Operação Gideão – Wikipédia, a enciclopédia livre

Operação Gideão
Crise na Venezuela
Crise presidencial na Venezuela em 2019


Captura dos mercenários
Mercenários detidos por agentes da SEBIN
Data 34 de maio de 2020
Local Venezuela
Casus belli Derrubar o governo de Nicolás Maduro
Desfecho Complô fracassado e vitória do governo venezuelano
Beligerantes
 Venezuela


Apoio:

Silvercorp USA
  • Militares e civis venezuelanos dissidentes


Apoio:

Comandantes
Nicolás Maduro Jordan Goudreau
Forças
Desconhecidas 300 (planejado)
  • ~ 60 participaram
Baixas
Nenhuma 8 mortos
17 capturados (incluindo dois mercenários americanos)

Operação Gideão (Operation Gideon em inglês; Operación Gedeón em espanhol, que também foi chamada de "incursión marítima de Macuto de 2020" ou "Macutazo"), foi como ficou conhecida a fracassada tentativa de invasão por um grupo paramilitar da Venezuela em 3 de maio de 2020, com o fim de derrubar o governo de Nicolás Maduro.[1]

Contando com suposto apoio do líder opositor Juan Guaidó e do governo dos Estados Unidos (sem qualquer comprovação) e com bases de treinamento em campos de refugiados na Colômbia, a iniciativa foi capitaneada pelo ex-militar e médico estadunidense Jordan Goudreau que, entretanto, não participou dos acontecimentos.[2][1]

Com a prisão ou morte dos envolvidos, o evento foi anunciado pelo governo Maduro como uma tentativa de golpe promovida pela oposição que, entretanto, nega o seu envolvimento.[2]

Pressupostos[editar | editar código-fonte]

Com a existência de refugiados venezuelanos na fronteira da Colômbia, a partir da autoproclamação de Juan Guaidó como presidente legítimo da Venezuela e reconhecimento como tal por vários outros países como Estados Unidos e Brasil, o mercenário americano Jordan Goudreau tentou levar sua empresa de segurança - Sivercorp USA - a liderar uma incursão militar contra o governo Maduro.[2]

Após fundar sua empresa em 2018, Goudreau (premiado como veterano no Afeganistão e Iraque pelas forças armadas estadunidenses com a "Estrela de Prata"), em 2019 foi contratado para realizar em fevereiro de 2019 a segurança num show de Richard Branson realizado na fronteira colombiana com o objetivo de pressionar o governo venezuelano a permitir a entrada no país de ajuda humanitária, diante da crise econômica pela qual o país atravessava.[2]

Com a permanência do governo após essa primeira pressão, a oposição tentou em abril do mesmo ano iniciar uma rebelião popular, igualmente sem sucesso. Então líderes como o ex-deputado exilado Hernan Aleman (morto em agosto de 2020 pela Covid-19) cogitaram no financiamento de grupos paramilitares visando uma incursão contra os líderes do governo Maduro.[2]

Goudreau então fora contatado por opositores venezuelanos em julho de 2019, nos Estados Unidos, e pelo serviço esperava receber a importância inicial de 1,5 milhão de dólares, e cerca de 200 milhões ao final; em Miami, no dia 16 de outubro de 2019, fora assinado um contrato com representantes de Guaidó para realizar um ação "para capturar/ deter/ remover Nicolás Maduro, derrubar o regime atual e instalar o reconhecido presidente venezuelano Juan Guaidó", e Goudreau se comprometera a conseguir apoiadores.[2]

Em novembro do mesmo ano, entretanto, o líder de extrema-direita venezuelano radicado em Miami J. J. Rendon relatou que exigira demonstrações de Goudreau de seus apoiadores, mas este "ficara desrespeitoso" e exigia o pagamento inicial combinado; o acordo então teria sido desfeito, com o pagamento de apenas 50 mil dólares feito por Rendon para custear as despesas já realizadas; os representantes de Guaidó declararam que consideraram o acordo nulo, desde então.[2]

Treinamentos e fracassos iniciais[editar | editar código-fonte]

Com base inicial de treinamento na cidade colombiana de Maicao, três campos de treinamento foram instalados na fronteira e em janeiro de 2020 Goudreau recrutou mais dois mercenários estadunidenses - Luke Denman (veterano do Iraque) e Airan Berry; entretanto, com a falta de financiamento, já em março de 2020 vinte dos venezuelanos abandonaram os exercícios militares.[2]

No dia 23 daquele mesmo mês o governo colombiano apreendeu um caminhão com equipamentos destinados aos grupos e no dia 26 o Departamento de Justiça estadunidense anunciou uma recompensa pela captura do general dissidente Cliver Alcala, por narcoterrorismo; Alcala se entregou após ter declarado que as armas apreendidas pertenciam ao povo venezuelano "no âmbito do acordo feito pelo presidente Juan Guaidó, JJ Rendon e assessores dos Estados Unidos".

A 28 de março um barco chamado "Silverpoint", e supostamente ligado à Silvercorp, ficou à deriva na costa de Curaçao e os dois estadunidenses foram socorridos por um navio-tanque; após levados de volta aos EUA, o caso foi encaminhado ao FBI, que não informa se Goudreau estava nele, bem como se a embarcação continha armamentos a serem levados à Venezuela.[2] No mesmo dia Diosdado Cabello, segundo de Maduro, anunciou na televisão a realização de treinamentos em campos na Colômbia, citando os nomes dos venezuelanos e dos estadunidenses envolvidos, demonstrando assim estar o governo bolivariano a par de todos os acontecimentos.[2]

Na ocasião, os grupos da conspiração haviam se deslocado para o literal em Guajira, e possivelmente Goudreau informava aos seus compatriotas que outros mercenários se juntariam a eles; entretanto, Goudreau estava empenhado em receber dos membros da comissão de Guaidó os valores prometidos no montante de 1,5 milhão de dólares, e pressionado pelo pagamento das armas apreendidas na Colômbia.[2]

A "Operação Gideão", uma "Baía dos Porquinhos[editar | editar código-fonte]

Num plano simplório que envolvia o desembarque na Venezuela e, depois de alguns dias no país, os envolvidos iriam até Caracas onde planejariam a captura do presidente Maduro e outros líderes governistas, para tanto atacando alvos como o Palácio de Miraflores, cadeias e a sede do serviço secreto.[2]

Apesar de todos os fracassos iniciais e do conhecimento dos planos pelo governo de Maduro, os voluntários e mercenários se deslocaram em 1º de maio de 2020 em dois barcos para a costa Venezuelana; no primeiro estavam onze homens com oito fuzis e, no segundo, quarenta e sete pessoas portando somente dois fuzis; as forças governistas aguardavam a chegada das embarcações que ocorreu no dia 3; no primeiro barco, oito dos ocupantes foram mortos enquanto que o segundo, onde estavam os dois mercenários estadunidenses (Denman e Berry), todos foram detidos.[2]

Com a publicidade da fracassada tentativa de desembarque comentaristas chamaram a "Operação Gideão" (que fazia menção ao líder bíblico que derrotara um exército muito maior) foi chamada por comentaristas de "Baía dos Porquinhos", numa referência ainda mais depreciativa à Invasão da Baía dos Porcos - a fracassada tentativa de paramilitares em derrubar o regime cubano na década de 1960.[2]

Nos EUA, onde permanecera, o mercenário Goudreau emitiu declaração onde afirmava que tinha o apoio de Guaidó, que prontamente negou seu envolvimento; a oposição venezuelana comunicou que era uma propaganda enganosa do governo de Maduro, o que foi rechaçado por declarações como a do ministro do exterior de seu governo, Jorge Arreaza, para quem seria uma piada o governo financiar um grupo para derrubar a si próprio, e imputando a militares colombianos o fornecimento das informações sobre a fracassada operação, com objetivo de evitar um conflito entre os dois países.[2]

Referências