Organização da Mulher Angolana – Wikipédia, a enciclopédia livre

Organização da Mulher Angolana
História
Fundação
Quadro profissional
Sigla
ОМА
Tipo
Sede social
País
Organização
Fundadores
Lucrécia Paim
Deolinda Rodrigues
Maria Mambo Café
Engrácia dos Santos (d)
Irene Cohen (d)

A Organização da Mulher Angolana (OMA) é uma organização política voltada para inclusão das mulheres na política em Angola. É também a ala feminina do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). É uma das maiores e mais bem estruturadas organizações do tipo em toda África.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) reconhece que a OMA "oferece oportunidades para as mulheres angolanas realizarem seus projetos e desempenharem um papel importante, não só como mães, mas também protagonistas no progresso da sociedade". Ainda segundo a FAO, "a organização é ativa nas campanhas contra a violência contra as mulheres, e em todas as atividades relativas à consciencialização da população e aos serviços rurais vis-à-vis os direitos das mulheres".[1]

História[editar | editar código-fonte]

A estrutura-base da Organização da Mulher Angolana inicia-se, em 1961, como uma associação feminina de cerca de 20 mulheres bessanganas vítimas dos ataques da União das Populações de Angola (UPA) no norte do território angolano e da repressão portuguesa. Seu propósito inicial era realizar, em Quinxassa, uma cerimônia em memória dos guerrilheiros mortos nos ataques à Luanda em fevereiro de 1961. O grupo inicial era liderado por Terezinha de Jesus, Maria Luís Lourenço "Mãezinha" e Guilhermina Assis.[2]

A Organização da Mulher Angolana foi formalmente estabelecida com estatutos em 2 de março de 1962, definindo como intuitos iniciais angariar apoio, treinar quadros e organizar a luta de maneira capilar dentro das estruturas do MPLA. Sua organização e elaboração de estatutos foi levada à frente por Deolinda Rodrigues, Irene Cohen, Maria Mambo Café, Engrácia dos Santos, Teresa Afonso e Lucrécia Paim.[3]

Suas membras contribuíam para a produção de alimentos para o Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA), organizavam campanhas de alfabetização e de cuidados básicos de saúde e transportavam armamentos e alimentos a grandes distâncias.[3] A OMA chegou a tal ponto que organizou o Esquadrão Cami de luta armada direta na Guerra de Independência de Angola.[4]

Inicialmente sua liderança era diluída e não havia uma coordenação centralizada, mas diversas coordenações regionalizadas sob supervisão de Deolinda Rodrigues.[5] Porém, ainda em 1962, o Comité Director do MPLA atribui a Mariana Anapaz "Manana" a presidência da organização entre 1962 e 1964.[5] Mariana Manana havia sido uma das organizadoras dos ataques à Luanda em fevereiro de 1961 e figura simbólica de uma mulher guerrilheira.[6] No período da Guerra de Independência ainda lideraram a OMA as figuras de Catarina Garcia Bernardes "Zinha" de Jesus, entre 1964 e 1965, Lucília Evelize do Sacramento "Zizi" Neto, entre 1965 e 1966, e Maria Martins Carlos, como Coordenadora Nacional, entre 1969 e 1972. Porém, em 1972 Inga Van-Dúnem foi indicada para reorganizar a OMA no bojo da tripla cisão do MPLA.[5] Assumiu, em seguida, já com a função de Coordenadora Nacional Ruth Neto (irmã do ex-presidente angolano Agostinho Neto), ficando nesta composição entre 1972 e 1974. Entre 1974 e 1977 fica como Coordenadora Nacional Inga Van-Dúnem, entre 1977 e 1978 Maria Martins Carlos, e entre 1978 e 1983 novamente Ruth Neto.[7]

Uma vez que Angola se tornou oficialmente independente de Portugal em 1975, após a Guerra da Independência de Angola, a OMA proporcionou a melhor oportunidade para o ativismo feminino no governo local.[8] Em 1985, o número de membras chegou a 1,8 milhão, mas em 1987 o número caiu para menos de 1,3 milhão. A violência rural e a desestabilização regional causada pela Guerra Civil Angolana desanimaram muitas das membras das zonas rurais. No entanto, foi também durante a década de 1980 que Angola passou pelas primeiras leis antidiscriminação e estabeleceram leis estritas de alfabetização para apoiar mulheres sem instrução.[9]

Em 1983 Ruth Neto, já Coordenadora Nacional desde 1978, foi eleita Secretária-Geral da OMA e chefe de seu Comitê Nacional de cinquenta e três membros.[8] Foi reeleita em 2 de março de 1988[8] e depois em 1993. Em 1999, Inga Van-Dúnem foi eleita Secretária-Geral da OMA em substituição a Ruth Neto, sendo reeleita em 2005,[10][11] 2011[10] e 2016.[12] Em 2021 Joana Domingos dos Santos Filipe Tomás Martins substituiu Inga Van-Dúnem como Secretária-Geral da OMA, que ocupava o cargo há mais de 20 anos.[13]

Referências

  1. «Gender and Land Rights Database». Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura. Consultado em 1 de março de 2020 
  2. «Angola: Guerra trouxe vícios e fez que o lema do MPLA «O mais importante é resolver os problemas do Povo» – fosse esquecido" – Luzia Inglês.». FMFWorld.Org. 16 de novembro de 2020 
  3. a b Virgínia Inácio dos Santos (2010). «A situação da mulher angolana - uma análise crítica feminista pós-guerra». Mandrágora. 16 (16) 
  4. Reflexões sobre as organizações feministas em Angola. Odjango Feminista. 3 de novembro de 2021.
  5. a b c Silva, Dayane Augusta Santos da (1 de janeiro de 2021). «Na cobertura da retaguarda: mulheres angolanas na luta anticolonial (1961-1974)». Consultado em 11 de abril de 2023 
  6. A Verdade do 4 de Fevereiro de 1961 - Emídio Fernando. Club K. 4 de fevereiro de 2009.
  7. «Morena de Angola Clara...- Heroínas de Angola». UNEGRO - União de Negras e Negros Pela Igualdade. 13 de novembro de 2016 
  8. a b c «Angola - Organization of Angolan Women». www.country-data.com. Consultado em 5 de agosto de 2019 
  9. Popular Movement for the Liberation of Angola-Workers' Party (Movimento Popular de Libertação de Angola-Partido de Trabalho). Angola: Trabalho e luta. Paris: Réalisation (Edições DIP), 1985.
  10. a b «Luzia Inglês "Inga", SG da OMA». Club-K. 14 de fevereiro de 2011. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  11. «Luzia Inglês». Rede Angola. 22 de outubro de 2014. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  12. «Angola: Luzia Inglês Van-Dúnem reeleita Secretária-Geral da OMA». Portal Angop. 9 de fevereiro de 2016. Consultado em 12 de janeiro de 2021 
  13. «Discurso Directo com Joana Tomás secretária-geral da OMA». Radio Play Digital. 16 de março de 2022