Palazzo De Torres-Lancellotti – Wikipédia, a enciclopédia livre

Fachada do palácio de frente para a Piazza Navona.

Palazzo De Torres-Lancellotti, conhecido também como Palazzo De Torres e Palazzo Massimo-Lancellotti, é um palácio localizado no lado sul da Piazza Navona, no rione Parione de Roma. Suas outras fachadas estão de frente para a Via della Cuccagna, ao lado do Palazzo Braschi, na Via della Posta Vecchia, no Vicolo della Cuccagna e na Piazza de' Massimo.

Família De Torres[editar | editar código-fonte]

Os De Torres foram uma família convertida famosa por sua preciosa coleção de antigas cartas náuticas. Um dos membros foi intérprete de Cristóvão Colombo em sua primeira viagem às Américas. Ele colocou a família sob a proteção de Hernandez de Córdoba, um grande comerciante de carne de Málaga obcecado por construir casas. Nascido em Portugal com o nome de Yosef ben HaLevi HaIvri (יוסף בן הלוי העברי), converteu-se ao catolicismo e morador de Málaga. Depois de morrer na América, foi acusado de vilipêndio e absolvido, o que permitiu que sua família recebesse, em 1508, o tesouro à que tinha direito. Além de falar várias línguas, possuía cartas náuticas que indicavam a rota marítima para o ocidente.

Brasão da família Torres.

O construtor do edifício foi o protonotário apostólico Luís (Ludovico I) de Torres (Málaga, 1495 – Roma, 13 de agosto de 1553). Em 1513, ele mudou-se de Málaga para a Itália juntamente com o imperador Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico e encomendou a construção. Em 19 de dezembro de 1548, ele foi eleito arcebispo de Salerno e deixou o palácio para seus sobrinhos Fernando e Luís Fernando[1]. Ao falecer, ele foi sepultado na igreja de Santa Caterina della Rosa e mais tarde seu corpo foi levado para Málaga. No salão de baile ainda se pode admirar uma porta afrescada com um grupo de pessoas viajando no lombo de burros. Acredita-se que esta seria a porta da frente do apartamento no qual o primeiro Luís viveu durante as obras de construção, o piso nobre de um edifício anterior que tinha uma torre contígua, chamada "della vedova" ("da viúva"), possivelmente do século IV e que servia como casa dos guardas das obras romanas vizinhas, o Odeão e o Estádio de Domiciano. Por conta disto, o afresco pode ser datado em 1548. Luís Fernando de Torres (Ludovico II) tornou-se príncipe dos Sanguini por matrimônio e se mudou para a o palácio deles.

A família, que gozava das graças de Carlos V, conseguiu, nos anos seguintes (1575), o marquesado de Pizzoli, no condado de L'Aquila[2] estabelecendo lá sua residência definitiva no mesmo palácio romano, graças à influência de vários altos membros do clero católico, entre eles os cardeais Ludovico II e Cosimo.

O palácio passou por herança para a família Lancellotti no século XVII, que foram sucedidos pelos Massimo-Lancellotti no século XIX, os atuais proprietários. O principal palácio da família é o Palazzo Lancellotti, na Via dei Coronari[3].

Palácio[editar | editar código-fonte]

Detalhe da decoração interna atribuído a Agostino Tassi.

A construção do palácio teve início nas primeiras décadas do século XVI, mas passou inúmeros problemas e só foi terminada com a chegada do arquiteto napolitano Pirro Ligorio[a]. Ele foi construído com base em algumas técnicas de estilo andaluz e mourisco — exemplos ainda existem na cidade de Málaga — que determinam a construção de uma "torre coletora de ventos" ou "torre de ventos" que permitem que, através de um sistema de túneis e canaletas, permitem que, no verão, se crie uma corrente de ar nos dois pátios descendente no verão e ascendente no inverno. No lado sul do palácio, num local conhecido no passado como uma área in pede Agonis[b], edifícios foram incorporados, entre os quais a casa de uma família chamada Muti[7], na qual viveu, no piso nobre, o Luís de Torres (Ludovico I) durante as obras. No interior, uma inscrição na porta deste piso testemunha a conclusão das obras em 1553.

Ao contrário dos demais palácios da Piazza Navona, que tinham suas fachadas principais de frente para ela, o Palazzo De Torres originalmente tinha sua fachada principal na Via della Cuccagna. De arquitetura tardo-renascentista, o edifício tem uma planta irregular disposta à volta de dois pátios internos e uma fachada disposta em quatro pisos com janelas emolduradas e encimada por um beiral. Na fachada na Piazza Navona está um portal arqueado de silhares radiais, um motivo decorativo repetido nas esquinas. No piso nobre se abrem janelas emolduradas e nos dois outros pisos estão cornijas mais simples. Coroa o edifício um beiral ornado com cabeças de leão, rosas e torres, emblemas da família Torres.

Decoração[editar | editar código-fonte]

Vista do palácio à partir da Piazza Navona. À esquerda, a igreja de Nostra Signora del Sacro Cuore, antiga San Giacomo degli Spagnoli.

No piso nobre ainda se conservam importantes afrescos, iniciados já na primeira fase da construção e levadas adiante pelos sucessores do arcebispo. A família teve um papel importante em Roma durante a Contrarreforma, o que se revela no estilo antagônico do próprio edifício e do seu interior.

A decoração é composta por refinados frisos e abóbadas grotescas com temas clássicos ou bíblicos. A data inscrita numa faixa pintada num friso afrescado na sala nordeste do piso nobre na esquina da Piazza Navona) é 1625, o que permite inferir que a obra foi encomendada pelo príncipe Lancellotti para agradar sua mulher, que recebeu palácio como dote, ao pintor Agostino Tassi. A decoração do grande salão de baile, de pé-direito duplo, com cenas da Batalha de Lepanto (1571), foi encomendada pelo monsenhor Luís de Torres (Ludovico I) e é obra de pintores romanos de nome desconhecido. O teto, em refinados caixotões de madeira decorados com brasão da família, é do século XVI.

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. A atribuição do projeto arquitetônico do Palazzo Torres-Lancellotti à Pirro Ligorio foi sugerida a partir dos primeiros anos da década de 1650 com a publicação de uma gravura de Pietro Ferrerio. Somente através de um exame estilístico é possível confirmar a autoria do artista napolitano, já que a pesquisa documental ainda não foi realizada. Apesar disto, parece plausível, pela comparação estilística através da seleção recorrente e refinada do aspecto em cantaria da fachada do palácio, que relembra a Casina di Pio IV, nos Jardins Vaticanos, e a Cortile del Belvedere de Bramante. Tal atribuição foi novamente confirmada em 2014 pelo arquiteto Enzo Pinci, responsável pela restauração do palácio[4]. Assim sendo o Palazzo De Torres é a primeira obra realizada por Pirro Ligorio.
  2. Esta área era conhecida nesta época por ser frequentada por famílias da nobreza romana e por pessoas de nacionalidade espanhola que erigiram nas imediações a igreja de San Giacomo degli Spagnoli[5][6].

Referências

  1. «Famiglia Torres» (em italiano). Nobili-napoletani.it 
  2. Giustiniani, Lorenzo (1804). Dizionario geografico ragionato del Regno di Napoli (em italiano). VII. Napoli: [s.n.] p. 212 
  3. (em inglês). Rome Art Lover https://www.romeartlover.it/Vasi26.htm#Lancellotti  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  4. Palazzi storici a Roma - Cortili Aperti 2015. Palazzo Massimo Lancellotti (em italiano). [S.l.: s.n.] p. 33 
  5. Lanciani, Rodolfo. Storia degli scavi di Roma e notizie intorno le collezioni romane di antichità (em italiano). Vol. II (a. 1531-1549). [S.l.: s.n.] p. 229-230 
  6. Esposito, Anna (2014). Bernard, J. F., ed. Piazza Navona, ou Place Navone, la plus belle et la plus grande": Du stade de Domitien à la place moderne. Histoire d'une évolution urbaine. L'area di piazza Navona tra medioevo e rinascimento: istituzioni, famiglie, personalità (em italiano). Rome: [s.n.] p. 471-480 
  7. Adinolfi, Pasquale. La via Sacra o del Papa (em italiano). [S.l.: s.n.] p. 25 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Palazzi storici a Roma - Cortili Aperti 2015. Palazzo Massimo Lancellotti (em italiano). [S.l.]: Associazione Dimore Storiche Italiane. p. 30-33 
  • Bevilacqua, Mario (ed.). Palazzo Torres Lancellotti a piazza Navona (em italiano). [S.l.]: Sede di Aspen Institute Italia a Roma 
  • Schiavo, Armando (1966). «I vicini di palazzo Braschi». Capitolium (em italiano) (8-9) 
  • Schiavo, Armando. Pietrangeli, C., ed. Palazzo Braschi e il suo ambiente (em italiano). Roma 1969: [s.n.] p. 151-158 
  • Salerno, Luigi (1970). Piazza Navona isola dei Pamphili. Palazzo de Torres Lancellotti (em italiano). Roma: [s.n.] p. 271-276 
  • Ridolfini, Cecilia Pericoli (1973). Guide Rionali di Roma. Rione VI, Parione (em italiano). I. Roma: [s.n.] p. 64-70 
  • Abbate, Vincenzo (2007). Storia dell'arte. Torres adest': i segni di un arcivescovo tra Roma e Monreale (em italiano). [S.l.: s.n.] p. 19-66