Odeão – Wikipédia, a enciclopédia livre

Odeão do Éfeso, Turquia.
Odeão de Herodes Ático visto desde a Acrópole de Atenas

Odeão[1] (do grego ᾠδεῖον - óideîon - pelo latim odeum) era o pequeno anfiteatro grego usado para competições musicais. Assemelhava-se a um teatro em sua forma e disposição, mas havia diferenças características: o odeão era menor e possuía cobertura a fim de reter o som. Acredita-se que fora criado porque os primeiros instrumentos musicais não tinham boa ressonância nos grandes teatros a céu aberto.[2] Era comparativamente menor porque ali se faziam principalmente ensaios musicais e, portanto, menos espaço era dispensado ao público. No teatro, em contrapartida, eram realizadas as apresentações de coral e dramatizações. A primeira menção conhecida ao odeão vem de um fragmento do poeta Crátinos (c. 450 a.C.) que cita o Odeão de Péricles, em Atenas. É possível, entretanto, que ele já existisse antes disso.[3]

Esparta[editar | editar código-fonte]

O anfiteatro correspondente ao odeão -Σκιὰς -, em Esparta, era circular, possuía um teto cônico e diz-se que foi construído pelo arquiteto Teodoro de Samos (c. 600 a.C.). Em sua parede os espartanos penduraram a cítara do famoso músico Timóteo de Rodes (c. 400 a.C.) - não por admiração, mas como um estigma por ele ter "desfigurado" a simplicidade de um instrumento antigo ao aumentar o número de cordas. No final do século II d.C. o odeão espartano ainda era usado para assembleias públicas. Dele não restaram vestígios. A fundação circular que existe próxima ao Eurotas se assemelha a de um odeão, mas foi possivelmente modificado para outros tipos de apresentações durante a idade romana de Esparta.[3]

Atenas[editar | editar código-fonte]

Atenas possuía três odeões, sendo o mais antigo deles localizado próximo à fonte de Eneacruno, no vale do rio Ilissos. Suas origens são incertas, mas é hipoteticamente associado a Pisístrato ou mesmo a Sólon. Acerca de sua aparência, sabe-se que era semicircular e organizado como um teatro, mas com teto. Também é neste odeão que, segundo Aristófanes, funcionou um tribunal. Os atenienses também utilizavam-no para encontros, alojamento de tropas e distribuição de alimentos. Talvez fora restaurado por Licurgo (c. 330 a.C.).[3]

O odeão de Péricles situava-se a sudeste da Acrópole e a nordeste do Teatro Dionisíaco. Segundo Plutarco, a sua forma lembrava a tenda de Xerxes I da Pérsia. Sua cobertura era pontiaguda - tal qual a espartana (Σκιάς) - o que aparentemente motivou a piada de Crátinos ao descrever Péricles como "o Zeus da cabeça pontuda" (σχινοκέφαλος).[4] Este relato ao menos reforça a tese sobre sua forma e cobertura. Na concepção de Péricles, o novo Odeão, assim como o novo Templo de Atena Nice, estava associado às Panateneias. O encerramento do festival era celebrado no Partenon, quando o Odeão abrigava as apresentações de abertura - disputas de flauta, canções e rapsódias. O odeão de Péricles foi finalizado por volta de 444 a.C. Acabou incendiado por Arístio, filósofo e tirano de Atenas, enquanto este fugia de Sula e buscava refúgio na Acrópole. Sua restauração por Ariobarzanes II, rei da Capadócia, em 60 a.C., é o último acontecimento registrado em sua história. É interessante notar que Pausânias, quando visitou Atenas em 155 d.C., fala do antigo odeão do Ilissos como se fosse o principal anfiteatro da cidade. Ele menciona o Odeão de Péricles meramente como uma "estrutura" (κατασκεύασμα)"que dizem ser uma imitação da tenda de Xerxes" e nem mesmo cita o nome de seu fundador.[3]

O terceiro odeão de Atenas foi construído pelo eminente retórico Herodes Ático em memória de sua segunda esposa, Ápia Ânia Régila, que morreu em 161 d.C.[5] Não foi comentado quando Pausânias descreveu Atenas, mas ele lhe fez menção quando falou do odeão de Patras. Localizava-se a sul da Acrópole e a oeste do Teatro de Dionísio. Diferente dos demais, não possuía forma circular e estava mais para um teatro comum do tipo romano (theatrum tectum).[6] Distinguia-se, entretanto, pelo grande esplendor de sua decoração interior. A cobertura era de cedro – provavelmente com uma claraboia ao centro – e seus assentos, de mármore. O andar da orquestra era enfeitado com mosaicos e o proscênio, de três andares, era decorado com arcadas e um santuário. Decoração similar, embora menos elaborada, foi aplicada à fachada.[3] Grande parte do Odeão Herodes Ático ainda existe é utilizada para apresentações e festivais.[7]

As construções de Péricles e de Herodes Ático ilustram a dupla função do odeão para com o teatro antigo. O odeão circular, tal como o de Péricles, destinava-se a apresentações musicais ou recitações, enquanto que o teatro exibia os dramas e corais. De um ponto de vista artístico, ele era um suplemento do teatro grego. Já o odeão semicircular, como o de Herodes, era meramente um teatro romano coberto. Recebia não só apresentações musicais, mas também outros entretenimentos como a mímica e encenação. No período romano, os dois tipos coexistiram e, por ordem de Trajano, foi construído um odeão circular em Roma.[3][8]

Notas e referências

  1. Também se escreve odeom e odéon.
  2. Encyclopædia Britannica. Encyclopaedia Britannica Ultimate Reference Suite. Chicago: Encyclopædia Britannica, 2010.
  3. a b c d e f SMITH, William; ANTHON, Charles. A Dictionary of Greek and Roman Antiquities. Londres: John Murray, 1890.
  4. Aparece num fragmento da comédia "As Trácias", em grego: ὁ σχινοκέφαλος Ζεὺς ὅδε προσέρχεται τᾠδεῖον ἐπὶ τοῦ κρανίου ἔχων, ἐπειδὴ τοὔστρακον παροίχεται. Disponível no Wikisources.
  5. MILLER, Korina et al. Greece. Lonely Planet, 2010. p. 122.
  6. Filóstrato descrevia-o como "τὸ ἐπὶ Ῥηγίλλῃ θέατρον" e a Suda como "θέατρον ὑπωρόφιον"
  7. TRAVER, Andrew G. From polis to empire, the ancient world, c. 800 B.C.-A.D. 500: a biographical dictionary. Greenwood Publishing Group, 2002. p. 188.
  8. Dião Cássio chamava-o de ᾠδεῖον - odeão.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

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  • Este artigo incorpora texto do Dictionary of Greek and Roman Antiquities, uma publicação agora em domínio público.
  • ELMES, James. A general and bibliographical dictionary of the fine arts. T. Tegg, 1826.
  • MCDONALD, Marianne; WALTON, J. Michael. The Cambridge companion to Greek and Roman theatre. Cambridge University Press, 2007. ISBN 0521834562
  • STUART, Robert. Cyclopedia of architecture. A. S. Barnes & Co., 1854.
  • WILES, David. Tragedy in Athens: performance space and theatrical meaning. Cambridge University Press, 1999. ISBN 0521666155