Oxigenação por membrana extracorporal – Wikipédia, a enciclopédia livre

Oxigenação por membrana extracorporal veno-arterial

Oxigenação por membrana extracorporal (ECMO) é uma técnica de suporte de vida extracorporal em doentes com falência cardiovascular ou pulmonar.[1][2] A ECMO usa uma bomba para fazer circular o sangue por um pulmão artificial fora do corpo, regressando depois à corrente sanguínea.[3]

Entre as condições mais comuns que podem necessitar de ECMO estão casos de pneumonia grave, COVID-19 (em casos agudos), hérnia diafragmática congénita, doenças cardíacas congénitas, síndrome de aspiração de mecónio, pressão arterial muito elevada nas artérias dos pulmões e durante o recobro de uma cirurgia cardíaca.[3] A ECMO é uma técnica complexa, de alto risco e custo elevado.[1][4][5][6] Entre as possíveis complicações estão hemorragias, formação de coágulos sanguíneos e infeções.[3]

História[editar | editar código-fonte]

A ECMO foi desenvolvida na década de 1950 por John Gibbon, e depois por C. Walton Lillehei. O primeiro uso em neonatos foi em 1965.[7][8]

Banning Gray Lary[9] foi o primeiro a demonstrar que o oxigênio intravenoso poderia manter a vida. Seus resultados foram publicados no periódico Surgical Forum em novembro de 1951.[10] Lary comentou seu primeiro trabalho a respeito em uma apresentação de 2007, onde escreve: "Nossa pesquisa começou por elaborar um aparato que, pela primeira vez, manteve os animais vivos enquanto respiravam nitrogênio puro. Isso foi efetuado com bolhas de oxigênio bastante pequenas injetados à corrente sanguínea. Essas bolhas eram feitas através da adição de um 'agente umidificante' no oxigênio, que era forçada através de um filtro de porcelana até a corrente de sangue venoso. Pouco após sua apresentação inicial no Colégio Americano de Cirurgiões, esse aparato foi avaliado por Walton Lillehei, que, junto de DeWall, construiu a primeira máquina cardiopulmonar que empregava um oxigenador de bolhas. Com algumas adaptações, essas máquinas permaneceram sendo usadas pelos próximos vinte anos."

Uso durante a pandemia de COVID-19[editar | editar código-fonte]

No começo de fevereiro de 2020, médicos chineses aumentaram o uso de ECMO como um suporte adicional para pacientes apresentando síndrome respiratória aguda grave associada à infecção pelo vírus SARS-CoV-2 quando, mesmo após o uso de ventiladores mecânicos, os níveis de oxigenação permanecem baixos demais para manter o paciente.[11] Relatórios preliminares demonstram que o tratamento auxilia a recuperação da oxigenação sanguínea e reduz as fatalidades entre os aproximadamente 3% dos casos onde foi utilizado.[12] Para pacientes criticamente doentes, a taxa de mortalidade baixou de cerca de 59–71% com terapia convencional para 46% com o uso da oxigenação por membrana extracorpórea.[13] A capa do jornal LA Times em 14 de março de 2021 ilustrou a eficácia do ECMO em uma paciente extremamente comprometida por COVID-19.[14] No Brasil, a terapia só obteve aprovação do Conselho Federal de Medicina em 2018. Eram 21 centros médicos habilitados ao procedimento no país em 2021.[4] Em Portugal, um paciente esteve durante cinco meses sob suporte da ECMO, a mais prolongada aplicação do método registrada até março de 2021.[15]

Referências

  1. a b «ECMO». Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ). Consultado em 24 de abril de 2021 
  2. Marisa Passos Silva, Daniel Caeiro, Paula Fernandes, Cláudio Guerreiro, Eduardo Vilela, Marta Ponte, Adelaide Dias, Fernando Alves, Jorge Morais, Andreza Mello, Lino Santos, Paula Castelões, Vasco Gama (novembro de 2017). «Oxigenação por membrana extracorporal na falência circulatória e respiratória – experiência de um centro». Revista Portuguesa de Cardiologia. 36 (11): 833-842 
  3. a b c «Extracorporeal membrane oxygenation» (em inglês). MedlinePlus. Consultado em 11 de maio de 2020 
  4. a b Thays Martins (5 de abril de 2021). «Tratamento de Paulo Gustavo custa R$ 30 mil por dia e não é mais ofertado pelo SUS». Correio Braziliense. Consultado em 24 de abril de 2021 
  5. «Coronavírus: tratamento de Paulo Gustavo custa 50 000 por dia, em média». VejaRio. 9 de abril de 2021. Consultado em 24 de abril de 2021. Tecnologia usada para tentar salvar a vida do ator não é coberta pelos planos de saúde nem oferecida pelo SUS; cariocas recorrem à Justiça para ter acesso 
  6. Giulia Granchi (17 de junho de 2020). «Conheça a ECMO, aparelho que funciona como coração e pulmão artificiais». UOL VivaBem. Consultado em 24 de abril de 2021. Felizmente, hoje já temos operadoras de saúde se atualizando e cobrindo boa parte dos custos da máquina. No passado, a família assinava uma autorização para o uso do equipamento, por necessidade, sem saber quanto ficaria a conta no final 
  7. Edwin Rodriguez-Cruz, MD (e Stuart Berger, MD e outros) (21 de outubro de 2017). «Pediatric Extracorporeal Membrane Oxygenation: Overview, Preparation, Technique» (em inglês). theheart.org + Medscape. Consultado em 24 de abril de 2021 
  8. Mosier, Jarrod M.; Kelsey, Melissa; Raz, Yuval; Gunnerson, Kyle J.; Meyer, Robyn; Hypes, Cameron D.; Malo, Josh; Whitmore, Sage P.; Spaite, Daniel W. (2015). «Extracorporeal membrane oxygenation (ECMO) for critically ill adults in the emergency department: history, current applications, and future directions». Critical Care (em inglês). 19. 431 páginas. PMC 4699333Acessível livremente. PMID 26672979. doi:10.1186/s13054-015-1155-7. hdl:10150/621244 
  9. «Coronary Artery Research» (em inglês). Banning Gray Lary, MD. Consultado em 24 de abril de 2021 
  10. Lary, Banning Gray (Novembro de 1951). «Experimental Maintenance of Life by Intravenous Oxygen: Preliminary Report (from the Department of Surgery, University of Iliniois College of Medicine, and St Luke's Hospital, Chicago, Illinois)». Surgical Forum (em inglês): 30–35 – via W.B. Saunders Company, Philadelphia 1952 (publisher) The Proceedings of the Forum Sessions 37th Clinical Congress of the American College of Surgeons, San Francisco, California, November, 1951 
  11. huaxia (15 de fevereiro de 2020). «30 to 39 pct of severe COVID-19 patients discharged from Wuhan hospitals: official - Xinhua | English.news.cn». xinhuanet.com (em inglês). XINHUANET. Consultado em 24 de abril de 2021 
  12. CDC (11 de fevereiro de 2020). «2019 Novel Coronavirus (2019-nCoV)». Centers for Disease Control and Prevention (em inglês). Consultado em 16 de fevereiro de 2020 
  13. Melhuish, Thomas M.; Vlok, Ruan; Thang, Christopher; Askew, Judith; White, Leigh (Maio de 2020). «Outcomes of extracorporeal membrane oxygenation support for patients with COVID-19: A pooled analysis of 331 cases». The American Journal of Emergency Medicine. 39: 245–246. PMID 32487460. doi:10.1016/j.ajem.2020.05.039 
  14. Thomas Curwen (e Christina House) (14 de março de 2021). «COLUMN ONE She was dying of COVID-19. Her last hope was a device that would save or kill her» (em inglês). Los Angeles Times. Consultado em 24 de abril de 2021 
  15. «Cinco meses. Mário Rui é o doente no mundo que mais tempo esteve ligado à ECMO». Rádio e Televisão de Portugal (e Reuters). 23 de março de 2021. Consultado em 24 de abril de 2021