Palácio de Çırağan – Wikipédia, a enciclopédia livre

Palácio de Çırağan
Çırağan Sarayı
Palácio de Çırağan
Vista da fachada do palácio desde o Bósforo
Tipo Palácio imperial
Estilo dominante Barroco otomano
Arquiteto Kirkor, Garabed, Nigoğayos, Sarkis e Hagop Balian
Início da construção século XVI
Fim da construção 1872
Restauro 2007
Proprietário inicial Quilije Ali Paxá e sultões otomanos
Função inicial yalı (residência de verão); palácio imperial
Proprietário atual Hotéis Kempinski
Função atual Hotel de luxo
Website www.ciragan.org
Geografia
País  Turquia
Cidade Istambul
Coordenadas 41° 2' 37" N 29° 0' 58" E
Palácio de Çırağan está localizado em: Istambul
Palácio de Çırağan
Localização do Palácio de Çırağan em Istambul
Gravura do século XVII dos Jardins Kazancıoğlu

O Palácio de Çırağan (em turco: Çırağan Sarayı) é um antigo palácio imperial otomano que atualmente é um hotel de luxo da cadeia, o Çırağan Hotel Palace Kempinski. Está localizado em Istambul, Turquia, na margem europeia do Bósforo, entre os bairros de Beşiktaş e Ortaköy, junto ao Parque de Yıldız.[a]

História[editar | editar código-fonte]

Séculos XVI e XVII[editar | editar código-fonte]

O local onde se situa o palácio e as suas imediações eram conhecidas como "Jardins Kazancıoğlu", uma área luxuriante que se estendia de Beşiktaş a Ortaköy, onde existiam diversos yalıs (mansões à beira-mar) nas margens do Bósforo, os quais tiveram o seu período mais brilhante durante a chamada "Era Tulipa", na primeira metade do século XVIII.[1]

O almirante Quilije Ali Paxá teve aqui um yalı na segunda metade do século XVI. Em 1648 o sultão Murade IV ofereceu os jardins imperiais de Kazancıoğlu à sua filha Kaya Sultan e ao seu marido, o grão-vizir Meleque Amade Paxá, que aí construíram um yalı à beira-mar, que usavam como residência de verão.[2]

Século XVIII[editar | editar código-fonte]

No início do século XVIII, o sultão Amade III ofereceu a propriedade ao seu cunhado e grão-vizir Nevşehirli Damat İbrahim Paşa, que juntamente com o sultão e a sua filha Fátima Sultana,[b] foi um dos os principais iniciadores e protagonistas do período de refinamento cultural recreativo que veio a chamar-se de "Era Tulipa".[1] O nome Çırağan surge associado ao palácio construído por İbrahim Paşa em 1719 para a sua esposa Fatma Sultan. A princesa organizava frequentemente festas noturnas à luz de tochas, o que deu origem ao nome "Çırağan", uma palavra persa que sugere "fonte de luz especial". A palavra rapidamente se tornou sinónimo do lugar.[1] Mary Wortley Montagu, a esposa do embaixador britânico na Turquia, que viveu em Istambul entre 1717 e 1718, refere esse palácio nas suas Cartas da Turquia:[2]

Está situado numa das partes mais aprazíveis do canal, com uma bela floresta num dos lados da colina que fica por detrás. A sua extensão é prodigiosa; o guarda assegurou-me que há 800 divisões, mas eu não confirmo esse número pois não as contei; mas o número é certamente muito grande, e está profusamente adornado com mármore, dourados e as mais requintadas pinturas de frutas e flores. As janelas todas usam o melhor vidro cristalino trazido de Inglaterra e aqui se pode ver toda a dispendiosa magnificência que se pode imaginar num palácio edificado por um jovem com a riqueza de um vasto império sob o seu comando.
 
Mary Wortley Montagu.

O palácio original seria demolido e reconstruído várias vezes ao longo dos dois séculos seguintes. Depois da rebelião de 1730, a qual trouxe o fim da Era Tulipa, o palácio ficou ao abandono. Mamude II usou-o para banquetes de embaixadores estrangeiros. O grão-vizir Yusuf Ziya Paşa comprou-o, demoliu-o e contratou o arquiteto Kirkor Balian para construir um novo palácio em mármore, o qual ofereceu ao sultão Selim III em 1805, que posteriormente o ofereceria à sua irmã Beyhan Sultan, que recusou a oferta.[2]

Século XIX[editar | editar código-fonte]

Palácio de Mamude II[editar | editar código-fonte]

O sultão Mamude II usou o palácio como residência de verão. Em 1834 Mamude II decidiu reconstruir o edifício, para o que contratou o arquiteto Garabed Balian.[2] Além do palácio, foram demolidas uma escola e uma mesquita e um dergah Mevlevi (espécie de mosteiro de dervixes) foi mudado para outro yalı próximo. Após oito anos de obras, um palácio de aparência clássica adornava a costa. Apesar das fundações e pricipais estruturas serem em pedra, na construção foram usadas extensivamente madeira raras.[1]

Gravura da década de 1840 mostrando o antigo palácio em 1840 e a colina do Parque de Yıldız
Vista da parte sul do Palácio de Çırağan desde o Bósforo

Abdul Mejide I[editar | editar código-fonte]

Abdul Mejide I demoliu o palácio em 1857 a fim de construir um palácio ao estilo ocidental. Nesse período os sultões otomanos tinham o hábito de construírem o seu próprio palácio em vez de usarem os dos seus antecessores. O Palácio de Çırağan foi o último exemplo deste período. As circunstâncias políticas e económicas do império não permitiram a Abdul Mejide ver o seu plano concretizado e o sultão morreria em 1861 sem ter o seu palácio.[1]

Palácio de Abdulazize[editar | editar código-fonte]

O sucessor e irmão de Abdul Mejide, o sultão Abdulazize deu continuidade ao sonho do seu irmão, mas preferiu um estilo mais oriental, para o que encomendou ao arquiteto Nigoğayos Balian um palácio de "estilo árabe".[1] Foram enviados artistas a Espanha e ao Norte de África a fim de trazerem desenhos dos edifícios mais famosos desses locais. Diz-se que o sultão se envolveu de tal forma no projeto que os planos foram redesenhados vinte vezes antes de ficarem a seu gosto.[2] A primeira fase da construção decorreu entre 1863 e 1867 e foi dirigida pelos filhos de Nigoğayos, Sarkis e Hagop.[1]

O palácio está ligado por uma bela ponte de mármore ao Palácio de Yıldız, situado na colina atrás. Os muros altos que rodeiam os jardins isolam o palácio do exterior.[a] Na construção foram usados os melhores mármores, madeiras e madrepérola, que vieram de quase todo o mundo. As portas do palácio, que se dizia valerem mil moedas de ouro cada uma, impressionaram de tal forma Guilherme II da Alemanha aquando da sua visita a Istambul, que algumas lhe foram oferecidas e estão atualmente num museu de Berlim.[2]

A construção e decoração interior prosseguiu até 1872. Abdulazize residiu apenas alguns meses no palácio, que abandonou em março de 1876, passando a viver em Dolmabahçe, alegadamente porque o edifício era muito húmido.[2] Segundo alguns o sultão teria dado crédito aos rumores de que a destruição do dergah Mevlevi e da incorporação das suas terras nos terrenos do palácio trariam azar.[1] Abdulazize morreu poucos dias após ter sido destronado pelos seus ministros a 30 de maio de 1876. A versão oficial é de que se teria suicidado, mas muitos acreditam que teria sido assassinado.[1]

O sobrinho e sucessor de Abdulazize, Murade V, fez do palácio a sua residência. Murade reinou apenas durante 93 dias, após o que foi deposto pelo seu irmão Abdulamide II, alegadamente por doença mental, mas passaria o resto dos seus dias em prisão domiciliária no Palácio de Çırağan, onde morreu a 29 de agosto de 1904.[1][a]

Século XX[editar | editar código-fonte]

Fotografia do fogo que destruiu o palácio em 1909
Detalhe de um dos recantos do palácio

Sede do parlamento[editar | editar código-fonte]

Durante a segunda monarquia constitucional, o sultão Maomé V Raxade autorizou o parlamento a reunir-se no palácio, o qual foi amplamente renovado para esse efeito. Para lá foram também transferidas diversas obras de arte valiosas da coleção de Abdulazize. A nova sede do parlamento foi inaugurada a 14 de novembro de 1909, mas apenas dois meses depois, em 19 de janeiro de 1910 um grande fogo que começou nas condutas de aquecimento central destruiu o palácio em menos de cinco horas, deixando apenas os muros exteriores intactos, tendo sido consumidas pelas chamas todas as obras de arte, a famosa biblioteca de Murade V e diversos documentos de grande importância.[1][2][a]

Decadência[editar | editar código-fonte]

No final da Primeira Guerra Mundial o palácio serviu de quartel ao corpo de engenheiros das tropas ocupantes francesas. A partir de 1930 e durante muitos anos nos jardins funcionou o estádio de futebol (o Şeref Stadı) e uma piscina do Beşiktaş J.K. O primeiro estudo para a transformação do palácio num hotel data de 1930. Em 1946 um capitão do exército danificou o cemitério dos dervixes existente na cave ao procurar por ouro. No mesmo ano, a posse do lugar passou do parlamento para o município de Istambul, que durante anos o usou para depósito de areia e outros materiais de construção.[1][2]

Reconstrução e conversão em hotel[editar | editar código-fonte]

Em 1989 as ruínas foram compradas por uma empresa japonesa, que restaurou o palácio e construiu um moderno complexo hoteleiro junto aos jardins. O artista alemão Rainer Maria Latzke esteve envolvido na redecoração do interior, criando um ambiente mediterrânico luminoso e colorido e pintando murais na piscina interior.[c]

O restauro do palácio gerou polémica. Muitos consideraram as obras grotescas e o governo foi criticado por ter autorizado uma empresa privada a restaurar um monumento turco a baixo custo, não respeitando a arquitetura original. O interior predominantemente rosa néon, tinha várias lojas e áreas para eventos, tendo sido comparado por muitos a um centro comercial americano. As renovações efetuadas em 2007 supostamente devolveram autenticidade à arquitetura e decoração do palácio, repondo o estilo barroco e cores suaves.[c][carece de fontes?]

Çırağan Hotel Palace[editar | editar código-fonte]

Interior do palácio em 2020

O palácio propriamente dito é ocupado atualmente (2010) pelas doze suites de luxo e dois restaurantes do Çırağan Hotel Palace Kempinski, inaugurado em 1990.[c] O hotel foi inaugurado em 1990, tendo sido renovado em 2006 e 2007.[1] Tem 322 quartos e suites, quatro restaurantes, 17 salas de conferência que no total teem lotação para 1500 pessoas, dois salões de festas de festas, um deles com mais de 1 000 m², duas salas de exposições, além de outras facilidades, como lojas, casino, banhos turcos, piscina interior e exterior à beira do Bósforo, ginásio, etc.

Prémios[editar | editar código-fonte]

  • 1995 — Único hotel da Turquia presente na lista dos 100 melhores hotéis do mundo da revista Institutional Investor.[3]
  • 1996 — Terceiro melhor hotel internacional, pela revista Condé Nast Traveler.[3]
  • 1996 — Único hotel da Turquia presente na lista de melhores hotéis das principais cidades do mundo, do Andrew Harper's Hideaway Report da revista Forbes de 23 de setembro de 1996.[3]
  • 1996 — Prémio "Cinco diamantes" da American Academy of Hospitality Sciences.[3]

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d A maior parte do texto foi inicialmente baseada em tradução do artigo artigo «Çırağan Palace» na Wikipédia em inglês (acessado nesta versão).
  2. Algumas fontes referem que a esposa de Nevşehirli Damat İbrahim Paşa e filha de Amade III se chamava Hatice Sultana e não Fátima Sultana. Ver,por exemplo, «Hatice Sultan» na Wikipédia em inglês.
  3. a b c Trecho baseado no artigo artigo «Palacio de Çırağan» na Wikipédia em castelhano (acessado nesta versão).

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m «History of the Çırağan Palace» (PDF) (em turco e inglês). Çırağan Hotel Palace Kempinski. Consultado em 8 de setembro de 2010. Arquivado do original (PDF) em 8 de setembro de 2010 
  2. a b c d e f g h i «Focus on Ciragan Palace Hotel Istanbul» (em inglês). Focus Mediterranean Magazine. www.focusmm.com. Consultado em 8 de setembro de 2010. Cópia arquivada em 8 de setembro de 2010 
  3. a b c d «Ciragan Palace Kempinski Istanbul (Palace History)» (em inglês). Focus Mediterranean Magazine. www.focusmm.com. Consultado em 8 de setembro de 2010. Cópia arquivada em 8 de setembro de 2010 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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