Nha Fala – Wikipédia, a enciclopédia livre

Nha Fala
A Minha Voz (PRT)
Portugal Portugal /  França /  Luxemburgo
2002 •  cor •  210 min 
Género musical
Direção Flora Gomes
Roteiro Flora Gomes, Franck Moisnard
Elenco Fatou N'Diaye
Jean-Christophe Dollé
Ângelo Torres
Idioma crioulo

Nha Fala (2002) – A Minha Fala em crioulo – é um filme de longa-metragem de Flora Gomes, uma co-produção entre Portugal, a França e o Luxemburgo. O filme foi intitulado em Portugal A Minha Voz.

Trata-se de uma comédia musical protagonizada por uma linda jovem mestiça que viola um interdito cultural. A transgressão é simbólica : em vez de a levar a um confronto com a morte, leva-a a um confronto com a vida. Em vez de causar a anunciada tragédia, torna-se acto redentor que a liberta. A tragédia, augúrio ditado pela negra condição africana, é contornada por um poder maior, que a tradição subestima, reprimida pelo colonialismo: a força da vida.

Depois de Os Olhos Azuis de Yonta, Nha Fala («minha voz, minha vida, meu caminho») é a segunda parábola de um negro de alma branca que nega o destino que lhe foi traçado e se põe a ver a questão sem lamento, tal como uma vez o souberam fazer, em animada ópera, os animados heróis de um animado filme: Hair.

Falado em francês e crioulo, Nha Fala estreia em Portugal a 25 de maio, em França a 16 de julho de 2003 e na Guiné-Bissau a 6 de março de 2004.

Ficha sumária[editar | editar código-fonte]

  • Argumento : Flora Gomes e Franck Moisnard
  • Realização : Flora Gomes
  • Música : Manu Dibango
  • Actores principais : Fatou N'Diaye, Jean-Christophe Dollé, Ângelo Torres :
  • Produção : Fado Filmes (Portugal), Les Films de Mai (França), Samsa Films (Luxemburgo)
  • Formato : 35 mm cor
  • Género : ficção (comédia musical)
  • Duração : 85’
  • Distribuição : Pierre Grise Distribution

Sinopse[editar | editar código-fonte]

Vita é uma jovem de Bissau que decide estudar em Paris. Antes de partir, ela promete à sua mãe que nunca irá cantar, já que uma maldição familiar dita que todos os que cantarem serão perseguidos pela morte.

Em Paris, Vita apaixona-se por Pierre, músico de profissão. Certo dia, Pierre pede a Vita que cante no seu estúdio. Ela, ignorando a promessa feita à mãe, satisfaz o desejo do namorado, que fica admirado com a sua voz e a lança numa carreira musical de sucesso.

Vita consciencializa-se das consequências do seu acto. Por isso, volta a Bissau para organizar o seu próprio funeral.

Flora Gomes recorre, assim, às vivências de Vita para criticar a sociedade e os valores. De início, é evidenciada a severidade da igreja, que, através da figura do padre, interrompe os momentos de festa e alegria.

No seguimento da acção, há um jogo antitético entre a sociedade francesa rica, mas sombria, e a sociedade guineense pobre, mas alegre e viva.

O carácter racista da sociedade francesa é criticado por Flora Gomes, que dá vida a um velho nacionalista que não gosta de pretos e que se vai apercebendo da irracionalidade do seu ponto de vista.

A acção fecha-se no funeral de Vita. No fundo, a vida é um ciclo; a morte é o regresso ao princípio.

Enquadramento histórico[editar | editar código-fonte]

Casos há em que o fait divers resume a história. A 59.ª Mostra de Veneza incluí uma retrospectiva de Michelangelo Antonioni, com cópias restauradas dos seus filmes. Projecta-se o Blow-Up. Encrava-se o projector quando o protagonista, um fotógrafo, entra na câmara escura. A lâmpada queima a fita e acendem-se as luzes da sala. É como se os olhos vermelhos (de fadiga) de Antonioni tivessem incendiado o filme, tal como os do infatigável Manoel de Oliveira fazem em cor-de-rosa, fixando-se em realidades idênticas : o desértico universo das burguesias europeias.

Nha Fala, projectado na mesma tela, ilumina-a com outras luzes, menos ardentes, menos pastel. Ilumina-a com a luz que irradia de outro tipo de mulheres (é a mulher, em qualquer dos casos, que seduz a objectiva). Eis a parábola, a figura de estilo preferida por quem prefere dar a ver as coisas por outras palavras e com outras cores : a parábola da mulata «que recupera a “sua voz”, bem poderá ser a de África».

O filme começa com uma dedicatória a Amílcar Cabral, «Pai da independência da Guiné-Bissau e das ilhas de Cabo Verde, assassinado em 1973». É filmado em Cabo Verde porque o rescaldo de uma guerra fratricida e violenta não permite que seja feito na Guiné, terra em que «ninguém está no seu lugar, em que à noite um médico é taxista e um professor universitário engraxador». Filme apátrida com várias pátrias, admirado por uns, mais abertos, despeitado por outros, mais obtusos, no fundo pretende apenas dar a ver isto : «O futuro deste planeta é a mestiçagem. Ninguém a pode proibir».

Não se faz filmes assim para se vender : a força da ideia não reside no seu valor de mercado. Filmes desses são feitos para se ver, Mas nem toda a gente quer estar de olhos abertos.

Ficha artística[editar | editar código-fonte]

Ficha técnica[editar | editar código-fonte]

  • Produção : Fado Filmes (Portugal), Les Films de Mai (França), Samsa Films (Luxemburgo)
  • Produtores : Luís Galvão Teles, Jani Thiltges, Serge Zeitoun
  • Assistentes de produção : Lelia Di Luca e Ana Silva
  • Rodagem : Cabo Verde e Paris, 2001
  • Assistentes de realização : Suleimane Biai e Eddy Stevesyns
  • Director de fotografia : Edgar Moura
  • Assistentes de imagem : Daniel Neves e Carlo Thiel
  • Cenários : Véronique Sacrez
  • Guarda-roupa : Rosário Moreira e Virginia Vogwill
  • Caracterização : Emmanuelle Fèvre
  • Chefe maquinista : Paulo Miranda
  • Chefe electricista : Tita Miranda
  • Director de som : Pierre Donadieu
  • Assistente de som : François Lalande
  • Montagem : Dominique Paris
  • Assistente de montagem : Jean-Luc Simon
  • Montagem de som : Frédéric Demolder
  • Misturas de som : Pierre Donnadieu
  • Formato : 35 mm cor
  • Género : ficção (comédia musical)
  • Distribuidor : Pierre Grise Distribution
  • Estreia : 25 de Maio de 2003 (Portugal), 16 de Julho de 2003 (França), 6 de Março de 2004 (Guiné-Bissau)

Fontes[editar | editar código-fonte]

online[editar | editar código-fonte]

impressas[editar | editar código-fonte]

  • Revista Cinélive n°70, pág 62
  • Studio Magazine n°191, pág 32
  • Revista Première n°317, pág 39

Artigos relacionados[editar | editar código-fonte]

Festivais e mostras[editar | editar código-fonte]

  • 2002 – 59ª Mostra Festival de Veneza – prémio “Citta Di Roma-Arco Íris Latino” e prémio “Lanterna Magica”. (ver notícia no Jornal de Letras)
  • 2002 – Festival des 3 Continents (Nantes – França)
  • 2003 – 10 º Festival “Caminhos do Cinema Português” (Coimbra) - Prémio do Júri e Prémio do Público
  • 2006Nha Fala na Mostra de Cinema da África e da Diáspora (Brasil)
  • 2007 – Nha Fala no Ciclo Migrações (Centro de Língua Portuguesa da Universidade de Berlim)
  • 2007 – Nha Fala no Festival de Cinema do Itu (Brasil)
  • 2007 - Nha Fala - 17th Festival Annual Cascade Festival of African Films
  • 2008 – Nha Fala em Africamania (Cinemateca Francesa)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


  • Nha Fala – estreia em Bissau (6 de Março 2004 – Agência Bissau Media e Publicações)
  • Nha Fala em DVD