Pajubá – Wikipédia, a enciclopédia livre

O pajubá é um dialeto com origem na fusão de termos da língua portuguesa com termos dos grupos étnico-linguísticos da África Ocidental (iorubá, umbundo, quicongo, jeje, fom) reproduzidos nas reuniões de religiões afro-brasileiras, que chegaram ao Brasil com os africanos escravizados. Os terreiros são espaços de acolhimento para as minorias, incluindo a comunidade LGBTQIA+, que passou a adaptar os termos africanos em outros contextos.[1]

História[editar | editar código-fonte]

o dialeto Pajubá é baseado em uma diversidade e pluralidade de línguas africanas usadas inicialmente em terreiros de candomblé.

Criado originalmente de forma espontânea em regiões de mais forte presença africana no Brasil, como terreiros de candomblé, o dialeto resultante da assimilação de africanismos de uso corrente, por resultar incompreensível para quem não aprendesse previamente seus significados, passou a ser usado também como código entre travestis e posteriormente adotado por toda comunidade LGBTQIA+.

O dialeto passou a ser utilizada pela comunidade LGBTQIAP+ durante o período da ditadura militar como meio de enfrentar a repressão policial e despistar a presença de pessoas indesejadas[2]. Com a derivação nos dialetos iorubá e nagô, esse vocabulário reúne apropriações linguísticas feitas pela população de travestis e pessoas transgêneras, o qual era, e ainda é, essencial para resolver o estranhamento causado pela combinação entrecruzada e pouco usual de palavras e verbetes do dicionário nacional. [3][4][5][6]

Tanto no candomblé como na comunidade LGBTQIAP+, a palavra pajubá ou bajubá[7] tem o significado de "fofoca", "novidade", "notícia", referente a outras casas ou fato ocorrido (tanto de coisas boas, como de coisas ruins) nesses círculos.

Muitas vezes também dita como "falar na língua do santo" ou "enrolar a língua", muito usado pelo povo do santo quando se quer dizer alguma coisa para que outras pessoas não entendam.[8][9]

Polêmica no Enem[editar | editar código-fonte]

Em 2018, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), utilizou o dialeto Pajubá como tema de uma das questões da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologia[10]. A situação provocou diversas críticas nos meios de comunicação, tendo um reforço maior com o comentário do então presidente eleito Jair Bolsonaro, que em entrevistas e nas suas redes sociais (Facebook e Twitter), disse que o atual ENEM não funciona e que não deveria incluir questões de gênero na pauta da prova.[11]

Em resposta, Maria Inês Fini, presidente do INEP, autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação que prepara e realiza o ENEM, criticou duramente a declaração e interferência de Jair Bolsonaro no exame, afirmando que lamento leituras equivocadas e que não é o Governo que manda no Enem.

Uma das primeiras medidas do presidente depois de tomar posse, foi exonerar Maria Inês do cargo.[12]

Exemplos de termos do Pajubá[editar | editar código-fonte]

O Diálogo das bonecas, foi o primeiro Dicionário de Pajubá/Bajubá das Travestis idealizado, impresso e lançado no Brasil no ano de 1992.[13] Com o tempo e a partir da repercussão no cenário cultural nacional de artistas travestis e transgêneras como MC Xuxú, Linn da Quebrada, Jup do Bairro, Majur e Mulher Pepita, entre outras[14] trouxeram o dialeto em suas músicas.

Segue alguns exemplos do dialeto pajubá[15]:

  • Adéfuntó - Homem homossexual que ainda não assumiu sua orientação sexual.
  • Ajé - Pessoas falsas ou más.
  • Amapô - Mulher.
  • Aqüé/acue - Dinheiro.
  • Aqüendar - Pegar, entrar, não perder a oportunidade.
  • Atender - ficar com alguém.
  • Babado - Fofoca, novidade, acontecimento.
  • Bafão - Alguma forma de confusão.
  • Barbie - Homem homossexual com físico "malhado" e aparência afeminada.
  • Cacura - Homem homossexual acima dos 40 anos.
  • Caminhoneira - Mulher homossexual com aparência mais masculinizada.
  • Desaqüendar - Parar, desistir, deixar de lado, ir embora.
  • Destruidora - Gíria para dizer que a pessoa "arrasa" muito, que está fazendo algo muito bem.
  • Fazer a Alice - Ato de ser sonhadora.
  • Fazer a Egípcia - Ato de não expressar emoções no rosto, ato de fingir.
  • Gongar - Falar mal.

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Reif 2019.
  2. link, Gerar; Facebook; Twitter; Pinterest; E-mail; aplicativos, Outros. «As Raízes Históricas do Pajubá ou Bajubá: Encruzilhada Dialética das Mulheres Transexuais e Travestis que já foi usado como Linguajar Codificado e Instrumento de Resistência». Consultado em 26 de novembro de 2022 
  3. Marina Teodoro (24 de junho de 2020). «Lacrou! Saiba o que expressões LGBTQ+ tem a ver com política». Terra. Consultado em 21 de Julho de 2021 
  4. Laura Reif (11 de fevereiro de 2019). «Muito além do lacre». Revista Trip. Consultado em 21 de Julho de 2021 
  5. Ive (21 de junho de 2009). «Você sabe o que é Pajubá?». Lupa Digital. Consultado em 26 de março de 2018 
  6. Victor Heringer (1 de agosto de 2017). «Os sinos que dobram e os homens que não se dobram». Revista Continente. Consultado em 26 de março de 2018 
  7. Bajubá[ligação inativa]
  8. Uma das línguas de santo sendo analisadas, AS LÍNGUAS VEICULARES NO CANDOMBLÉ DE CONGO-ANGOLA Professor Doutor Sérgio Paulo Adolfo – Tata Kisaba Kiundundulu Universidade Estadual de Londrina[ligação inativa]
  9. A Linguagem no Candomblé:um estudo linguístico sobre as comunidades religiosas afro-brasileiras, por Antonio Gomes da Costa Neto
  10. «Veja resolução de questão do Enem que aborda status do pajubá como 'dialeto secreto' dos gays e travestis». G1. Consultado em 26 de novembro de 2022 
  11. Lima, Beá (10 de novembro de 2018). «Presidenta do Inep: "Lamento leituras equivocadas. Não é o Governo que manda no Enem"». El País Brasil. Consultado em 26 de novembro de 2022 
  12. Maria Inês Fini, ex-presidente do Inep: “Enem 2019 sofreu censura”
  13. «Cartilha Diálogo de Bonecas by Jovanna Cardoso - Issuu». issuu.com (em inglês). Consultado em 26 de novembro de 2022 
  14. «O pajubá como tecnologia linguística na constituição de identidades e resistências de travestis» 
  15. «Conheça o Pajubá: dicionário de gírias LGBT». Dicionário Popular. Consultado em 26 de novembro de 2022 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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