, embora a sua passagem mais a norte tenha sido bloqueada pelas fortificações paraguaias em Humaitá. No dia 19 de fevereiro de 1868, seis couraçados brasileiros, incluindo o Pará, passaram por Humaitá à noite. O Pará e os seus dois navios irmãos, os monitores Alagoas e Rio Grande, foram amarrados aos couraçados maiores para o caso de algum motor deles ficar inoperacional pelos canhões paraguaios. O encouraçado Barroso liderou com o Rio Grande, seguido pelo Bahia com o Alagoas e Tamandaré com o Pará. O monitor teve que ser encalhado após passar pela fortaleza para evitar que se afundasse.[8]

O Pará foi reparado no dia 27 de fevereiro, quando se juntou a um esquadra naval enviada para capturar a cidade de Laureles. No dia 15 de outubro bombardeou o Forte de Angostura na companhia do Brasil, Silvado, Rio Grande, Alagoas e Ceará. Em 17 de maio de 1869, o Pará juntou-se a um esquadrão de bloqueio nos rios Jejuy e Araguaia. Depois da guerra, foi designado para a recém-formada Flotilha do Mato Grosso. Em 10 de dezembro de 1884, foi desarmado e descartada em Ladário.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d Gratz 1999, p. 153.
  2. Martini 2018, p. 111.
  3. a b Gratz 1999, p. 154.
  4. Gratz 1999, pp. 154-156.
  5. Gratz 1999, pp. 153-154.
  6. Holley 1865, pp. 34.
  7. Gratz 1999, p. 155.
  8. Gratz 1999, pp. 149-150.
  9. Gratz 1999, p. 157.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]